Para fechar o período de repostagens, segue esta bela surpresa norte-americana e da qual, passados já 5 anos de sua publicação aqui no meu, no seu, no nosso G&B, sabe-se cada vez menos.
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Originalmente publicado em 10.03.2009
A história começa em 1992 quando Doug Sheppard, o tal jornalista, dirigiu-se a Cleveland para entrevistar Joe Battaglia e Al Pinnelli - exato! respectivamente, o baterista e um dos guitarristas da Granicus, aquela banda clone de Led Zeppelin - sobre as suas atividades após a recente 'redescoberta' de sua banda via grande rede. Remexendo o baú de memorabilia de Battaglia, uma centena de singles e flexidiscs (discos maleáveis e de baixa qualidade muito utilizados para divulgação à época) chamou sua atenção. Eram, em sua maioria, demos de diversas bandas gravadas a partir de meados da década de 70 no mal equipado, mas um luxo para poucos, estúdio - apenas um gravador de 4 pistas adquirido de 2ª mão por uma pechincha pois já era considerado um equipamento obsoleto em finais dos 60 - em seu porão. Apenas por curiosidade, resolveram escutar algumas destas bolachinhas e qual não foi a surpresa quando de um dos flexidiscs começou a tocar um misto de punk (alguns anos antes de seu surgimento!), glam e, ainda assim, apresentando uma elaboração e alternância de ritmos e andamentos incomuns aos dois gêneros. Além disso, a competência de seus músicos e a atitude demonstrada em cada sulco era instigante. Naquele instante, Sheppard teve plena consciência de que estava diante de uma banda com absoluto domínio de sua música, faltando apenas uma pequena lapidação e mais recursos. Afinal, é bom lembrar, no limitado modus operandi daquele - vá lá! - estúdio, um erro significava começar um novo take do zero e eles não tinham tempo para isso. No entanto, toda a demo foi gravada em apenas 2 semanas e o resultado é, de fato, surpreendente. O 'toda' fica por conta de terem encontrado um total de 7 faixas distribuídas por vários destes flexidiscs e, após muita procura, também as master tapes, onde, além daquelas, constavam ainda mais 3 faixas. Ou seja, um álbum pronto!!!
Apesar do entusiasmo de Sheppard com o material que havia descoberto - nos pouquíssimos relatos que encontrei, entende-se que cuidava-o como se fora o Santo Graal -, passaram-se longos 4 anos até que Erik Livgren, dono da Arf! Arf! Records, se sentisse tomado pelo mesmo entusiasmo de Sheppard e resolvesse apostar no lançamento deste material. Mas existiam problemas legais visto que ninguém sabia nada sobre a banda, apenas supunham ser de Nova York, e havia o receio de um processo por pirataria. Mesmo após muita pesquisa, e ainda assim continuando às cegas, decidiram que a qualidade do material que tinham em mãos valia o risco e, finalmente, em 97 soltaram o CD com todas as 10 faixas restauradas. A capa, muito provavelmente, foi feita de acordo com a descrição do pouco que Battaglia - o único que os conheceu à vera e, provavelmente, completamente enfumaçado - recordava dos membros da banda.
Como todos sabem, ao contrário do que comumente ocorre nestes tempos de extrema facilidade proporcionada pela internet, sou da opinião de que a enorme maioria do que se nos apresenta por aí como 'pérolas perdidas' dos anos 60/70 não merecem esta denominação. Mas a verdade é que ao escutar esta banda pela primeira vez e, tal como Sheppard, também totalmente no escuro, fiquei atônito com a qualidade das composições e dos músicos, todos, sem exceção, excelentes para o que se propunham. Minha admiração só aumentou quando soube de todos estes detalhes da (quase inexistente) produção - muito embora o trabalho de Battaglia com os parcos recursos de que dispunha à época seja brilhante; por sinal, talvez tenha cometido um erro grave ao lhes revelar de lambuja todos estes pormenores mas espero que isto somente tenha servido para contextualizá-los e não lhes abafe o efeito surpresa. Afinal, é bom lembrar, nem sempre foi tão fácil fazer gravações em sua própria casa. E, com certeza, em 1974 era um milagre. Difícil resistir à tentação de imaginar o que a Pandora faria com melhores recursos.
Neste instante, vocês devem estar se perguntando: 'Se é tudo isso, porque esse babaca não postou essa merda há mais tempo?' A verdade é que o primeiro arquivo que baixei continha defeitos nas introduções de 'Only Seventeen' e 'Crack Your Skull', duas de suas melhores faixas, e a versão do SoundForge que eu tinha à época era muito limitada para saná-los. Durante estes 2 anos procurei, em vão, por uma versão perfeita deste arquivo. Sem opções, há poucos meses resolvi experimentar o poderoso SF9 e, mesmo dando um bom trabalho, a cirurgia foi um completo sucesso.