domingo, 28 de novembro de 2010

EU FUI!!!!

Estou por horas tentando preencher esta tela em preto com algo que, de verdade, traduza meu sentimento -e de todos os presentes, pois rodei pela pista e vi a mesma expressão misto de incredulidade e êxtase em cada rosto- naquela noite chuvosa de 24.11.2011 no Vivo Rio. Sinceramente, não vejo outra maneira que não a de apelar para a religião. Afinal, como esperar que alguns milhares de cabeças desloquem-se do aconchego de seus lares no dia mais violento da história de sua Cidade Maravilhosa para encontrar-se com um senhor de 66 anos se não por uma motivação divina? Já à entrada, enquanto esquentava as turbinas e encontrava amigos que, em muitos casos, não via já há alguns anos e fazia novos (a arte tem esta enorme capacidade gregária), percebia-se a excitação de todos com aquele momento que desenhava-se já histórico.

E a verdade é que aquele caixote de concreto que a empresa que o gere e empresta seu nome teima em chamar de casa de espetáculo, já aos primeiros acordes daquela mágica Strato branca, transformou-se em uma mesquita e a Meca aquele palco de tímida mas eficiente boca de cena em que, a partir de então, passaria a reinar absoluto -mas muitíssimo bem acompanhado por seu fiel escudeiro e que muito subiu em meu conceito devido a uma apresentação impecável, Jason Rebello; a soberba baixista e cantora Rhonda Smith e a lenda das baquetas 'Narada' Michael Walden- a divindade máxima da guitarra: Jeff Beck. Com a introdução de 'Stratus', o estado catártico da platéia já havia se tornado flagrante e os primeiros sinais de 'fumaça' puderam ser percebidos. Em sequência, seguiram-se recentes e antigos clássicos como 'Led Boots', 'People Get Ready' (arrancando-me as primeiras lágrimas em sua versão totalmente instrumental), 'Big Block' (o melhor power blues instrumental já escrito), 'A Day In The Life' (que me desculpem os Fab 4, mas esta é a versão definitiva), 'Hammerhead' (que riff!) e  'Nessum Dorma' (ainda acho a tecladeira meio caretona mas foi ovacionada) misturado a coisas inesperadas como 'Rollin' & Tumblin'' e 'I Wanna Take You Higher', proporcionando a Mrs. Smith belas demonstrações de pleno domínio vocal e muito carisma -talvez adquiridos nos muitos anos com Prince-, e 'How High The Moon', um raro momento em que volta a trocar afagos com sua antiga companheira Gibson Les Paul preta.   

A destacar o fato de que, apesar de tão pouco tempo juntos, todos os músicos tiveram um desempenho exemplar, ao ponto de sentir que o timbre inigualável, o  estilo personalíssimo no finger style, a criatividade sempre surpreendente e a precisão do trêmolo de JB tem, como há muito não víamos, uma banda de verdade nas mãos; um seleto grupo de músicos, além de fantásticos como todos com os quais já dividiu palcos e estúdios em seus mais de 50 anos de carreira, imbuido do firme propósito de desenvolver em um breve futuro trabalhos que venham a tornar-se referências na carreira daquele monstro sagrado que tão generosamente lhes estendeu tamanho grau de confiança, como em 'Wired', 'Blow By Blow', 'There & Back' e 'Guitar Shop'.

É claro que, com menos de 2 horas, muitos clássicos acabaram por ficar de fora; no entanto, tivésemos 5 horas de Jeff Beck em cima daquele palco (ou será púlpito?) e continuaríamos sentindo falta de algo. E este sentimento de 'quero cada vez mais' só corrobora a genialidade e atemporalidade de seu trabalho. Só para ilustrar, puxando muito rapidamente por minha já combalida e cinquentenária memória, ficaram de fora do set list -de 20 músicas!!!- unanimidades como 'Cause We've Ended As Lovers', 'Goodbye Pork Pie Hat', 'Blue Wind' 'The Pump', 'The Golden Road', 'Star Cycle', 'Behind The Veil', 'Where Were You' e 'Nadia'. Particurlamente, a ausência desta última foi a que me causou maior frustração pois pretendia fazer uma surpresa a meu headbanger-eternamente mirim transmitindo-a pelo celular, por ser a sua predileta.
Sim, mesmo os deuses erram mas, a despeito disso e de uma minúscula 'engasgada' aos primeiros segundos de 'Nessum Dorma', a minha fé em Deus -digo, Jeff Beck- continua não só inquebrantável como cada vez maior. Já posso morrer feliz pois, finalmente, vi e senti Deus. E Ele estava a poucos metros de mim.
E por muito pouco, este dia não entrou para a História como 'O Dia Em Que Os Guitarristas Cometeram Suicídio Coletivo' -cheguei a flagrar alguns tramando sequestrar um ônibus e levá-lo para o Complexo do Alemão.

Alguns dos malucos que encontrei pelo caminho, tutti buona gente.

PS: agradecimentos muitíssimo especiais ao parceiraço, ao meu lado no centro da foto acima, Paulo César Nunes (aka PC) pelas belas imagens que ilustram esta postagem. 
Valeu, mesmo, mermão!!!

*************************
VIDEOS




quarta-feira, 24 de novembro de 2010

EU VOU!!!!


Depois eu conto...ou não.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

KILL IT KID-KILL IT KID (2010 / G&B Turbo Edition)

Sabem aqueles domingões em que acordamos cheios de preguiça, sorumbaticamente ligamos a TV da sala a caminho da cozinha para preparar o café da manhã e, já de volta com aquele copão de larica shake* e um delicioso pãozinho na chapa atolado em manteiga, começamos a zapear aleatoriamente os trocentos canais a cabo em busca de algo interessante e nada nos parece adequado para iniciar o dia??? Pois é,  há algumas semanas em um destes canais, dei com as fuças em uma apresentação deste quinteto -Chris Turpin (vocais/guitarras/violões), Stephanie Ward (vocais/pianos), Richard Jones (violino/vocais), Adam Timmins (baixo/banjo) e Mark Jones (bateria/percussão/mandolin)- de moleques natural de Bath e a cada mordida naquele pão quentinho e goles generosos daquele delicioso shake, o som da Kill It Kid impregnava meus ouvidos com uma espécie de punk folk rock absolutamente contagiante. Em seguida, já totalmente refastelado no sofá, acendi aquele primeiro cigarro (ô vício maldito!) do dia e...não mais consegui sair de frente da TV enquanto aquele show recheado de energia, mesmo em seus momentos acústicos, não chegasse ao fim. O próximo passo foi varrer a grande rede atrás de seu único disco até o momento mas, já desesperançoso por não conseguir nada além de apenas notícias e resenhas sempre elogiosíssimas, fui obrigado a recorrer à expertise da Primeira Dama do G&B e Diretora-Presidente da S.E.F.O.D.I. (Secretaria Especial para Fomento, Operacionalização e Desenvolvimento em Informação) que, após um périplo de algumas horas por suspeitíssimos sites russos e warezes diversos e já quase enlouquecendo nosso anti-vírus, conseguiu alguns arquivos em doses homeopáticas e, ao final, além do álbum oficial, estávamos de posse de um bom número de faixas raras, singles e b-sides, adicionadas aqui como bonus mas não sem antes um trabalhoso processo de remasterização e normalização para alinhar as diferentes ambientações e equalizações. Daí o sub-título G&B Turbo Edition.

Durante o processo de busca do link perfeito -o pouco que se me apresentava encontrava-se incompleto ou em baixíssima qualidade devido a bitrates ridículos-, deparei-me com muita informação e até mesmo vídeos. E o que mais me impressionou foi a maneira inusitada como foram revelados ao público e à mídia especializada: o produtor John Parish foi convidado pela Bath Spa University a conduzir um projeto no melhor estilo Big Brother em que todo o processo de gravação de um disco seria monitorado por 20 estudantes previamente selecionados, 12 horas ao dia. E adivinhem qual a banda cobaia escolhida por Parish para a empreitada. Ao que tudo indica, foi a opção mais acertada pois, além do som personalíssimo, a KIK já havia arrebanhado um considerável séquito no campus e seus primeiros singles (estão todos aqui entre os bonus) rapidamente alcançaram boas execuções nas rádios universitárias mais descoladas do Reino Unido, garantindo à banda um contrato com o pequenino, porém prestigiado, selo indie One Little Indian. E foi assim que chegaram a este belo trabalho -mais um para aquela listinha de melhores do ano, além de seus responsáveis serem sérios concorrentes a Revelação do Ano- impregnado de uma saudável dualidade fazendo sua música oscilar da crueza à sofisticação, da virulência ao lirismo, em questão de segundos. Para aqueles que não tem medo do novo, mesmo que utilizando-se de elementos tão antigos quanto o folk e o bluegrass e  todo o ferramental tradicional para sua execução com propriedade, a Kill It Kid é um prato cheio. Afinal, apesar de alguns não concordarem, antigo não é sinônimo de obsoleto.


************************
VIDEOS

Audição para o projeto da Bath Spa University



* 300 ml de leite integral, 2 colheres de sopa de leite em pó, 2 colheres de sopa de achocolatado de sua preferência (prefiro Toddy ou Nescau) e 1/2 colher de sopa de Ovomaltine.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

THE REIGN OF KINDO

POP. Eita palavrinha perigosa! Para alguns pouquíssimos como eu, apenas o universo em que se inserem quase todas as manifestações artísticas surgidas a partir do século XX, incluindo aí o rock -talvez a principal revolução estética e comportamental de todos os tempos; para muitíssimas outras...um palavrão impronunciável. Mas se até o Papa é pop, queiram ou não, o rock também o é. Contudo, na prática, este simpático diminutivo adquiriu contornos altamente pejorativos, o que é compreensível visto que agrupar de Lady GaGa a Metallica é uma -aparentemente, ao menos- loucura. A dolorosa verdade é que a aberração do século faz absoluta questão de  pertencer a este saco de gatos globalizado, enquanto os algozes do compartilhamento gratuito de cultura julgam-se à parte deste mundinho de frivolidades. De minha parte, acho que existe luxo e lixo em todos os gêneros. O problema é que alguns fedem.
Certa vez, totalmente enfumaçado demais, cunhei uma equação (de graus variados mas, devido ao meu estado brenfoetílico, acredito que predomine o 3º grau) com a única pretensão de demonstrar a existência de um determinado mix de gêneros cujo resultado será sempre BOA MÚSICA:
pop + folk : prog + r&b x jazz + rock
Reparem que desta pequena operação matemática, conforme a potencialização aplicada a cada variante, resultaram de Dredg a Steely Dan; de Jamiroquai a Jethro Tull; de Lobster Newberg a Ides Of March; de Ben Folds 5 a Chicago; de Animal Liberation Orchestra a Supertramp.

E, mais recentemente, a americana de  Buffalo, NY, The Reign Of Kindo. Surgida das cinzas da 'muderninha' This Day & Age, após a saída de seu vocalista, guitarrista e principal compositor Jeff Martin em 2006 devido às já folclóricas diferenças musicais, os quatro membros remanescentes - Joe Secchiaroli (baixo/vocais), Kelly Sciandra (piano/teclados/trumpete), Michael Carroll (guitarras/percussão) e Steven Padin (bateria)- resolvem, em um ato corajoso, ampliar o espectro de atuação de sua música, abandonando por completo o simulacro de brit pop que tocavam em seu projeto anterior. Para tanto, deslocam Joe e seu belo timbre para o centro do palco e guitarra-base, trazem Jeff Jarvis para as 4 cordas e vocais e -aí reside o pulo do gato!- redirecionam o foco instrumental da banda para as tramas e comportadas dissonâncias do excelente jazzy piano de Sciandra. Some-se a isso certo reforço nos elementos de sopro (já presente antes nas ótimas intervenções do trumpete do mesmo Sciandra e de eventuais saxes) e percussão e, em poucos meses, a sonoridade cheia de groove e fraseados palatavelmente complexos da TROK estava formatada e, desde então, sofreu pouquíssimas alterações. Não que isto signifique ausência de evolução, longe disso!, até porque no recentíssimo 'This Is What Happens' fica percebe-se claramente um belo ganho em termos técnicos -saltando aos ouvidos a bateria de Carroll, além do cada vez melhor Sciandra- e criativos. Infelizmente, ainda durante as gravações deste trabalho, Sciandra anuncia sua saída da banda ao final das sessões. Já substituido por Danny Pizzarro, Jr. (vide vídeos abaixo), a princípio, tecnicamente, não parece ter havido uma perda substancial. Já em termos criativos só o saberemos em um próximo trabalho.




******************************
VIDEOS




segunda-feira, 8 de novembro de 2010

FORA DO EIXO IV: MIDNIGHT-23:61(2010) / Azerbaijão

Embora até possa ser uma novidade para mim e muitos parceiros, esta banda de um dos países comumente expostos na mídia como fonte de frequentes conflitos, os progmetalheads, devido às diversas  e sempre elogiosas resenhas amadoras e profissionais que li em blogs e sites por aí, muito provavelmente já estejam carecas (sorry, não pude resistir à piada) de ouvir. No entanto, pouco consegui apurar sobre a banda além de ser integrada por quatro malucos guerrilheiros do roquenrou no país e que atendem por nomes com consoantes em demasia -Mikail Rafiev (Vocais) / Hafiz Bakhishov (Guitarras/Teclados/Vocais) / Andrey Kudinov (Baixo) e Fardi Ramazanov (Bateria/Percussão/Vocais)- e reforçados ao vivo por Kenan Aleskerov nos teclados. O restante é o mais puro "assim é se me parece", como também o próprio ambiente musical local. Mas algumas particularidades me chamaram a atenção, como o anúncio de uma espécie de funeral do rock -seja lá o que isso quer dizer, afinal, já tentaram enterrá-lo diversas vezes-  em que a principal atração seria a execução na íntegra deste '23:61'. Na verdade, o pouco que li a respeito da banda foi em tom extremamente respeitoso e entendo perfeitamente o motivo de tamanho prestígio já que este disco foi uma tremenda surpresa desde que o conheci há poucos meses. Capitaneado pelas guitarras muitíssimo bem timbradas de um Bakhishov -que, por sinal, me parece a força motriz da sonoridade da banda- procurando sempre fugir dos estereótipos puramente 'shred' do gênero e demonstrando criatividade e precisão inquietantes, seja nos poderosos e algo complexos riffs, nas alternâncias de climas ou nas interessantes harmonizações. Outro atrativo -fundamental, no meu entender, quando procuro por música fora da rota USA/UK- é o charme da infusão discreta da cultura musical azerbaijã, seja de forma melódica ou percussiva, neste último caso percebido através da utilização de percussão típica e afinações dos tambores e caixas. Acredito ser desnecessário dizer que todos os músicos são fantásticos -além de Bakhishov, vale um belo destaque para o responsável pelas baquetas Ramazanov- mas, e isso é muito importante!, detestam jogar nota fora e os vocais singulares de Rafiev tem muitíssimo mais feeling que muito gogó já 'cascudo' no mercado. Da suscintamente linda 'Ease', uma das melhores intros em um trabalho prog que escuto em muito tempo, à soturna e longa 'Infinity' escancarando um sentimento de desespero que parece permear todo o disco como um conceito, todas as faixas descem redondinhas -a ponto de minha predileta ser 'Unudulmus', a única cantada na língua mãe.
Mas uma pergunta teima em não calar: o que quiseram dizer com este título? Pesquisei o que meu pouco tempo me permitiu -é claro que pensei ser uma espécie de liberdade poética para 'meia-noite e um', sei lá- e não encontrei bulhufas. Aceito sugestões.
Independentemente disto, a Midnight e este disco de título tão enigmático são, ao menos para mim, uma das gratas surpresas do ano.