Estou por horas tentando preencher esta tela em preto com algo que, de verdade, traduza meu sentimento -e de todos os presentes, pois rodei pela pista e vi a mesma expressão misto de incredulidade e êxtase em cada rosto- naquela noite chuvosa de 24.11.2011 no Vivo Rio. Sinceramente, não vejo outra maneira que não a de apelar para a religião. Afinal, como esperar que alguns milhares de cabeças desloquem-se do aconchego de seus lares no dia mais violento da história de sua Cidade Maravilhosa para encontrar-se com um senhor de 66 anos se não por uma motivação divina? Já à entrada, enquanto esquentava as turbinas e encontrava amigos que, em muitos casos, não via já há alguns anos e fazia novos (a arte tem esta enorme capacidade gregária), percebia-se a excitação de todos com aquele momento que desenhava-se já histórico.
E a verdade é que aquele caixote de concreto que a empresa que o gere e empresta seu nome teima em chamar de casa de espetáculo, já aos primeiros acordes daquela mágica Strato branca, transformou-se em uma mesquita e a Meca aquele palco de tímida mas eficiente boca de cena em que, a partir de então, passaria a reinar absoluto -mas muitíssimo bem acompanhado por seu fiel escudeiro e que muito subiu em meu conceito devido a uma apresentação impecável, Jason Rebello; a soberba baixista e cantora Rhonda Smith e a lenda das baquetas 'Narada' Michael Walden- a divindade máxima da guitarra: Jeff Beck. Com a introdução de 'Stratus', o estado catártico da platéia já havia se tornado flagrante e os primeiros sinais de 'fumaça' puderam ser percebidos. Em sequência, seguiram-se recentes e antigos clássicos como 'Led Boots', 'People Get Ready' (arrancando-me as primeiras lágrimas em sua versão totalmente instrumental), 'Big Block' (o melhor power blues instrumental já escrito), 'A Day In The Life' (que me desculpem os Fab 4, mas esta é a versão definitiva), 'Hammerhead' (que riff!) e 'Nessum Dorma' (ainda acho a tecladeira meio caretona mas foi ovacionada) misturado a coisas inesperadas como 'Rollin' & Tumblin'' e 'I Wanna Take You Higher', proporcionando a Mrs. Smith belas demonstrações de pleno domínio vocal e muito carisma -talvez adquiridos nos muitos anos com Prince-, e 'How High The Moon', um raro momento em que volta a trocar afagos com sua antiga companheira Gibson Les Paul preta.
A destacar o fato de que, apesar de tão pouco tempo juntos, todos os músicos tiveram um desempenho exemplar, ao ponto de sentir que o timbre inigualável, o estilo personalíssimo no finger style, a criatividade sempre surpreendente e a precisão do trêmolo de JB tem, como há muito não víamos, uma banda de verdade nas mãos; um seleto grupo de músicos, além de fantásticos como todos com os quais já dividiu palcos e estúdios em seus mais de 50 anos de carreira, imbuido do firme propósito de desenvolver em um breve futuro trabalhos que venham a tornar-se referências na carreira daquele monstro sagrado que tão generosamente lhes estendeu tamanho grau de confiança, como em 'Wired', 'Blow By Blow', 'There & Back' e 'Guitar Shop'.
É claro que, com menos de 2 horas, muitos clássicos acabaram por ficar de fora; no entanto, tivésemos 5 horas de Jeff Beck em cima daquele palco (ou será púlpito?) e continuaríamos sentindo falta de algo. E este sentimento de 'quero cada vez mais' só corrobora a genialidade e atemporalidade de seu trabalho. Só para ilustrar, puxando muito rapidamente por minha já combalida e cinquentenária memória, ficaram de fora do set list -de 20 músicas!!!- unanimidades como 'Cause We've Ended As Lovers', 'Goodbye Pork Pie Hat', 'Blue Wind', 'The Pump', 'The Golden Road', 'Star Cycle', 'Behind The Veil', 'Where Were You' e 'Nadia'. Particurlamente, a ausência desta última foi a que me causou maior frustração pois pretendia fazer uma surpresa a meu headbanger-eternamente mirim transmitindo-a pelo celular, por ser a sua predileta.
Sim, mesmo os deuses erram mas, a despeito disso e de uma minúscula 'engasgada' aos primeiros segundos de 'Nessum Dorma', a minha fé em Deus -digo, Jeff Beck- continua não só inquebrantável como cada vez maior. Já posso morrer feliz pois, finalmente, vi e senti Deus. E Ele estava a poucos metros de mim.
E por muito pouco, este dia não entrou para a História como 'O Dia Em Que Os Guitarristas Cometeram Suicídio Coletivo' -cheguei a flagrar alguns tramando sequestrar um ônibus e levá-lo para o Complexo do Alemão.
Sim, mesmo os deuses erram mas, a despeito disso e de uma minúscula 'engasgada' aos primeiros segundos de 'Nessum Dorma', a minha fé em Deus -digo, Jeff Beck- continua não só inquebrantável como cada vez maior. Já posso morrer feliz pois, finalmente, vi e senti Deus. E Ele estava a poucos metros de mim.
E por muito pouco, este dia não entrou para a História como 'O Dia Em Que Os Guitarristas Cometeram Suicídio Coletivo' -cheguei a flagrar alguns tramando sequestrar um ônibus e levá-lo para o Complexo do Alemão.
Alguns dos malucos que encontrei pelo caminho, tutti buona gente.
PS: agradecimentos muitíssimo especiais ao parceiraço, ao meu lado no centro da foto acima, Paulo César Nunes (aka PC) pelas belas imagens que ilustram esta postagem.
Valeu, mesmo, mermão!!!
Valeu, mesmo, mermão!!!
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