Amigos costumam me cobrar o porquê de destinar tão pouco espaço no G&B para muitas das bandas e músicos que sabem ser eu completamente fanático. Respondo que estes -é o caso de Led Zeppelin, Creedence Clearwater Revival, Santana, Free/Bad Company, The Who, Jeff Beck, Gentle Giant, entre muitos outros- já costumam receber tal atenção dos inúmeros blogs musicais a cada lançamento, reedição de álbuns históricos, etc e tal, que julgo desnecessário, diante de tanto material que tenho ainda a oferecer mesmo que nas doses homeopáticas que me permite meu pouco tempo livre, ser apenas mais um na multidão, salvo surja um fato novo que desencadeie uma terrível necessidade de escrever algo e, aproveitando o embalo, disponibilizar o referido material. E é justamente este o caso aqui.
Quando fiquei sabendo que este disco estava em fase de produção, logo pensei: "Mais uma jogada de marketing do mega-hiper-blaster-tubarão da indústria musical Mr. Clive Davis! Quando Carlos Santana conseguirá se livrar das mandíbulas deste cara?". Tudo bem, o octagenário mais influente da indústria do entretenimento conseguiu -com sua fórmula de entupir um cd com convidados; uns mais, outros menos ilustres- levar o chicano mais querido do rock aos pontos mais altos das paradas com o excelente 'Supernatural'(99) mas, com a manutenção da receita nos trabalhos seguintes, Carlos Santana passou a receber críticas desfavoráveis -muito embora continuassem vendendo muito bem, obrigado. E é bom lembrar que no meio daquela assepsia pop, o matreiro chicano sempre encontrou uma maneira de deixar sua forte assinatura.
De minha parte, acho que o sexagenário
Carlos Alberto Santana Barragán não precisa provar mais nada a ninguém. Afinal, lá se vão
41 anos desde que sua trupe latina invadiu
Woodstock e abalou o mundo
pop com sua batucada afro-latina psicodélica misturada a uma guitarra ensandecida e de timbre, pegada e fraseados únicos -lembro-me perfeitamente do impacto que 'Evil Ways' me causou quando a escutei pela primeira vez no radinho do
Corcel 69 'zero bala', adquirido por meu saudoso pai, em seu passeio de estreia. A verdade é que, desde seu surgimento,
Santana nos brindou com inúmeros trabalhos antológicos por toda a década de
70 e lançou alguns excelentes discos durante os
80. Na verdade, desconheço um só disco realmente ruim do
gringo, apenas alguns são melhores que outros.

Quanto a esse disco, fiz questão de não baixá-lo ou ler qualquer resenha oficial -na verdade, é algo que faço cada vez menos- antes de adquiri-lo no original e sorver seu conteúdo sem a influência de fatores externos que não a tríade beer, cigarettes & weed. Ao contrário de muitos, não tinha o menor receio da qualidade do conteúdo pois, conhecendo Santana tão bem, sei que se alguém tem condições de acrescentar algo a clássicos absolutos já em suas versões originais, este alguém é ele; afinal, é possível montar uma compilação dupla, talvez tripla, com os excelentes covers (na realidade, estão mais para versões) com que Santana já nos agraciou desde o lançamento de seu primeiro disco. Quem mais poderia acrescentar salerosidade a 'Whole Lotta Love', 'Sunshine Of Your Love' e 'Smoke On The Water' (aqui, cabe restrição apenas à frustrada tentativa de agregar o fraseado de 'In My Time Of Dying' ao riff original) sem cair no pastiche? Quem mais se atreveria a criar um arranjo para 'While My Guitar Gently Weeps' eliminando um dos fraseados de guitarra mais emblemáticos da história da música? E o que dizer de 'Little Wing', tão respeitosa e ao mesmo tempo tão pouco hendrixiana e com um Joe Cocker arrasador e sempre belíssima? Até a sem graça 'Riders On The Storm' ficou deliciosa! E por aí vai...Ok, 'Back In Black' com Nas no rap foi meio que uma forçação de barra em conseguir um efeito walkthisway nas paradas mas...sabe que pode dar certo? Ao menos não escolheram como música de trabalho a baba 'Photograph' da Def Leppard, pois para esta não existe salvação meeeesmo, ou convidaram Justin Timberlake para o projeto.
Resumindo, apesar de ter gostado imensamente do resultado final deste 'Guitar Heaven', ainda anseio por um trabalho mais...como direi?...de banda. Mas..sei lá...de repente, Mr. Davis, dependendo do índice de vendas, o convença a lançar uma sequência com o sugestivo nome de 'Guitar Hell'. Só espero que Señor Carlos lembre-se que um dia, no auge de seu sucesso nos seventies, encheu-se de coragem para romper com as amarras da indústria musical e dedicar-se a fazer a música que ambicionava. É claro que, a esta altura não se exigirá tanto, mas um pouco daquele espírito sonhador lhe faria muito bem para um próximo trabalho.