
Esta é mais uma daquelas
postagens que desejo fazer há um bom tempo e resolvi aproveitar esta semana dedicada aos pimpolhos para concretizá-la; afinal, guloseimas em geral, e gomas de mascar (
bubblegum) em particular, são itens inerentes ao universo infantil, certo? De minha parte, devo muito de minha iniciação no
rock a este despretensioso substrato do gênero. Mas o que, exatamente, seria o
bubblegum? O gênero, segundo consta, começou a tomar forma em meados dos
sixties nos
EUA devido à necessidade da indústria musical em abocanhar uma fatia de mercado formada por pré-adolescentes e, até mesmo, adolescentes que curtiam o
rock enquanto ritmo mas não tinham a menor noção -e também cagavam e andavam para- do caráter rebelde do discurso dos grandes ídolos do gênero à época. A receita era muito simples: uma banda formada, muitas vezes artificialmente, por garotos recém-saídos da puberdade e que soubessem apenas tocar uns poucos acordes (apresentações ao vivo eram raras e na enorme maioria dos casos pouco tocavam nas gravações), canções de apelo fácil, quase pueris, e com refrões pegajosos e muitas vezes valendo-se de termos mais próximos a onomatopéias ('Yummy Yummy Yummy', 'Co-Co', 'Chewy Chewy', 'Chop Chop', 'Hanky Panky' e por aí vai). Para que tudo desse certo e fossem produzidos com a rapidez de uma linha montagem, eram utilizados verdadeiros exércitos de compositores e produtores -alguns tornaram-se célebres como os norte-americanos
Kasenetz &
Katz, considerados os criadores do gênero, e os ingleses
Chinn &
Chapman- voltados para este propósito, e o resultado não podia ser outro: o
bubblegum explodiu em todo o mundo. Tornou-se um verdadeiro 'chiclete'. Aliás, em uma análise fria, ousaria afirmar, mesmo correndo o risco de uma emboscada na madrugada ao voltar de minhas esbórnias, que o começo de bandas como
Who e
Kinks foi puro
bubblegum. E tanto sucesso acabou por criar uma onda de pastiches do gênero, principalmente devido à indústria de desenhos animados -notadamente,
Hannah-Barbera- ter adotado o gênero e o utilizado à exaustão, vide a
fake The Archies e sua 'Sugar Sugar', e uma infinidade de bandas do gênero
one hit wonders.
Mas não pensem que o gênero não tem admiradores apaixonados. De
Ramones, que regravou, entre outros clássicos do gênero, uma excelente e fiel versão de 'Indian Giver' da
1910 Fruitgum Co.,
Talking Heads, de forma mais anárquica, com '1-2-3 Red Light' da mesma banda e
Billy Idol que fez do
cover de 'Mony Mony', de
Tommy James & The Shondells, um grande sucesso nos 80 a
Sex Pistols e
Van Halen, a lista é grande.
Aqui, idealizei uma pequena amostragem através de compilações não só, em minha modestíssima opinião, de algumas das bandas mais emblemáticas do gênero mas, também, daquelas com passagens interessantíssimas por esse delicioso e ingênuo universo.

Nessa modesta coletânea editada pela lusa
MoviePlay e encontrada com facilidade em qualquer banquinha de saldo, estão os maiores sucessos de 2 de minhas bandas
bubblegum prediletas e, não por acaso, ambas do catálogo da
Buddah, equivalente para o gênero ao que a
Sun significou para o
rock'n'roll, a
Motown para o
soul ou ainda a
Chess para o
blues. A
1910 Fruitgum Co., liderada pelo guitarrista
Frank Jeckell, conseguiu um resultado fantástico, emplacando vários
hits; além dos já citados acima, 'Simon Says' e a minha prediletaça desde sempre 'Goody Goody Gumdrops', entre outros. Em 2007 reuniram-se, com apenas
Jeckell e
Floyd Marcus da formação original, para uma mini turnê.
A Ohio Express é outro belo exemplar do gênero e fruto da conjunção de diversos session men do staff da produtora de Kasenetz & Katz em associação com o vocalista e compositor Joey Levine, um dos mais prolíficos da cena bubblegum americana com sucessos do naipe de 'Yummy Yummy Yummy', 'Down At Lulu's', 'Chewy Chewy', etc. Dizem as más línguas que a banda costumava tocar em, às vezes, 4 palcos em cidades diferentes ao mesmo tempo, mas só uma, obviamente, contava com os vocais anasalados de Levine. Ou então esse Expresso de Ohio era muito veloz mesmo.
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De todas as bandas
bubblegum, a
Tommy James & The Shondells talvez seja a, digamos assim, mais levada a sério; ou ao menos fez uma força enorme para isso e até chegou a criar, em meio a 'Mony Mony's e 'Hanky Panky's, alguns clássicos fora do estilo como 'Crimson & Clover' -infelizmente, aqui, na versão
single, bem reduzida em relação à sua
album version-, 'Crystal Blue Persuasion' e 'Sweet Cherry Wine' em albums,
'Crimson & Clover'(68) e
'The Cellophane Symphony'(69), que costumam ser descritos por muitos como discotecas básicas. Foram das bandas mais bem sucedidas, em crítica e público, do gênero. Mais um disquinho da lavra
MoviePlay e encontrado nos melhores saldões das piores lojinhas de CD.
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Huuuuuummmm...dessa aí não vou fazer nenhum tipo de comentário mesmo que curto, pois são de conhecimento obrigatório, mesmo que seja para dizer que "ouvi mas achei uma merda". Sim, foram uma banda
fake (como muitas), criada em laboratório (como muitas), um dos pastiches do estilo (como muitas) mas, de longe, um ícone não só do
bubblegum como do
pop de uma maneira geral. Ainda hoje arrastam uma legião de fãs -só em
Sampa talvez existam centenas de fãs-clubes- à procura de seus discos, em muito pelo gerenciamento eficiente da carreira por parte de quem mais lucrou com eles -agentes, produtores, gravadora e
Hollywood- mas também pela bela quantidade de clássicos -da pena de alguns dos compositores mais caros da época- até hoje frequentando os
dials de todo o globo.
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Fique tranquilo, vocês não fumaram um 'do veneno', não tomaram 1/4 de 'purple haze', chá de trombeta está fora de cogitações, nem aquele cogumelo de zebu e muito menos sabe onde fica
Jacarepaguá. Esta é, sim, aquela mesma
Sweet que viria a tornar-se um dos expoentes do
hard glam e formada, em seu
line up clássico, por
Connolly, Scott,
Priest & Tucker a partir do início dos 70. É impossível contar a rica história desta banda em apenas poucas linhas mas vou tentar: era uma vez 2 lobos maus -
Nicky Chinn &
Mike Chapman - que chamaram uma banda cansada de dar murro em ponta de faca em
clubs enfumaçados para, apenas aproveitando o excelente alcance de seu vocalista e substituindo os demais integrantes por músicos contratados por não os julgarem capazes de dar conta do recado em estúdio, dar vazão a uma penca de oportunistas sucessos na linha
bubblegum, a esta altura -68/69- já em declínio nos
EUA mas ainda rendendo bons frutos na terra da Rainha, talvez mesmo em toda a
Europa. E assim tornaram-se um sucesso mundial com canções -todas da lavra
Chinn/Chapman e ainda sem o craque
Andy Scott nas 6 cordas- como 'Co-Co', 'Funny Funny', 'Chop Chop', 'Wig Wam Bam', etc. Divertidas e servindo a seus propósitos, é verdade, mas a banda estava insatisfeita, não só pelo fato de serem pouco aproveitados em estúdio, apesar da excelência inquestionável como instrumentistas, mas também pelas desumanas restrições contratuais. Com a entrada de
Scott, que caiu como uma luva nas pretensões
hard da banda, esta insatisfação aumenta e conseguem renegociar o contrato de uma forma que pudessem ter canções de própria lavra editadas como
b-sides e produzidas com ampla liberdade criativa. E assim começou uma revolução que os transformou em um grande sucesso pois, embora suas composições fossem ignoradas pelas rádios, eram sempre o
tour de force de suas sempre bombásticas apresentações. O resto...bem...o resto é uma outra história

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Bem, esse é o
bubblegum, um gênero que rende frutos ainda hoje, seja apenas como influência para o
punk pop ou através de bandas que se auto-intitulam seus legítimos representantes. Quanto a estas últimas, confesso não ter subsídios para tecer quaisquer comentários pois nenhum nome me vem à mente. Se alguém souber de alguma coisa, deixe
links e/ou informações a respeito nos comentários.
Divirtam-se, crianças!!!