
Gallera, estou completamente
C-H-A-P-A-D-O!!!!
Calma, não tomei um 'purple haze' ou algo parecido. Tudo teve início quando um parceiro,
Jorge Sant'Anna, me perguntou se tinha algo de
Terry Reid e respondi -meio que burocraticamente, confesso- que não conhecia a figura mas que iria pesquisar a respeito. De repente veio-me um estalo: 'Peraí, esse não é aquele....?'. Sim,
Terry Reid é o maluco que, não satisfeito em ter jogado o melhor emprego do mundo no lixo (afinal, foi o primeiro vocalista cogitado por
Jimmy Page para assumir o microfone dos
New Yardbirds, protótipo de uma obscura
bandinha de garagem conhecida por
Led Zeppelin, mas polidamente declinou do convite), ainda tornou-se responsável por metade do
line-up desta que foi, é e sempre será a maior banda de todos os tempos. Calma, eu explico esta matemática: ao recusar o convite feito por
Page,
Reid indicou um obscuro vocalista de nome
Robert Plant que, por sua vez, carregou o maior baterista da história,
John Bonham. No entanto, isso é tudo que sempre soube do cara pois nunca o havia escutado, até porque nunca vi sequer um disco seu lançado por aqui.
Bom, criado o interesse, comecei a correr atrás de material do cara e, conforme ia baixando e ouvindo, cada vez me admirava mais não só com sua estupenda voz mas com seu extraordinário e pioneiro trabalho autoral.
Vou tentar passar para vocês não só o pouco que descobri a respeito deste tão extraordinário quanto desconhecido intérprete, compositor, guitarrista e arranjador. Quero, antes de mais nada, fazê-los compreender o que tanto me impressionou nesse talento há mais de 40 anos nas minhas fuças e que, só agora, vim a descobrir. Espero que consiga.
Terry Reid foi um típico prodígio. Aos 15, este inglês de
Huntington foi descoberto por
Peter Jay, baterista e líder de uma banda de baile de certo sucesso local -
The Jaywalkers- e juntos lançaram alguns
singles entre 66 e 67 antes da dispersão. Imediatamente,
Reid chamou a atenção do tubarão
Mickie Most, que não perdeu tempo e lançou o single 'Better By Far', feita sob medida para as rádios. Com este primeiro objetivo alcançado, chegou a hora de lançar um álbum e é nesse instante que surgem as primeiras desavenças entre
Reid e o linha dura, e reconhecido escravagista musical,
Most. Enquanto
Reid desejava impor seu excelente material autoral com arranjos recheados de psicodelia,
folk e
blues,
Most mantinha-se firme em seu propósito de torná-lo um baladeiro típico da época. E o primeiro
round foi vencido por
Reid que, astutamente, cedeu à imposição do
cover de 'Bang Bang' (sucesso na voz de
Nancy Sinatra, e completamente 'desconstruída' neste novo arranjo), e que acabou por dar título ao álbum, mas incluiu uma estupenda recriação com mais de 10 minutos de 'Season Of The Witch' de
Donovan, uma de suas maiores infuências. No mais, todo o restante do material era completamente autoral, incluindo obras-primas como 'Wrinting On The Wall', 'Without Expression', 'Tinker Taylor' e 'Loving Time' (boa demaaaaaiiiis!!!). O resultado foi um fracasso de vendas, apesar do reconhecimento de seu talento por, entre outros,
Van Morrison,
Graham Nash, Eric Clapton, Jimi Hendrix (consta que chegou a rolar umas
jams) e, lógico,
Jimmy Page. Só um detalhe:
Terry Reid tinha apenas 18 anos!!!
E é nesse momento que a capacidade empresarial de
Mickie Most mostra serviço ao conseguir encaixá-lo em uma
USA tour com o
Cream. Com isso,
Reid consegue arrebanhar uma quantidade suficiente de fiéis seguidores para justificar o lançamento de um próximo álbum e um retorno consagrador à sua
Inglaterra. E é neste período que surge o convite de
Jimmy Page e blá, blá, blá.
Com prestígio em alta e popularidade em ascenção, é lançado
'Terry Reid'(69) e o placar é ampliado a seu favor pois muitos consideram este seu melhor trabalho com obras-primas do quilate de 'Rich Kid Blues', 'Stay With Me Baby' e 'Silver White Light' e, como não poderia deixar de ser,
covers arrasadores de 'Superlungs My Supergirl' (novamente
Donovan) e 'Highway 61 Revisited' (para mim, só superada pela versão
alive de
Johnny Winter). E, mais uma vez, surge um convite. Desta vez, para substituir
Rod Evans no
Deep Purple. Mais um excelente emprego recusado e um ilustre desconhecido
Ian Gillan abocanha a vaga e...bem...o resto é história. Como prêmio, mais uma turnê americana, desta feita com
The Rolling Stones. Mas as desavenças com
Most se agravam e
Reid decide mudar-se provisoriamente para ares californianos enquanto uma batalha legal era travada. Retorna brevemente para participar do lendário festival da
Ilha de Wight em 70 mas somente em 73 consegue um novo contrato, agora com a
Atlantic Records, e com
Eddie Offord nos controles grava
'River', já recheado de influências americanas mas tão belo e provocador quanto seus predecessores. Mas esse hiato, às vezes tão cruel no
showbusiness, mostra suas garras pois, devido ao enorme sucesso de seu confesso seguidor e admirador
Robert Plant à frente do
Led Zeppelin, seu timbre poderoso já não possui a chama da novidade -a despeito do excelente material contido em seus trabalhos.
Como se não bastasse, passa por um novo período de afastamento dos estúdios e somente em 76 consegue um contrato com a
ABC Records para a gravação de
'Seed Of Memory', mais comportado mas, ainda assim, um belíssimo trabalho com produção de seu fiel amigo
Graham Nash. Mais uma nova tentativa com o mais
hard, e também recheado de excelentes momentos,
'Rogue Waves' em 79 e a saída de cena em 81 para tornar-se músico de estúdio
full time. Trabalhou com, entre outros,
Jackson Browne,
Don Henley e
Bonnie Raitt.
Uma nova oportunidade surge em 91 através da insistência de um antigo admirador,
Trevor Horn. Dessa parceria emerge
'The Driver' que, segundo algumas críticas que li, é um excelente disco de retorno chegando a emplacar o
cover de 'Gimme Some Lovin' na OST de
'Dias de Trovão'. Lança ainda um
single com um
cover de 'The Whole Of The Moon' (The Waterboys). Mas, verdade seja dita, a essa altura o bonde da história já tinha passado. Ou não?
Surpreendentemente,
Rob Zombie resolve incluir nada menos que 3 canções de
'Seed Of Memory' na trilha de seu filme
'The Devil's Rejects'(2006)
e uma espécie de redescoberta ocorre,
Reid volta a excursionar, tendo como parceiros os lendários
Mick Taylor e
Brian Auger, e ainda testemunha o lançamento em cd de sua apresentação no
Festival da Ilha de Wight,
'Silver White Light: Live At Isle Of Wight 1970'. Como se não bastasse, participa
da Waddy Wachtel All Star Band, inicia uma nova turnê britânica e tudo aponta para um novo álbum de material inédito. Assim seja!
Infelizmente,
Terry Reid é mais um daqueles enormes talentos que sofreram com o mau gerenciamento da carreira. Felizmente, hoje temos ferramentas poderosíssimas para reparar, ao menos em parte, erros e injustiças deste nível. Neste momento estou fazendo uso da mais poderosa de todas para levar a vocês a obra deste extraordinário artista muito à frente de seu tempo pois, como
Ledmaníaco, posso afirmar com segurança que seus dois primeiros álbuns contém elementos precursores da sonoridade que acabou por consagrar a banda
.
Salve,
Jorge!!!