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sábado, fevereiro 22, 2014

BLOW OUT (1981)

EXPLOSÃO
Um Filme de BRIAN DE PALMA


Com John Travolta, Nancy Allen, John Lithgow, Dennis Franz, Peter Boyden, etc.

EUA / 107m / COR / 
16X9 (2.35:1)

Estreia nos EUA a 24/7/1981
Estreia em PORTUGAL a 30/4/1982 (Lisboa, cinemas Alfas, Berna e Mundial)



Por esta altura, Brian De Palma tornava-se mais descarado – provavelmente por estar já farto das acusações de plágio aos filmes de Hitchcock – e inclui no seu filme referências mais que óbvias a outros universos fílmicos. Se bem que tenha referido, numa entrevista, que a inspiração para “Blow Out” lhe apareceu durante a montagem de “Dressed To Kill” (a sua obra imediatamente anterior), a verdade é que, para além do mestre do suspense, sempre presente (veja-se por exemplo a sequência das cabines telefónicas, decalcada de “North By Northwest”), De Palma não hesita em socorrer-se de filmes conhecidos, como “The Conversation” (1974), do seu amigo Francis Coppola ou, sobretudo “Blow-Up” (1966), de Michelangelo Antonioni para escrever e dirigir o seu próprio filme. É aliás este último clássico do realizador italiano que está sempre presente. Troque-se a imagem pelo som e as semelhanças são de facto inequívocas.


Mas será que, no fim de contas, podemos perdoar mais esta acção de “plágio” ao realizador americano? Sinceramente acho que sim, porque apesar de se ter apropriado de todas essas ideias alheias, De Palma consegue criar um interessante thriller, ágil e desenvolto, de tensão constante, que resiste muito bem a múltiplas visões. E quando isso acontece, a razão não se prende com a curiosidade do espectador – que já sabe como aquilo irá acabar – mas sim com o modo como a história nos é contada. Consequentemente, é a mestria do realizador que vem ao de cima, ao conseguir despertar-nos interesse para além do enredo propriamente dito, bastando para tal o rigor da mise-en-scène. Ou seja, a Brian De Palma interessa fundamentalmente pegar numa situação e desenvolvê-la, até dela ter extraído todas as potencialidades dramáticas. E é nesse terreno, estritamente cinematográfico, onde a expressividade da imagem (e do som) ganha uma força preponderante, que sobressai o melhor do cinema de De Palma.


Jack Terry (John Travolta) é um sonoplasta que trabalha num pequeno estúdio, especializado em filmes de terror de série B. Possui um vasto arquivo de sons que vai usando aqui e ali para sonorizar certas passagens dos filmes. “Blow Out” inicia-se no visionamento de uma sequência de um desses filmes (onde parece ter havido o cuidado de implantar o maior número possível de clichés por frame), em que os técnicos não conseguem encontrar o grito adequado para colocarem na boca da personagem que vai ser esfaqueada em mais uma “cena do chuveiro”. As audições sonoras sucedem-se mas cada uma é pior que a anterior. Impaciente, Jack resolve dar um passeio nocturno para descontrair, aproveitando para adicionar mais alguns sons à sua colecção.


Nessa deambulação, de contornos algo voyeuristas, Jack testemunha um acidente em que uma viatura se despenha da ponte existente sobre o lago onde se encontra. Atira-se à água, mas só tem tempo de resgatar um dos ocupantes, uma jovem, que iremos saber tratar-se de Sally (Nancy Allen, na altura mulher de Brian De Palma), uma espécie de “prostituta de ocasião”, um engodo usado por um proxeneta, Manny (Dennis Franz) para chantagear figuras públicas. Já no hospital, Jack fica a saber que a vítima mortal era o candidato a Governador com mais possibilidades de vir a ser eleito. Evocando uma questão moral, o responsável pela campanha tenta abafar o caso, convencendo Jack a testemunhar que no carro sinistrado não se encontrava nenhuma mulher. Com alguma relutância Jack acede ao solicitado, mas pouco depois vem a descobrir que as coisas não são tão simples assim e que o acidente foi premeditado, na tentativa concretizada de se assassinar o candidato.


Perante a hostilidade que o ameaça (a ele e a Sally, ligados entretanto por uma cumplicidade de cambiantes amorosas), Jack inicia uma investigação por sua conta e risco, que o leva a reunir várias fotografias do “acidente”, surgidas na imprensa, adicionando ao pequeno filme daí extraído o som registado no gravador. A partir daqui é a fuga para diante, com o assassino (John Lithgow) na sua peugada, determinado a eliminar qualquer testemunha do crime. Brian De Palma faz que cada situação despolete outras, num clima crescente de inquietação, que termina com a morte de Sally e o aproveitamento do seu derradeiro grito para a dobragem da “cena do chuveiro” do filme de terror do início. «É um bom grito…, é um bom grito...», vai repetindo Jack ao acompanhar a montagem.


“Blow Out” é a prova clara de que o chamado “plágio” não deverá ser antecipadamente censurado. Na verdade, somos todos influenciados pelo passado, quer o queiramos quer não. O que realmente importa não é o que se copia, mas como se copia. Há quem o faça bem, há quem o faça mal. Brian De Palma situa-se sem qualquer dúvida no primeiro caso. Pegou em (boas) ideias constantes em filmes anteriores e desenvolveu-as, dando-lhe o seu cunho muito pessoal. Não vejo qualquer problema nisso. Porque, no fim, foi o cinema que ficou a ganhar: “Blow Out” é um filme muito agradável de se seguir, onde o visual se sobrepõe à lógica narrativa. De Palma estabeleceu há muito as regras do seu cinema e cumpre-as mais uma vez.


CURIOSIDADES:

- John Travolta sofria de insónias na altura da rodagem do filme, o que de algum modo o ajudou a protagonizar a personagem de Jack Terry (por coincidência – ou talvez não – os dois nomes iniciam-se pelas mesmas letras, “J” e “T”)

- Foi por causa deste filme que Quentin Tarantino (admirador confesso do cinema de Brian De Palma) ofereceu um dos papéis principais de “Pulp Fiction” (1994) a John Travolta







terça-feira, fevereiro 11, 2014

DRESSED TO KILL (1980)

VESTIDA PARA MATAR
Um Filme de BRIAN DE PALMA




Com Michael Caine, Angie Dickinson, Nancy Allen, Keith Gordon, Dennis Franz, David Margulies, Susanna Clemm, etc.

EUA / COR / 105 min / 16X9 (2.35:1)

Estreia nos EUA a 25/7/1980
Estreia em PORTUGAL a 5/6/1981


Liz Blake: «Thank god, straight fucks are still in style!»

“Dressed To Kill” é talvez um dos filmes de Brian De Palma que mais acusa a passagem do tempo. E isso apesar de conter duas das melhores sequências do seu cinema: a emocionante perseguição no metro e, sobretudo, todo o encadeamento imagético que se inicia no museu e culmina no assassínio de Angie Dickinson no elevador. Aliás, só por causa desta última sequência vale a pena rever o filme. No entanto, para os detractores do realizador, esta é a obra que eventualmente lhes dará mais razão quando muitas vezes acusam Brian De Palma de copiar descaradamente o cinema de Hitchcock. Na verdade, neste filme em particular, o fantasma de “Psycho” encontra-se omnipresente, não há forma de negá-lo. 


Mas ao contrário da remake de Gus Van Sant, de 1998, em que a obra original era refeita practicamente plano por plano, aqui trata-se sobretudo de recriar situações análogas num novo contexto, ao qual não será estranho o próprio universo fílmico do realizador, que chega a evocar-se a ele próprio. Relembrem-se as sequências que abrem e fecham “Dressed To Kill”, ambas inspiradas directamente no filme “Carrie”, datado de quatro anos antes. Na primeira nem sequer falta o sabonete a rodar por entre as partes íntimas do corpo feminino, e a única diferença é a descoberta menstrual ser substituída pelo prazer masturbatório. Na última tenta-se recriar o mesmo sobressalto final, sem contudo se conseguir atingir a mestria desse filme. Aliás, o que em “Carrie” era genuíno e inovador, aqui não vai além de uma cópia algo grosseira.


No número saído a 16 de Outubro de 1980 a revista Rolling Stone interrogava-se: «Brian De Palma: the new Hitchcock or just another rip-off?» - uma pergunta que durante alguns anos pairou no pensamento da maior parte dos críticos (e que se calhar ainda não obteve uma resposta conclusiva de muitos deles). Pessoalmente, julgo que, influências à parte (de que ninguém se pode isentar), De Palma conseguiu o seu espaço próprio, quer na estilização quer na técnica com que tem adornado os seus filmes. À semelhança do seu mentor, De Palma coloca-se quase sempre a uma distância irónica das suas histórias. Sem a arte ou o classicismo do mestre, como é evidente, mas com um sentido satírico ainda mais profundo. Ou seja, subverte frequentemente as suas personagens, tornando-as quase caricaturas do american way of life. Vejam-se por exemplo, neste “Dressed To Kill”, as figuras do cínico inspector Marino ou dos hooligans do metro.


Em “Dressed To Kill” o sexo encontra-se presente ao longo de toda a trama e não sómente nas cenas mais ou menos explícitas, como a já citada sequência de abertura. Na verdade, é toda uma tensão erótica que atravessa o filme do princípio ao fim e que se encontra subjacente a todos os episódios nele contidos. De Palma aborda sem qualquer prurido numerosos aspectos da sexualidade, que vão dos comuns e naturais aos mais particulares e secretos - desde a evocação dos jogos de sedução (mais uma vez de realçar a famosa sequência do museu) ao adultéro, à masturbação, ao voyeurismo, ao strip-tease, à prostituição. Nada fica de fora, nem sequer um certo tipo de pedofilia, levemente sugerida na relação entre Liz (Nancy Allen) e Peter (Keith Gordon). Até a música sensual de Pino Donaggio foi escolhida intencionalmente para enraizar todas estas variantes do sexo no espírito do espectador.


“Dressed To Kill” pode por isso ser considerado um thriller erótico, assente numa arquitectura emocional, que mistura uma mestria refinada com pinceladas, aqui e ali, de um certo mau gosto. Angie Dickinson, uma das razões pelas quais a revisão de “Dressed To Kill” continua a cativar, mostra à saciedade a razão pela qual sempre foi associada ao erotismo no cinema, mesmo que tenha sido dobrada nos momentos mais explícitos, como na cena do duche. Ao seu lado é gratificante reencontrarmos o sempre perfeito Michael Caine ou os habitués dos filmes de Brian De Palma, como Dennis Franz (aqui no papel do detective Marino) e a sempre sensual Nancy Allen (na altura casada com o realizador). De referir ainda a presença de Keith Gordon, futuro realizador e herói de “Christine”, de John Carpenter.


CURIOSIDADES:

- Os exteriores da sequência do museu foram rodados em Nova Iorque, ao passo que os interiores mostram o Museu de Arte de Filadélfia. O quadro do gorila (intitulado “Reclining Nude”) encontra-se hoje no gabinete do gerente do museu.

- Brian De Palma chegou a oferecer o papel do Dr. Robert Elliott a Sean Connery, que com muita pena sua não pôde aceitar, devido a compromissos já assumidos na altura.

- Angie Dickinson declarou no programa televisivo “The Tonight Show” que o papel desempenhado neste filme (com uma duração total de apenas 20 minutos) era o seu favorito de sempre. A actriz tinha 48 anos quando filmou “Dressed To Kill”.

- Em todas as cenas (excepto no final, em casa do Dr. Elliott), a personagem da psycho-killer Bobbi é interpretada por Susanna Clemm, que também desempenha o papel da detective Luce.