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quinta-feira, 11 de março de 2021

FRANCISCO CONTENTE DOMINGUES 1959-2021


Morreu ontem o historiador Francisco Contente Domingues, professor catedrático do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e reconhecido especialista em História da Expansão. Tinha 62 anos.

Da sua bibliografia destaco a coordenação do Dicionário da Expansão Portuguesa (2016), obra que abrange 21 temas desenvolvidos em 390 entradas por 79 autores de diferentes nacionalidades.

Francisco Contente Domingues era membro da Academia Portuguesa da História, da Academia das Ciências de Lisboa, e membro emérito da Academia de Marinha. Ainda fez parte do International Committee for the History of Nautical Science e da International Society for the History of the Map.

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segunda-feira, 8 de março de 2021

LEITURA DA HISTÓRIA


Por razões longas de explicar, as elites moçambicanas (e, a partir dos anos 1930, também as classes médias) nunca gostaram de Salazar, olhando para o Estado Novo como uma realidade distante e abstrusa. Isto para dizer que, por parte da população branca de Moçambique, a oposição ao regime começou com a queda da Primeira República.

Moçambique fica do outro lado do mundo, faz fronteira com seis países de língua inglesa e, nessa medida, o modo de vida salazarento era uma abstracção para quase todos.

O livro de que vou falar — Brancos de Moçambique. Da oposição eleitoral ao salazarismo à descolonização (1945-1975) — foi publicado em 2018, mas só agora dele tomei conhecimento. Acrescenta muito pouco ao que já sabia. Mas, para a generalidade dos leitores portugueses, representa uma boa introdução ao que era a vida na Colónia.

Bem documentado, o historiador Fernando Tavares Pimenta, professor da Universidade de Coimbra, faz um tour d’horizon à administração colonial de Moçambique, vista sob o prisma da oposição local.

Resumindo muito: análise exaustiva até aos anos 1960, quadros estatísticos elaborados a partir dos censos oficiais, interpretação sociológica correcta e transcrição oportuna de fontes. Menos bem a parte relativa à vida cultural, acerca da qual muito mais haveria a dizer. Meia dúzia de omissões (sobretudo no último capítulo) não beliscam o interesse da obra.

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sexta-feira, 31 de julho de 2020

JOAQUIM VERÍSSIMO SERRÃO 1925-2020


Morreu hoje o historiador Joaquim Veríssimo Serrão, catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, da qual foi reitor nos anos 1970.

Na sua vasta bibliografia, especialmente focada na presença de humanistas portugueses na Europa do século XVI, destacam-se os dezoito volumes da sua História de Portugal — das origens até 1968 —, publicados entre 1977 e 2010. O 19.º volume aguarda publicação.

Docente de Cultura Portuguesa na Universidade de Toulouse (1950-60), Veríssimo Serrão exerceu, entre outros cargos, os de director do Centro Cultural Português da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris (1967-72) e de presidente da Academia Portuguesa da História (1975-2006). Sócio efectivo da Académie du Monde Latin (Paris), do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia Brasileira de Letras, das Academias Nacionais de História de inúmeros países, entre elas a Real Academia de História de Espanha, bem como membro honorário de sociedades científicas nacionais e estrangeiras, foi doutorado honoris causa por universidades portuguesas, francesas e espanholas. Em 1995 recebeu o Prémio Príncipe das Astúrias na categoria Ciências Sociais.

É pai do historiador de arte Vítor Serrão, catedrático da FLUL.

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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

VASCO PULIDO VALENTE 1941-2020


Morreu hoje Vasco Pulido Valente, historiador, ensaísta e cronista. O mais brilhante cronista da imprensa portuguesa dos últimos 40 anos. Tinha 78 anos.

Da sua extensa bibliografia destaco O Poder e o Povo. A Revolução de 1910 (1975), versão revista da tese de doutoramento defendida em Oxford, O País das Maravilhas (1979), A República Velha: 1910-1917 (1997), Esta Ditosa Pátria (1997), Glória, a biografia romanceada de Vieira de Castro (2001), Marcello Caetano: as desventuras da razão (2002), Um Herói Português: Henrique Paiva Couceiro (2006), Ir pró Maneta: a revolta contra os franceses (2007), De Mal a Pior (2016) e O Fundo da Gaveta. Contra-revolução e Radicalismo no Portugal Moderno (2018).

Licenciado em Filosofia, doutorado em História, oriundo do grupo de católicos progressistas reunidos na revista O Tempo e o Modo, militante do MAR (o Movimento de Acção Revolucionária de Jorge Sampaio), Pulido Valente oscilou sempre entre o PS e o PSD.

Textos seus encontram-se dispersos na imprensa de referência: Diário de Notícias, Expresso, O  Tempo, O Independente, Kapa, Observador, Público e outros.

Investigador-coordenador aposentado do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, antigo docente do Instituto Superior de Economia da mesma universidade, do ISCTE e da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, Pulido Valente foi secretário de Estado da Cultura (1980) por escolha de Sá-Carneiro, deputado do PSD (1995) e apoiante da candidatura presidencial de Mário Soares.

Foi ainda guionista de vários filmes, entre eles O Cerco (1970), de Cunha Teles, protagonizado por Maria Cabral, sua primeira mulher e mãe de sua filha, a crítica literária Patrícia Cabral. A seguir viveu três anos com Maria Filomena Mónica, casando outras quatro vezes, duas das quais com a jornalista Constança Cunha e Sá.

A foto é de Nuno Ferreira Santos, para o Público. Clique.

sábado, 1 de dezembro de 2018

FUNDAÇÃO MÁRIO SOARES


Confirmam-se os piores prognósticos: com o orçamento reduzido de forma drástica, a Fundação Mário Soares arrisca-se a ficar reduzida à biblioteca e arquivo pessoal do fundador do PS e antigo Presidente da República.

Arquivos importantes, como os de Afonso Costa, Bernardino Machado, Bento de Jesus Caraça, Amílcar Cabral, o testamento de Buíça (o regicida), etc., serão provavelmente transferidos para a Torre do Tombo. Embora grande parte do acervo esteja digitalizado, esse trabalho encontra-se por concluir.

Depois da morte de Soares, o conjunto dos subsídios privados caiu para metade e, nalguns casos, para menos de 10% (a Fundação EDP passou de 75 mil para 7 mil euros). Acabou a edição de livros, a organização de conferências e exposições, bem como a classificação e arquivo de espólios de natureza histórica.

Ao contrário de Eanes, Sampaio e Cavaco, que, no fim dos respectivos mandatos, instalaram os seus gabinetes em instalações preparadas para o efeito (Eanes no andar de um prédio de apartamentos da Avenida 5 de Outubro; Sampaio na Casa do Regalo, um palacete mandado construir por Dom Carlos, situado no topo da Tapada das Necessidades, que teve de ser completamente restaurado, sofrendo obras profundas, incluindo o jardim envolvente; Cavaco numa ala do Convento do Sacramento, em Alcântara, adaptada para o efeito), Soares optou por instalar o gabinete na sua Fundação.

Se acontecer o pior, é uma parte da nossa História que fica (se ficar) com acesso dificultado a historiadores, investigadores, jornalistas e estudantes. Trágico.

Na imagem, um dos átrios da Fundação Mário Soares. Clique.

domingo, 10 de setembro de 2017

SETÚBAL VERMELHA


Albérico Afonso Costa acaba de publicar Setúbal Cidade Vermelha, relato minucioso de como a cidade viveu os 19 meses do PREC. Não é a primeira vez que o historiador elege Setúbal como foco central da sua obra: Roteiro Republicano de Setúbal», publicado em 2010, ou o mais ambicioso História e Cronologia de Setúbal 1248-1926, publicado em 2011, são obras de referência. Como anteontem lembrou Fernando Rosas na apresentação do livro, sem o detalhe local a História fica incompleta (cito de cor). Certas passagens são de leitura compulsiva. Os ‘insurgentes’ da extrema-esquerda dos anos 1970 encontram aqui um circunstanciado tour d’horizon das suas utopias. Dividido em cinco partes, o volume contém, ao longo de 335 páginas, cronologias dos anos de 1974 e 1975, vasta iconografia (capas de jornais, cartazes, fotografias) do período em análise, inserts de declarações e obras de terceiros, entrevistas com uma vintena de protagonistas, tábua de siglas, bibliografia e um exaustivo índice remissivo, cuja consulta depende do apoio de uma boa lente. A edição é da Estuário.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

NÃO ESQUECER


Há seis semanas que a RTP2 transmite, de segunda a sexta, a série Uma Aldeia Francesa de Philippe Triboit. Cinco episódios por semana. Não me recordo que algum jornal lhe tenha feito referência. Ontem passou o episódio 42, dos 60 que preenchem as seis temporadas concluídas (2009-16). A 7.ª ainda está em produção. Trata da ocupação da França pela Alemanha nazi. Verdade que a série não tem o glamour das grandes produções da HBO. Mas trata de forma assisada, e pedagógica, o drama da França ocupada, as ignomínias de Vichy, o aviltamento da colaboração, a deportação de judeus, a bufaria generalizada, as vidas dos homens e mulheres que fizeram a Resistência, etc. Um elenco muito vasto de que fazem parte, entre outros, Audrey Fleurot, Thierry Godard, Emmanuelle Bach, Robin Renucci, Marie Kremer, François Loriquet, Nade Dieu, Nicolas Gob, Fabrizio Rongione, Patrick Descamps, Martin Loizillon e Richard Sammel. Ora aí está uma série que devia ser exibida nas escolas de ensino secundário. A deriva da Europa actual não se compadece com o branqueamento da História. Nem sequer há o argumento das imagens insuportáveis. A ocupação da França foi um episódio tenebroso, como aqui documentado, mas o horror na sua forma mais exacta foi a Leste, especialmente na Polónia, Balcãs e União Soviética. Portanto não há nada que as ‘crianças’ não possam ver.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

LEMBRAR

Em Julho de 2003, era Durão Barroso primeiro-ministro, e Paulo Portas ministro da Defesa, o chefe do Estado-Maior do Exército, general José Silva Viegas, demitiu-se em conflito aberto com o então líder do CDS. Na altura, o CEME tornou público um comunicado onde declara ter... «perdido a confiança no ministro da Defesa», embora, «por respeito à instituição militar e aos homens e mulheres que servem o País...», omita as suas razões. Isto deve ajudar a reflectir os deputados PAF que arrancam as vestes com a recente (e discreta) demissão do general Carlos Jerónimo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

CRONOLOGIAS


Saiu o primeiro volume de Cronologias do Portugal Contemporâneo, obra que assinala os 45 anos do Círculo de Leitores. A edição resulta de uma parceria do Círculo com a Fundação Francisco Manuel dos Santos e a RTP. Idealizada por António Barreto, que lançou o projecto e convidou os autores (Paulo Silveira e Sousa, António J. Ramalho e Octávio Gameiro), a obra divide-se em cinco volumes e oito mil entradas, cobrindo o período que vai de 1960 a 2015. O quinto sai em Setembro. A cada ano correspondem cinco secções: Política, Economia, Sociedade, Cultura e Internacional.

Não são só os grandes acontecimentos. Também ficou registada a pequena história, tais como estreias de filmes e peças de teatro, publicação de obras literárias e científicas, inaugurações e concertos, atribuição de prémios em várias áreas, processos judiciais, eventos desportivos, etc. As entradas são em regra curtas, e factuais.

Exemplo: «30 de Agosto de 1960 — O dirigente do PCP Júlio Fogaça é preso numa pensão da vila da Nazaré, juntamente com o seu companheiro, Américo Joaquim Gonçalves, operário fabril. A prisão e a investigação pela PIDE, a sua homossexualidade e as divergências na linha de orientação do partido terão contribuído para a sua posterior suspensão do PCP, em 1961, reforçando assim a direcção política defendida por Álvaro Cunhal. [...] Júlio Fogaça ficará detido em Caxias até Julho de 1970.» 

Extensa bibliografia, inclusivé electrónica, remete o leitor para fontes originais. O volume dispõe de índice onomástico.