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segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Zombie de Ouro 2024


Tá todo mundo puto!

2024, o ano das tretas milimetricamente calculadas para alimentar as redes sociais. Quase nem dá pra explicar o que justifica um viral atualmente porque na maioria das vezes não faz o menor sentido. E me pergunto se é isso que sobrou da tal "atitude rock & roll". Saudades do Lobão mandando todo mundo pra onde o sol não bate num estádio lotado. Ao invés disso, o que recebemos foram coisas como um filhinho da mamãe talentoso mais uma vez despejando chorume verbal e um monumento canarinho vandalizado por gringos ignorantes.

Paralelo a isso, toda essa onda reacionária, já em estado avançado de decomposição, ainda incita aparelhos atirados na parede após cinco minutos de navegação pela mediocridade generalizada. Tá foda.

Lá fora, pelo contrário, a paz e o amor reinam numa celebração fraternal com irmãos se reconciliando para shows e discos. Lindo i$$o.

Acho que temos muito o que aprender com os alemão.


Ou talvez não.

QUEBRA TUDO, ALEXA!


Playlist do ano

* Nada de discos ao vivo ou regravados, salvo nas menções honrosas



Então a menos que o King Gizzard & the Lizard Wizard lance mais um álbum até as 23:59 do dia 31, Flight b741 será o único disco do grupo lançado em 2024. Raridade. A ironia é que o gênero-alvo da vez é o hard rock dos anos 1970 – época em que era comum bandas lançando de 2 a 3 álbuns por ano. De todo modo, Flight b741 é um intensivão do hard blues rockeiro daquela era: é Free, é Aero, é Lynyrd, é Mountain, é Eagles, é Kansas, é Kiss. E muito cowbell!





O Escuela Grind chega ao 3º disco mais coeso do que nunca. Dreams on Algorithms é seu melhor álbum, tanto em composição quanto em produção. O som segue o esquema de sempre: de grind mesmo, não tem quase nada. O forte do quarteto é seu deathão turbinado com grooves levantando a bola perfeita para os guturais cavernosos da 'fessorinha Katerina Economou, uma das melhores gritadoras da sua geração. De apavorar qualquer reunião de pais e mestres.





Confesso que nunca digeri bem a carreira de Jack White pós-The White Stripes. Sempre me pareceu reverente demais aos primórdios do rock ao custo da sua própria identidade. No Name, pelo contrário, é o disco que mais lembra seus tempos de Stripes. Blues rock de garagem tocado alto, pesado e sem polimento. Resultado, nunca reouvi tanto um disco do Jack na vida. Bolachinha viciante.





O Judas Priest tem me deixando mais feliz e satisfeito a cada disco. Aleluia. Com uma produção impecável de Andy Sneap, Invincible Shield resgata aquela pegada oitentista clássica, desta vez até com as tinturas synthrock do delicioso e por muito tempo mal-compreendido álbum Turbo, de 1986. Um acerto de contas com o passado. E com o futuro.





Um dos dois melhores discos de 2024, na minha opinião. Confesso que não tinha grandes expectativas, mas a diva alternativa Kim Gordon me calou os pensamentos. The Collective é um disco de hip-hop? Sim. E trip-hop, trap, industrial, shoegaze, kraut, dub. E noise, ah, o noise. Um registro de arregaçar os sensórios.





Um dos dois melhores discos de 2024, na minha opinião. Tecnicamente, Lives Outgrown é o debut solo da indefectível Beth GibbonsOut of Season, de 2002, é uma colaboração com o músico Rustin Man e Henryk Górecki, de 2019, é uma incursão ao lado da Sinfônica Nacional Polonesa. Lives Outgrown trafega por climas sombrios e intimistas, lógico, mas com melodias e vocalizações mais vívidas e esperançosas... apesar do disco ser, nas palavras dela, sobre morte e desesperança. Amo muito.





Songs of a Lost World não é apenas uma surpreendente volta do The Cure ao estúdio após 16 anos (!), como periga ser o melhor álbum da discografia irrepreensível da banda. Mas isso só o tempo irá confirmar. O que sei até o momento é que a assimilação tem sido gradual e extasiante. O mundo precisava de mais um disco do The Cure? Pelo visto, precisava. In Robert Smith, we trust.





O álbum de despedida do veterano X saiu melhor que a encomenda. Smoke & Fiction traz a formação original – a frontwoman Exene Cervenka, o baixista e vocalista John Doe, o guitarrista Billy Zoom e o batera DJ Bonebrake – num dos mixes mais energéticos de punk, surf music e garage rock já produzidos. É irresistível. Será que ainda mudam de ideia...?





Coisas do destino. To All Trains é o sexto álbum do Shellac e foi gravado homeopaticamente ao longo de 7 anos – e exatos dez dias antes do lançamento, seu líder, o ícone alternativo Steve Albini, fez sua inesperada passagem. Se serve como testamento de fé, que seja. O som continuou o esporro math rock/pós-hardcore de sempre. Thank you and Rest in Noise, Albini!





Quando vi o enorme contingente de rappers convidados no novo álbum/mixtape de Denzel Curry, fiquei com o pé atrás. Felizmente, em King of the Mischievous South Vol. 2 o South Coast hip hop do cara segue engenhoso e furioso. Não é a reinvenção da roda (aro 20), mas nem precisa. Pancadão de primeira.





Humble as the Sun é o disco mais hip hop do duo punk Bob Vylan. Sem cerimônia, os garotos batem no liquidicador grime rap, rock, reggae, dub, dancehall e drum 'n' bass. O resultado é efetivo, refrescante e deveras metanfetamínico, se é que você me entende.





Freedom, Sweet Freedom é o 3º disco do Regional Justice Center e não tem esse título à toa. Assim como o próprio nome da banda, ele foi inspirado pelas idas e vindas dos integrantes e seus familiares do xadrez – em especial, pela soltura recente do vocalista Max Hellesto (irmão do líder, Ian Shelton) de uma cana de seis anos por agressão. Motivos para um álbum puto da cara não faltam, portanto. Esse é o combustível infinito para o HC powerviolence do grupo de Seattle. Ouça naqueles dias particularmente irritantes e evite você mesmo uma temporada no sistema penitenciário.





Milton + esperanza não é apenas o álbum mais bonito de 2024, é uma genuína carta de amor da multi-instrumentista, cantora, compositora e produtora Esperanza Spalding pela música do gênio Milton Nascimento. Ao lado do próprio, Esperanza – que já até figurou aqui no ZdO, que bom pra ela – conduziu um registro sublime, perfeito de ponta a ponta. Ou de esquina a esquina...





O Zeal & Ardor andou irritando sua parcela de fãs black metal from hell die hard com o novo álbum, GREIF. Isso porque o grupo suíço reduziu suas nuances de metal extremo significativamente (mas não totalmente) em favor das tradicionais influências soul, spiritual e r&b. E deixou a sonoridade ainda mais contagiante e diversificada. Se vamos pra o inferno, então que seja com classe. Discaço. Mais um.





Com Hell, Fire and Damnation, o Saxon chega à surreal marca de 24 discos de estúdio (!). Pra mim, é o melhor álbum de heavy tradicional do ano, pau a pau com o Judas novo. E também foi produzido pelo figura Andy Sneap, que aparentemente sabe como extrair um pré-sal de energia de poços aparentemente exauridos. Curto os velhinhos da NWOBHM há tempos e sinceramente não esperava maiores erupções desse vulcão. Feliz engano.




+ Plays memoráveis:

Cavalera Conspiracy - Schizophrenia (Max e Iggor, pelo amor do Marley, parem essas regravações por aí! Não encostem no Beneath the Remains!!)
Khruangbin - A La Sala
Ben Katzman's DeGreaser - Tears on the Beach
Willie Nelson - The Border
Willie Nelson - Last Leaf on the Tree
Etran de L'Aïr - 100% Sahara Guitar
Mdou Moctar - Funeral for Justice
Manu Chao - Viva Tu
Jerry Cantrell - I Want Blood
Godspeed You! Black Emperor - ''NO TITLE AS OF 13 FEBRUARY 2024 28,340 DEAD''
Marilyn Manson - One Assassination Under God - Chapter 1
Ty Segall - Three Bells
The Troops of Doom - A Mass to the Grotesque
Chelsea Wolfe - She Reaches Out to She Reaches Out to She
The Jesus Lizard - Rack
St. Vincent - All Born Screaming
Childish Gambino - Bando Stone & the New World
The Lunar Effect - Sounds of Green and Blue
Body Count - Merciless
Pet Shop Boys - Nonetheless
Suki Waterhouse - Memoir of a Sparklemuffin
Cancer Christ - God Is Violence
Hail Darkness - Death Divine
Seasick Steve - A Trip a Stumble a Fall Down on Your Knees
Slash - Orgy of the Damned
The Angels - Ninety Nine
Rosalie Cunningham - To Shoot Another Day
Los Bitchos - Talkie Talkie
God Is an Astronaut - Embers
Black Country Communion - V
The Lostines - Meet the Lostines
Blackberry Smoke - Be Right Here
High on Fire - Cometh the Storm
Sarah Shook & the Disarmers - Revelations
Scarlet Rebels - Where the Colours Meet
Slower - Slower e Rage and Ruin
The Jesus and Mary Chain - Glasgow Eyes
Exhorder - Defectum Omnium
Deicide - Banished by Sin
Fleshgod Apocalypse - Opera
Oceanator - Everything Is Love and Death


Gibis do ano

* Como de praxe, só material inédito e séries iniciadas este ano


Hombre (Figura), da sacrossanta dupla Antonio Segura/José Ortiz, foi uma obsessão realizada. Conheci o quadrinho escavando velhas edições da Cimoc em hubs empoeirados do DC++. Nunca sequer me ocorreu que um dia isso sairia aqui. O tomo compila a coisa toda – 42 histórias em 544 páginas – e finalmente pude conferir na íntegra aquela cruel e visceral realidade pós-apocalíptica – cujos desdobramentos soam mais prováveis nos dias atuais do que na época! Um clássico.



Adastra na África (Trem Fantasma) foi lançado em outubro de 2023, exclusivo para o clube de assinantes da editora, mas só este ano foi disponibilizado para o público em geral, via Catarse. Práticas meio bostas à parte, esta pequena obra-prima do mestre Barry Windsor-Smith traz o que seria a conclusão de seu belíssimo arco “Morte em Vida”, protagonizado pela Tempestade e republicado recentemente em A Saga dos X-Men vols. 4 e 9. Foi uma jornada difícil, mas assim como a vida, Adastra encontrou um caminho.



Quem diria que um maneta beberrão e dono de um saloon vagabundo protagonizaria uma das primeiras tretas do ano no mercado nacional de quadrinhos. Bouncer: Primeiras Histórias (QS) compila na íntegra a fase inicial do gibi quando ainda era publicado pela Les Humanoides Associés de 2001 a 2009. Já Bouncer: To Hell and Back (Comix Zone) traz as desventuras do anti-herói publicadas pela Glénat em 2012. A fricçãozinha entre as editoras (uia) foi inevitável – e a ironia do destino, considerando os plêierrs. O fato é que o gibi é espetacular. O texto mordaz da entidade Alejandro Jodorowsky e a arte mesmerizante de François Boucq estão níveis acima de tais questões mundanas. Paz acima de tudo. Literalmente: o tradutor Fernando Paz fez um grande trabalho nas duas edições. A ironia não para...



No quesito visual, Os Exércitos do Conquistador (Pipoca & Nanquim) é um dos quadrinhos mais deslumbrantes que já vi na vida. A arte primorosa de Jean-Claude Gal é um meio termo celestial entre John Bolton e Brian Bolland. Pode dar um Google aí, se não conhecia. De nada. O texto e os diálogos de Jean-Pierre Dionnet não ficam atrás e cobrem o cenário arquetípico da fantasia heróica com tons violentos e raramente redentores, se aproximando das histórias mais sombrias de Bran Mak Morn. Quadrinhaço.



A passos largos, Daniel Warren Johnson vem sedimentando uma carreira autoral promissora, ao mesmo tempo em que lida com as majors. Talvez seja o Adam Warren que os Gen Z-ers precisavam. O recente Powerbomb! Faça uma Superbomba (Devir) é uma extrapolação divertidíssima do universo do wrestling profissional, com direito a um rasante pela dura realidade dos bastidores – nesse ponto, chegou a me lembrar Whoa, Nellie!, de Jaime Hernandez. Elogio maior, impossível.



Fatale (Mino) é a experiência místico-lisérgica de Ed Brubaker e Sean Phillips. Uma alquimia fina unindo thriller pulp/neo noir com terror cósmico lovecraftiano. É o quadrinho mais estranho e fora da curva da dupla. E mesmo após dois volumões generosos, ainda foi pouco. A deusa fatale Josephine e meu coração apaixonado por ela mereciam novos capítulos.



Em O Papa Terrível: A História de Júlio II (Conrad), Alejandro Jodorowsky e ThéoTheoCaneschi fazem uma continuação virtual da graphic Bórgia, que Jodora fez ao lado de Sua Santidade Milo Manara. E tal qual a saga blasfema de Rodrigo Bórgia, a história do Cardeal Giuliano Della Rovere, o Papa Júlio II, é de estremecer os alicerces do Vaticano. Ainda hoje.



E falando em continuações virtuais, esse também foi o caso da fabulosa Graphic Disney O Destino de Patinhas (Panini), do artista e roteirista italiano Fabio Celoni (Dylan Dog). Os desenhos de sobrecarregar as retinas, a narrativa frenética e o texto sagaz do quadrinista já garantem a diversão, mas é algo imprescindível a leitura da história clássica “As Lentilhas da Babilônia”, publicada aqui no gibi O País dos Metralhas – que está fora de catálogo há tempos, mas que é facilmente encontrada por aí após digitar as palavras mágicas... morou?



A impressão é de que se Sean Phillips desenhasse um bonequinho de palito num guardanapo e Ed Brubaker rabiscasse uns garranchos por cima, ainda assim iriam pras cabeças do ano. É desumano o volume de produção vezes o padrão de qualidade da dupla. Onde o Corpo Estava (Mino) é uma temporada true crime brilhantemente fragmentada em múltiplas perspectivas. Em estrutura, lembra o plot do filme Ponto de Vista (Vantage Point, 2008), mas é infinitamente melhor resolvido. Até aqui, 100% de aproveitamento e hors concours ad eternum.


Livros mui apreciados


Tudo Passará: A Vida de Nelson Ned, o Pequeno Gigante da Canção (Companhia das Letras), de André Barcinski, foi uma das experiências mais densas e fascinantes do ano. Escrevi um texto sobre o livro, mas a trajetória caótica do Pequeno Gigante ainda roda vertiginosamente em minha mente. Se existe justiça nesse mundo, um dia essa história vai parar nas telonas. Ou nas melhores telinhas de streaming.



Lee Falk, a Lenda dos Quadrinhos (Noir) é um necessário tributo do escritor, pesquisador e jornalista Gonçalo Junior ao criador do Fantasma e do Mandrake (e do Lothar!). O Brasil tem tudo a ver com essa história, visto que o Espírito-que-Anda encontrou aqui um de seus maiores públicos no mundo – Falk, inclusive, esteve por estas bandas em 1970. Mas o autor também foi um incrível personagem da vida real, atuando como espião durante a 2ª Guerra e como ativista pelos direitos civis dos negros. Leitura essencial.



Todas as Aventuras Marvel (Conrad) e a incrível história de como Douglas Wolk zerou TODA a cronologia da Casa das Ideias. Escrevi sobre a façanha e até agora estou com o meu queixo batendo na canela. Dica altamente prolífica d'O Escapista Luwig.


Filme(s) do ano


Não vi tudo o que queria em 2024. Mas acho difícil assistir uma cena mais aterrorizante do que a protagonizada por Jesse Plemons em Guerra Civil. Com um ator desconhecido num papel quase-extra creditado simplesmente como "soldado", Alex Garland mostrou como a coisa pode ficar (muito) feia no jogo político dos próximos 5 anos. O filme inteiro segue nessa pegada pré-apocalíptica com atuações estelares de Kirsten Dunst, Wagner Moura e Cailee Spaeny. Já em Herege, de Scott Beck e Bryan Woods, Hugh Grant destila carisma, inteligência e perversidade como o assustador Mr. Reed. E as performances excepcionais das jovens Sophie Thatcher e Chloe East só elevam a escalada da tensão. Empate inevitável.


Valem a pena ver de novo:

Alien: Romulus (Fede Álvarez)
Entrevista com o Demônio (Late Night with the Devil, Colin & Cameron Cairnes)
A Primeira Profecia (The First Omen, Arkasha Stevenson)
LongLegs: Vínculo Mortal (LongLegs, Oz Perkins)
A Substância (The Substance, Coralie Fargeat)


Série do ano


Melhor série – no caso, minissérie – iniciada e concluída no ano, não teve pra ninguém: Pinguim, da showrunner Lauren LeFranc, leva com as asas amarradas nas costas. Mais do que um thriller policial ou um derivado do subgênero super-heróis, é um verdadeiro tratado sobre amoralidade. Colin Farrell devia usar aqueles 120 kg de látex e enchimento o tempo inteiro daqui pra frente. Aliás, Farrell, Cristin Milioti, Rhenzy Feliz, Deirdre OConnell, Clancy Brown e Carmen Ejogo... Brincadeira o que esse elenco faz em cena. Antológico.


Desenho do ano


X-Men '97 não foi uma temporada perfeita, mas chegou perto. Mesmo sem uma ligação nostálgica com a animação dos anos 90 (que poxa), pude perceber toda a reverência àquele zeitgeist. Foi uma atualização competente e, por que não, emocionante, divertida e absurda, como só um novelão mutante poderia ser. É a melhor série animada da Marvel desde... sempre? Apostaria minha X-Men Gigante #1 nisso.




Esqueci alguma coisa? Minhas opiniões são estúpidas e equivocadas? Colaborações, correções e iluminações na caixinha de comentários logo abaixo.

Contribuir calma e ordeiramente, por obséquio.



Excelente 2025 e além! Até a próxima, pessoal!

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Zombie de Ouro 2023


Podia estar matando, roubando ou tentando emplacar um canal de YouTube no esgotaréu de influencers que lá se acotovelam (gah!). Mas não. Sigo postando num blog em 2023 como se estivesse em 2003. Que um raio me parta se o BZ não é à prova de novos tempos. Pena que nem tudo é alegria.

Ver quase todos os blogs parceiros se extinguindo/migrando/caindo na real foi uma merda (o blogroll aí ao lado virou um cemitério, preciso revisar). E ver de longe as turbulências-monXtro de outras plataformas me fez sentir como um náufrago numa jangada sendo que a única terra à vista é a Ilha da Queimada Grande. Prefiro arriscar minhas chances com Poseidon.

Outra coisa que anda saindo cara: o esforço-benefício. Alguns posts mais ambiciosos à moda antiga – ainda sobraram alguns deles – resultaram num belo choque de realidade. É difícil mudar o mindset, porém cansei de jogar trampos de semanas no vácuo. E “muito trabalho e pouca diversão...”

Mas isso é por minha conta. O que não faço é terceirizar o abacaxi, à Dorival Lopes. Sério, o que foi aquilo? Não iria mal uma autocrítica e uma ou outra dica de RP de seu sócio Hélcio de Carvalho – esse cara manda bem.

Mark Millar, por sua vez, prefere fazer limonadas ao invés de choramingar: moveu todo o catálogo de seu Millarworld para a Dark Horse – deu até na Forbes. Um verdadeiro masterclass. Pensou que aquele 'M' era de Mythos?

O mesmo não se pode dizer da Emil Ferris, que tomou um processo da Fantagraphics sobre a obra Minha Coisa Favorita É Monstro. O caso é complexo, mas se ela realmente tirou só 12 mil dólares (em prestações de $ 750) daquele sucesso monstruoso, inclusive no Brasil, é porque tem algo muito errado nessa Fanta.

O que ainda é fichinha perto da situação em que se encontra o quadrinista Paul Jenkins, alvo de um picareta online profissional. Ele perdeu praticamente tudo, inclusive aposentadoria e os fundos escolares dos filhos. Um GoFundMe foi aberto e o amigo Mark Waid está ajudando a espalhar a palavra.

No universo Metal BR, uma pequena deselegância: o infame Pix da Fernanda Lira, da Crypta. Se todos saímos mais fortes depois dessa, ela deve ter virado a Mulher-Hulk. Amo a Fernandinha. Beijo e parabéns pelo discaço. Mas e o Quico?

Nem o recalcado mais azedo poderia antever a saída não-assumida de Kiko Loureiro do Megadeth. Na verdade, ele nem saiu, ele se dissipou. Nunca vi uma retirada tão abstrata, tão etérea, com os dois lados tergiversando ao extremo em seus comunicados. Ao menos não foi demitido pelo Dave Mustaine e isso é algo para se colocar na lápide.

Falando em lápide, a voadora no peito do ano foi o anúncio da tour de despedida do Sepultura – exatos 10 dias após Max Cavalera levantar aquele cartaz durante um show. A mandinga do Mendigo é braba, bicho. Mas Andreas Kisser, o capitão, não podia estar mais de boa. 2024 será a última chance de conferir ao vivo nosso maior case de sucesso. Depois disso, quem viu, viu. Eu já vi.

Mas duvido que a turnê será mais polêmica, perigosa e bizarra que a passagem da Taylor Swift pelo Brasil. Um dia preciso ver um doc com os bastidores disso.

Depois de tanto drama, nada como recordar o mais recente porradeiro show do grupo The Brian Jonestown Massacre, com o cantor Anton Newcombe partindo pra cima do guitarrista Ryan Van Kriedt. Vergonha alheia do ano. Não pela briga, mas pela péssima qualidade da briga. Pareciam duas ginasiais puxando as trancinhas uma da outra, fala sério.

E às vésperas de completar 20 anos de blog, só me resta uma coisa...


SOM NA CAIXA!



Playlist do ano

* Não vale discos ao vivo ou discos regravados, salvo nas menções honrosas


Vamos tirar logo os dois elefantes brigões da sala: apesar de ser um grande produtor de vergonha alheia, The Brian Jonestown Massacre também produz uma música espetacular. Este The Future Is Your Past é seu 20º disco. O som é uma muito bem resolvida mescla de psicodelia, blues, country, folk e garagismo dos sixties. Altamente explosivo, mas nem um pouco impulsivo, vale salientar.





Games of Power é o 2º disco do Home Front. O duo é de Alberta, Canadá, e mostra que passou a adolescência inteira consumindo synthpop seminal (Suicide, Fad Gadget), pós-punk de elite (Echo, Cure, New Order do início) e hardcore da classe operária (Fear, Agnostic Front). Tudo processado por uma guitarra chapada, um tecladinho chumbrega e uma bateria eletrônica vagabunda. O fino.





O álbum instrumental In Between Thoughts... A New World da badalada dupla mexicana Rodrigo y Gabriela é uma delícia. Com discreta virtuose e um charme absurdo, o som traz a aura mariachi combinada ao clima de trilha western, mas com um sotaque multicultural e até mesmo pop. Irresistível.





Make Them Beg for Death é o nono álbum dos veteranos do Dying Fetus. Na verdade, da formação original só ficou o guitarrista e vocalista John Gallagher, que divide os deveres guturais com o baixista Sean Beasley. O batera Trey Williams completa a line-up e responde pela dorsal do technical/brutal death metal do trio. O cara é um monstro. Só as levadas death-com-groove das batidas já valem o disco. Bolachinha insana, violenta e eletrizante, como se deve.





Na ativa desde 2008, o quarteto do Brooklyn The Men tinha inicialmente uma pegada noise. Ao longo da estrada, foi incorporando e lapidando influências até chegar neste 9º álbum, New York City. O disco traz uma mistura de rock 'n' roll, proto-punk e garage rock (mais pra New York Dolls que pra Stooges). Diversão back to basics em estado bruto.





Disco Normal é o 4º disco anormal do Test, fora registros ao vivo, splits e EPs. Segundo o release, foi "gravado nas ruas, embaixo de viaduto, dentro de vagão de trem, com microfones experimentais" e é isso aí. Só que bem mais. Aqui, a chinelagem grindcore do duo paulistano atinge status de arte. É um obelisco de transgressão vanguardista foda pra caralho. Ganhou até doc. Se continuar assim, o próximo rolê será de Kombi elétrica.





Qualquer disco novo do nigeriano Omara "Bombino" Moctar é garantia de audições infindas, sempre descobrindo algum detalhezinho novo em seu blues desértico. Com o novo Sahel não é diferente. A sonoridade está mais sofisticada, aveludada e, por que não, radiofônica ou seja lá o que rolam nas FMs tuaregues. De um jeito ou de outro, o teleporte sensorial é executado com sucesso. Boa viagem.





Tell Everybody! 21st Century Juke Joint Blues from Ease Eye Sound foi produzido e lançado por Dan Auerbach (da dupla The Black Keys) no seu próprio selo, o Ease Eye. Claro, tem lá uma faixinha própria e mais uma da banda-mãe, mas as demais são de blueseiros veteranos (Glenn Schwartz, Robert Finley [o senhorzinho simpático da capa]) ao lado de novatos promissores (Gabe Carter, Nat Myers). O disco é um tesão. Uma pena não ser duplo, triplo!





"Em fevereiro de 2023, o produtor musical e ganhador do Grammy Ian Brennan viajou até o Mississippi para gravar com detentos da famosa Prisão Parchman..." E assim começa o release sensacional no Bandcamp do álbum Parchman Prison Prayer: Some Mississippi Sunday Morning. O disco, majoritariamente a capella, traz versões de louvores gospel famosos, mas com algumas incursões blues, soul e spiritual. O resultado é incrível, dadas as condições – Brennam negociou por três anos para conseguir permissão para apenas algumas horas de gravação, com pouquíssimo ensaio e sem qualquer overdub. É algo a se pensar: Parchman é uma prisão de segurança máxima, então as estrelas aqui são figuras pra lá de barra-pesada. Ainda assim, foram protagonistas de um disco que soa nada menos do que celestial em cada uma das faixas. Esse mundo é complicado. Mas com alguma redenção.





Desde 2019, com o bacanudo EPzinho Breadcrumbs, Alice Cooper vem revisitando suas raízes hard garageiras de Detroit em detrimento dos cacoetes groove metal modernex das últimas décadas. Felizmente. Tia Alice ainda tem cacife de sobra e estava perdendo um tempo precioso tentando agradar a molecada. O novo Road – título sintomático – mantém a tocada e poderia tranquilamente ter sido lançado entre o Billion Dollar Babies e o Muscle of Love. E isso é um puta elogio.





PetroDragonic Apocalypse; or, Dawn of Eternal Night: An Annihilation of Planet Earth and the Beginning of Merciless Damnation (porra!) é o disco mais metal do King Gizzard & the Lizard Wizard desde Infest the Rats' Nest, de 2019 – não por acaso, o último deles a figurar num ZdO. De lá pra cá, a banda virou sensação "indie" e viu seu cachê disparar com shows concorridíssimos Europa afora. A banda não segue regras (os cinco discos lançados ano passado são uma bela evidência) e trafega pela psicodelia, pelo progressivo, pelo space rock e pelo metal sem a menor cerimônia e com desenvoltura ímpar. Esse disco, por exemplo, é Killing Joke curtido em thrash metal progressivo. E eles também lançaram outro álbum este ano, de electropop. Doideira.





Com Shades of Sorrow, o quarteto Crypta chega ao seu segundo (e melhor) disco dando uma bela bicuda na bolha. Puramente pela música, é um dos registros death metal raiz mais engenhosos e sofisticados do ano, aliando elementos thrash, black e gothic ao mix. Talento, que é o mais difícil, as meninas já têm e de sobra. Agora é só uma questão de tempo para aquele almejado stardom metálico...





O que comentar sobre o californiano Rival Sons que já não insisti mantricamente por aqui variadas vezes? Darkfighter é a melhor mistura de Free e Led Zeppelin que você irá encontrar. E o impressionante vocal de Jay Buchanan segue no topo do Everest Rock and Roll. A banda também lançou um EP, Lightbringer, menos british invasion e mais Top 40 da Billboard. Ventos da mudança?





Este é a trilha sonora da casa desde o dia em que saiu. State of Emergency, do Prong, segue tão impactante quanto da primeira vez – já rascunhei umas linhas a respeito com o dito cujo rolando no volume 11. Um dos pontos altos da banda e o que melhor condensou seus 37 anos de experimentações sonoras.





Se a volta do L7 aos discos ficou (muito) a dever, o mesmo não se aplica ao Girlschool. As veteranas da NWOBHM (45 anos de estrada!) nunca pararam de fato, só reduziram o ritmo de lançamentos – como todos neste mundo novo, aliás. WTFortyfive? é o primeiro álbum em oito anos e parece que isso só aumentou a fome de bola das meninas, que ainda contam com a frontwoman Kim McAuliffe e a baterista Denise Dufort da formação original. Garra, velocidade, peso e a produção supercoesa funcionando em perfeita sintonia. Também tem a participação de uns garotos – Duff McKagan (Guns N' Roses), Joe Stump, Phil Campbell (Motörhead) e Biff Byford (Saxon). Mas nada que atrapalhe as estudantes.



Menções honrosas:

Cavalera Conspiracy - Bestial Devastation & Morbid Visions
Nervosa - Jailbreak
Buffalo Nichols - The Fatalist
Chris Stapleton - Higher
Wayfarer - American Gothic
KEN mode - Void
The Rolling Stones - Hackney Diamonds
Autopsy - Ashes, Organs, Blood and Crypts
Iggy Pop - Every Loser
Krallice - Porous Resonance Abyss
Suffocation - Hymns from the Apocrypha
Mudhoney - Plastic Eternity
Wolves in the Throne Room - Crypt of Ancestral Knowledge
Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs - Land of Sleeper
Cannibal Corpse - Chaos Horrific
The Lion's Daughter - Bath House
Mutoid Man - Mutants
Queens of the Stone Age - In Times New Roman
Helmet - Left
The Heavy - AMEN


Gibis do ano

* Mais regrinhas: só vale material inédito e séries lançadas este ano (portanto, nada de Ken Parker ou Maggie, a Mecânica)... malditas regras!


Bruxas, Minhas Irmãs (Veneta), da pioneira dos quadrinhos franceses Chantal Montellier. Uma jornada semidocumental graficamente riquíssima – a veterana ainda desenha um absurdo – e com uma visão inusitada dos medos e ansiedades sociais frente ao poder feminino. Reli algumas vezes desde que saiu e, olha, ainda não terminei meu relacionamento com a obra. Provavelmente nunca. Atemporal.



Mais gibidoc®: O Efeito He-Man (Editora Mino), de Brian "Box" Brown, vai ainda mais longe ao convergir o zeitgeist da nossa geração – fim dos 70's/início dos 80's – com a indústria avassaladora dos Mestres do Universo & Cia. Na real, no fundo, já sabíamos disso tudo, mas nada como uma pesquisa sagaz e bem fundamentada para entregar os detalhes sórdidos. HQ-referência, daquelas para deixar sempre ao alcance da mão.



A bela As Muitas Mortes de Laila Starr (Devir), com roteiro de Ram V e desenhos de Filipe Andrade. Li há alguns meses e imediatamente escrevi sobre, mas sinto como se tivesse sido há algumas horas. No quesito "leitura rápida e duradoura" não teve pra ninguém.



Ar-Men: O Inferno dos Infernos (QS Comics) é uma obra-prima visual do premiadíssimo quadrinista francês Emmanuel Lepage. Para mim, ainda é impossível passar uma página em menos de dois, três minutos. A arte é de sobrecarregar as retinas. Nunca vi um mar tão vivo e exuberante. É um personagem ativo da graphic, que acompanha as gerações que se arriscaram no Farol Ar-Men, um dos mais isolados e perigosos do mundo. Uma experiência memorável.

"Ah, mas é da QS Comics." C'est la vie...



Essa foi aos 49 do 2º tempo: A Bela Casa do Lago - Volume Um (Panini), de James Tynion IV com desenhos de Álvaro Martínez Bueno e cores de Jordie Bellaire. Um grupo de amigos e/ou conhecidos está confinado numa bela casa do lago enquanto algo muito estranho acontece no mundo. Tynion 4º prende o leitor com uma gravata, o traço do espanhol Bueno é muito mais do que bueno e as cores orgânicas da Bellaire são vitais para a narrativa. Levou um Eisner brincando, pelo visto. O volume 2 nacional ainda está em pré-venda. Pergunta se aguentei esperar.



Cena do Crime (Editora Mino), de Ed Brubaker, Michael Lark e Sean Phillips, lançada originalmente em 1999. "Foi aqui que tudo começou", informa o release da Mino ao descrever o embrião de Gotham DPGC e Criminal, entre outros. Talvez por esse estágio ainda inicial, fica mais evidente a paixão do trio pelos romances de James Ellroy, Elmore Leonard, literatura pulp e cinema noir – ou assim parece. É um Bruba ainda não envelhecido completamente no barril de carvalho francês, mas a leitura já é de primeira. E ponto para os extras da edição também.



Infiel (Pipoca & Nanquim), de Pornsak Pichetshote com arte de Aaron Campbell e cores de José Villarrubia é um exercício de estilo sobre racismo e xenofobia. Em muitos aspectos, lembra a transposição para o terror de temas sociais feita em filmes como O que Ficou para Trás (His House, 2020) e na franquia Candyman. E é tão perturbadora e incômoda quanto. Narrativamente impiedosa e graficamente impecável, foi uma das leituras mais pungentes do ano.



Vira-Lata Virador (Nemo), de Grégory Panaccione. Me emocionei demais com essa adaptação do Panaccione (da também lindíssima Um Oceano de Amor). E além do mais, sou uma pessoa-cachorro. Não deu outra: virou HQ do coração. Essa é para comprar regularmente e sair presenteando por aí.


Série(s) do ano


Não fui um grande consumidor de séries novas em 2023 – assisti mais reprises de Os Pioneiros e Star Trek clássica que qualquer coisa pós-milênio, fácil. Mas me surpreendi com algumas produções recentes, como The Bear, que estou inciando agora. Em termos de experiência completa, não teve para ninguém: Silo, com sua produção caprichada, história intrigante e a entrega excepcional de Rebecca Ferguson rendeu até post entusiasmado por aqui; e Loki, que, Odin queira, fechou espetacularmente a jornada do (anti-)herói asgardiano e do megavilão Kang, com atuações soberbas de Tom Hiddleston e do canceladão Jonathan Majors. Empate técnico.


Desenho do ano


Scavengers Reign, de Joseph Bennett e Charles Huettner, e Unicorn: Warriors Eternal, do Genndy Tartakovsky, elevaram a régua das animações de 2023 até a estratosfera. Mas foi a produção franco-americana Blue Eye Samurai, de Amber Noizumi e Michael Green, que, lá do firmamento, tocou este coraçãozinho louco por Blade: A Lâmina do Imortal, Vagabond e Lobo Solitário. Ansioso pela próxima temporada.


Filme do ano


No One Will Save You, de Brian Duffield. Não é o melhor filme que assisti em 2023 (este posto é dividido por The Quiet Girl e Aftersun, ambos de 2022), mas ainda causa arrepios pelo tanto que foi feito com tão pouco, pelo desenlace inesperado – e absolutamente genial – e, principalmente, pela performance visceral da atriz Kaitlyn Dever. É de tirar o fôlego. Literalmente.


Menções honrosas:

Guardiões da Galáxia Vol. 3 (Guardians of the Galaxy Vol. 3, James Gunn)
Batem à Porta (Knock at the Cabin, M. Night Shyamalan)
Fale Comigo (Talk to Me, Danny & Michael Philippou)


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Até a próxima, amiguinhos!