A essa altura há pouco o que ser dito sobre o malfadado
Metal Open Air 2012, que está acontecendo (ou melhor, não está) este fim de semana em
São Luís,
Maranhão. Mesmo assim vou dar meus 50 centavos, por dois motivos: ouço rock todo santo dia, desde que me conheço por gente - heavy metal é o meu pastor e barulho não me faltará; ainda tenho a capacidade de me indignar. Sou um romântico incurável, infelizmente.
Projetado com ares de mega-festival, o evento teve uma
line-up pesada poucas vezes vista em terra brazilis: ao lado de formações expressivas que iam de
Fear Factory e
Saxon até
Blind Guardian e
Venom, estavam também atrações de peso -
Megadeth, que
conseguiu tocar ontem, e
Anthrax - e, claro, uma esmagadora maioria formada por bandas nacionais, como
Hangar,
Korzus,
Andre Matos,
Torture Squad,
Stress e
Ratos de Porão. Tudo parecia correr normalmente até a última semana, quando a coisa toda desandou de uma hora pra outra, como num passe de mágica - de
magia negra, pra ser mais exato.
Notícias - uma chuva torrencial delas - davam conta de quebras de contrato dos produtores, especificamente em relação aos grupos nacionais (falta de cachê, transporte, etc), o que motivou uma série infinda de cancelamentos. Acompanhar os grupos dando baixa a cada meia hora foi tragicômico, admito. Mas além disso, ainda havia a situação precária do local dos shows, incluindo área de camping estabelecida num
estábulo,
1 banheiro, stands de alimentação em péssimas condições, problemas com a firma contratada para dar segurança, com a liberação dos Bombeiros, com os patrocinadores e, o mais surreal, com a falta de equipamentos de som até o início do festival. Os detalhes são fartos e chocantes (e pode ser acompanhado no
Whiplash), mas não mais do que decepcionantes.
Ao que parece, houve um racha entre as produtoras "responsáveis" pelo evento, a
Negri Concerts, a
CK Concerts e a
Lamparina Produções. As poucas declarações oficiais refletem um cenário
ainda mais caótico.
Apesar de tudo, neste momento o festival ainda acontece, apesar da quase ausência de seguranças, do desmonte de um dos palcos e da
desistência de 30 das 47 bandas originalmente programadas (Anthrax incluso, com os membros do grupo abandonados no aeroporto). O evento, que vem sendo chamado de
fiasco e que havia ganho
repercussão nacional de ontem pra hoje, está ganhando
contornos internacionais com os depoimentos em uníssono dos artistas estrangeiros que foram prejudicados.
É horrível? Ô. É muita merda (de cavalo) no ventilador em tão pouco tempo. O
MOA não era só uma promessa de shows antológicos, mas também de um
fluxo alternativo digno para o rock. Talvez o início de uma descentralização do eixo Rio-São Paulo. O que se viu (e se vê) foi justamente o oposto. Só não acho que nem o metal nem o Brasil inteiro entrarão pra história como os grandes prejudicados. O metal vai tirar isso de letra, assim como já tirou coisas muito piores. O Brasil também vai superar, apesar da mancha emporcalhada que ficou. Rio e São Paulo (e Porto Alegre e Belo Horizonte) continuarão recebendo sua cota de shows internacionais, conforme os cachês e os traslados estejam OK. Mas não duvido que novas garantias contratuais se tornem parte do menu daqui por diante.
O grande prejudicado - além, claro, dos abnegados que se deslocaram de outras partes do país até o Maranhão em busca de uma grande aventura rock'n'roll (ao invés de um programa de índio) - é mesmo o público rockeiro cujo CEP não é do Rio, nem de Sampa. Maranhenses, anotem o ano de 2012. Salvo um improvável esforço heróico de algum maluco sortudo e competente, levará anos até vocês se recuperarem desse baque e as guitarras voltarem a ressoar em alto e bom som novamente por aí.
E afirmo isso por experiência própria, de uma terra tornada
maldita para grandes eventos de rock and roll, há quase dez anos atrás.
Atualização 22/04:
E o
Metal Open Air está oficialmente cancelado. Finalmente o pesadelo acabou. Que os esfíncteres dos produtores sejam duramente castigados.