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terça-feira, 10 de setembro de 2024
Adeus, Baterista
Inacreditável é pouco, mas é verdade. Se foi o John Cassaday. Só 52. No curto tempo em que esteve neste lugar, nos maravilhou com sua arte única, repleta de simbolismos e assaltos sensoriais. Nem Planetary de Warren Ellis, nem Surpreendentes X-Men de Joss Whedon, nem Eu Sou Legião de Fabien Nury seriam os mesmos sem ele.
A bem da verdade, qualquer HQ melhorava 300% com seu traço.
Uma porrada dessas por si só já demanda um tempo para assimilar. No mesmo dia da partida de outra emblemática figura então, é dose pra sobrecarregar qualquer buraco negro informacional.
Descanse em paz, Cassaday. E muito obrigado.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Gatos de destruição em massa
Nobel de Física em 1933, o austríaco Erwin Schrödinger foi autor de algumas das bases essenciais da Mecânica Quântica, notadamente na equação que leva seu sobrenome. E é também o grande arquiteto por trás da aguardada, adiada, quase mitológica, última edição de Planetary, a fantástica aventura de Warren Ellis e John Cassaday pelos espólios da história humana. Já vimos séries atrasarem, outras atrasarem mesmo e outras atrasarem pra valer, mas como Planetary não teve igual. Foram parcas vinte e sete edições em dez anos - começou bimestral em abril de 1999, foi suspensa no período 2001-2003, retornando esporadicamente sempre que as agendas de Ellis e Cassaday davam uma folga. E assim foi até a atual #27, lançada com um gap de três anos desde a última edição (outubro/2006).
Dessa forma, cada novo capítulo lançado era algo especial lá fora. E, para os leitores brasileiros, quase um evento (um evento fechado num clubinho ultrarrestrito, mas ainda assim um evento). Após uma pífia tentativa de periodicidade pela Pandora Books, a série foi compilada em dois encadernados pela Devir (Mundo Estranho e O Quarto Homem). Em seguida, a Pixel Media retomou o título do ponto onde a Devir parou, finalmente alinhando a série com a cronologia estática lá de fora. O que foi, provavelmente, a única incursão 100% bem sucedida da Pixel Magazine durante seu tempo de vida.
Com os títulos da WildStorm agora sob a tutela da Panini, Planetary se encontra atualmente nos planos a longo prazo da editora (que, nesse primeiro momento, publicará do selo apenas Frequência Global). Segundo o Oggh, Planetary será uma das séries que a Panini "dará sequência" - o que é ótimo, mas... só falta mais uma edição para ser lançada. Não seria melhor desancar isso logo de uma vez?
Ou que tal fazer um esforço em nome do bom gosto e relançar tudo desde o início naqueles TPB's Deluxe que ficam lindos meio tombados na estante? Eu compraria.
Planetary #27 fecha com chave de ouro a saga dos arqueólogos do impossível. Funcionando mais como um epílogo do clímax que foi a edição anterior (com a vitória/vingança definitiva de Elijah Snow sobre Randall Dowling, dos Quatro), a conclusão pode não ser tão espirituosa e evocativa quanto foi a de Y: The Last Man, mas, sem dúvida, é tão emocionante quanto.
De fato, essa é sua maior característica: emocionar mesmo naquele oceano de retórica e racionalidade impostas pela presença gigante de Snow. Até a durona Jakita aparece bastante fragilizada em determinado momento. Contudo, a edição pertence mesmo ao Baterista. Ele é o condutor da trama, despejando compulsivamente toneladas daquela fringe science que se tornou a especialidade de Ellis após todos esses anos. Só que o McGuffin da vez é virtualmente inalcançável, reluzindo num terreno extremamente arriscado, até para os padrões do Planetary.
É nessa hora que eles mergulham de cabeça em mais um dia no escritório, imbuídos pela velha dedicação suicida e o foco obsessivo, supermotivados pela única crença de Snow: "Esse é um mundo estranho. Vamos mantê-lo assim."
Schrödinger é quem dita as regras nessa reta final. Por ironia, o bom doutor tem seu experimento mais pop e surrealista - o Gato de Schrödinger - convertido por Ellis numa espécie de força da natureza destruidora de multiversos. O certo é que a teoria, em princípio até lúdica, nunca foi visualizada nesse ângulo tão hardcore. E isso garante um longo solo do Baterista.
Spoilers
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Nada mais justo do que encerrar (em definitivo?) a trajetória do Planetary resgatando um antigo membro. Ambrose Chase nunca saiu dos planos de Elijah Snow, se tornando uma citação recorrente ao longo das edições. Ellis já vinha rascunhando esse timing há tempos, sem sombra de dúvida. Por isso a cena-referência em Planetary #24 soa tão genial agora.
Recapitulando, Chase foi aparentemente morto em missão (Planetary #9), numa sequência altamente sugestiva.
Isso foi em abril de 2000. O que impressiona - além da pegada cinematográfica de Cassaday - é a criação consciente do "plot Ambrose", deixado em aberto para ser revisitado apenas na edição final. Coisa linda de ler.
O gancho relacionando a natureza dos poderes de Chase com o dilema temporal foi muito bem sacado. De uma libertinagem criativa meio trekkie, até.
O uso do Gato como recurso dramático é avassalador (bem como o fato de, após 1 ano, só terem mapeado 20% do banco de dados de Dowling). Uma viagem temporal que pode sugar e colidir todos os futuros possíveis de volta ao segundo em que a máquina do tempo foi acionada é o pesadelo de H.G. Wells. Você viaja até o futuro ou os futuros possíveis infinitesimais viajarão até você? Levando em conta que as partículas subatômicas - a matéria-prima da Mecânica Quântica - são afetadas pela observação, parafraseio o Baterista: qual a razão de tudo acontecer se já aconteceu? O colapso total seria inevitável.
O que tornaria injustificado o De Volta para o Futuro 2 (heresia!), mas que também coincide com a lógica do filme. Segundo o Batera, uma máquina do tempo só pode deslocar alguém até o ponto onde uma máquina do tempo foi ligada pela primeira vez (princípio da causalidade, discorrido quase didaticamente no ótimo thriller espanhol Los Cronocrímenes). Então, esse limite não se aplicaria ao DeLorean mais famoso do cinema - não importa onde no passado, ele sempre será a máquina do tempo ligada pela primeira vez.
A história também pode ser encarada como mais uma referência de Ellis aos comics americanos. Dessa vez, não a algum personagem, mas a um lugar-comum (Chase, o herói "ressuscitado"). Obviamente, com a inteligência e a classe que faltaram aos universos - e aos escritores - tradicionais.
A publicação errática ao extremo se tornou uma tradição de Planetary com o passar do tempo. Acabei me acostumando. E imagino que quem chegou até aqui também. A revista mudou bastante desde aqueles primeiros números, como que traçando uma grande analogia à nossa própria vida nesses últimos dez anos. Muitas coisas aconteceram desde então. Entre uma e outra, uma nova edição aparecia de repente e sempre encontrava seu lugar.
A viagem chegou ao fim e a ficha ainda não caiu - nem sei se vai. Planetary é fora do comum até pra fazer falta.
Obrigado Ellis, obrigado Cassaday.
sexta-feira, 27 de julho de 2007
PAGE 4 TART
Essa foi rápida. Imagino que a Pixel Magazine #4 deva estabelecer alguns recordes de leitura dinâmica por aí. Até a disposição contribui pra isso, num eficiente mix de histórias breves com aquele padrão artístico que nunca dura o suficiente pra quem está curtindo. A começar com Promethea, que abre a revista de uma forma até estratégica.
Não lembro direito onde li, mas já afirmaram que a personagem é uma versão alternativa da Mulher-Maravilha. Besteira. Pode haver a semelhança meramente estética, mas pára por aí.
O argumento vai fundo em temas como mitologia, fé, arte, períodos históricos e questões metafísicas, sempre com uma cadência típica de aventura pop - mas underground, no sentido que Love & Rockets é pop underground -, vide o papo despachadão entre Stacia e Sophie, logo no início. É a espontaneidade em quadrinhos. Contraste total com o intrincado background criado para a musa-heroína no prólogo. Um hoaxzão pra ninguém botar defeito.
Mais e melhores capítulos virão. Segundo a Pixel, Promethea é título fixo, o que é uma excelente notícia, mesmo com pesos-pesados na concorrência.
Ainda tentando tapar os buracos da cronologia de Hellblazer por aqui de maneira caótica. Ao menos a qualidade do material nivela por cima: A Natureza da Fera foi escrita pelo bonzão Paul Jenkis (Inumanos, The Sentry), desenhada pelo fodão Sean Phillips (Marvel Zombies) e, como reza o texto de abertura, é considerada pelo roteirista como sua melhor história para o mago boêmio John Constantine.
O que seria apenas uma episódio de entressafra, se mostra uma premissa muito instigante, com uma evolução belíssima. É quadrinho com punch literário na escola Neil Gaiman. Sensacional, ainda que aquelas parábolas tenham me lembrado o Paulo Coelho (!).
Esta edição também marca a primeira aparição de Tom, o pastor cigano, também conhecido como o - olha o spoiler - Deus Cristão Todo-Poderoso.
Planetary #16, que traz a história Hark, eu ainda não tinha lido. Desde já, uma das seqüências iniciais mais despirocantes que eu já vi, mesmo com o cinemão marcial chinês em baixa. De cara, mete um roundhouse kick naquela memorável cena à Herói/O Tigre e o Dragão/O Clã das Adagas Voadoras de Wolverine #26. E veio dois anos antes.
No subtítulo da tradicional intro, está escrito "um show de Cassaday". Justo, muito justo. Acho que foi o melhor trampo do homem. Com maestria ele conferiu profundidade, tensão e uma das porradarias mais empolgantes dos últimos anos, além, é claro, da beleza minimalista dos (econômicos) cenários. Cada quadrinho pede uma moldura. A "arte" aqui foi medida ao pé da letra.
O roteiro é sobre a origem da personagem Ana Hark, com Elijah Snow sempre fazendo as vezes do anão de Twin Peaks: sabe tudo, mas não explica nada. Fosse um filme, seria dirigido pelo Michael Haneke (Caché), com os créditos subindo sorrateiros no que ia parecer só a metade da projeção. Ainda assim, uma das histórias incompletas mais bacanas que já li.
Warren Ellis continua atirando cabeça de bode pro leitor roer.
Pra fechar, duas rapidinhas extraídas da maravilhosa Tomorrow Stories: Os Fatos da Vida!! e Pensar, ambas com roteiro de sir Moore. A primeira é um conto de uma piada só, protagonizado pelo guri Jack B. Quick. Humor rasteiro, mas hilário. A segunda vem com uma climéria meio noir e lembra muito o filme O Poder da Sedução, thriller putesco com Bill Pulmann e uma fatalíssima Linda Fiorentino manipulando todo mundo. A conclusão é idêntica. Moore tem crédito na casa, então deixa pra lá.
E cadê a seção de cartas? Pessoal estava levantando umas questões interessantes lá.
Fábulas - 1001 Noites vol. 1/3 com 52 páginas a 6,90. Meio caro, huh?
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sexta-feira, 13 de julho de 2007
PIXEL NA COVA DOS LEÕES
Quem dera que Alan Moore fosse brasileiro e escrevesse textos sobre quadrinhos pra Folha ou pr'O Globo. Além de ser um pensador à altura, ele não tem papas na língua (ou no teclado) e com certeza não deixaria de analisar o renascimento comercial do selo Vertigo no Brasil.
Baixando um pouco a embriaguez orgástica que a Pixel anda me proporcionando, é certo que alguns poucos vacilos têm de ser limados em nome da sincronia. Errinhos de digitação e uma tradução literal que deixa os textos meio truncados são pequenos detalhes a serem lapidados com o passar das edições, espero. Também não sei até onde é produtivo "tentar consertar" as besteiras que fizeram com a cronologia da Vertigo nos últimos anos. Os resuminhos são uma mão na roda e bem escritos, mas ainda não consigo visualizar onde querem chegar, p.ex, com Planetary começando no #13.
Outro fator que considero como médio grau de risco é a presença de André Forastieri, comparecendo como diretor editorial nos créditos (e voltando à velha forma com o belo texto comparando a Vertigo ao movimento punk na edição de estréia). Ora, o velho Forasta foi a alma, o sangue e o múque da Bizz no final dos anos 80/início dos 90. De fato, foi a melhor coisa daquela safra, mesmo quando não se concordava com ele. Depois disso, teve uma rápida passagem pela General (a revista mais legal das que não deram certo) e foi um dos responsáveis diretos pela Conrad, uma das maiores salgadeiras do mercado de HQs. É disto que tenho medo e que ameaça a quase putesca farra mensal dos 9,90 (já aprovados no meu disputado orçamento). Temo que num belo dia a Pixel Magazine apareça com capa dura na banquinha do Seu Zé.
Ao que expus as minhas fobias com cara de Morte a R$ 60 para o Fivo (que está vivo e rende trocas de e-mails que um dia hei de publicar aqui), o cabra me disse pra ter fé porque ele pode ter encontrado um bom formato de business agora. Deus te ouça, meu filho.
Pixel Magazine é mulher gostosa. E nesta terceira edição ela continua rebolando irresistível. Tem Fábulas, a maravilhosa cria de Bill Willingham, mostrando o background do Garoto Azul na história/conto O Último Castelo. Referências visuais ao Senhor dos Anéis e uma Branca de Neve à Brandy (de Liberty Meadows), usados com timing e criatividade, deixam a paisagem ainda mais instigante. Também temos mais um balaço de John Constantine, desta vez extraído de Hellblazer #142. História tão curta quanto visceral, um absurdo de vigor narrativo.
Depois de um copinho de whisky pra relaxar, vem Planetary com a missão de dar um olé nos neurônios do leitor. Retirada da edição #15 original, a história Canções da Criação é Alice no País do Espelho encontra Asdrúbal Trouxe o Trombone. Entendeu? Nem eu. A arte sempre agradável de John Cassaday é o fundo falso ideal para um Warren Ellis abarrotado de cafeína e guaraná em pó. A sensação é a mesma de acordar domingo de manhã no meio da invasão à Normandia, mas quer saber? É genial. Você tenta se encontrar na bagaça e quando acha que vai conseguir, Ellis, com um bom filho da puta, mete as travas da chuteira na cara da linearidade. Troço tão sinistro que rendeu até um texto de apoio moral.
Por fim, The Cobweb, trip psicodélica concebida pelo casal Alan Moore & Melinda Gebbie após várias pitadas de nargilé e cházinho de Santo Daime, desta vez até mais comportada.
Tudo nos conformes, agora só quero saber quando vem a próxima dose de Freqüência Global.
Em parte, porque o que Moore fez lá foi poesia dark, cordel de encruzilhada da Louisiana. Não dá pra superar. No entanto, Dysart (bróderzão de Mike Mignola, com quem anda colaborando em uma série de projetos) é dedicado e mergulha fundo na podridão que é o universo do Monstrão Pantanoso, resgatando até um inimigo velhusco do herói. O que não deixa de surpreender, vindo do mesmo cara que criou Faça 5 Pedidos, aquele mini-mangá da Avril Lavigne.
A arte de Breccia lembra um Sam Kieth menos farsesco, mas ainda assim despirocado. Desenhar demônios e deformações diversas é com ele mesmo. Seu Monstro do Pântano pouco lembra algo vagamente humano. A interação com as idéias doentias de Dysart resulta numa química insana, especialmente nas cenas mais escatológicas.
E o momento romântico da revista é Fome Animal puro. Yeah!
Muito antes da reinvenção definitiva do personagem nos anos 80, o leque de possibilidades temáticas era tão abrangente e nonsense quanto todo o resto da DC durante a Era da Prata, mas o tom notadamente mais sisudo antecipava o que estava por vir.
Na tentativa de reverter sua condição grotesca (sendo que hoje ele é praticamente um Shrek de tão desencanado), o Monstro do Pântano se depara com um alienígena e sua nave avariada. Obviamente rola aquela treta entre as criaturas e as coisas se complicam quando uma operação militar chega ao local para investigar o OVNI - vale destacar uma nota engraçadinha dos editores nesta parte. O nome da história é pra lá de sintomático: O Visitante do Espaço.
Monstro do Pântano da 1ª fase é Roger Corman em quadrinhos.
Esta edição também trouxe, há muito, muito tempo atrás, a segunda parte da origem do herói Nuclear, na época batizado Labareda (e "Tempestade" na dublagem nacional do desenho Superamigos). A história chama-se Abram Alas para um Novo Herói! Parte II e foi republicada tempos depois pela Abril. É uma brasa, mora!
Estréia apresenta O Monstro do Pântano #9
Mirror
Na trilha: alguma do Notorious B.I.G. No Dia Mundial do Rock.
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