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segunda-feira, 15 de julho de 2024

Sopão de letrinhas

Lendo sobre os longos floreios e solilóquios do quadrinista Don McGregor no delicioso livro Todas as Aventuras Marvel (valeu a dica, Luwig!), lembrei dos textões que frequentemente abarrotavam os gibis da Era de Ouro. E não estou só.

Do Facebook de Walt Simonson:

“Nyoka the Jungle Girl 12. Da história Clibo, Congo King. Pp 2 & 3. Charlton Comics. 1955. Estou postando isso como um exemplo de escrita de quadrinhos que vi recentemente, de tempos passados. De vez em quando, encontro alguém que está lendo meus Thors da década de 1980 e reclama de todas as palavras que precisa percorrer no quadrinho. E vejo o mesmo tipo de crítica dirigida ao trabalho de alguns dos meus contemporâneos. Gente, vocês não têm ideia. Duas páginas de uma história em quadrinhos cerca de 30 anos antes de nós. Adoro! É melhor você gostar de ler! LOL!!!”
Por "contemporâneos", certeza que ele se refere ao Chris e ao Claremont.

Pode ser algum desejo reprimido de encaixar um romance épico num gibizinho, mas o fato é que era uma carga desembestada de letras chegando ao ponto de soterrar a arte. Balões e recordatórios disputavam cada milímetro do quadrinho com os personagens. Era uma briga de foice e mesmo na Era de Prata ainda deixava vítimas famosas.

Infelizmente, a ausência de créditos também era uma constante naquela época. Não achei o nome desse Tolstói no Grand Comics Database e nem na própria HQ. Mas não duvidaria que tenha sido algum admirador do Ken Fitch.

Isso se não for o próprio!

domingo, 14 de janeiro de 2024

The Pulse ainda pulsa


Vou confessar: Luwig e o sensacional The Pulse retornando à blogosfera estava além dos meus sonhos mais delirantes.

Ok, tecnicamente, o cabra nunca parou e temos @OsEscapistas e o Arte Final HQ nos servindo como traficantes de seus escritos. O problema é que o blog nos deixou mal acostumados (leia-se "viciados"). Precisávamos da nossa OD regular de picos quadrinhístico-cinematográficos direto na veia.

Fora que protagonismo conta, porra. Os blogs são o espelho da alma, não é o que dizem? Você me entendeu.

Enfim, fiquei tão feliz quanto ficaria se algum buteco das antigas reabrisse. Mas o tempo me deixou mais cascudo, mais pragmático e com cicatrizes fodonas cruzando o rosto. Não é a 1ª vez que ele volta – estamos monitorando o Pulse desde priscas eras. Ao menor sinal de hesitação, bombardearei sua caixa de entrada com zilhares de links desses coachs de HQs. Ataque preventivo, regra #1.

Por hora, prometo que não vou mais apelar desenterrando relíquias antediluvianas da cultura pop underground.



Palavra de escoteiro.

🤞

terça-feira, 18 de julho de 2023

Os Livros de Jô


“O prazer de comprar é quase tão grande, pra mim, quanto o prazer de ler o livro.”

Por muitos anos não entendi essa afirmação do saudosíssimo Jô Soares, em entrevista ao Roda Viva. Lembro que tentava reduzir a uma semântica involuntária, mais relacionada à objetificação da arte. Mas essa conta não fechava porque: 1 - Jô nunca foi ostentador; 2 - seu amor pela leitura era genuíno e escancarado. A verdade é que ainda não estava pronto.

Muitas compras e algumas leituras depois, entendi o que ele resumiu tão genialmente – e, craque, ainda matou no peito outra questão igualmente periclitante. Uma coisa independe da outra. São maçãs e laranjas.

Em situações mais extremas, isso pode ter relação com a bibliomania, a aquisição compulsiva de títulos em nome da coleção, sem que haja a real intenção de lê-los. Caso dos famosos lombadeiros – e peço 1 minuto de silêncio em homenagem àquele nosso amigo Salvático. Também pode ter relação com a FOMO, ou "fear of missing out" (medo de perder algo), síndrome ligada à ansiedade e gatilho frequente em se tratando de quadrinhos.

E quando o ritmo da aquisição de títulos ultrapassa a nossa capacidade de lê-los?

Nesse caso, o ensaísta e estatístico Nassim Nicholas Taleb cunhou o termo Antibiblioteca. Para ele, os livros não lidos que compõem essa Antibiblioteca são um lembrete constante de tudo o que desconhecemos. Um incentivo para continuarmos lendo, continuarmos aprendendo e nunca ficarmos confortáveis achando que já sabemos o suficiente.

Há quem diga que a Antibiblioteca não difere de uma biblioteca normal, onde também existe "uma coleção de livros não lidos por um extenso período de tempo". É o que diz Kevin Mims, do New York Times, que prefere o conceito do Tsundoku. Mais simplista e pragmático, significa, literalmente, a pilha de livros (ou gibis, revistas, etc) que você comprou e ainda não leu.

Gosto da ideia por trás da Antibiblioteca. Mas seria mais bacana (e honesto) afirmar que do meu home office tenho uma linda vista para uma paisagem Tsundoku...


* Neste post tentei emular o estilo do essencial Leituras do Dia, de Rodolfo S. Filho, que esteja descansando em bom lugar. Nunca chegamos a conversar, mas sempre me diverti e aprendi com as suas publicações. Era visita diária/semanal obrigatória há vários anos. Faz e ainda fará muita falta.

segunda-feira, 26 de junho de 2023

“You wouldn't like me when I'm Ang...”


Hulk completou 20 anos de lançamento. Certamente, o filme mais incompreendido e subestimado do gênero e também da carreira de Ang Lee. Não era pra menos. Mesmo com a escalação inspirada e uma galeria de personagens veteranos, com Josh Lucas no papel do traiçoeiro Glenn Talbot e Sam Elliott dando vida ao melhor Thaddeus E. "Thunderbolt" Ross já visto numa telona, a maior parte da trama era uma discussão sobre traumas suprimidos e paternidade tóxica.

Somadas à química a introspecção do Bruce Banner do desconhecido Eric Bana, a abnegada Betty Ross de Jennifer Connelly e o desvario sociopático do David Banner de Nick Nolte, foi uma autêntica masterclass de dramaturgia com orçamento de blockbuster. Isso em plena era pré-Universo Cinematográfico Marvel. Foi uma abordagem que ninguém esperava.

Hulk é tanto "um filme de arte de 150 milhões de dólares" quanto um autoral complicado de assimilar. Mas tinha a curiosa capacidade de permitir uma leitura pessoal e diferenciada para cada espectador – além de se reinventar substancialmente com a passagem dos anos/décadas. Continua uma senhora experiência (gama).

Lembro quando entrei na sala do cinema, ainda extasiado pelo teaser. Só queria assistir o Verdão esmagando geral. Mal sabia que meu sensorial seria uma das vítimas.


Em 2006 – há 17 anos! – fiz algumas breves considerações sobre o filme no finado blog-collab Área Azul, com os camaradas Fivo e JP Volley. Segue abaixo:

Dito isto, podem me adicionar na lista-gama: somos 4 a gostar da adaptação de Hulk por Ang Lee. Por sinal, a estréia do Verdão nas telonas é uma das mais emblemáticas no escopo desse nosso debate. É o exemplo perfeito. O público cinéfilo pode até ter uma certa afinidade com o universo dos quadrinhos, mas a imensa maioria sequer imagina quem é James Howlett, p.ex. (ao passo que quase todo mundo conhece o Wolverine - isso é mais ou menos o padrão por aí afora). No caso do Gigante Esmeralda, calhou de o personagem ficar soterrado sob toneladas de referências defasadíssimas (o seriado dos anos 70) e de conceitos tão superficiais que beiram a total falta de conhecimento (ex.: "o Hulk é tão forte que é capaz de derrubar uma parede de concreto"). 90% dos espectadores nem imaginava que ele derrubaria essa parede com um cuspe. O diretor Ang Lee e os roteiristas James Schamus, Michael France e John Turman, foram tão fiéis aos quadrinhos quanto possível. E atualíssimos à cronologia! Durante décadas, o personagem só era um-cara-que-virava-monstro-quando-ficava-com-raiva, Mr. Hyde + Monstro de Frankenstein, travado. Só na fase Peter David, no final dos anos 90, é que ele ganhou contornos mais intrincados. Abuso infantil, psique reprimida e desordem de múltipla personalidade entraram com tudo dentro do contexto, tornando-o um dos personagens mais complexos e trágicos das HQs. Embora ricas, eram temáticas difíceis por natureza, pesadonas, pouco comerciais - e entraram no filme, quase que heroicamente. Como se não bastasse, a câmera contemplativa de Lee ainda faz links entre a evolução natural e o resultado final de uma evolução forçada artificialmente, em momentos tão sutis quanto um close em um fungo crescendo num pedaço de madeira.

Excetuando o descontrole do roteiro na relação pai/filho na reta final, Hulk foi um filme extremamente necessário para conferir, em uma primeira instância, a tão almejada credibilidade conceitual ao personagem (o Graal de qualquer roteiro que preste). Daqui em diante, já tá liberado: que venha a porrada!


* * *

É irônico como, num cenário que lida com infinitos universos, o Hulk de Ang Lee tenha acabado no limbo que existe entre eles. Ou numa encruzilhada...

Ps: e me diverti horrores com igualmente subestimado game Hulk, que expandia o universo do filme. Eram porradarias épicas contra os supervilões Meia-Vida, Louco, Ravage e o Líder madrugada adentro...

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

A Fortaleza da Coleção


Geraldo Cachola foi, provavelmente, o maior colecionador de quadrinhos do país. Dono de um dos sebos mais conhecidos de São Paulo, ele era, digamos, pragmático em identificar potenciais aquisições. Especialmente com as viúvas dos colecionadores. "Como elas não conhecem o material, vendem tudo a preço de banana", dizia ele.

Ecos de Rob Gordon e Vilões por Acaso (Comic Book Vilains, 2002)? Pode ser. E faz parte.

Quando um artigo com seu perfil saiu na Mundo dos Super-Heróis #24 (nov-dez/2010), o acervo do homem contabilizava cerca de 250 mil gibis. Ou 1/4 de 1 milhão. Algo difícil de mensurar, mesmo com fotos.

Carlos Grecco, do canal Red Nerd Pill, deu uma forcinha à plebe colecionista e registrou uma visitinha à gigantesca e exclusivíssima gibiteca de Cachola, hoje curada e comercializada por sua filha, Iris Rosemeire.


Impressionante mesmo. Ainda bem que desencanei há tempos de gibis antigos e suas loucas adaptações.

Mas não recusaria uma rápida turnê pelo tal "paraíso". Talvez tropeçasse em alguma coleção fechada da Heróis da TV da Hanna-Barbera. Ou do Ken Parker da Vecchi. Ou do Sandman completo da Globo...

sábado, 19 de fevereiro de 2022

Vamos colaborar, pessoal!


E não esqueça de compartilhar onde puder.

domingo, 1 de novembro de 2020

😷 😷 😷 😷 😷 😷 Retrospec Outubro/2020 😷 😷 😷 😷 😷 😷

Finis. End. Fin. Fine. Ende. E aqui a tag Retrospec é arquivada indefinidamente como "missão cumprida".

Foi divertido fazer, mas muito menos divertido do que no início (desse ano, para ser mais exato). Ainda assim, pretendia seguir com ela até dezembro, para efeito estético. E a de outubro estava na ponta da agulha, mas preferi passar. 

Como toda boa conspiração, os motivos foram variados, entre os quais...


  • Excesso de notícias ruins. Um mês que tem as partidas de Eddie Van Halen, Johnny Nash (no mesmo dia!), Zuza Homem de Melo, do grande Cecil Thiré, de Tony Lewis (The Outfield) e Conchatta Ferrell (a inesquecível Berta) não é para fracos, mas terminar com Sean Connery emendando no dia seguinte com a passagem do bem humorado Tom "Louro José" Veiga já é sacanagem. Porrada demais para reviver masoquisticamente ao fim de cada mês.


  • O Novo Blogger. Da mesma forma que Twitter, YouTube, Facebook e outros alteraram drasticamente suas interfaces e funcionalidades – ficando todos muito parecidos, o que me leva a algumas suspeitas – o Blogger já vinha disponibilizando o novo formato de forma opcional até sua implementação definitiva, em setembro último. Para driblar a imposição e seguir utilizando o antigo esquema, durante algum tempo a url "LegacyBlogger=true#allposts" foi a salvação. Pelo menos até o dia 4 de outubro, quando foi eliminada. Escrever no Blogger hoje é brigar o tempo inteiro com formatações automáticas e lidar com duas ou três vezes mais cliques do que antes. Daria pra contornar alguma coisa na edição do html dos posts, se você estiver disposto a encarar o pavoroso novo html do Blogger. O da imagem acima equivale a um post do tamanho deste, por exemplo. Imagina o de um Retrospec. Ou de um Zombie de Ouro.

Hora de repensar o BZ. Sua missão, com certeza, já foi cumprida há tempos...

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Hulk esmaga o Coisa!


Certa vez, Rick Jones deu uma ideia do quão aterradora é a sensação de estar perto do Hulk. O velho e bom Rick é o melhor amigo do Verdão, mas mesmo ele não hesita em compará-lo a um caminhão se aproximando em alta velocidade. Com essa adorável visão em mente, o que seria então um confronto entre o Hulk e o Coisa?

Uma frota inteira de caminhões. Mineradores. Descendo a ladeira. Direto para um penhasco.

Benjamin Jacob Grimm, o Coisa (e sobrinho favorito da saudosa e gostosa Tia Petúnia), é o maior veterano da história das pancadarias gama. É uma rivalidade que remonta à Era de Prata da Marvel, sendo ele e o Golias Verde as duas primeiras powerhouses da editora – e, ainda em pleno Mês das Bruxas, os dois maiores monstros da Casa das Ideias.

Claro, é senso comum (e oficial) que o Hulk é "o mais forte que existe!!" e, portanto, o mais forte dos dois. Mas considerando a diferença relativa de seus estados iniciais de força e as variáveis a favor do Coisa, como destreza, resistência, sagacidade e proficiência em vários estilos de luta, é seguro dizer:

"Yes. Ben can."

É muito difícil, mas já aconteceu antes, num momento antológico do Latinha. E, recentemente, num momento igualmente antológico do próprio Coisa contra o Imortal Hulkcontrolado, mas ainda assim um Hulk. E que, por sinal, acabou de ser publicado aqui.

Do lado psicológico, o embate com o Hulk é uma das poucas ocasiões em que Ben se sente orgulhoso de ser o Coisa, superando até mesmo sua notória autopiedade. Afinal, é uma oportunidade de ouro para usar toda a sua força sem restrições, de descontar a sua raiva e frustração num oponente que não só vai aguentar o tranco, como irá revidar à altura – e acima...

Com o decorrer dos anos e após tantas batalhas contra o Golias Esmeralda, Titio Benji acabou cultivando algumas marcas de guerra. Não são raras as longas e melancólicas reflexões pré-confronto, tal qual um pugilista submerso na solidão e tensão do vestiário, minutos antes de subir ao ringue para a luta de sua vida.

Como se aquilo fosse uma grande luta de boxe, alegoricamente falando. Ou quase.


Ben é bom de metáfora

Daí que após o incrivelmente espetacular "hardcover virtual" Hiper-Almanaque Marvel - Hulk Esmaga o Homem-Aranha, nada mais lógico que Hiper-Almanaque Marvel - Hulk Esmaga o Coisa!® seja o próximo passo do brainstorm-gamma com o parceiro VAM!, da Batdeira. O VAM!, logicamente, com a concepção gráfica (Deluxe, diga-se... custaria uns 600 paus na promocha) e eu, com o papo-de-buteco sobre cada edição.

Que, modéstia à parte, poderia até entrar como extra em nosso Omnibus imaginário. Hoje em dia, qualquer um escreve "matérias", "prefácios" e "editoriais", não é mesmo?

Behold the cover!


Clique para ampliar

No primeiro volume, fizemos uma seleção com os melhores encontrões do Homem-Aranha com o Gigante Esmeralda, o que já é um tremendo contraponto em termos de dinâmica. O Teioso nunca teve intenção de encarar o Hulk diretamente; e o Coisa, apesar de reconhecer o perrengue, quase sempre segue em rota de colisão com o Golias Verde, invariavelmente com resultados imprevisíveis e pra lá de divertidos. A ideia básica pode até não ser original, mas a nossa versão é muito melhor, mais forte e mais rápida!

Mas chega de papo, porque... Tá na hora de esmagar!

Err...


Fantastic Four #12 (mar/1963)


A estreia foi já na edição #12 do Quarteto Fantástico. Na capa, uma amostra de como o Hulk era retratado em seus primeiros dias, traiçoeiro e amoral, se esgueirando para atacar a Primeira Família de surpresa. Produzida pela dupla Stan Lee/Jack Kirby, a história é simplesmente entitulada "The Incredible Hulk" (minimalismo é isso aí) e começa com o Coisa sendo confundido com o monstro - uma constante. A partir daí, o Quarteto é contatado pelo General Ross para auxiliar na captura do Verdão. O grosso da trama é ocupado por uma conspiração arquitetada pelo subvilão Destruidor; a luta em si é curta e inconclusiva, mas não faltam emoção e trash-talks disparados pelo Coisa, pelo Hulk e até pelo Titio Stan nos recordatórios. Ouro puro.

Por incrível que pareça, esse quadrinho clássico - ou, como anunciou hiperbolicamente nosso eterno fanfarrão Stan, "um dos momentos mais dramáticos da História da Fantasia & Aventura" - só foi publicado aqui duas vezes, pela RGE e pela Abril.

Momento Tá na Hora do Pau!: o Ben, a voz da emoção, e Sue, a voz da razão.


Fantastic Four #2526 (abr–mai/1964)


Hulk e Coisa são levados de volta ao ringue por Lieber-Kurtzberg apenas 1 ano após o primeiro combate. Menos por um tira-teima e mais para promover a nova formação dos Vingadores, agora liderados por um recém-descongelado Capitão América. Na história "The Hulk Vs. The Thing" (Fantastic Four #25), o Golias Verde decide ir até New York trocar uma palavrinha com os Vingadores após saber que foi substituído pelo Bandeiroso. Chegando lá, é recepcionado por 3/4 fantásticos: Tocha Humana, Mulher Invisível e nosso esforçado Coisa. Claro que o abacaxi acaba sobrando pro Ben numa luta divertida e com soluções criativas recicladas ad nauseum nas décadas seguintes. Na edição seguinte - aquela, da capa do Hulk Donkey Kong – com a auto-explicativa "The Avengers Take Over!", os Vingadores... tomam conta. Mas no final quem vence o Incrível Hulk é o Incrível Rick!

O detalhe é que Stan Lee estabelece de vez a superioridade física do Hulk; e foi o 1º registro da força do Verdão aumentando junto com seu nível de raiva/stress - mais de 1 ano antes da máxima "quanto mais furioso, mais forte o Hulk fica" estrear, portanto. Também ali o bom Doutor é sempre chamado de Bob Banner... eles estavam mesmo tentando evitar o, na época, "suspeitíssimo" Bruce.

Essas duas edições só saíram aqui pela EBAL, em preto e branco, num longínquo ano de 1971. Ainda há muito o que fazer, muito o que relançar...

Momento Tá na Hora do Pau!: Ben fazendo um ultimato pro Hulk enquanto foge de barco é o fino, mas fico com o... GERONIMO!


The Incredible Hulk #122123 (dez/1969–jan/1970)


De cara, essas edições tem alguns dos melhores desenhos do meu desenhista ruim favorito, Herb Trimpe. Ainda na veia Kirbyana, o artista não economiza nos detalhes e nos gadgets do laboratório do Quarteto Fantástico. Também fica evidente quando um roteirista fora da curva assume as rédeas do Verdão: nas histórias "The Hulk's Last Fight!" e "No More the Monster!", Roy Thomas não apenas se torna o 1º autor a "curar" o Hulk (temporariamente, claro), mas também o 1º a manter a personalidade e inteligência de Banner após sua transformação no Gigante Esmeralda. Mas o que interessa aqui é a porradaria e o Coisa tem que se virar quando o Hulk fica descontrolado em pleno Edifício Baxter. E se vira muito bem, diga-se!

Essas histórias saíram aqui pela EBAL em 1971 e pela Bloch em 1975 – milagre não pintarem o Hulk de amarelo.

Momento Tá na Hora do Pau!: Coisa dando um olé no Hulk duas vezes seguidas. É um craque!


Fantastic Four #111112 (jun–jul/1971)


O confronto da vez foi em grande estilo: "Big" John Buscema no traço, Joe Sinnott finalizando e o Tio Stan de volta ao roteiro. Nas histórias "Thing -- Amok!" e "Battle of the Behemoths!", Reed Richards consegue reverter Ben à sua forma humana, mas, claro, com um revés: ele se torna um sociopata. Provavelmente por isso, o Pedregulho não se segura e rende uma das batalhas mais equilibradas com o Golias Verde. Ora apostando nas diferenças físicas (força X velocidade), ora invertendo os papéis (Coisa esmagando tudo pela frente e Hulk usando estratégias!), é perceptível o carinho (e a torcida) que Lee tinha pelo Ben. Não fosse por uma pequena bobeada... Seja como for, é uma das tretas mais eletrizantes da dupla.

Fantastic Four #111 foi editada aqui pela GEA (Grupo de Editores Associados) em 1972. Já Fantastic Four #112, com a luta propriamente dita, segue inédita até hoje, mesmo com a GEA prometendo o "Duelo de Monstros!" para o próximo número – que nunca veio. Queria o quê, por 1 cruzeiro e 50 centavos?

Momento Tá na Hora do Pau!: Vem pro papai!


Marvel Feature #11 (set/1973)


A história "Cry: Monster!" tem argumento de Len Wein, desenhos de Jim Starlin e arte-final do operário-Marvel-padrão Joe Sinnott. É o 1º contato de Starlin com o crossover laranja-esverdeado – e parece que tomou gosto pela coisa, já que comandaria outros encontrões impagáveis da dupla no futuro. Fora que é dele o meu visual predileto do Coisa (sorry, Byrne & Pérez). Na trama, o Líder e Kurrgo – subvilão que o Quarteto baculejou em priscas eras – disputam o "direito" de controlar o Hulk e o Coisa. E para isso, nada mais racional que provocar uma briga entre os dois e fazerem uma apostinha entre cavalheiros!

Essa edição foi publicada pela Abril em 1992, no 1º volume da mini A Saga de Thanos (?!). Segundo o recordatório no final, tinha a ver...

Momento Tá na Hora do Pau!: Hulk acha "Hora do Pau" idiota!


Giant-Size Super-Stars #1 (mai/1974)


Não, os balões não estão trocados

Com roteiro de Gerry Conway, traço Kirbyano de Rich Buckler e arte-final de – adivinha!Joe Sinnott, a história "The Mind of the Monster!" traz Bruce Banner fazendo pior que Reed Richards ao tentar curar Ben Grimm e a si próprio: sua mente Hulkificada vai parar no corpo do Coisa e vice versa. Seria a chance do bom e velho Ben espancar o Verdão até 2040, mas sua adaptação lenta somada à fúria incontrolável do Coisa-Hulk pesaram na dinâmica e ele leva uma das maiores surras da vida... no corpo do Hulk. Então, pode-se dizer que o Coisa arrebentou o Hulk dessa vez, se é que você me entende.

Esse gibi nunca foi publicado no Brasil. Aliás, a única Giant-Size Fantastic Four que saiu aqui foi aquela do Madrox.

Momento Tá na Hora do Pau!: o Coisa-Hulk socando a Tundra achando que era um cara...


Fantastic Four #166167 (jan–fev/1976)


Escrita pelo grande Roy Thomas, a dobradinha "If It's Tuesday, This Must be the Hulk!"/"Titans Two!" tem algumas das maiores forçadas de barra já registradas numa HQ – e olha que estamos aqui em plenos anos 1970. Na premissa, o Hulk é derrotado pelo Quarteto Fantástico em tempo recorde (!), mas o piedoso Ben toma as dores do velho desafeto e o liberta. Na sequência, os dois fogem num jato e team-upeiam contra o Quarteto e, claro, o exército. Mesmo com momentos descendo quadrado (ah, a parte do avião...), a parte on the road – ou on the air – dos brutamontes tem boas tiradas. Traço do George Pérez de várzea nas duas edições. Na 2ª parte, Joe Sinnott, lógico, faz uma eficiente finalização; provavelmente para compensar a 1ª parte, onde Vince Colletta só reforça a munição de seus detratores.

Até hoje essas HQs não foram publicadas por aqui. E aposto que nunca serão...

Momento Tá na Hora do Pau!: SMRAASHH!


Marvel Two-in-One #46 (dez/1978)


Pra dar uma relaxada, uma história (ainda) mais fugaz e bem humorada. Em "Battle in Burbank!", o Coisa, em mais um de seus clássicos rompantes "tempestade em copo d'água", fica revoltado com um seriado televisivo com a cocotinha Karen Page estrelando ao lado do Hulk... quer dizer, não O Hulk, mas um dublê bom de imitação. Indignado, Ben parte pra Hollywood para cobrar dos produtores o seu próprio show de TV! E na mesma hora em que o verdadeiro Hulk está indo pra lá, furioso com o modo como foi representado na telinha!! E ao mesmo tempo em que a estrela Karen Page está sendo sequestrada!!! Pô!!!! Roteiro absurdista de Alan Kupperberg com um timing cômico que lembra as revistas satíricas da Marvel, tipo a Crazy e a Not Brand Echh. Aliás, a bela capa (de Keith Pollard com arte-final do Bob Layton!) engana, já que Kupperberg também desenha a história com pegada tosca e algo estilizada.

A edição foi publicada no Brasil pela RGE em 1979. E o pior é que tive essa, não muito tempo depois.

Momento Tá na Hora do Pau!: impossível não associar a Karen da fase pornstar com a manchete do jornal e o célebre grito de guerra do Coisa...


Marvel Two-in-One Annual #5 (set/1980)


A "Marvel Dois-em-Um Anual" #5 conta com roteiro e desenhos de Alan Kupperberg (ainda assinando "Kupperburg") salvos pela arte-final do grande Pablo Marcos, o artista peruano famoso pelas colaborações no Conan clássico da Marvel. Na trama, o estranho Estranho coopta o sobrinho mais famoso da Tia Petúnia e o Golias Esmeralda para ajudá-lo a impedir a destruição do Universo pelo vilanesco Plutão, o "Rei do Inferno"... mas não conte para Hela, Lúcifer, Zarathos, Belasco e muito menos para Mefisto e o novo capeta-sensação Aquele Abaixo de Todos. Como esperado em se tratando do título, rola aquela brodagem do trio contra um inimigo em comum, mas os dois brutamontes não deixam passar a oportunidade de um tira-teima (mais um) lá pelas tantas. Não que isso tivesse alguma relevância para a história.

Saiu aqui no Almanaque do Hulk #3, da RGE, há exatos 40 anos. Mano...

Momento Tá na Hora do Pau!: Benjy, Campeão Mundial de Trash-Talk a uma Distância Segura.


The Incredible Hulk #293 (mar/1984)


Em "Assassin!" não há um quebra real entre o Hulk e o Coisa, mas um quebra onírico, passado num baita pesadelo do pobre Dr. Banner. De fato, é uma história perturbadora, a começar pela famosa capa de Bret Blevins com o Verdão despedaçando o queixo do Ben. A trama escrita por Bill Mantlo, apesar de protagonizada pelo Hulk inteligente, tem um tom melancólico e amargo, com o personagem atravessando um tipo de PTSD-gama, após tantos anos de destruição e fúria. O traço de Sal Buscema também passava por uma profunda evolução (estava a meio passo da pegada mais sombria que adotou na fase da Encruzilhada), o que, sem dúvida, reforçou o clima taciturno. O título dessa história no Brasil era bem mais acurado: "Remorso".

Foi publicado aqui duas vezes. No formatinho da Abril e na abençoada Coleção Histórica Marvel, da Panini.

Momento Tá na Hora do Pau!: Hulk entregando um conjunto habitacional que ele destruiu anos antes. Redenção com gostinho de Minha Casa Minha Vida.


Marvel Fanfare #2021 (mai-jul/1985)


Sem a menor sombra de dúvida, as duas partes de "The Clash" seriam o carro chefe do compiladão. Fácil, um dos quadrinhos divertidos que já li na vida. Aliás, Jim Starlin escrevendo o Hulk e o Coisa já merecia um TPzinho honesto por si só. A exemplo daquela histórica Graphic Marvel #1, é sempre imperdível. Na história, o Coisa é convocado pelo Dr. Estranho para deter o demoníaco mago Xandu. Xandu, por sua vez, convoca o Verdão direto da Encruzilhada para equilibrar as coisas (ou o Coisa). As piadas são sensacionais e funcionam até hoje, os diálogos são afiadíssimos e a pancadaria corre lindamente por páginas a fio, sem apelar pro lugar comum. O roteiro e o traço de Starlin estavam irradiando inspiração. São tantos os momentos inusitados e impagáveis que dá vontade de citar cada página da HQ (na verdade, apaguei uns 15 parágrafos em que estava fazendo exatamente isso!). Li quando saiu e, desde então, reli um milhão de vezes. Definição de clássico? Isso aqui.

Absurdamente, a aventura saiu no Brasil uma única vez, nos formatinhos do Hulk da Abril. Já passou da hora de uma reedição marota em formato americano, capa cartão & papel offset filezinho.

Momento Tá na Hora do Pau!: Coisa espancando o Hulk como se não houvesse amanhã. Na hora, o Verdão estava zumbificado, mas foi bom enquanto durou.


Fantastic Four #320The Incredible Hulk #350 (nov-dez/1988)


As histórias "Pride Goeth..."/"Before the Fall" trazem uma quase redenção para o perseverante Ben. Na época, o Coisa estava curtindo os benefícios de uma estranha mutação. Embora estivesse com um visual ainda mais disforme, cheio de esporas e pontas pelo corpo, também estava muito mais forte e resistente. E o Hulk estava em plena fase "Sr. Tira-Teima", com terno, gravata, pele cinza e consideravelmente mais fraco. É nesse contexto que o Dr. Destino chantageia o Verdão, ou melhor, o Cinzão para que ele ataque o Super-Ben. Na 1ª parte, escrita por Steve Englehart, Ben atropela o Golias Cinza (sem saber que era o Hulk!), descontando com juros os anos de murros e voadoras que aguentou até ali. Tudo com a arte magnífica do Keith Pollard. Um sonho do Grimm realizado. Já na 2ª parte, o roteiro de Peter David vira o jogo e o Sr. Teima usa o que tem de melhor, a malandragem. Resultado: o Super-Ben quase vai pro saco e, o que é pior, na arte tosquíssima do Jeff Purves. Damn, Ben.

As histórias foram publicadas aqui em O Incrível Hulk #108 e #109, da Abril.

Momento Tá na Hora do Pau!: Coisa, o cara mais forte da cidade!


Hulk #9 (dez/1999)


A história "Chip on my Shoulder" (por aqui, "Acerto de Contas") abre e fecha com aquele solilóquio de Ben sobre seus encontrões com o Hulk – e traçando um paralelo muito bacana com a rivalidade entre os pugilistas Muhammad Ali e George Foreman. Ponto para o roteiro co-escrito por Jerry Ordway e Ron Garney. A mesma inspiração não se repete no miolo, mas o embate entre os nossos gigantes guerreiros é praticamente garantia de diversão. Pra sorte do Coisa, o Hulk aqui está sendo controlado pelo vilão rerererecorrente Tyrannus (já perdi as contas de quantas vezes esse cara morreu!), o que dá certa vantagem ao Pedregoso. Mas é o Hulk de qualquer modo e se Rick Jones o comparava a um caminhão se aproximando, a certa altura o velho Ben parte pra cima dele com um caminhão maior ainda. A fina ironia fica por conta da onomatopeia: RUMMBBLLE ...in the Jungle?

Essa edição saiu por aqui em Grandes Heróis Marvel #10, da infame linha Super-Heróis Premium da Abril, pioneiríssima no conceito de gibi gourmet. Conheço um cara que tem todas. Ah, playboy.

Momento Tá na Hora do Pau!: o Coisa jogando fora sua medalha de boa conduta. Quase deu certo. Wotta revoltin' development!®


E.... C'est fini.²

Editoras interessadas, ainda estamos abertos a propostas.



Panini, para negociações sobre um Omnibusaço disso aí, direto em pvt. Nem precisa traduzir.

Ps: meus sinceros agradecimentos aos srs. Benjamin Jacob Grimm, Robert Bruce Banner, à Tia Petúnia e, principalmente, ao VAM! Ilustrador, por mostrar um nível de paciência que nem imaginava que existia!

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

For ROM the Bell Tolls

Pelos Deuses de Gálador! Pensei que nunca mais veria a expressão "Pelos Deuses de Gálador!" num gibi novo.


Após o espirituoso cameo de Ann Nocenti da edição anterior, uma belíssima surpresa veio em Coleção Histórica Marvel - O Incrível Hulk vol. 12, saideira do 3º (e último?) box da coleção: a participação original e intacta de ROM, o Cavaleiro Espacial. Realmente não esperava a presença do herói prateado, visto que há décadas os direitos, que pertencem à Hasbro, não são licenciados para a Marvel. Não apenas ROM, como todo o background criado e desenvolvido por Bill Mantlo e Sal Buscema: os Cavaleiros Espaciais, seu planeta natal Gálador, os Espectros, a Nebulosa Negra, etc. Enfim, aquela maravilha toda que eu devorava em minhas overdoses mensais de Mantlo/Buscema.

Difícil saber o que acontece. Os crossovers de ROM com outros heróis foram cortados sistematicamente pela Marvel nas republicações (Power Man and Iron Fist #73, Marvel Two-in-One #99) e, em outros, permanecem como nos originais (a Uncanny X-Men #187 contida na edição Essential). Na The Incredible Hulk #296 em questão, republicada no TP Regression, de 2012, a participação foi mantida - ao contrário do que está informado na seção Reprint controversies do Wikipedia (ah, não seria o 1º vacilo). O que sem dúvida facilitou a vida da Panini, além de ser muito curioso.

Qual é o critério adotado pela Marvel para lidar com o ROM? Existe algum conflito de interesses (ou comum acordo) com a IDW, a licenciante oficial até o ano passado? Existe a pentelhésima chance do run do Cavaleiro Espacial na Marvel um dia ser coletado na íntegra? E de chegar aqui, num maravilhoso capa cartão com papel offset?

Dúvidas... Nada que ofusque meu deleite com esse pequeno flashback dos bons tempos.


Emocionante para um leitor velhusco que colecionava O Incrível Hulk da Abril.

Ps: fora a redenção de ver corrigida, finalmente, uma antiga tragédia.

domingo, 28 de julho de 2019

Em Chamas!, finalmente


Foi com dor no coração que passei a coleção Príncipe Valente da Planeta DeAgostini. 82 volumes (com Hal Foster nos 30 primeiros) é para fortes. Mas lembro que não iria perder a defunta coleção A Espada Selvagem de Conan, da Salvat, por nada nesse mundo. O Conan de Roy Thomas, John Buscema e aquele séquito de gênios filipinos do traço é para mim imprescindível (sorry, Príncipe). Da mesma forma é com o Homem-Aranha de Stan Lee, Steve Ditko, Jack Kirby e, depois, John Romita Sr., Romita Jr., Ross Andru, Roger Stern e um imenso etc que começa lá em agosto de 1962 e vai até meados da década de 1990.

Esse período todo do Aranha é discoteca básica. Um dia estarei me deliciando com esse material enquanto singro a 3ª idade em meu sítio (ou caverna) bem afastado da descivilização.

O lançamento de O Espetacular Homem-Aranha: Edição Definitiva - Volume 1 teve uma das piores repercussões do mercado. Na tentativa de alcançar a geração fã de um compiladão omnibus e de seduzir os viúvos da descontinuada linha Biblioteca Histórica Marvel, a editora Panini acabou desagradando os dois. Os motivos todo mundo sabe: erros de revisão e impressão num material luxuoso, caro e de importância histórica indiscutível (você não discutiria com alguém que questiona esse fato, espero). Depois daquilo foi difícil manter a chama acesa.

Com a Panini ainda se recuperando do imenso tombo do ano passado e sendo necessária a intervenção de ninguém menos que Neil Gaiman para um recall de um TPzinho de 240 páginas, meus planos para o essencial do Aranha se voltavam para o Aranha dos Essential, no câmbio do Tio Trump. Até que o livrão da Panini saiu do catálogo da Amazon e só retornou semanas depois, com um insólito "Versão Corrigida" no título. Impagável, mas serviu para voltar a sonhar. E se arriscar.

Ao longo dos meses, vi dezenas de fotos com os erros da edição, mas nenhuma atestando as correções. Aproveitei então para fazer uma comparação erro/correção das duas edições usando caps do vídeo do canal HQzasso (não seria "HQzaço"?). Estava sem um marcador à mão, então tive que improvisar um na hora. É só ignorar, por obséquio.



E o carro-chefe:


Em que pese a boa impressão de ver uma empresa fazendo a coisa certa (mesmo sob uma pressão absurda) é preciso dizer que a simples diagramação do "Em Chamas!" ficou pavorosa. Não sei como era na BHM - Homem-Aranha Vol. 2, onde a história também foi publicada, mas o alinhamento está ruim, o preenchimento do balão irregular e até a fonte escolhida foi mal aí. Putz. Melhor era ter feito à mão, como no original e mantido na digitalização da Marvel. Mas aí acho que era pedir muito...

Colecionar gibis depois de véio, com o mercado e a economia nesse atual pega-pra-capar, é para malucos mesmo. Antigamente... e me refiro há uns 10 anos apenas... era só marcar uns títulos, jogar lá no mylibrary - ainda ecziste! - e ir enfileirando calmamente as leituras à medida que os pacotes chegassem. Amigável para a agenda, para a saúde mental e para o bolso. Mas hoje, cada "departamento de aquisições" é caso de CPI. Difícil saber em qual bonde embarcar, quando sair e qual arriscar.

Tomara que a coleção recupere a moral embaçada, siga em frente e não seja mais uma a ir pra conta dos planos adiados.

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Mãos à obra, pessoal!


Pessoas da sala de justiça de jantar, como alguns já devem ter percebido há mais ou menos dois anos o Vertigem está parado, entre os diversos contratempos para esta paralisação é que o principal administrador do site, Von Dews, encontra-se com problemas de saúde, problema este que lhe afetaram a visão; a doença retinopatia diabética esta levando-o a cegueira.
Dessa forma parentes e amigos de sua cidade natal estão organizando uma "vaquinha" para que seja feita as cirurgias a fim de lhe recuperar sua qualidade de vida, assim sendo, viemos aqui pedir o auxílio aos diversos frequentadores e adeptos do site Vertigem HQ que se interessem em ajudar possam colaborar com esta "vaquinha" no link abaixo e na conta:
https://www.vakinha.com.br/vaquinha/578529
Caixa Econômica Federal
Agência: 0099
Operação: 013
Conta Poupança :164669-0
Agradecemos a colaboração e apoio de todos. Mesmo que não se possa ajudar, por favor, compartilhe este post. O Von Dews só tem a agradecer a esses mais de 10 anos de existência do site.

domingo, 14 de outubro de 2018

Hulk esmaga o Homem-Aranha!


Mandamento #616 dos gibis da Marvel: enfrentar o Hulk é o mestrado para todo super-herói que honre sua cueca, esteja ela por baixo ou por cima da calça. No mínimo estabelecerá sua perseverança frente às intempéries e elevará sua moral aos olhos do público - apesar da demonstração de coragem perturbadoramente suicida.

Muitos já deixaram sua estrela na Calçada Gama: Matt Murdock, Steve Rogers, Tony Stark, Thor Odinson, Norrin Radd, Blackagar Boltagon, Mar-Vell - só em Hulk Contra o Mundo, o Professor Verdão distribuiu todas as bordoadas e pós-graduações ainda pendendes no elenco principal da editora. Um verdadeiro gamma party.

Isso sem mencionar o James Howlett, PhD em Hulkonomics desde o dia um. Vamos contar quantas páginas até o redivivo Carcaju bater de frente com o Gigante Verde outra vez.

Mesmo com essa extensa e diversificada galeria de combates, há que se destacar a teimosa resiliência de um certo aracnídeo. Por algum motivo que só o Sombra sabe, a vida do Homem-Aranha foi e ainda é marcada por confrontos ridiculamente desiguais. O Teioso coleciona embates contra pesos-pesados imparáveis, numa lista de brutamontes que vai do Rino e Mr. Hyde até Fanático e... bem...


A química entre o Hulk e o Homem-Aranha vai muito além do óbvio contraste físico. Vem desde o conceito, da forma como funcionam tão bem sozinhos e ainda melhor quando se encontram. Há algo de marcante e natural nesses crossovers que é simplesmente contagiante. Certamente, uma das maiores e melhores combinações da cultura pop.

Mas admito, sou suspeito: os primeiros gibis que li nesta vida foram desses dois. E felizmente, não estou sozinho.

Foi papeando com o parceirão VAM!, da Batdeira, sobre esse autêntico Davi contra Golias Pós-Moderno que viajamos num projeto de um mega-encadernado discretamente entitulado Hiper-Almanaque Marvel - Hulk Esmaga o Homem-Aranha!

Que rufem os tambores... turudurudurudurudurudummmm...


Clique para hulkificar a capa!

A ideia geral era elaborar uma seleção com as quinze (!) lutas mais divertidas entre o Cabeça de Teia e o Golias Esmeralda. Com o layout e a diagramação cirúrgicas do VAM! tentei sintetizar a ideia toda no expediente.

E acho que, em parte, consegui - com a elegância e a sutileza de um locutor de rodeio.

- O que me fez divagar sobre essas duas forças nascidas da radioatividade em meio às ansiedades da Era Nuclear e da paranoia da Guerra Fria... Seriam estes os verdadeiros "Filhos do Átomo"? Só o Dr. Samson explica.

À seleção e avante!


The Amazing Spider-Man Annual #3 (nov/1966)


Com o enredo nonsense do titio Stan Lee, o traço de Don Heck e uma tremenda bananosa pro Aranha, a história "...To Become an Avenger!" traz o nosso herói sendo atropelado pela famosa "sorte Parker": é sondado pela playboyzada dos Vingadores para se tornar um membro full time, mas para provar que merece a vaga, precisa arrastar o Hulk de volta à equipe. Praticamente uma pegadinha do Mallandro. Rá!

Essa história saiu por aqui no #9 da série Spider-Man Collection (set/1996), uma das picaretagens mais caras já cometidas pela editora Abril (✞).

Momento Vai Teia!: Aranha derrubando o Hulk com 1 soco! Calma... tem contexto, tem contexto...


The Amazing Spider-Man #119-120 (abr-mai/1973)


Duas edições que são um bálsamo para o maltratado coraçãozinho dos marvetes mais velhos: as histórias "The Gentleman's Name Is... Hulk!" e "The Fight and the Fury!" têm roteiro de Gerry Conway e a arte inesquecível do genial John Romita na 1ª parte. Às voltas com um Norman Osborn em vias de relembrar seu lado Duende e com a Tia May nos braços do galã Otto Octavius, Petey precisa urgentemente dar um tempo de NY. Destino: Quebec. E chega lá justo quando o Hulk e o General Ross estão quebrando o pau... ou melhor, quebrando a taiga inteira. Se combinassem, não daria tão certo.

Cinco anos depois, a história foi republicada de forma mais autocontida, com algumas páginas diferentes e capa de John Byrne em The Amazing Spider-Man Annual #12.

Essa HQ fez uma verdadeira turnê brasileira, sendo publicada pela EBAL, Bloch, RGE e Abril.

Momento Vai Teia!: as últimas preces do Aranha.


Marvel Team-Up #27 (nov/1974)


Aqui, Jim Mooney mostra que a média dos desenhistas da época limpa o chão com a média atual e Len Wein dá uma aula de continuidade na história "A Friend in Need!". Na trama, o vilanesco Camaleão joga um verde no Hulk (ops!) pra livrar um amigo do xadrez. E adivinha quem estava por lá cobrindo uma reportagem ao lado do próprio J.J. Jameson? O final da história é dramático e inesperado.

Saiu aqui pela RGE e pela Abril.

Momento Vai Teia!: é do Hulk, que resistiu impávido e colosso à malandragem da detentaiada.


Marvel Team-Up #53-54 (jan-fev/1977)


Dando uma respirada da pancadaria aracno-gama, vem a parceria de Bill Mantlo e John Byrne em "Nightmare in Mexico!"/"Spider in the Middle!". O Cabeça de Teia está voltando pra casa após uma pelada com os X-Men e acaba baldeando numa cidade-fantasma do Novo México. Lá, se vê no meio de um salseiro-monstro envolvendo o Hulk, o Pã punk Deus da Mata e uma operação top-secret do governo. Aventura com clima dos filmes setentistas de contenções/acobertamentos militares estilo The Crazies e O Enigma de Andrômeda.

Especialmente indicada para quem tinha aquela edição comemorativa de Capitão América #100 e até hoje não entendeu por que diabos o Teioso tinha ido parar na Lua (!). Ao contrário da Abril, a RGE fez o dever de casa e publicou a passagem completa desse arco (MTU #53-57) - com uma tradução bem meia-sola, diga-se, mas ninguém é perfeito, né mermo.

Momento Vai Teia!: Aranha, esse Deadpool de raiz, libertando o Hulk com um peteleco.


Marvel Team-Up Annual #2 (out/1979)


Num dia qualquer no início de 1979, Chris Claremont saía de um cinema apavorado com o filme Síndrome da China. Em casa, liga a tevê pra relaxar um pouco com o seriado do Hulk, mas o episódio que passava era "Earthquake Happens". Em pânico, vai à varanda tomar um pouco de ar e ler o jornal. Manchete da 1ª página: "Acidente em Three Mile Island".

Só um tratamento de choque desses para explicar a história "Murder in Cathedral Canyon!", com desenhos de Sal Buscema e Alan Kupperberg - grafado "Kupperburg" no gibi (que vergonha, Marvel). Na trama, a namorada de Peter e o pai dela são raptados por um trio de supersoldados soviéticos; mas a situação é ainda pior do que parece: o sogrão é um cientista que acabou de criar a fórmula da bomba de antimatéria. Começa então uma desesperada corrida contra o tempo, com ajuda do Verdão e de um militar russo fã do Tex Willer.

Inspirado e preocupadíssimo, Claremont claramonte, ops... claramente estava engajado na questão. Fora as referências explícitas ao acidente na usina de Three Mile Island, a história é bem mais calcada em temas reais do que o padrão da época - lembrando que se tratava da já cinzenta e politizada Era de Bronze dos comics.

Vale reproduzir o balão final, um libelo pacifista do escritor:

"Para mudar as coisas, Homem-Aranha, a humanidade -- como um todo -- deveria levantar e dizer 'Chega de Bombas'. Deveríamos aprender a viver em paz uns com os outros. Francamente, meu amigo, não acho que temos esse tipo de coragem."

Essa foi publicada aqui pela RGE há quase 40 anos. Merecia uma reedição.

Momento Vai Teia!: o Aranha dando uns tapas na cara do Banner pra invocar o Hulk era um franco favorito, mas fico com a inteligência do Petey impressionando até o nerdão-mestre Reed Richards - ei, pessoal que faz os filmes, lembrem-se disso!


Marvel Team-Up #126 (fev/1983)


De volta ao smash-style, pero sin perder la ternura"The Obligation!", publicada originalmente em suplemento dominical e reeditada em edição split da Marvel Team-Up - essa era a Marvel defendendo cada centavinho do cofre. Então manda-chuva da editora, o polêmico Jim Shooter escreveu um roteiro paulocoelhista, aparentemente inspirado em velhas parábolas orientais. Num clima de conto, Peter ensina a Bruce Banner e seu alter-egão o real significado de altruísmo.

Emoldurando o cenário filosofante, a arte do sumido Tomoyuki Takenaka. Que era um bom desenhista de ação com pegada mangá contida em alguns momentos, mas que em outros fazia do Peter um clone... do Speed Racer.

Essa metade do split saiu por aqui em Superaventuras Marvel #45.

Momento Vai Teia!: Peter Generoso Parker.


Marvel Fanfare #47 (nov/1989)


Michael Golden.

Pra muita gente só esse nome já basta. Compreensível: sua arte peculiar é um tour-de-force tanto quanto um Hulk descontrolado e solto no coração do South Bronx - que é justamente o que ocorre em "Renovation". O roteiro é do Bill Mantlo e se passa na fase do Hulk inteligente. Dominado por uma amoeba alienígena, o Gigante Esmeralda retorna aos seus tempos de Rampaging Hulk e só encontra pela frente uns drones da Shield e um Aranha com o pior resfriado da sua vida.

Foi publicado aqui uma única vez em O Incrível Hulk #84 (Abril).

Momento Vai Teia!:Aranha nocauteando o Hulk em estado selvagem sem ao menos encostar nele. Alguém aí andou lendo H. G. Wells.


The Amazing Spider-Man #328 (jan/1990)


Nessa sequência involuntária de artistas peculiares, vem "Shaw's Gambit", a última história do Homem-Aranha com sua majestade noventista Todd McFarlane. Até hoje há quem considere essa a versão definitiva do herói.

(...)

Esquisitices à parte, aqui é evidente o cansaço do mega-empresário na reta final. Algumas passagens ficaram tão nas coxas que até os laureados da seção "Arte do Leitor" dos gibis da Abril fariam melhor. Mas independente da minha opinião (eu curto o traço do Erik Larsen, oras, minha opinião não vale nada), esse é um momento histórico na cronologia do Teioso e o roteiro absurdista de David Michelinie não poderia coroar a saideira de forma melhor.

A edição faz parte da macrossaga Atos de Vingança, onde os vilões Marvel fazem troca-troca (de heróis!). Então, o Hulk fase Sr. Tira-Teima é contratado pelo mefistofélico Sebastian Shaw para eliminar um Aranha godlikeado com os poderes cósmicos do Capitão Universo. Ou seja, uma baita rabuda pro Cinzão.

Há um estranho padrão aí, já que o Sr. Tira-Teima - a versão menos poderosa do Hulk - sempre enfrenta heróis nos momentos mais overpower de suas carreiras. Carma?

Essa foi publicada em O Incrível Hulk #122 (Abril) - e no que depender das incursões da Panini no Hulk McFarlaneano, permanecerá assim por um longo, loooongo tempo.

Momento Vai Teia!: o Aranha colocando o Sr. Tira-Teima em órbita!


Web of Spider-Man #69-70 (out-nov/1990)


Tudo muda o tempo todo no mundo, mesmo. Em "A Subtle Shade of Green"/"A Hulk by Any Other Name", tanto o Spidey voltou com seus poderes normais, quanto o Hulk voltou a ser verde, forte e burro. Escrita pelo veterano Gerry Conway, co-escrita por David Michelinie na 2ª parte e desenhada pelo melhor-Sal-Buscema-cover-do-mercado Alex Saviuk, a trama é uma volta às raízes dos encontrões entre os dois. Hulk toca o terror numa cidadezinha e Peter vai lá cobrir a passagem do furacão verde. O problema é um incidente com o dispositivo de um vilão oportunista que termina por hulkificar o aracnídeo. Spider smash!

Essa história saiu aqui em Homem-Aranha #132 (Abril).

Momento Vai Teia!: SPIDER SMASH!²


The Amazing Spider-Man #381-382 (set-out/1993)


E após um breve comercial, voltamos com o Hulk inteligente. "Samson Unleashed"/"Emerald Rage!" têm roteiro de Michelinie e arte do Mark Bagley. Na história, temos o Dr. Samson praticando seu esporte favorito: curar o Banner. E, como sempre, errando feio. Na experiência desastrosa da vez, ele próprio se torna uma fera selvagem e, na sequência, logicamente, o Hulk. Pra remediar a situação, só o Aranha mesmo. Porradeiro honesto (quase) do início ao fim.

Ah, e alguns meses depois, Peter David decidiu que essas histórias eram apenas sonhos. Que bonito, hein, sr. David. Mas realmente ia ficar estranho meia tonelada de Hulk sentado na janelinha de um avião comum.

As duas foram compiladas em A Teia do Aranha #84.

Momento Vai Teia!: Spider-Backflip!


Peter Parker: Spider-Man #14 (fev/2000)


Da seleção inteira, a história "Denial" é a que traz o tom mais sério. Atmosfera pesarosa de luto num cenário onde o Aranha crê que sua esposa Mary Jane morreu num desastre de avião provocado pelo Hulk. Howard Mackie nunca foi nenhuma Brastemp, mas conseguiu tecer aqui uma narrativa envolvente e passional de uma situação delicada - mesmo em rota de colisão com algo tão divertido & pop como um quebra com o Hulk.

Para um roteirista, o Aranha deve ser um dos personagens mais fáceis de lidar. É instintivo. Inclusive nos momentos mais intensos e emocionais. Ele praticamente se escreve - e muito bem. Até quando você não concorda com nada daquilo.

E John Romita Jr. em grande forma é tudo o que você precisa.

Essa história saiu aqui em Homem-Aranha #6, safra $uper-Heróis Premium. Será que já existe algum livro em produção sobre as falcatruas os bastidores da Abril? Há muito pra contar ali...

Momento Vai Teia!: Aranha e a dolorida catarse gama.


C'est fini.

Editoras interessadas, estamos abertos a propostas. Podemos começar os lances a partir de 97 milhões de Trumps em títulos ao portador. Mas venham rápido antes que os verdadeiros licenciantes descubram.

No próximo Hulk Esmaga: as pedras vão rolar...