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terça-feira, 18 de março de 2025
A Balada das Fúrias Femininas
Agosto de 1994 foi um divisor de águas. Naquele mês, saía a polêmica Green Lantern #54. Ao mesmo tempo em que a edição choca os leitores com a morte brutal de Alex DeWitt, a namoradinha do Lanterna Verde Kyle Rayner, também dá uma nova carreira à cabeleireira Gail Simone. Seu website Women in Refrigerators – título sem rodeios e autoexplicativo – leva o fato um pouquinho pra fora da bolha nerd e rende contatos com figuras-chave da indústria. Alçada a roteirista, Gail tem breves passagens pelo gibi dos Simpsons e pela Marvel, até que, em 2003, assina com aquela mesma DC Comics da historinha brutal, onde está até hoje.
Claro que a DC não é a única editora historicamente misógina e sexista. A Marvel, tradicionalmente mais progressista, também tem sua cota de esqueletos femininos no armário. Mas é na DC que, por algum motivo, a passada da boiada sempre manteve o cardio em dia. Um exemplo é que logo após cooptar Gail Simone, a distinta publicou a minissérie Crise de Identidade, de Brad Meltzer, com toda a sorte de atrocidades às quais a personagem Sue Dibny foi submetida.
Quando o assunto é idade de consentimento, então, a coisa vira mato. O que queriam fazer com a Mary Marvel foi além de qualquer sensatez. E que o diga o amor-estranho-amor de Slade Wilson e Dana Markov, Hal Jordan e sua bimbo de 13 anos Arisia Rrab (mais tarde, embaraçosamente "consertada" por Geoff Johns para 240 anos!) e prefiro nem mencionar o Terry Long, pelo amor de Nabokov.
A raiz disso tudo parece remontar a uma época em que o escoteirão Superman flertava com suas jovens primas Supergirl e Poderosa como se fosse o sugar daddy das galáxias. Aquele agosto de 1994 pode ser sido um divisor de águas para Gail Simone, mas para a DC, era uma terça-feira qualquer.
São algumas viagens que ficaram após a leitura de As Fúrias Femininas, mini em 6 partes publicada em 2019 lá fora e compilada pela Panini em abril de 2021 aqui dentro. E minhas expectativas com o quadrinho eram o exato oposto desse papo. Com a guarda de elite de Darkseid em pose épica e ameaçadora na capa de Joëlle Jones, imaginei uma aventura de ação militar-espacial 2000 ADística, curta, grossa e divertida. Mas o roteiro da escritora, diretora e indie rocker Cecil Castellucci prefere explorar a cena pelos bastidores. O que, a priori, é uma ideia ótima e, ao mesmo tempo, perigosamente desafiadora.
Poucos terrenos das HQs são tão férteis para analogias ao preconceito de gênero (ou a qualquer preconceito) e à luta pelas causas femininas (ou a qualquer causa) quanto o inferno totalitário de Apokolips. Em particular, as Fúrias Femininas parece que nasceram para isso. A abordagem de Castellucci fica evidente no logo nas primeiras páginas, com a Vovó Bondade supervisionando a 1ª formação da equipe: Auralie, Lashina, Bernadeth, Harriet Louca e Grande Barda. Ah, esses nomes.
Enquanto conclui anos de treinamentos mortais, Bondade relembra seus próprios perrengues em nome da ascensão social e profissional – incluindo éons de humilhações e gaslighting de seus camaradas até a submissão sexual para o chefão de pedra chapiscada.
Paradoxalmente, as Fúrias eram, de certa forma, "protegidas" pelo treino e condicionamento extremos. Quando são oficialmente apresentadas, passam a conhecer o mundo-cão-machista no qual Vovó Bondade se graduou.
Dentre elas, a maior vítima é Auralie, alvo constante de assédio e estupros por um oficial da alta cúpula. Apesar das tentativas de trazer alguma justiça para seu caso, Auralie só encontra indiferença por parte de Bondade e repúdio das demais Fúrias. Sororidade passa longe das hostes apokoliptianas. A única que desenvolve alguma empatia (tardia) é Barda, já a um passo de seu relacionamento com o Senhor Milagre e do passaporte para a liberdade na Terra.
Castellucci teve bastante cuidado com o momentum de sua trama. Tudo está muito bem encaixado na cronologia sem influir nos eventos clássicos. A HQ começa com o assassinato da mãe de Darkseid, Heggra, a mando do próprio. Depois, Scott Free inicia sua parceria com o líder rebelde Himon. Até a sofrida Auralie tem o mesmo destino de sua encarnação original, em Mister Miracle #9, de maio de 1972. Detalhes extras bacanudos que mostram que a roteirista leu todo o Quarto Mundo de Jack Kirby com atenção e mucho gusto.
A coisa só patina um pouco nas elipses da narrativa, nos entrequadros. Alguns cortes são muito truncados, fora que algumas ideias chafurdam no absurdo, como a sequência envolvendo Auralie, Barda e um cadáver desovado num cometa (!). O desenlace é puro nonsense da Era de Prata.
A arte da paulistana Adriana Melo é eficiente e esteticamente agradável – sua "jovem" Vovó Bondade é qualquer coisa de espetacular e implora por arcos com missões solo. A exceção são as cenas de luta, confusas como as de um gibi do StormWatch ou do Justice (lembra disso, Vicente?). A artista também evita aquelas panorâmicas industriais/tecnomedievais de Apokolips, um personagem à parte das sagas Kirbyanas. Se conscientemente ou não, vai saber. Mas ela, com absoluta certeza, teria cacife.
No final, surpreende ver que a chamadinha de capa "A Revolução no Quarto Mundo!" não fica apenas na promessa. A tal revolução, furiosa e feminina, realmente acontece, embora destoe da cronologia jogando tudo pra conta de um provável Elseworld. Uma ousadia que não consegue suprir totalmente a sua (enorme) ambição. Não foi dessa vez.
Deixemos isso, ainda, com a Martha Washington de Frank Miller e com a Halo Jones de Alan Moore. Mas valeu a tentativa.
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sexta-feira, 26 de março de 2021
...And Justice League for All
Todo cuidado é pouco com o que é dito hoje em dia. As ideias mais absurdas podem escapar do picadeiro e virar realidade numa escalada atordoante. Tem nego virando presidente desse jeito. E foi assim com Zack Snyder's Justice League, o outrora mítico Snyder Cut. O ponto zero foi quando os fãs de sua filmografia à frente das produções DC, inconformados com o Josstice League, viralizaram a famosa hashtag. Em seguida, o diretor começou a jogar verde em sua conta no Vero. O "Team Snyder" ganhou corpo quando Jason Momoa, Gal Gadot e até Ben Affleck retuitaram em coro. Da noite pro dia, o Snyder Cut ganhou contornos de Snyder Cult. Mas foi com Ray Fisher desancando Joss Whedon em praça pública que o processo deu aquela turbinada. O filme virou algo a ser visto (assim como alguns bocós a serem eleitos) para finalmente esfregar na cara desse mundo ingrato o que ele perdeu.
Claro que a Warner já havia endossado a recauchutagem da produção há mais tempo que isso. Afinal, rolou ali uma aditivada de 70 milhões de doletas e, até onde sei, o Coringa do Heath Ledger não inspirou nenhum acionista da empresa a queimar montanhas de grana. Pode crer que antes de qualquer anúncio muitas horas de PowerPoint rolaram no financeiro.
Findos os trâmites burocráticos e conferido o resultado, arram, originado na HBO Max, o novo Liga da Justiça atropela a 1ª versão (o que convenhamos, não é mérito algum). É, fácil, o melhor filme do Zack Snyder no DCEU - considerando que Watchmen não pertence ao segmento.
Mas, de novo, é filme de autor. E esse autor é Zack Snyder.
(Pensando bem, até o cinema do Michael Bay é "cinema de autor". E nem precisamos do nome dele estourando retinas no título para reconhecer o istáile)
Sob sua administração, o termo "Snyderverse" é bem mais acurado que "DCEU". É o extremo oposto do padrão de adaptações proposto pelo Guillermo del Toro de tempos idos e que deveria ter sido canonizado e tombado como patrimônio pop cultural obrigatório.
Talento nunca foi o problema: ainda acho bacanudos o Dawn of the Dead hardcore, a rinha de corujas de A Lenda dos Guardiões, o capa & espada YMCA de 300, o citado Watchmen sem lula alien fake e, provavelmente sua mais elegante e visionária obra que um dia uma raça superior descobrirá e dará o devido reconhecimento, o videoclipe de quase duas horas Sucker Punch.
Sem contar os superpunchs do caótico Homem de Aço, provando que o negócio do Zeca é a (troc)ação.
A dorsal da história, co-escrita por Snyder, Chris Terrível... opa, Terrio e Will Beall, permanece intocada: é a mesma disputa dos heróis pela posse das Caixas Maternas contra as investidas do representante Lobo das Estepes, louco para limpar sua barra com o gerente Darkseid lá na matriz Apokolips. Se o conteúdo segue sem alterações em relação à Liga 2017, a forma é bem diferente.
Apesar da resolução em 4:3 para assistir na Admiral da sua vó (vai dizer que acreditou que era pro IMAX) e da divisão das 4 horas do filme em 6 capítulos revelarem a fina habilidade do diretor de lamber sua própria caceta em rede mundial, é verdade que ao menos 40% dessa pretensão é convertida em relevância na tela. Todos os personagens ganharam mais fluidez, desenvolvimento e contextualização, para mais (Cyborg) ou para menos (Aquaman). De fato, Vic Stone é quem mais se aproxima de algum protagonismo, mas não chega a guiar o espectador pela trama, como qualquer roteiro mais malandro faria. Ajudaria uma grandeza se Ray Fisher fosse melhor ator.
Já o Superman é o verdadeiro MacGuffin dos 5/6 iniciais do filme (vixe). Teve mais tempo para reviver, fazer um amistoso do time do sem-camisa contra o time dos superamigos, curar a ressaca-monstro e juntar os cacos de memória nos bucólicos cafundós do Kansas com uma terapia intensiva de cafunés de Lois Lane e de sua mãe Salve Martha. Insípido toda vida no papel, Henry Cavill encarna aqui o Azulão (ou seria Escurão?) em sua melhor versão do que é, sem nunca ter sido.
A Mulher-Maravilha, por sua vez, teve poucas e pontuais alterações. Foram para a lixeira o infame papai-e-mamãe com o Flash e os seguidos closes na bunda da Gadot presentes no Gross Joss Cut. Mesma coisa com o Batman - não o bundalelê, infelizmente. Não sei se foi pelo bate-bola extra com o Alfred do genial Jeremy Irons, mas parece que Affleck está genuinamente à vontade e se divertindo com o personagem, pela 1ª vez. E desejar isso pra alguém vestido de Batman é pedir o mínimo, pela sua própria sanidade mental.
Difícil mesmo é fazer algo que salve o Flash do Ezra Miller, que, quando não está esganando moçoilas islandesas, mostra como não se corre em frente a uma câmera. Tem duas boas tentativas: o salvamento de sua futura namorada Iris de um acidente de trânsito, numa sequência melosa, esquisita (ah, aquela salsicha) e interminável; e mais ao final, num momento que remete brevemente à icônica cena de sacrifício do Barry Allen em Crise nas Infinitas Terras. Melhora um pouquinho a impressão geral. É só não lembrar da tranqueira que é aquele uniforme. Ih, é mesmo. Tsc, aaah...
Preciso confessar que curto o Aquaman Czarniano e achei acertada a manutenção dos diálogos-ponte com seu filme solo. Até dá pra fazer vista grossa para o skysurfing usando um parademônio como prancha. O que não dá pra passar batido é o visual do Cyborg, que continua um Megatron(bolho) altamente distrativo no pior sentido. Tanto que o personagem fica muito mais interessante e cativante quando é autoprojetado de corpo inteiro em ambientes virtuais, numa boa sacada conceitual do diretor.
E realmente não precisava da ceninha "olha o Homem de Ferro aprendendo a voar em 2008". Toma vergonha, Snyder.
Se a edição mandou todas as bobagens do Whedon pra ponte que caiu, muita coisa do próprio Snyder podia ter ido também. A estreia de J'onn J'onnz, o "Martian Manhunter" (hmm...), esculhamba completamente o único momento em que Snyder consegue ser emocional sem ser brega. Surreal. A sequência inteira do resgate dos cientistas nos subterrâneos de Gotham é bem fraca, especialmente a cena em ultramegapowerslow motion do Flash ajudando Diana a alcançar sua espada durante uma queda (para... literalmente... nada!), a parte em que os heróis correm um sério risco de morrer afogados e o pavoroso batveículo Nightcrawler (prefiro o Kurt Wagner), tão viável e eficiente quanto os veículos do desenho do He-Man. Desculpa aí, Tanque de Ataque, tu era gente boa.
Claro que não podia deixar de mencionar outro TOC Snyderiano: as músicas. Tem que ter, claro, mas não precisa ser uma jukebox. A escolha dos temas sincronizada com as cenas soa tão expositiva quanto um recordatório do Chris Claremont – mais ainda, porque os caras estão literalmente falando o que está acontecendo... Nick Cave cantando "há um reino, há um rei" enquanto Aquaman caminha num píer é o cúmulo da obviedade. E, numa menção desonrosa, enche o saco a voz feminina cantando ao fundo toda vez que a Mulher-Maravilha resolve partir pra porrada.
Mas também tem coisas legais, como as mulheres do vilarejo cantando enquanto Aquaman retorna ao mar, demonstrando o nível da reverência e da adoração daquele povoado pela figura do relutante monarca. Boa.
Por fim, as cenas com a família russa foram sabiamente limadas e o ato final foi reformulado como um bloco mais coeso e focado. A luta decisiva contra Lobo das Estepes (que ganhou um tapinha no CGI) não chega a ser ruim, mas fica a dever. Ainda mais em comparação com sua eletrizante campanha em Themyscira. E a introdução de Darkseid – com visual quase OK e tronco emborcado – ficou surpreendentemente climática e bem elaborada, arrematando com a cena arrepiante do vilão e os heróis se encarando em silêncio através do portal. É a vitória do "menos é mais" sob condições adversas.
Porém, como uma espécie de assinatura artística do diretor, ele mesmo decide contrabalancear a boa impressão com os epílogos mais prolixos do universo conhecido. Dá pra entender a piscadela para uma incerta continuidade no encontro entre LeLex Luthor e Exterminador. O que não dá pra entender é a fixação no Coringa faz-de-conta do Jared Leto chegando a tal ponto que rende a cena mais constrangedora do ano (sim, eu sei que ainda estamos em março). Quer Coringa, Batman, Liga e o Superman boladão num cenário pós-apocalíptico, reveja o cinemático do DC Universe Online. E desapega de vez.
O que realmente impressiona nesse Liga da Justiça é a rara (raríssima) oportunidade de correção histórica dentro do cinema blockbuster. Mesmo com os vários problemas e idiossincrasias, Zack Snyder entrega um bom filme da superequipe mais emblemática dos quadrinhos – também, só me faltava passar uma tarde inteira assistindo um filme meia-boca ou, pior, um novo Batman v Superman. Mais legal ainda é ele ter tido essa chance, por todas as dificuldades pessoais e públicas inimagináveis que atravessou nos últimos anos.
Um pouco de justiça poética, pra variar.
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domingo, 14 de fevereiro de 2021
Vocês sangram?
Vão sangrar.
Então está aí a realidade do Justice League's Snyder Cut. Ao menos o cabra não é de deixar assuntos pendentes. E só precisou levantar 70 milhões de doletas na moralzinha.
Kneel before Zack, Michael Bay.
Então está aí a realidade do Justice League's Snyder Cut. Ao menos o cabra não é de deixar assuntos pendentes. E só precisou levantar 70 milhões de doletas na moralzinha.
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domingo, 28 de agosto de 2011
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
A ESCOLHA DE SOFIA
Uma das características que sempre admirei no universo nonsense da DC é a liberdade periódica da editora para reafirmar a essência de seus principais personagens. Uma boa estratégia que funciona como uma reciclagem para impedir o desgaste destes (ou atualizá-los conforme as mudanças comportamentais e perceptivas de seu público-alvo). Daí a velha e conhecida premissa trazendo heróis envoltos em questões morais e existenciais. No período de 1986-1987, a DC publicava a saga Lendas, cujo objetivo era justamente resgatar o status icônico daquele universo e de seus personagens, zerados após a mega-reforma de Crise nas Infinitas Terras.
O plot era simples, de apelo universal. Concebido por John Ostrander, desenvolvido por Len Wein (co-criador do Monstro do Pântano e do Wolverine), desenhado pelo John Byrne no auge e arte-finalizado por Karl Kesel, a história mostrava Darkseid executando um plano para incitar a Humanidade contra suas lendas, os heróis. Para tanto, o vilão cria uma série de incidentes forjados que, entre outras coisas, faz o Capitão Marvel acreditar que matou um ser vivo - traumatizado, ele resolve abandonar seus poderes. Em seguida, entra em cena o Glorioso Godfrey, lacaio que Darkseid enviou à Terra, disfarçado de ativista anti-heróis. Godfrey manipula a opinião pública, criando um efeito dominó que leva o presidente Reagan a vetar todas as atividades meta-humanas no país. Tudo isto sendo testemunhado de perto pelo Vingador Fantasma, o Uatu da DC, convicto de que os ideais das lendas prevalecerão no final.
Este crossover épico exerceu muita influência nos anos seguintes - inclusive sobre a concorrência e suas guerras civis - e teve papel fundamental no cast heróico da editora (a LJA de Giffen/DeMatteis e a Força-Tarefa X, p.ex, vieram daí). Como todo mega-evento quadrinhístico, a série gerou ramificações nos principais títulos da DC na época, desenvolvendo subplots essenciais para a uniformidade da trama.
Com o relançamento da saga pela Panini Comics, via encadernado Grandes Clássicos DC #10, percebe-se o quão essenciais eles foram.
A história de Lendas no Brasil começou em junho de 1988, com seu lançamento pela Editora Abril. A mini foi editada em formatinho de seis edições com a inserção estratégica de algumas das tramas paralelas, publicadas originalmente em revistas regulares (mais precisamente, Superman, Firestorm, Blue Beetle e Action Comics). Num lampejo de visão e bom-senso, o pessoal das "Publicações Infanto-Juvenis" preservou a estabilidade narrativa do roteiro com essas inclusões (apenas as que foram necessárias para tal). Porém, a Abril sempre se sabotou com antigos vícios.
Apesar de já ter esses formatinhos há anos, a verdade é que só fui ler Lendas há pouco tempo, pelo encadernado bonitão da Panini. Com o ponto de vista de alguém que desconhecia o argumento, suas nuances e resistência ao tempo, mergulhei no TPB, começando pela belíssima introdução de Mike Gold, ex-editor da DC.
Quando parti para a saga de fato... mal pude conter minha decepção ao me deparar com uma história frágil, superficial e repleta de falhas estruturais (buracões mastodônticos no roteiro!). Onde foi parar a ½ Liga soterrada pelo demoníaco Enxofre na página 45? Como foi que o Besouro já tinha capturado Cronos na página 118? E o mais absurdo: o Superman mencionando que foi "seqüestrado por Darkseid hoje cedo", sem que nada atestasse o fato. Não era possível. Aquele desastre era a lendária Lendas, com trocadilho infame e tudo?
Meio que querendo o replay de uma batida de dois caminhões-tanque, peguei os velhos formatinhos e destrinchei tudo pra ter certeza do que tinha lido. Só que havia um sabor diferente ali... a história tinha tensão, drama, impacto, coesão... logo vi que as tramas paralelas fizeram uma diferença crucial na experiência. É uma saga completamente diferente, fazendo justiça total à fama. Uma grande aventura, "heróica" como só a DC se permite ser, cujo clímax apoteótico abria caminhos para um futuro promissor.
Mas antes que eu pudesse demonizar o encadernado perneta da Panini, notei certas "virtudes" dele em relação ao formatinho da Abril. A página 89 do encadernado era inédita até então, visto que a Abril havia a decepado sem dó - juntamente com as páginas 99, 109, 120, 133, 134, 135, 151 e 152 (isso se eu não deixei passar mais). É público e notório que a fase da Coroné Abrir à frente das publicações Marvel/DC foi um banho de sangue editorial. O Greenpeace deveria agradecer de joelhos à editora, pela quantidade de árvores poupadas em toneladas de páginas não publicadas. Não importava se fosse uma grande história do John Byrne, do Frank Miller em sua fase mais criativa ou o excelente Demolidor de Ann Nocenti/John Romita Jr... a Editora Abril descia o facão.
Vendo as trapalhadas tanto do Bonde Civita quanto dos capos sicilianos da Panini, uma única coisa me vem à cabeça: monopólio é uma merda.
Na trilha: as fabulosas Runaways! As deusas Joan Jett (16) e Lita Ford (17) já batiam um bolão.
quinta-feira, 14 de outubro de 2004
DOR DE DENTE HORRÍVEL
É isso aí, amigo. Resident Evil 2: Apocalipse é o primeiro filme que assisti que me deu dor de cabeça (ps.: alterei o local da dor em prol da analogia). Imagina você, no sono dos justos, lá pelas 5:30 da matina, e um filho de Deus dá uma martelada numa bigorna a um palmo do seu ouvido. RE2:A tem ao menos uns 30 "sustos" seguindo essa cartilha. E rapaz... que filme barulhento. Superou até a ópera das arapongas que foi Van Helsing. Assistir isso em DVD com o DTS ativado é suicídio auricular. De qualquer forma, essa via crucis movida a decibéis teve uma certa satisfação: ao meu lado, estavam uns três ou quatro guris se borrando de 5 em 5 minutos. E eu me acabava de tanto rir. Acho que ali aconteceu a primeira explosão de esfíncter anal provocada pela 7ª arte. Momento histórico.
Dirigido pelo estreante Alexander Witt, o filme é a última palavra em montagem music television. Aquelas coisas: edição a 300.000 km/s, efeitos de distorção a rodo, cortes mil, enfim. MTV puro. Na maior parte das cenas de ação mal dá pra ver quem está na tela. Isso é filme pro Barry Allen. Não vou dizer que a escola videoclípica só teve formandos incompetentes, afinal, David Fincher, Guy Ritchie e Zack Snyder estão aí pra honrar a camisa. Mas quando dá errado, o resultado é Witt, o Extremo.
Quem rabiscou o roteiro foi Paul W. "Ainda-vou-bombar" Anderson, que trocou duas de vinte por uma de quarenta. Inicialmente era ele quem ia dirigir RE2:A, mas preferiu assumir o comando de AvP, só pra sentir o gostinho de ser podado por um grande estúdio. Não digo que o filme seria melhor com ele, pois o roteiro também exagerou na massa. A história começa exatamente aonde o primeiro filme parou, com Alice (Milla Jovovich, ainda tirando de letra as cenas de nudez... êlaiá!) despertando no hospital e percorrendo uma Raccoon City totalmente devastada - tudo obra da gananciosa Umbrella Corporation e seus zumbis infectados com o T-Virus.
Ok, quem conhece o game Resident Evil, sabe que esse é o enredo básico do jogo, ao contrário da história anterior. E as peças que faltavam estão lá: os soldados da S.T.A.R.S. abandonados por seus superiores - entre eles o fodão Carlos Olivera (Oded Fehr, fodão), a agente Jill Valentine (Sienna Guillory, gostosa até a última célula-tronco), e o taxista comédia L.J. (Mike Epps, mais um coadjuvante cômico talentoso - acho que devem existir linhas de montagem de coadjuvantes cômicos em Hollywood).
Muito bem. A cidade em quarentena, um muro rodeando todo o perímetro, a mídia no cabresto, e alguns milhares de seres vivos e mortos-vivos descartáveis. Local propício para a Umbrella testar sua mais nova arma: Nêmesis (uma mistura de Monstro de Frankenstein e Rambo, usando a roupa do Pinhead, de Hellraiser). Sua missão é fazer uma queima de arquivo geral e isso inclui os nossos heróis, que estão tentando resgatar a filha do dr. Ashford (Jared Harris, chato pra cacete e igualzinho aquele paralítico de Todo Mundo em Pânico 2), que, em troca, irá retirá-los da cidade.
RE2:A, como toda experiência ruim, tem o seu lado bom. A princesa atordoada Milla Jovovich, por exemplo, é apenas razoável como atriz, mas tem uma atitude de entrega muito interessante em relação à sua personagem. Já a destrói-família Sienna Guillory foi um achado, e deveria ter aparecido logo no primeiro filme. Além de ser a própria Jill Valentine, ela também conseguiu ser boa atriz, mesmo com uma nesguinha de participação - a microssaia contribuiu, claaaro. Desejo toda a sorte para Oded Fehr (de A Múmia) em filmes de ação com heróis mais inteligentes que o de costume, e o mesmo para Mike Epps (parente do Omar?) em algum Saturday Night Live da vida.
Ativando programa de boas seqüências de ação isoladas: a ótima cena do fechamento da barreira, condenando milhares de civis inocentes; o ataque dos tenebrosos lickers na igreja (antes de Alice atravessar o vitral com uma moto); Nêmesis metralhando uma loja cheia de soldados da S.T.A.R.S. e logo depois, perseguindo Alice com uma bazuca; a presença intangível da "entidade" Umbrella. Nunca vemos os gerentes, apenas os supervisores (aparecem dois no filme), o que dá uma maravilhosa sensação de estarmos enfrentando um inimigo sem rosto. Provavelmente de forma inadvertida, foi criado um conceito aprimorado da sinistra Firma, da franquia Alien.
E Alien é justamente o link para o primeiro ponto ruim: tal qual Ellen Ripley em Alien 4, Alice agora tem poderes. Ela está melhor, mais rápida, mais forte, essas coisas. Palha até não poder mais. Os cães-zumbi também estão lá, e são responsáveis pelos momentos mais ruidosos do filme. Antes deles alcançarem as vítimas, elas já morreram de dor nos tímpanos. Já Nêmesis é miseravelmente desperdiçado depois daquelas duas cenas. E o roteiro tem tantos rombos que até os guris borrados notaram (num deles, nossos heróis vão para um cemitério pra fugir do ataque dos zumbis).
Aliás, esse não pode ser considerado um filme de mortos-vivos. Esse é um filme que "por acaso" tem mortos-vivos. A importância dada aos monstros é tão pouca, que, dado momento, eles simplesmente somem da história. E se for pra vê-los sendo surrados a golpes de caratê, é melhor que nem apareçam mesmo. RE2:A também me confirmou uma horrenda suspeita. Existe um filão de filmes sanguinolentos que estão vindo sem uma única gota sangue. Parece até defeito de fábrica.
Eu poderia até enaltecer as citações ao game (como os soldados jogando granadas e metralhando os zumbis, Alice entrando na loja de armas, o reflexo dos monstros num capacete policial, etc.), mas isso não é mérito do filme, e sim do jogo. E para os amantes do game, a conclusão não poderia ter sido mais decepcionante. Totalmente aberta pra mais uma seqüência, ela arremessa todo o conceito original pra vala. O que quer que venha a ser Resident Evil 3, dificilmente terá algo a ver com o argumento que popularizou o jogo.
Cara... eu não paguei ingresso, mas quero o meu dinheiro de volta.
Interessante edição "genérica", onde o bom aracnídeo toma uma carroçada sinistra do Venom. Não sabia que o Mancha Negra cover era tão superior assim.
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Ou: arquivo cbr re-upado em 05/09/2017 - scan com a mesma resolução arcaica de 2004
Recordar é viver. A revista Super Powers foi uma tentativa da Abril de repetir na DC o mesmo sucesso da saudosa 1ª fase de Grandes Heróis Marvel. Como o universo decenauta sempre foi inconstante, a esforçada SP acabou se limitando a lançar fins de sagas. Isso já era característica desde sua estréia. Em Saga das Trevas Eternas, a Legião dos Super-Heróis enfrentou seu primeiro desafio realmente grande: Darkseid, senhor de Apokolips. Na época, o Dark era aterrador pra valer, não esse freguês de hoje em dia.
Uma bela aventura cósmica com argumentos de Paul Levitz e Keith Giffen, que também desenha. Essa história influenciou muita gente boa (como Jim Starlin) e gente mais ou menos (como Kurt Busiek). Lembrando que a Legião tem esse nome não é à toa: são 25 integrantes (a edição traz a ficha de 23 deles).
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dogg, quebrando tudo ao som de Indians, do novo ao vivo do Anthrax! HUUUUH!!
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terça-feira, 23 de março de 2004
SUPERMAN: BIRTHRIGHT
Dando uma passada pelo Newsarama, me deparei com uma rebarba de notícia que eu nem lembrava mais. Era a respeito de um novo projeto envolvendo o Clark, que estava sendo guardado a 777 chaves pela DC. O nome era Birthright, e se tratava de uma saga que seria levada à cabo pelo roteirista Mark Waid. Na época até lembro que pensei: "putz, vão matar o pobre Super de novo". Ledo engano, mas se o projeto não se revelou outro atraso na vida do Clark, também passa longe de ser um adianto.
A DC revelou que trata-se de uma reformulação na origem do homem de aço. Mais uma. Já teve aquela do John Byrne, em que mudaram uns 3 centímetros pra direita e uns 2 pra esquerda na trajetória do Super. Teve um upgrade ao contrário em Crise nas Infinitas Terras, aonde o Clark aprendeu a rasgar o uniforme e a jorrar sangue ao menor peteleco. A última modificação foi na ocasião de sua "morte", na luta contra o Apocalypse. A partir dali, o Clark parou de vez com esse negócio de Super até o último fio de cabelo. A superforça ainda está lá, mas a supervelocidade e invulnerabilidade já não são mais lá essas coisas. É até irônico quando eu lembro de uma história em que ele usava o seu "famoso" superventriloquismo (sério!), para se comunicar com uma pessoa que estava do outro lado do mundo.
Mas por quê eu não gostei da notícia? O lance é que já fizeram isso há um tempo atrás (1986!), e apesar do bom trampo do John Byrne (na minha opinião), a qualidade não se manteve na seqüência. Então, de quê adianta? Se bem que estou enxergando mais do que se mostra a princípio. Palavras de Mark Waid: "Imagine as revistas do Super-Homem começando hoje, e se você pudesse acompanhar tudo desde o início, lendo a primeira aventura do Homem de Aço reinventada para refletir o mundo e a sensibilidade de hoje. Para ser relevante com suas experiências e sua vida, e mostrar o quanto é difícil ser um 'herói' no século 21". Smells like Ultimate spirit... Por quê então a DC não faz logo uma versão Ultimate (com outras palavras, claro) do Super? Talvez porque J. Michael Straczynski e seu Poder Supremo já tenham tomado a dianteira nesse lance de Superman do século 21... Sendo assim, o que é que sobra nessa enésima origem recontada do Clark?
Ponto a favor: O Super andava bem capenga mesmo... sempre odiei aquele lance de Kandor (a cidade engarrafada), Superboy clone, Krypto (apesar de gostar de cachorro), Erradicador e a volta da Kara Zor-El (a Linda Danvers eu até livro a cara, ela é gostosíssima).
Mas o quê diabos a origem do Super tem a ver com essa bagunça? O melhor é arrumar a parada do ponto de onde está. Chamem o esperto Azzarello, o filho pródigo dos quadrinhos Warren Ellis, ou mesmo o Mark Millar, que sempre implorou para trabalhar no Super. Recontar tudo de novo não, por favor...
Sem contar que, com essa "nova" origem, eu ainda corro o risco de não ver mais cenas como essa aí embaixo.
Já pensou... um Super sem o elemento escoteiro?
Como os meus amigos do coração lá do Blogger Brasil bloquearam tudo o que eu tinha (e que já deletei, no entanto), acabei perdendo uma porrada de links e informações que eu havia armazenado no rascunho do blog. A minha memória é ótima, mas só armazena uns 5 GB de bobagem. Devia ter mais que isso lá, pois lembro de poucas coisas (sei que eram ótimas... "coisas"). Mas, eis que numa formatação de rotina, descubro em um backup empoeirado os links de 4 revistas que publiquei. Todas já estão no DC++ e, dizem, no e-Donkey também (aêêê). Também já foram publicadas no sumido Newscans (por onde andam?). Pra quem não tem os programas ou não chegou a pegar lá na casa antiga do BZ, é mandar ver...
Links semi-capengas (às vezes ficam bloqueados por uma hora, pois a taxa de transferência é limitadíssima) e naquele esquema copy/paste em uma janela nova. Se tudo ainda estiver certo, claro...
Aliens vs Predador vs Exterminador do Futuro
Parte um (7,92 MB):
http://geocities.yahoo.com.br/doggma8888/avpve1-2.zip
http://geocities.yahoo.com.br/doggma8888/avpve2-2.zip
Parte dois (6,59 MB):
http://geocities.yahoo.com.br/doggma3333/alvprvex1-2.zip
http://geocities.yahoo.com.br/doggma3333/alvprvex2-2.zip
ou esses - -
http://geocities.yahoo.com.br/doggma9999/alvprvex1-2.zip
http://geocities.yahoo.com.br/doggma9999/alvprvex2-2.zip
Superman versus Darkseid: Apokolips Now!
PS: Atualmente, estou bem melhor no que diz respeito à diagramação... :P
Parte um:
http://geocities.yahoo.com.br/doggma5555/ApokolipsNow01.zip
ou
http://geocities.yahoo.com.br/doggma2222/ApokolipsNow01.zip
Parte dois:
http://geocities.yahoo.com.br/doggma5555/ApokolipsNow02.zip
ou
http://geocities.yahoo.com.br/doggma2222/ApokolipsNow02.zip
Marvel Apresenta: Hulk - O Último Titã
PS: Nessa edição tem uma outra história, da dupla Garth Ennis/John McCrea, passada durante uma das lutas entre o gigante verde e o exército. Como na época, eu a achei meio tapa-buraco, não escaneei. Hoje, a considero um tapa-buraco de respeito. Ainda não está aqui, mas estará num futuro próximo.
Parte um (4,79 MB):
http://geocities.yahoo.com.br/doggma6666/hulkoultimotita01.zip
Parte dois (2,62 MB):
http://geocities.yahoo.com.br/doggma7777/hulkoultimotita02.zip
Quem olha esse rostinho angelical não imagina a sensualidade do "resto" da musa do Gen¹³. A menina é xonadona pelo Clark, mas, como às vezes acontece na vida real, ele não dá muita bola pra ela não. Tsc... tadinha. O próximo Coelhinhas será em homenagem a ela...
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