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sábado, 29 de julho de 2023

He's too old for this shit


Sempre gostei de retornos triunfais. Podia jurar que a Ordem Jedi renasceria das cinzas numa eventual sequência de Star Wars. E que a SHIELD se reorganizaria no Universo Cinematográfico Marvel uma hora ou outra. Talvez por serem instituições tão canônicas e ainda com tantas possibilidades, que parecia o óbvio próximo passo. Me lasquei nos dois casos. Os igualmente canônicos Luke Skywalker e Nicholas Joseph Fury também têm muito em comum em suas versões mais velhas e cansadas. Aliás, cansadas é eufemismo... exaustas.

Invasão Secreta tem o objetivo de amarrar uma ponta solta deixada por Capitã Marvel: a situação Skrull. Prato cheio para analogias à manipulação da opinião pública e à geopolítica atual, com a Guerra Fria 2.0 e a crise global de refugiados. E consegue, na medida do possível para um produto Disney+. Nestes termos, surpreende uma minissérie com tantos tons cinzentos, torturas e mortes. O sangue – seja vermelho ou roxo – jorra sem cerimônia. E isso é ótimo. Mas não o suficiente.

Criada por Kyle Bradstreet e dirigida por Ali Selim, Invasão Secreta mostra Nick Fury e Talos lidando com um grupo terrorista Skrull liderado pelo ex-aliado Gravik. Ao seu lado, estão dezenas (centenas?) de Skrulls revoltados pela promessa não cumprida de reassentamento de sua espécie após 20 longos anos de espera. As semelhanças com os quadrinhos são apenas incidentais. Mesmo o plot pouco lembra o material original, de escopo vastamente maior.

Nas HQs, a saga de Brian Michael Bendis não era lá aquelas coisas, a despeito da construção interessante e da genial ação de marketing da Marvel – tudo foi bem até as derrapadas e inconsistências estourando nas páginas do ato final. Na série que abre a Fase 5 do MCU, sem o contingente de personagens do 1ª escalão e completamente despida do elemento cronológico, a maior parte das boas intenções ficou só no papel pisa-brite. Mas ainda escaparam algumas.

Nick Fury autoexilado na estação espacial S.A.B.R.E. foi um bom paliativo. Justifica muita coisa que passou sem o seu crivo no pós-Blip. O que deve soar grego para quem não acompanhou as séries e filmes da Fase 4. Outra sacada simples e bacana é a base dos terroristas Skrulls localizada numa usina nuclear russa abandonada e com altos níveis de radiação – da qual eles são naturalmente imunes.

E se não tem o Super-Skull Kl'rt (o original, com os poderes do Quarteto Fantástico), nem Rl'nnd (o Super-Skrull com os poderes dos X-Men), tem lá uma nova variação de Super-Skrull com os poderes de vários heróis dos filmes. Maior, melhor, mais rápido... você conhece o esquema.

A série cria um bom slow burn e mexe em alguns vespeiros do mundo real, especialmente em se tratando da terra de Putin, o Terrível. O elenco é afiadíssimo. Olivia Colman e Ben Mendelsohn, respectivamente Sonya Falsworth e Talos, matam a pau, literal e figurativamente. E têm muito menos tempo de tela do que eles e os espectadores mereciam. E boa estreia da Emilia Clarke no papel de G'iah, filha de Talos. Já o Gravik de Kingsley Ben-Adir é puro niilismo e tensão masculina. As referências do núcleo são os thrillers que misturam drama e espionagem, particularmente filmes sobre as ações do IRA ou do ETA durante os anos 1970/1980. Era só substituir os Skrulls por informantes e agentes infiltrados e voilá.

Uma pena que o roteiro a 10 mãos opte por decisões controversas, como as mortes estúpidas de dois personagens marcantes. Certamente para enxugar o elenco do MCU para as vindouras etapas. E não ajuda o fato de que as poucas sequências de ação sejam mal concebidas e incrivelmente mal filmadas. A do ataque à comitiva presidencial numa estrada é péssima.

Mas o que pesa mesmo é o grande astro da série.


Daquela sagacidade e energia habitual do Samuel L. Jackson dos primeiros filmes como o superespião caolho, sobrou pouco. Um tanto pela própria trama, com a proposta de um Fury ol' dog e relapso enfrentando pecados do passado (ou pecados pretéritos, à moda HQ). E outro tanto, me parece, pelo próprio L. Jackson, desmotivado e exaurido no papel, talvez ciente de que o melhor da festa já passou. Isso fica nítido quando ele divide as cenas com o Don Cheadle exercitando estilo furyosamente num take alternativo de seu James Rhodes.

No fim, quando Fury ascende mais uma vez aos céus (olha o spoiler do final) soa quase como um alívio. Ou uma aposentadoria merecida.

Ps: e, como bom aposentado, o pepino que ele deixou para trás é monumental...

terça-feira, 11 de julho de 2023

Raging Skrull

Ia comentar sobre Invasão Secreta só no fim da temporada, mas o 3º episódio, "Betrayed", acabou, hã, traindo essas expectativas.


Não parece, mas essa foi a deixa para um dos diálogos mais espirituosos e elucidativos do MCU. Aliás, foi praticamente um monólogo do Talos do excelente Ben Mendelsohn pra cima do velho Nick Fury de Samuel L. Jackson.

Além do paralelo inusitado, a catarse do Skrull jogou uma luz inédita sobre a obscura vida do espião caolho. E fez todo o sentido do mundo – inclusive, uma possibilidade que já cogitava desde Capitã Marvel.

A série não é perfeita, mas tem colecionado trocações memoráveis. No episódio anterior, teve uma cena entre Fury e o Rhodes de Don Cheadle que, na hora, me remeteu ao Grande Encontro. Sem falar na magnífica Olivia Colman, que dá um show solo a cada episódio. Literalmente.

Estou quase a afirmar que a dialética de Invasão Secreta é puro Scorsese...

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Secret AInvasion


"Sim, a cena de créditos de abertura de Invasão Secreta é produto-I.A."

Meus 2 réis: é feia, bizarra, defeituosa, um reflexo distorcido de nós mesmos. E faz todo o sentido do mundo. O problema é a Marvel sagazmente ligou seus Skrulls a um tópico tão na crista na onda, que a sacada periga passar batida.

Ou melhor, já passou.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Girl, You'll Be a Danvers Soon


Às vezes, uma parte supera o todo. E no caso de Capitã Marvel, são várias as partes: o plot intrigante com flashbacks e reviravoltas, a origem simplificada que unifica toda a tralha cronológica da personagem nos gibis, o subtexto feminista pero sin perder la ternura, a ambientação na década do Nirvana, o orçamento parrudo garantindo um elenco de responsa, o CGI de grife. Por último, e o mais importante: uma Carol Danvers show-de-vizinha envergando delícia o uniforme da heroína.

Então por que Capitã Marvel é o filme mais sem sal da Marvel Studios até agora?

Antes, minha reverência ao mero fato de existir um filme da Capitã Marvel; também conhecida no dialeto marvete como Miss Marvel, Binária e Warbird. Isso era algo impensável até outro dia, fruto apenas de meus devaneios com a Feiticeira Joana Prado num maiôzinho preto cavado com um raio amarelo estilizado. "Depois dela, não tem pra mais ninguém..."

Mas claro, isso foi antes de mergulhar no mythos da heroína e no ethos de sua trajetória, o que me fez tridimensionalizá-la (droga). Em termos de carreira editorial, Carol Danvers é Amélia desde o Dia 1. Difícil não ficar penalizado após uma overdose de Miss Marvel safra 1968-2000 direto no lobo frontal. O mundo é machista, cinzento e cruel, mas graças a Stan Lee, os piores dias ficaram de fora da adaptação.

O filme tem início no outro lado da galáxia, no coração do Império Kree. Vemos a protagonista sendo treinada por seu mentor Yon-Rogg e integrando o grupo black ops Starforce. Amnésica e atormentada por déjà vus e pesadelos recorrentes, ela detém poderes vastos e quase incontroláveis. Por isso é vista pela entidade Inteligência Suprema como a chave para a vitória Kree na guerra contra os perigosos transmorfos Skrulls. Após uma missão conturbada, ela vai parar acidentalmente na Terra. Lá (ou aqui?), a heroína une forças com Nick Fury, Agente da S.H.I.E.L.D.®, e juntos investigam pistas que podem revelar a sua verdadeira origem.

Que um raio cósmico do Mar-Vell me parta se esse não foi um resumo conciso e sem spoilers.


Já elocubrei muito sobre como arrumariam a zona disfuncional que é a timeline de Carol Danvers nas HQs. Mas até que fizeram uma boa triagem do revamp setentista de Chris Claremont, eliminando a clicherama donzela-em-perigo prévia e usando a Guerra Kree-Skrull como ponte até a fase "on the road no espaço sideral" de Kelly Sue DeConnick, mais recente.

Isso rende até uma metáfora (de boteco) ao ilustrar o choque entre o feminismo clássico e o feminismo do milênio: no início, Carol luta para conquistar respeito em territórios tradicionalmente masculinos (corridas, exército, trabalho); no fim, tem a "iluminação": ela não precisa provar nada para ninguém e seu lugar no mundo - ou, no caso, universo - é onde ela bem entender. O sutiã em chamas de ontem é o "meu corpo/vida, minhas regras" de hoje. Isto posto em perspectiva sóbria, sem panfletos e não-intrusiva; embora deva passar reto para quem acha que mulher na vertical, só na frente de um fogão.

Méritos para o casal de diretores Anna Boden e Ryan Fleck, que assina o tratamento final do roteiro com Geneva Robertson-Dworet (do Tomb Raider 2018, naturalmente) e que, em muitos pontos, até revitaliza o surrado motif original. Um exemplo foi abrir o filme no planeta Kree com Carol tendo flashbacks da Terra, invertendo a ordem do que foi feito nos gibis e que era um porre.

Outra boa sacada foi a origem per se da Capitã Marvel, consumando a Jornada do Herói da Heroína com um ato de coragem, altruísmo e sacrifício. Bem mais digno que a explosão acidental que vitimou Carol nos gibis e a deixou em coma por quase 10 anos até ser reinventada. Ao meu ver, foi um dos melhores gatilhos de superpoderes da Marvel no cinema, senão o melhor. Simplesmente por uma questão de atitude. Some fuckin' attitude.

Estabelecer a trama na 2ª metade da década de 1990 serve aos propósitos da Fase 3 do Universo Cinematográfico Marvel e rende mais que o simples valor estético; o que inclui aí a camiseta do Nine Inch Nails, hoje até meio hipster se for analisar. Mas não muito. A trilha rádio rock FM é mais reconhecível e efetiva que o Best Of über-rebuscado dos Guardiões da Galáxia, embora se mostre pentelha em um ou dois momentos do filme - mas já volto aí.

As piadas envolvendo as maravilhas tecnológicas da época, como o modem 56k, o CD-Rom e o Windows 95, são tão inevitáveis quanto irresistíveis. Mesmo repetitivas, funcionam, talvez por serem podreiras ainda recentes na memória; particularmente, pelas pequenas tragédias diárias estreladas por essas divas high-tech em ambientes de trabalho. E com uma deadline esmurrando a porta...

Mas o troféu cata-piolho noventista vai para a ponta do eterno Stan Lee lendo o script do crássico Barrados no Shopping (Mallrats, 1995). Kevin Smith deve estar liquefeito até agora.

Ok, ok, mas plenos anos 90 e não rola uma ceninha da Capitã Marvel com um pôster "I Want to Believe"? É como perder um gol daqueles que não se perde...

Porém, essa mesma cara noventista reverbera na dinâmica narrativa e faz a canoa virar, olê olê olá. O storytelling é burocrático e boa parte da trama é dedicada à tal investigação de Carol e Fury, que, além de tediosa, é inútil àquele ponto: toda a verdade será entregue de bandeja num momento-chave logo mais e reiterada depois num flashback estendido. Bem diferente da subtrama investigativa de Capitão América 2: O Soldado Invernal, só pra ficar num paralelo tramado de forma eficiente.

Mesmo as cenas de ação são bastante datadas em conceito e executadas no piloto automático. A esta altura, quantas vezes já vimos sequências com heróis e super-heróis lutando em cima, dos lados e dentro de um trem? Ou perseguições de carros num centro urbano? Isso até funcionaria, pela enésima vez, em toda a sua glória noventista clichê-bagaceira, se fosse conduzido com inspiração em craques como John McTiernan, Richard Donner, John Woo, Walter Hill e o saudoso John Frankenheimer. Ou até mesmo o Jan de Bont na veia absurda e divertidíssima do 1º Velocidade Máxima.

Infelizmente, o que temos pra hoje é o casal Boden/Fleck, que decididamente tem pouca intimidade com cinema de ação.


As sequências/coreografias de luta estão no padrão, com uma estrelinha na testa da protagonista. É bem convincente no quesito garota-chutando-bundas-de-marmanjos, o calcanhar de Aquiles de toda película com garotas-chutando-bundas-de-marmanjos. Talvez seja o resultado dos treinamentos, mas o mais provável é que tenha gostado da brincadeira.

No campo dos superpoderes, o processo é desenvolvido gradualmente, o que aumenta o impacto na reta final, com a Capitã detonando cruzadores no espaço como se fosse o Surfista Prateado - e visualmente lembrando a Fênix Negra, apesar da referência ser a fase Binária. De fato, parece a personagem mais poderosa do UCM, superando até o Thor com o Rompe-Tormentas em Vingadores: Guerra Infinita. E aí surge outro problema - e grave: a ausência de um antagonista à altura. Lembra de Hancock?

Capitã Marvel faz parte da lista de filmes vacilões que não providenciaram um supervilão para seus super-heróis. O silêncio da contrapartida inexistente é gritante (daqui a dois minutos não lembrarei o isso significa, mas neste momento faz sentido). Uma boa opção teria sido Ronan, o Acusador, reprisado no filme pelo ótimo Lee Pace, mas é criminosamente desperdiçado. Sobrou o quê? Os dublês da Starforce. Os Skrulls que já apanhavam de Carol quando ela suprimia seus poderes. A paciência do espectador.

Outra bobagem é o hype marketeiro montado ao redor da gatinha Goose, interpretada pelos promissores felinos Gonzo, Rizzo, Archie e Reggie (olho neles). Achava que o bichano seria um MacGuffin ao estilo Orion, do 1º M.I.B., mas é uma cruza de The Thing com o Groot adulto. E tiveram a desfaçatez de copiar uma cena antológica do Groot no 1º Guardiões, quando Goose abate uma fileira de soldados Kree num corredor.

Isso me leva às derrapadas individuais. Samuel L. Jackson exagera no humor de seu Nick Fury. Não é como se o agente fosse um novato com zero traumas. Ele inclusive lista as várias zonas de guerra em que já esteve, então é no mínimo estranho seu perfil gaiato apenas 12, 13 anos antes de Homem de Ferro. Mas aqui ele é somente um alívio cômico às raias do pastelão.

E cá pra nós... que razão tosca pro Fury ficar caolho, hein. Faça-me o favor.

Jude Law até começa bem como Yon-Rogg, mas é prejudicado pela reviravolta no meio da história, que ignora todo o conflito pessoal/ético inerente à situação e o obriga a zerar completamente sua relação com sua ex-protegée/colega/talvez-ficante. Maniqueísmo total.

Da mesma forma sucumbe o excelente Ben Mendelsohn no papel de Talos, o líder Skrull. Inicialmente disposto a tudo para cumprir sua missão, Talos muda de personalidade a partir da fatídica reviravolta. Ele até comenta que toda guerra tem muitos lados, como que preparando o terreno - até aí tudo bem. Mas Skrull bonzinho e conciliador logo na estreia, não dá. Nem ambiguidade moral rola; e deveria rolar, já que é uma guerra, oras. E são Skrulls, pelo amor do Kirby.

Piora-plus: conforme visto na prévia, o visual Skrull ficou mesmo a dever e quase não dá para associá-los aos aliens queixudos dos gibis.

Piora-extra-plus: além de tudo, a prótese/máscara engessa o rosto dos atores, atrapalhando bastante a fala. É constrangedor ver o Mendelsohn lutando pra cuspir algumas palavras pra fora da mordaça de látex. Inacreditável.

Lashana Lynch faz o possível pela sua Maria Rambeau, velha amiga de Carol (e mãe da pequena Monica, outra Capitã Marvel dos quadrinhos). O problema, mais uma vez, é a narrativa pontuada por flashbacks: apesar da grande entrega da atriz, não há uma química entre as duas, simplesmente porque Carol tem pouca ou nenhuma ligação emocional com sua vida pré-Kree. Sem troca, sem cumplicidade. O que vemos são apenas fragmentos da amizade entre as duas e Carol aceitando este fato de forma impessoal.

Já Annette Bening é apenas uma coadjuvante de luxo. Não ao exemplo das coadjuvadas de luxo de Michelle Pfeiffer em Homem-Formiga 2 e Robert Redford em Cap 2, onde eram relevantes e cruciais para o enredo, mas de forma titular, quase reverente. Mal dá para especificar de maneira concreta os papéis que ela desempenha, visto que um deles é uma lembrança distorcida e o outro é um holograma da Inteligência Suprema.

E voltando à deixa musical, "Come as You Are" rolando num toca-discos durante seu confronto com Carol foi um exagero estético. Sem contar a contradição da letra para aquela situação... Quem queria ver o Wilson Fisk versão amoeba alienígena se revelando em algum momento, saiu emburrado da sala.


E Brianne Sidonie Desaulniers, a Brie Larson. Pra mim foi surpreendente a escolha da atriz de O Quarto de Jack e Free Fire: O Tiroteio. Mesmo que a aura de musa indie não se traduzisse em "plano de carreira cult" (vide Kong: A Ilha da Caveira, que ela protagonizou de topzinho molhado ao lado do L. Jackson), um blockbuster-de-super-herói-da-Marvel era anos-luz além do que eu esperava dela pelos quadrantes mainstream. Adorei.

Sua Carol Danvers é teimosa, impulsiva e sagaz. É única. Há um certo desencontro entre seu tom discreto e cool com o clima frenético da produção, mas ela está à vontade no uniforme azul e vermelho. E com um carisma provavelmente maior do que qualquer uma das tentadoras opções; Amber Heard, a Mera, me vem à mente agora... mas tal qual um canto da sereia, não creio que resultaria em um final feliz, especialmente quando se exige maiores recursos dramáticos.

Para melhorar, o timing pessoal da Brianne é admirável, inclusive ao despertar a ira de fanboys analfabetos funcionais. Nada melhor para esquentar os ânimos. Considerando que um dos primeiros inimigos de Carol Danvers nas HQs se chamava Patriarca, fecha-se aí mais um ciclo.

No geral, Capitã Marvel fica a dever. Longe de ser ruim; tem seus momentos e conceitos bacanas que, trabalhados a contento, teriam dado um filmaço. Mas no fim, a falta de ousadia e de culhões na direção cobra seu preço: é só um passatempo agitado e fugaz no espectro aventura/sci-fi, coisa que nem os debuts medianos do Thor, do Capitão América e do Dr. Estranho foram.

É, portanto, um filme sem sal.

Mas confesso: assim como certas coisas na vida, também tenho uma quedinha por filmes sem sal. Depois da 1ª vez, só melhora...

Ps: ao menos o Killing Joke embolsou um gordo royaltiezinho.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Top Girl


Num futuro próximo talvez caia a ficha sobre a existência de uma superprodução cinematográfica da Miss Marvel. Ou melhor, Capitã Marvel. Se é que Carol Danvers assim será chamada em Captain Marvel (2019). Seria, nas palavras do Rocky, a bit much.

Ou não, a este ponto?

O trailer é no esquemão old school: clima, design, dinâmica e mais nada. Ou quase. Uma palhinha de premissa é jogada ali pra servir de guia. Tem lá a influência óbvia da fase Kelly Sue DeConnick, mas também do 1º run solo da heroína (1977-79) escrito quase inteiramente pelo Chris Claremont. O que parece ter pesado forte no resultado final - só que não do modo, digamos, normal.

Naquela época, Claremont ainda estava trabalhando o tom da personagem. Não era fácil: ex-damsel in distress resgatada do esquecimento, ela virou aposta grande da Marvel da noite pro dia. Disputava com a distinta concorrente um nicho pop muito específico e carregava uma bandeira de libertação feminista light (ainda eram os anos 70) enquanto tentava agradar os fanboys mais conservadores. No meio disso tudo, o autor buscava emplacar uma origem 2.0.

Em parte, foi um voo bem sucedido, mas no geral bastante turbulento. Carol Danvers mantinha com sua contraparte heróica uma nauseante relação de dupla personalidade, sofrendo com apagões umas quatro vezes por edição.


Poor thing

E pior, tinha duas origens operando ao mesmo tempo: a clássica, da loirinha normalista, oficial da USAF e ex-paquera do Capitão Mar-Vell que ficou Super - ou Marvel - após um acidente; no outro, da colunista do Daily Bugle acometida por flashes de memórias suprimidas sobre ser uma agente militar kree em missão na Terra, spaghettizando assim as raízes do Mar-Vell com a sua própria e criando vários rombos de cronologia no processo.

Não sei se já comentei isso antes, mas a vida de Carol Danvers é um exemplo de tenacidade.

No fim, essa última opção foi descartada sem maiores cerimônias. E, pelo visto no trailer, reaproveitada agora. Talvez tenha sido a ideia certa no tempo errado, afinal.

Acho que eu vi um gatinho

Vamos aguardar o que aprontarão o casal de diretores Anna Boden e Ryan Fleck em março do Ano de Nosso Senhor Stan Lee 2019. Até lá vou encostando galantemente e bem devagar nos bastidores da Capitã.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Soldado Invernal sob o comando dos Russos

Anthony e Joe Russo parecem os típicos nerds-alfa. Pelo menos é essa a impressão quando se vê os vários episódios de Community e Arrested Development constantes na ficha dos irmãos cineastas. Que também têm suas porcarias (quem não as tem, não é mesmo?). Sendo assim, eu podia até esperar por certa sobriedade fanboy na direção do novo Capitão América 2: O Soldado Invernal...

O que eu não esperava mesmo era ver um trailer tour-de-force à Michael Mann-dirige-um-Bourne-movie altamente climático e com cara de filmaço às 12 horas.


Só dia desses fui saber que existem firmas especializadas em montar trailers para cinema. Altamente profissional. E frio. Brr. Mas mesmo se os caras que fizeram esse forem os gênios da raça, de algum lugar eles tiraram essas cenas.

E só a do diálogo entre Robert Redford (!) conversando com o Capitão América (!!) já vale o filme em 3D inútil com a pipoca ruim do Cinemark.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Nick Fury: Agent of M.A.L.I.B.U.


Não só as franquias cinematográficas do Marvel Studios são planejadas por fases. Na estreia de Agents of SHIELD, via ABC, a Casa das Ideias também inaugurou uma nova fase em seus planos de dominação (midiática) mundial. Com a série, a Marvel fará o sentido inverso da estratégia da Distinta Concorrente: se lançar à TV embalada por uma trajetória pra lá de rentável no cinema. O novo projeto retoma o mesmo núcleo de personagens que a Marvel fracassou retumbantemente em engatar nas telinhas a exatos 15 anos atrás, em Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D. (Nick Fury: Agent of S.H.I.E.L.D., 1998).

Uma bela ironia do Dr. Destino que certamente merece uma Operação Resgate®.

O piloto foi exibido pela Fox numa época em que não haviam quaisquer dos parâmetros estéticos e conceituais que temos hoje no segmento cinema/super-heróis. Blade, talvez o primeiro filme "super" contemporâneo a trabalhar o gênero com seriedade e estilo, só seria lançado alguns meses depois. O influente Matrix, só dali a 1 ano. X-Men de Bryan Singer, dali a dois. Batman Begins ainda nem sonhava em existir. Em suma, um cenário inóspito e radicalmente diferente de tudo o que temos hoje.

Pra piorar, as vibrações camp de Batman & Robin, lançado apenas 1 ano antes, ainda ecoavam fortes pelas salas de cinema e comic shops.

Esse período de entressafra também se estendia aos seriados daquele finzinho de século. A lua-de-mel do público sci-fi com Arquivo X já havia acabado e o formato estava flagrantemente defasado - algo que só viria a se recuperar com alguma qualidade na virada para os anos 2000.

Nesse contexto de adversidades e descrédito, é seguro dizer que foi uma missão suicida, daquele tipo que sempre é lembrada por agentes veteranos para assustar os novatos. Difícil acreditar que o staff da Marvel conseguiu convencer os executivos da toda-poderosa 20th Century Fox a bancar a aventura.

Não duvidaria que muitos acordos paralelos surgiram na ocasião, especialmente envolvendo os direitos para o cinema de alguns mutantes e de um certo quarteto.


Com a internet ainda engatinhando na cultura pop e a maioria das novidades da TV e do cinema relegadas à revistas especializadas, qual não foi a minha surpresa em ver o VHS de Nick Fury figurando entre os lançamentos das locadoras. E com o David Hasselhoff no papel, um dos canastrões que eu mais assistia quando guri, em A Super Máquina - e depois, não tão guri, em SOS Malibu (bom, não era ele quem eu assistia...).

Mas verdade seja dita, fisicamente, ele ficou muito parecido com o carrancudo diretor da SHIELD. Não o gangsta Fury, feito à imagem e semelhança de Samuel L. Jackson, mas o Fury original. Aquele mix de James Bond com Sargento Rock concebido por Stan Lee e Jack Kirby e posteriormente elevado à l'état de l'art pelo megalomaníaco Jim Steranko.

Essa primeira impressão ligeiramente positiva não durou muito. Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D. era um made for TV com tudo o que tinha direito: produção a toque-de-caixa, efeitos dos anos 1970, trama ridícula, direção de jardim de infância e presepadas em geral. Como o tempo é um traidor de percepções, eu imaginava se havia sido duro demais com o filme ou até mesmo se ele envelheceu melhor do que o esperado - o que é algo meio idiota de se pensar, mas que até faz sentido quando se tem alguma afinidade com as tosqueiras B que a vida nos traz. Se algo ficou melhor no filme, com certeza vai depender do senso de humor do espectador.

A história foi escrita pelo onipresente David S. Goyer. Mas poderia ser de algumas páginas que Jeph Loeb descartou do roteiro de Comando para Matar, tal a profusão de ideias jeniais, diálogos bisonhos e frases de (d)efeito.

No início do filme, vemos uma infiltração numa base da SHIELD - só para registro, Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão em português, Strategic Hazard Intervention, Espionage and Logistics Directorate nos quadrinhos atuais e Strategic Homeland Intervention, Enforcement and Logistics Division no filme. Ufa. A ficha cai quando o espião entra num setor chamado Cryogenics Section, que, certamente, serviria como uma espécie de fonte de supervilões projetado pelos produtores.

O que não é de todo uma má ideia. Uma fonte de matéria-prima para eventuais episódios "monstro-da-semana" sempre foi um dos recursos mais utilizados por séries de TV. De Arquivo X e Sobrenatural até Fringe, todos tiveram os seus.

E o arqui-inimigo da vez era realmente o 1º arqui-inimigo da SHIELD.


"Olá, velho bastardo..."

O Barão Wolfgang von Strucker foi o líder da organização terrorista HYDRA. Por que ele é mantido em permanente estado de sorvete nazi não se sabe, já que o filme não faz nenhuma menção a isso.

Mas a intenção e a procedência do agente infiltrado ficam bastante claros, ainda que o agente Clay Quartermain (lembra dele?) não se dê conta disso e apareça de surpresa para um descontraído papo de cafezinho.


BLAM! (onomatopéia aqui)

Pelo visto o papo não descontraiu e Quartermain leva um pipoco nos rins.

Vale observar que nos quadrinhos, Quartermain sempre foi um tipo pomposo e arrogante, mas aqui o ator Adrian G. Griffiths parece ter composto o personagem se inspirando no Chet, o irmão mais velho do Wyatt de Mulher Nota 1000. Ele parece um bully sociopata que realmente merece levar um tiro.

E queria muito encenar uma morte num filme, já que supervaloriza a coisa e demora uns 5 minutos para finalmente desabar no chão.


"Yippee-ki-yay, motherfuckeeeeer!"

Mas não tão rápido! Enquanto o resto da base é neutralizada por um ataque a gás, Chet Quartermain sobrevive e encontra uma máscara pra se proteger.

E depois se dirige heroicamente ao encontro dos invasores...


"Perigosa, êêêê... ela é perigosa... êêêê..."

...apenas para levar uma saraivada de tiros de AR-15 e AK-47 por todo o tórax, mostrando que esqueceu qualquer treinamento envolvendo pontos cegos e autopreservação durante um tiroteio.

Como a dona Morte devia estar dando uns amassos com o Thanos àquela altura, inexplicavelmente Quartermain ainda sobrevive para levar uma bicuda nas costelas e descobrir quem é sua algoz, que deixa um recadinho malcriado para Nick Fury na microcâmera do agente.

"A vingança será minha", diz ela.

Atenção na loira.

Ela é a filha do Barão Strucker, Andrea von Strucker, a vilã da trama. No filme ela usa o codinome Viper, num caso de flagrante apropriação indébita. Nos quadrinhos, Viper é Ophelia Sarkissian, anteriormente conhecida como Madame Hydra. Aquela, das volumosas madeixas verdes. E Andrea, juntamente com o irmão gêmeo Andreas, tem o codinome Fenris. Vai saber porque inverteram a coisa toda. Mas isso é o de menos...

Andrea é interpretada pela suíça Sandra Hess, que, apesar de bonita (foi a Sonya Blade até), é a responsável por boa parte da ruindade deste filme. É uma das atrizes mais canastronas que já vi exercendo a profissão. Não vejo nada igual desde Cinderela Baiana. Com muita boa vontade, daria pra elencá-la no cast do seriado do Batman dos anos 60. E mesmo assim correríamos o risco de um ataque de pelanca por parte de Adam West e Burt Ward.

Se a intenção dela foi soar forçada, histriônica e incrivelmente poser, parabéns. Missão cumprida e com louvor.

Mas voltando...

Mediante à invasão da base, ao roubo do corpo do Barão e aos seguidos assassinatos do agente Quartermain, a solução foi recorrer a um veterano-aposentado-brucutu-fodão.

Aquilo que comentei sobre Comando para Matar...


"Será que é ele mesmo nessa caverna? O famoso Nick Fur..."


"Deixa pra lá"

O ex-soldado John Rambo participava de sangrentas lutas com bastões na Tailândia. O ex-coronel John Matrix cortava sequóias para abastecer sua lareira. Já Nicholas Joseph Fury curte a aposentadoria trabalhando 23 horas por dia numa mina abandonada.

Sol, cerveja gelada e bem-alimentadas garotas de biquíni são para fracos!

Quem faz o contato inicial é o novato Goodwin Pierce, papel do ator Neil Roberts. O agente é o alívio cômico da história e não só é chatinho, como de fato lembra muito Ramon, o infame "pool guy" de Seinfeld. Deve ser primo.

Obviamente, ele não consegue despertar o menor interesse no atarefado Fury, que tem sua cota de dissabores com a velha organização. Mas nada tudo é tão ruim que uma abordagem correta não conserte.


"Eita!"


A expressão de fracasso do aspira é comovente

Essa é Contessa Valentina de Allegro Fontaine. "Val" para os íntimos. Personificada pela Lisa Rinna e seus lábios abnormalmente carnudos e entorpecivelmente convidativos.

Infelizmente, ela não comparece paramentada como nos quadrinhos...


...mas vemos la doce Rinna correndo pra lá e pra cá com um uniforme de couro justinho e fazendo biquinho de mean girl. Também sabemos aí que ela já foi território de Nick.

Val informa a Fury que abotoaram o paletó de seu velho chapa Quartermain, concluindo com um diálogo badass tão clichê que ficou até bacana:

Val: "Soou como se tivessem te mandado uma mensagem" 
Fury: "Parece que ouvi!"

Daí pra Fury tirar a poeira do seu distintivo e ir para o helicarrier é um pulo.


O famoso porta-aviões aéreo não ficou tão tosco quanto se poderia supor, logicamente descontado o CGI primário do orçamento disponível. O curioso é que mesmo com a fachada de alta tecnologia, a estética e o visual interno da nave é de um antigo encouraçado, com porões, portas de escotilha e afins. De uma maneira um pouco melancólica, me recordou dos saudosos tempos de Space Battleship Yamato.

Já a bordo, Fury reencontra velhos amigos dos tempos de Guerra Fria, como o Dr. Gabriel Jones (Ron Canada) e o bonachão modafócka Timothy "Dum Dum" Dugan (Garry Chalk).

Quer dizer, "bonachão modafócka" nos quadrinhos...


No filme ele parece meu professor de matemática do 2º ano.

Na sequência, Fury faz um breve tour para se atualizar e logo flerta com o estilo Dredd de ser: conhece uma agente telepata - Kate (Tracy Waterhouse), a única personagem dotada de algum superpoder no filme - e ganha uma pistola configurada com sua assinatura térmica (quem tentar dispará-la ficará eunuco). Muito sutil.

Mas Fury se espanta mesmo com a última novidade da SHIELD: os replicantes LMDs (Life Model Decoys). Inclusive havia um quase pronto e personalizado com a fuça do caolho.


"Now that's a scary shit!"

Todos nós já sabemos onde isso vai dar (shame on you, Goyer!). Mas o crédito tem que ser dado. Esses replicantes não apenas existem nas HQs como fazem parte dos recursos jurássicos da SHIELD criados originalmente pelo dynamic duo Lee & Kirby.

Enquanto isso, Andrea e Andreas planejam os toques finais de sua vingança. A ternura e o afeto entre os irmãos remete ao Pietro e à Wanda do universo Ultimate.


Mas trabalho é trabalho e Andrea aproveita pra dar uma prensa nas cabeças da HYDRA instaladas no Cairo, Londres, Praga e Osaka. À toa, diga-se, já que eles não aparecem mais depois disso.

Em seguida, os heróis seguem uma pista até Berlim. Lá, encontram a agente alemã mais estereotipadamente noir que a produção conseguiu fazer. Juntos, enfrentam alguma resistência até prenderem e interrogarem o infame Arnim Zola, gênio geneticista da HYDRA, que não é o Toby Jones, nem tem a cabeça no meio do tronco. Aqui ele é só um velhinho muito encarquilhado em uma cadeira de rodas.


Teimoso, Zola se recusa a dar pistas sobre o paradeiro de Andrea. Kate então tenta ler a mente do sujeito e não gosta nem um pouco do que vê: trechos de antigos documentários sobre a 2ª Guerra e filmagens de arquivo de testes nucleares que até a minha avó tá careca de assistir, revelando que Zola é um ávido espectador da TV Cultura.

E não para por aí: Zola fez um condicionamento cerebral que o protege contra hackeadas mentais e ejeta os invasores de sua cachola embolorada. Ok, isso foi bem legal.

Não muito longe dali, Nick acha que é seu dia sorte e que está prestes a pegar uma gata pomerana do serviço secreto. Contudo, ele é traído e, através de um beijo, envenenado com uma toxina de rã (é sério!).

Pra piorar, ele descobre que a loirinha na verdade é...


"Oh, shit... Andrea?! Continua!!"

De volta ao QG voador, Nick é informado que só tem até o fim do filme pra encontrar um antídoto, prender os bandidos, dar umazinha com a Val e ainda conseguir fechar com a Fox a produção de uma temporada inteira disso aí.

De repente, surge um andróide-clone do atual diretor da SHIELD, que é um baita pé-no-saco. Talvez por isso que é prontamente recebido a bala por Fury.

Nesse momento me ocorre duas coisas.



1) Esse Nick pode não ser gangsta, mas atira igual a um mano!

2) Como diabos o andróide chegou ao porta-aviões aéreo pairando a quilômetros de altura?

Isso permanecerá um mistério para a posteridade, mas o fato é que ele traz um SMS ameaçador de Andrea.


A HYDRA irá atacar New York com mísseis contendo o supervírus Death's Head, a menos que sejam depositados 1 bilhão de clintons em suas contas nas Ilhas Maluf.

Mas o pior ela deixa pro final, na forma de um trocadilho ultra-infame vindo direto da mente prevelejeada de Goyer:

"Against HYDRA, there's no shield!" (escudo)

Urgh.

Tem início então uma corrida desesperada dos mocinhos em busca dos terroristas. Fury, Goodwin e Kate vão ao encalço de Andrea, enquanto Val lidera uma equipe tática para vaculhar a Big Apple atrás dos mísseis.

Nesse ponto desperta um certo déjà vu.


O cerco a um furgão parado num beco, Val reportando à base em tempo real, a arriscada missão de desativar uma arma de destruição em massa no centro de uma metrópole, o clima de tensão no ar...

Caramba... 24 Horas puro! Quase dá pra ver o Jack Bauer ali falando "Dammit Chloe, we're running out of time!".

Faltou só o... o...

Peraí... Curtis?


 Curtis, é você mesmo, meu filho?



Curtis!!

Confesso que foi uma grata surpresa rever o Curtis Manning - aqui creditado apenas como "Shield Agent #1" - chutando bundas terroristas novamente. Ou melhor, anteriormente, visto que o agente Bauer só começou a interrogar pobres almas em 2001.

Como a vida de herói não é fácil, o furgão era uma pista falsa. A carga na verdade estava sendo transportada num caminhão de lixo.


Por sinal, o caminhão de lixo mais suspeito da história da espionagem.

Só o naipe do motorista já derruba qualquer disfarce.


Um pequeno adendo aqui... Andrea é assessorada por um time de lacaios idênticos, algo robóticos, de terno, gravata, óculos escuros, parecendo agentes M.I.B. albinos.

A trama nunca revela qual a natureza desses drones esquizóides, tampouco se formam a guarda de elite pessoal da vilã. No filme, a HYDRA conta com vários tipos de mão-de-obra especializada em suas fileiras (espiões, técnicos, cientistas, soldados, etc.), o que os deixa muito redundantes no quadro geral.

Nos quadrinhos, a força de trabalho da HYDRA é só um exército de stunts com uniforme verde e pronto. Menos é mais.

Mas voltando... por incrível que pareça, os vilões atravessam a cidade numa boa e estabelecem a base num cais abandonado (onde mais?). Lá, os mísseis da HYDRA são ativados, configurados, preparados...




E apontados para...


Oh, man.

Lembrando que, em 1998, essa não era uma possibilidade nem um pouco plausível. E que outros filmes também já exploraram a ideia de forma ainda mais incisiva. Mas que deu um frio na espinha, isso com certeza.

Sem muita dificuldade, Val consegue encontrar o covil e enfiar um balaço na cabeça do Andreas, mas o ataque ainda é iminente, já que os mísseis foram programados e a contagem regressiva já começou.

Impressionante como preferem esperar pelo Nick ao invés de removerem a plataforma inteira dali, evacuarem as torres ou chamarem o esquadrão anti-bombas.

No outro front, os mocinhos caem numa cilada e são capturados por Andrea, já testando o figurino que usará em seu aguardado ensaio para a Penthouse.


Fury não tira um olho

Após uma fuga mirabolante do calabouço, onde Fury literalmente arranca um C4 na cavidade ocular baldia atrás de seu tapa-olho (desafio qualquer um a não rolar de rir com a cena), os heróis travam uma batalha épica contra o time HYDRA.

O primeiro a rodar é Arnim Zola, que tenta atirar em Fury com a arma dele...


...e fica eunuco no processo. Não que vá fazer falta.

Tem início então um mano a mano entre Fury e Andrea, em que ele consegue perder no braço pra magrela. A vilã termina o serviço crivando de balas o veterano agente, cujo corpo se estabaca no chão, sem vida.

E é aí que vem uma das cenas mais sensacionais do filme.


"Ahahahah, se fodeu Bátema... digo, Fury. Se fodeu, se fod... hã?"


"Não fui eu quem morreu, sua putinha relaxada, foi meu clone eunuco!"

Depois dessa, Andrea manda tudo à merda. Ela é presa, o antídoto que existe em seu sangue é recolhido e os códigos para o desarme dos mísseis são extraídos de sua mente à fórceps.

O dia está salvo!

Mas a filha do Barão é guerreira. Consegue se libertar das algemas (?), driblar todo o contingente da S.H.I.E.L.D. que abarrotava seu QG naquele momento e fugir com o corpo criogenizado do papai Strucker.

E ainda joga beijinho.


"Tchau, seu corno manso, a gente se vê na Batcaverna!"

Com tudo resolvido, Fury finalmente acerta as velhas pendências com a S.H.I.E.L.D., retoma seu lugar na cadeia de comando e ainda arma aquela bimbadinha exxxperta com a Val.

Isso não vemos, mas somos brindados com um lindo final romântico com direito à pôr-do-sol visto do helicarrier...


Droga.

Mas espere. Isso é um filme pra TV. E também um piloto. Tem que reforçar a continuidade.

Ou seja...


Castelo sinistro, check. 


Vilã ressurgindo das sombras ostentando um enorme camel toe... check. 


Barão Strucker voltando aos negócios, check. 


Mais demonstração de carinho familiar WTF, check. 


HUAHEUEHUAEUHAUE vilânico... check! ✓✓✓✓✓✓✓✓✓

E esse foi o epílogo feito especificamente para dar base aos vindouros episódios... que nunca vieram.

É claro que não dá pra esperar nada muito louvável de Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D.. Mas se o espectador casual se aventurar no filme com isso em mente, é provavel que saia recompensado no final das contas. Com certeza, o filme oferece bem mais risos e diversão involuntários do que a maioria das produções atuais feitas para esse objetivo. E não apenas para quem tem boa tolerância à tosqueira. 

Excetuando se for fanboy de qualquer tipo ou cinéfilo restrito a superproduções sisudas e candidatas a épico. Nesses casos, passe muito longe e fuja, fuja para as montanhas!!

Bom, S.H.I.E.L.D. TV em dia.

Agora deixa eu ver como anda aquela season premiere que eu joguei no uTorrent...


Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D. ("Nick Fury: Agent of Shield", EUA, 1998), 90 min.
Direção: Rod Hardy
Elenco: David Hasselhoff, Lisa Rinna, Sandra Hess, Neil Roberts, Garry Chalk, Tracy Waterhouse, Tom McBeath, Ron Canada, Peter Haworth

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Tony Stark 2 (Retro-review)


Homem de Ferro 2 (Iron Man 2, 2010) foi sintomático no que tange ao bem sucedido processo de adaptação do herói para o cinema. É um legítimo blockbuster com cara de blockbuster e gostinho de verão, pipoca e feriado de 4 de julho yankee. Entre uma coisa e outra, vêem-se as virtudes, sintetizadas no tratamento de luxo que só uma marca de sucesso tem o direito, como também os defeitos. Aqueles mesmos que acometem o cinemão do Tio Sam temporada após temporada e que tem um pouco a ver com o mercantilismo agressivo em cima da arte e a facilidade de informação gerando um contraditório emburrecimento das novas gerações. Um pouco, porque o ingrediente principal trouxe um princípio ativo tarja preta: o hellraiser Robert Downey Jr.

Se no filme original o estilão solto e desencanado do diretor Jon Favreau fez do Latinha um personagem de cinema viável e carismático, em Homem de Ferro 2 ele quase rodopiou na pista. Todas as traquitanas high tech inacreditáveis, os dilemas morais advindos da parceria com os militares e o pega-pra-capar dos bastidores da alta classe executiva ficaram minúsculos diante do personagem magnético e larger-than-life que é Downey Jr./Tony Stark, alter-ego do herói. Favreau, talvez percebendo que o roteiro de Justin Theroux (Trovão Tropical) não daria conta sozinho, recorreu ao que funcionou melhor no 1º filme, que foi o bom-humor e a despretensão. Que em Homem de Ferro 2 traduziu-se em quase desleixo e um pé no besteirol.

Talvez fosse o caso de terem apostado numa abordagem mais sombria e menos piadista, um "O Império Contra-Ataca" versão Latinha. O timing era apropriado. Mas preferiram seguir a velha receita hollywoodiana do "bigger, stronger & faster". Afinal de contas, Downey Jr. e Stark eram agora grandes e ensolarados astros pop, certo? Mais ou menos. Grandes sim, mas ensolarados só na crosta. O fator que alçou ambos ao sucesso foi justamente suas nuances mais obscuras e lascivas. Quando anunciaram o 1º filme não faltou quem relacionasse o estilo de vida de Downey Jr. a de um certo hedonista ficcional envolto em escândalos com mulheres, alcoolismo e altas cifras. Eles nasceram um pro outro.

Não que eu esperasse uma dramatização deprê de O Demônio na Garrafa, queria apenas ver o protagonista soando mais humano e não tão acima do bem e dos maus. Mas no final das contas, até que o estrago não foi tão grande assim. Poderia ter sido muito pior.


Um aspecto positivo do filme foi expandir o cenário corporativo em torno das empresas Stark, algo bem recorrente nos quadrinhos que rendeu (e ainda rende) uma galeria de CEOs rivais do herói - dos irmãos Desmond e Phoebe Marrs, da Corporação Marrs, até Edwin Cord, dono da Cord Conglomerate, além de Ezekiel Stane, filho do aparentemente finado Obadiah "Iron Monger" Stane. O escolhido da vez, no entanto, foi um inimigo mais tradicional: Justin Hammer, encarnado pelo sempre ótimo Sam Rockwell. Providencialmente rejuvenescido, motivado e sem escrúpulos como manda o figurino Armani dos jovens multi-bilionários empreendedores. É mais um concorrente do que propriamente um arqui-inimigo. Mas carece da malícia e do intelecto que já fez o Tony Stark dos gibis comer o pão que Mefisto amassou várias vezes. O que é um pouco frustrante e se fez sentir quando Hammer é ingenuamente levado no papo pelo 2º vilão constante no filme.

Ivan Vanko foi interpretado laconicamente pelo freak Mickey Rourke, escolha tão estranha quanto o mix no qual foi criado. Vanko é uma mistura do bandido de 5ª Chicote Negro com o manipulador e vingativo Kearson DeWitt (de Guerra das Armaduras II), cujo background e motivações foram transpostos integralmente para o filme. Munido com um visual de figurante de Mad Max e um sotaque atroz - ah sim, e com dois chicotes de energia - Vanko até ameaça um páreo mental interessante com Stark. A cena em que Tony vai vê-lo na detenção e comenta onde ele errou na luta é de um cinismo faiscante. Poderia ser o início de um belo embate entre dois talentosos inventores, mas a coisa segue por um caminho um pouco mais rasteiro.

Uma notinha bizarra (outra) vai para o destoante bichinho de estimação de Vanko, uma cacatua ou algo parecido. Coisas de Mickey Rourke, sem sombra de dúvida.

Do lado dos aliados, a coisa rende melhor. Clark Gregg novamente preenche as lacunas como o intrigante personagem agente Coulson, mas não está só. Além da presença mais frequente do Nick Fury de Samuel L. Jackson - finalmente liberto do gueto end credits - Homem de Ferro 2 marca a improvável estreia da Viúva Negra nas telonas. Scarlett Johansson, sempre eficiente e bombshell toda vida, não tem a postura e o olhar de quem já passou um dobrado com lavagens cerebrais, treinamentos desumanos e missões suicidas. Nem cara de russa ela tem. E admito que, apesar de adorar a Scarlett, eu torcia por Emily Blunt, a primeira atriz considerada para o papel. Seria perfeita, mas o agente dela não fez o dever de casa, então estamos aqui com uma boa Viúva, mas não a Viúva dos meus sonhos.

Em que pese a favor da menina a evidente dedicação nas cenas de luta, bem frenéticas, coreografadas e visualmente generosas, se é que você me entende.


Mas a escalação mais complicada talvez tenha sido para o tenente-coronel James "Rhodey" Rhodes, amigão de Stark e seu eventual insider nos círculos militares. No 1º filme Terrence Howard havia oferecido uma atuação discreta, mas marcante. Mesmo o gancho que teve com a armadura do Máquina de Combate ganhou em proporção e acabou gerando certa expectativa. Que, graças a desacordos financeiros, ficou no vácuo. Então, por mais que o novo titular, Don Cheadle, fosse um bom ator - não é; é um brilhante ator; dê um play no seu DVD de O Diabo Veste Azul e fuce nos extras o teste de elenco que o homem fez em 1995, mas segure o queixo - o desafio seria considerável ao lidar com um personagem que já tinha rosto, tom e personalidade.

Se Howard era mais informal e flexível ao administrar a ponte Stark-Exército, Cheadle é mais austero e comprometido com os irmãos de farda. Querendo ou não, o perfil psicológico do personagem acabou redesenhado. E acaba sendo irônico o fato dele protagonizar com Tony a sequência mais dispensável e nonsense do filme: a treta do Homem Bêbado de Ferro com o Máquina Militar de Combate numa festinha privada na bacanuda casa de Stark em Malibu - poderia ser o Charlie Harper vomitando ali na armadura.

Camp até o talo, a tal cena remete às brigas de herói versus herói mais forçadas e sem sentido dos quadrinhos. Não sou um patrono da minha querida 9ª arte, mas não gostei de ver uma de suas piores facetas indo parar na telona quando tem coisa bem melhor esperando a vez. Nesse ponto, pensei que o run do Jon Favreau na franquia já estava mesmo de bom tamanho.

Aliás, é bom ver as pequenas participações do 1º filme sendo mantidas, como o próprio Favreau como o buddy-driver Happy Hogan e mesmo a teteia Leslie Bibb como a jornalista que Stark papou logo na arrancada. E Gwyneth Paltrow faz o que pode pela Pepper Potts que é ser, rigorosamente, Gwyneth Paltrow. Não a Gwyneth Paltrow enigmática e cool de A Força de um Passado, mas a Gwyneth Paltrow pós-Oscar, facinha e pura brisa de verão. Geralmente não sou de aplaudir casaizinhos em tela - acho isso um passo e meio para o fim - mas considero acertada a união dos pombinhos hesitantes aqui presentes.

Ainda que bastante previsível, o ato final é bastante divertido e guarda lá sua cota de referências futuras (Mandróides da Shield?) ou alternativas (o que não é aquele exército de robôs militares senão uns Sentinelas prontos pra arrebentar os malditos mutunas?). Justin Hammer paga por sua mediocridade nesta encarnação e Ivan Vanko volta para o mesmo lugar de onde saiu - ou talvez até pra outro melhor.


Homem de Ferro 2 está longe de ser ruim, mas acaba prejudicado por um excesso de situações em tela e pouco controle sobre elas. As subtramas envolvendo envenenamento por paládio e a mensagem ultra-mega-insanamente-truncada que o pai de Stark deixou pra ele soam tão esticadas quando vazias. Talvez Favreau não seja talhado para temas mais dramáticos e sérios. Ou talvez o roteiro não soube como matar essa bola dentro do contexto de um filme pop.

Favreau despediu-se do comando com uma tremenda façanha no currículo (Homem de Ferro, ícone pop? Get outta here...), o universo Marvel nos cinemas expandiu-se para além de Midgard e a Marvel Studios/Robert Downey Jr. garantiram a faculdade de seus trisnetos. O filme em si não é aquelas coisas, mas o terceiro lugar no pódio ninguém tasca.

Fase 2 aqui vou eu.