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quinta-feira, 15 de julho de 2021

Guerra e Pais


Dizem que a justiça tarda, mas não falha. Há tempos aguardo pacientemente pelo grande filme de ação girl-on-girl (sem saliências, safadão), do tipo que atenda ao máximo de pré-requisitos da porradaria pé no chão antes de partir para a extravagância blockbuster habitual. E Viúva Negra parecia o(a) candidato(a) mais promissor(a) dos últimos tempos. Porque Natasha Romanoff é o que é. E Scarlett Johansson também. Ainda não foi desta vez, mas valeu pela reverência a esta atriz que deu coração, personalidade e profundidade à personagem no cinema.

Paradoxalmente, a tal da reverência foi o elemento que mais esteve em falta no filme.

Em nenhum momento me senti impactado, arrebatado ou cativado pelo fato desta ser a possível despedida de Johansson da personagem. Talvez seja pelo efeito Ultimato – onde ela protagoniza uma de suas cenas mais marcantes – e ter isso como parâmetro não facilita as coisas. Mas, noves fora, e mesmo sob o risco de soar meloso e/ou cerimonioso, a Viúva Scarlett merecia um "até logo". Alguma cena, alguma analogia ao futuro, linhazinha de diálogo, sei lá.

Em contrapartida, é bom notar que o roteirista Eric Pearson e a diretora Cate Shortland parecem ter tirado lições valiosas vendo o decepcionante voo solo da Capitã Marvel. Nenhum homem é uma ilha; nenhuma mulher tampouco; e uma Viúva só não faz verão. Ou algo assim.

Mesmo de vez, Florence Pugh é o melhor fruto de Viúva Negra e um dos grandes debuts da já extensa filmografia Marvel. A guria convence como a Viúva-Negra Yelena Belova. Que se dane: me convence. Pra mim, era algo impossível dissociá-la da Amélia carpideira de Midsommar, o que foi uma garoteada inconsequente da minha parte. A moça já encenou trocentas adaptações da literatura e é Oxfordiana da gema – incluída assim na regra implícita que estabelece que qualquer ser humano nascido brit é ator até o pâncreas. Pra melhorar, o roteiro, baseado na premissa da dupla Jac Schaeffer/Ned Benson, sabe o que fazer com ela.


No início do filme vemos um pouco do passado das Viúvas "Nat" Romanoff e Yelena ainda crianças – sendo que Ever Anderson, filha de Milla Jovovich & Paul W. Anderson, me deixou uma eternidade sem saber se era menino ou menina, igualando o recorde de androginia de Kristen Stewart em O Quarto do Pânico. Infiltradas na América, elas são criadas como irmãs em uma família de faz-de-conta completada pelo supersoldado russo Alexei "Guardião Vermelho" Shostakov, interpretado por David Harbour (o Hellboy ruim!), e pela Viúva-Negra Melina Vostokoff, papel da indefectível Rachel Weisz.

A trama principal tem início 20 anos depois, logo após os eventos de Capitão América: Guerra Civil. Com os Vingadores separados e vários deles presos ou foragidos, Romanoff é caçada pelo General Ross, em mais um cameo furtivo de William Hurt, e se isola nos cafundós da Noruega. Seu único contato com o mundo exterior é Mason (O.T. Fagbenle), um fornecedor de sua época na SHIELD. Ainda assim, ela se vê envolvida em uma guerra entre sua "irmã" Yelena e a rede de Viúvas-Negras que ela julgava desativada.

Daí pra frente é uma montanha-russa de ação e lutas frenéticas. Ou quase. Fica evidente que a maior preocupação da diretora é focar nas questões mal resolvidas da vida de Natasha. E isso vai desde os traumas adquiridos em anos de missões sanguinárias para a KGB até seu vazio pessoal/existencial, preenchido apenas pelas boas recordações de uma família fake. E dos Vingadores.

Felizmente, Shortland soube evitar os excessos em momentos genuinamente tocantes e pontuados pela experiência do elenco. Um bom exemplo é quando Natasha confronta emocionalmente sua "mãe" Melina. Mesmo com ambas endurecidas pelo programa Viúva-Negra, a troca dramática entre Johansson e Weisz é pungente. Outra boa sacada foi o momento "pai e filha" entre o fanfarrão Alexei e a relutante Yelena. De início, a cena parecia ter se esticado além da conta e já dava como perdida, daí ele começa a cantarolar desajeitadamente “American Pie”, a canção favorita de Yelena quando criança, e vira o jogo. Engraçado e comovente ao mesmo tempo.


Claro que a montanha-russa de ação não demora a chutar a porteira e estampar na tela cada cent das 200 milhões de doletas do orçamento. Ainda que a perseguição pelas ruas de Budapest seja eficiente, não é nada que algum Velozes & Furiosos não tenha feito num terça-feira qualquer. A cereja mesmo fica com o CGI Sky Fest da sequência final. Visualmente tão impressionante quanto absurda. E isso é meio que um elogio. Já as lutas são meio que problemáticas.

A bem da verdade, as lutas são acima da média. Pena que não é disso que o filme se trata e a relevância das mesmas é frequentemente negligenciada no decorrer da história. Nenhuma delas decide nada na trama. Normalmente, heróis se encontram e se enfrentam por motivos idiotas. Sempre foi assim. Mas a (boa) briga de Nat e Yelena é o novo marco das lutas gratuitas do UCM. Tony Pinga e Rhodey em Homem de Ferro 2 já podem respirar aliviados.

Chega a ser notável certo desleixo em alguns momentos. Num deles, Yelena derruba um guarda na Sala Vermelha com uma banda e o cara desmaia. E até ali, a Ursinha Pugh estava mandando bem na coreografia.



Taskmaster?*

* olha como sou bonzinho com o leitor que não assistiu ainda

Apesar do visual afudê e da aparição inicial com stunts descaralhantes mimetizando os movimentos de Natasha, temo concordar com meus confrades: uma decepção. Puta potencial jogado fora. Ainda mais porque a pessoa por trás da máscara é bastante conhecida. Ou seja, some aí desperdício à decepção. Sem contar que todas as cenas bacanas já estavam no trailer.

E ainda que o 3º ato realize um dos meus sonhos mais agradáveis, que é ver a Rachel Weisz com roupitcha super-heróica, é nele que a narrativa acelera e sai ralando no guard rail.

O veterano Ray Winstone como o evil chefão Dreykov fez o melhor possível mediante o curto tempo de tela: imitar o Brian Cox em X2 como se tivesse uma arma apontada pra cabeça. E, de fato, sua posição e relações familiares remetem diretamente ao Coronel William Stryker e seu filho mutante zoado Jason 143. Outra coisa que chama atenção é a Sala Vermelha com baixíssimo contingente de guardas, técnicos e cientistas. Novos filmes, velhos problemas.

Até fiz vista grossa para o pequeno estratagema nasal bolado por Natasha para evitar o bloqueio dos feromônios (coisa mais anos 80), mas dali pra frente a logística da coisa embola perigosamente. Capturados em São Petersburgo, as heroínas e o anti-herói são levados até a nave russa localizada bem "embaixo" do nariz dos americanos sem dar um bip sequer lá na SHIELD/SWORD/etc. E quando o AeroportaCCCPaviões cai, Natasha chama justamente o Ross? Detalhes, detalhes.


No fim das contas, o saldo é bem positivo. Foi uma boa despedida para Scarlett Johansson – se é que foi uma despedida per se – e ainda deixa os braceletes da Viúva muito bem encaminhados. Florence Pugh é uma graça e está mais do que preparada para a próxima fase da Marvel.

Fora que ela zoando o superhero landing da Natasha foi sensacional. Melhor que o Deadpool.®

Ps: que Valentina Allegra de Fontaine faça o dever de casa. Thunderbolts já!
Pps: co-resenhado with a little help from my friends Sandro e Fivo. Valeu, cachorros!

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A.d. Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão


Dizer que Agentes da S.H.I.E.L.D. tem tudo pra ser a melhor incursão da Marvel pela TV não é exatamente um voto de confiança. Ainda mais se tirar as animações da equação e triangular a coisa no formato live-action. Se muito, a Casa das Ideias apenas engatinha nesse terreno. Blade e Mutant X evaporaram sem deixar saudades; Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D. e Geração X são aquelas bagaceiras classe Z que me divertem (cada um com seus problemas). Em outras palavras, o saldo é tão negativo quanto a minha conta bancária antes do fim do mês. Mas eis que a Marvel Studios, quem diria, se torna um dos tentáculos zilionários da Disney Company e as coisas começam a acontecer, novos horizontes e velhas gavetas se abrem, segundas chances são dadas...

Ok, o episódio de estreia sugere que a série não é pra mim, um adolescente voando rumo à meia-idade com o jetpack do Rocketeer. Parece ser para adolescentes adolescentes mesmo, o que também resulta numa certa confusão. O adolescente médio de hoje é aquele que se regozija com os banhos de sangue de franquias como God of War, Metal Gear, GTA, Assassin's Creed e por aí vão. E nada os impede de assistir séries adultas como Breaking Bad, The Walking Dead e Game of Thrones. Mesmo produtos pasteurizadinhos como Jogos Vorazes, o Battle Royale versão Crepúsculo, denota certo gosto dos guris por premissas mais gráficas. Por mais que a hipocrisia politicamente correta tente fazer parecer que não.

Apesar disso, o teor impresso nesse debut é flagrantemente infanto-juvenil. E com as marcações típicas dos enlatados investigation procedure, tão em voga desde que CSI deslanchou há 10 anos atrás. O redivivo agente Coulson (Clark Gregg) delega as responsabilidades e ocasionalmente gerencia, os agentes Melinda May (Ming-Na Wen) e Grant Ward (Brett Dalton) são os veteranos badasses encarregados do serviço braçal, enquanto Leo Fitz (Iain De Caestecker) e Jemma Simmons (Elizabeth Henstridge) compõem o núcleo geek, aquele que visualiza o rosto do assassino aumentando o reflexo na retina da vítima. A cereja fica por conta da personagem Skye (Chloe Bennet), realmente uma cereja de bonita e com todos os requisitos para capturar o imaginário dos frequentadores de Comic Con: jovem, sexy, fanática por computadores, super-heróis e conspirações e sempre com uma piadinha e uma referência pop na ponta de sua desejável língua.

Nada contra a fórmula, eu assisto até NCIS. E a produção é de primeira, expensive. O problema é o tom, jovial e ensolarado demais. Entendo que o pacote tem que ser pop, assim como foram os filmes dos quais a série spinoffeou-se. Mas, da mesma forma, podiam ajustar melhor o clima engraçadinho antes de se parecer com algo que Jon Favreau dirigiu no automático. Faltou punch, sobraram piadas (embora a entrada de Coulson tenha sido épica). E a geekstosa dando vários olés nos sistemas da SHIELD com um laptop velho também força a amizade.

Joss Whedon, aqui repetindo a parceria com o irmão Jed e a cunhada Maurissa Tancharoen no posto de showrunner, felizmente é cobra criada na TV-nerd. Cometeu tanto acertos quanto erros importantíssimos para o que seu trabalho é hoje. Isso inclui essa estreia não tão lá e nem tão cá de Agentes da S.H.I.E.L.D.. Espero que seu tempo de reação tenha melhorado.

Claro, foi só o primeiro episódio. Se contar isso, a experiência foi bem gratificante no aspecto fanboy. Afinal, revimos Cobie Smulders, mais crocante do que nunca no colante da Maria Hill, já vimos um flying car da SHIELD...


...e um genuíno Life Model Decoy (lembra deles?) com implantes de memória...


No aguardo pelos próximos. Logo mais tem outro.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Nick Fury: Agent of M.A.L.I.B.U.


Não só as franquias cinematográficas do Marvel Studios são planejadas por fases. Na estreia de Agents of SHIELD, via ABC, a Casa das Ideias também inaugurou uma nova fase em seus planos de dominação (midiática) mundial. Com a série, a Marvel fará o sentido inverso da estratégia da Distinta Concorrente: se lançar à TV embalada por uma trajetória pra lá de rentável no cinema. O novo projeto retoma o mesmo núcleo de personagens que a Marvel fracassou retumbantemente em engatar nas telinhas a exatos 15 anos atrás, em Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D. (Nick Fury: Agent of S.H.I.E.L.D., 1998).

Uma bela ironia do Dr. Destino que certamente merece uma Operação Resgate®.

O piloto foi exibido pela Fox numa época em que não haviam quaisquer dos parâmetros estéticos e conceituais que temos hoje no segmento cinema/super-heróis. Blade, talvez o primeiro filme "super" contemporâneo a trabalhar o gênero com seriedade e estilo, só seria lançado alguns meses depois. O influente Matrix, só dali a 1 ano. X-Men de Bryan Singer, dali a dois. Batman Begins ainda nem sonhava em existir. Em suma, um cenário inóspito e radicalmente diferente de tudo o que temos hoje.

Pra piorar, as vibrações camp de Batman & Robin, lançado apenas 1 ano antes, ainda ecoavam fortes pelas salas de cinema e comic shops.

Esse período de entressafra também se estendia aos seriados daquele finzinho de século. A lua-de-mel do público sci-fi com Arquivo X já havia acabado e o formato estava flagrantemente defasado - algo que só viria a se recuperar com alguma qualidade na virada para os anos 2000.

Nesse contexto de adversidades e descrédito, é seguro dizer que foi uma missão suicida, daquele tipo que sempre é lembrada por agentes veteranos para assustar os novatos. Difícil acreditar que o staff da Marvel conseguiu convencer os executivos da toda-poderosa 20th Century Fox a bancar a aventura.

Não duvidaria que muitos acordos paralelos surgiram na ocasião, especialmente envolvendo os direitos para o cinema de alguns mutantes e de um certo quarteto.


Com a internet ainda engatinhando na cultura pop e a maioria das novidades da TV e do cinema relegadas à revistas especializadas, qual não foi a minha surpresa em ver o VHS de Nick Fury figurando entre os lançamentos das locadoras. E com o David Hasselhoff no papel, um dos canastrões que eu mais assistia quando guri, em A Super Máquina - e depois, não tão guri, em SOS Malibu (bom, não era ele quem eu assistia...).

Mas verdade seja dita, fisicamente, ele ficou muito parecido com o carrancudo diretor da SHIELD. Não o gangsta Fury, feito à imagem e semelhança de Samuel L. Jackson, mas o Fury original. Aquele mix de James Bond com Sargento Rock concebido por Stan Lee e Jack Kirby e posteriormente elevado à l'état de l'art pelo megalomaníaco Jim Steranko.

Essa primeira impressão ligeiramente positiva não durou muito. Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D. era um made for TV com tudo o que tinha direito: produção a toque-de-caixa, efeitos dos anos 1970, trama ridícula, direção de jardim de infância e presepadas em geral. Como o tempo é um traidor de percepções, eu imaginava se havia sido duro demais com o filme ou até mesmo se ele envelheceu melhor do que o esperado - o que é algo meio idiota de se pensar, mas que até faz sentido quando se tem alguma afinidade com as tosqueiras B que a vida nos traz. Se algo ficou melhor no filme, com certeza vai depender do senso de humor do espectador.

A história foi escrita pelo onipresente David S. Goyer. Mas poderia ser de algumas páginas que Jeph Loeb descartou do roteiro de Comando para Matar, tal a profusão de ideias jeniais, diálogos bisonhos e frases de (d)efeito.

No início do filme, vemos uma infiltração numa base da SHIELD - só para registro, Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão em português, Strategic Hazard Intervention, Espionage and Logistics Directorate nos quadrinhos atuais e Strategic Homeland Intervention, Enforcement and Logistics Division no filme. Ufa. A ficha cai quando o espião entra num setor chamado Cryogenics Section, que, certamente, serviria como uma espécie de fonte de supervilões projetado pelos produtores.

O que não é de todo uma má ideia. Uma fonte de matéria-prima para eventuais episódios "monstro-da-semana" sempre foi um dos recursos mais utilizados por séries de TV. De Arquivo X e Sobrenatural até Fringe, todos tiveram os seus.

E o arqui-inimigo da vez era realmente o 1º arqui-inimigo da SHIELD.


"Olá, velho bastardo..."

O Barão Wolfgang von Strucker foi o líder da organização terrorista HYDRA. Por que ele é mantido em permanente estado de sorvete nazi não se sabe, já que o filme não faz nenhuma menção a isso.

Mas a intenção e a procedência do agente infiltrado ficam bastante claros, ainda que o agente Clay Quartermain (lembra dele?) não se dê conta disso e apareça de surpresa para um descontraído papo de cafezinho.


BLAM! (onomatopéia aqui)

Pelo visto o papo não descontraiu e Quartermain leva um pipoco nos rins.

Vale observar que nos quadrinhos, Quartermain sempre foi um tipo pomposo e arrogante, mas aqui o ator Adrian G. Griffiths parece ter composto o personagem se inspirando no Chet, o irmão mais velho do Wyatt de Mulher Nota 1000. Ele parece um bully sociopata que realmente merece levar um tiro.

E queria muito encenar uma morte num filme, já que supervaloriza a coisa e demora uns 5 minutos para finalmente desabar no chão.


"Yippee-ki-yay, motherfuckeeeeer!"

Mas não tão rápido! Enquanto o resto da base é neutralizada por um ataque a gás, Chet Quartermain sobrevive e encontra uma máscara pra se proteger.

E depois se dirige heroicamente ao encontro dos invasores...


"Perigosa, êêêê... ela é perigosa... êêêê..."

...apenas para levar uma saraivada de tiros de AR-15 e AK-47 por todo o tórax, mostrando que esqueceu qualquer treinamento envolvendo pontos cegos e autopreservação durante um tiroteio.

Como a dona Morte devia estar dando uns amassos com o Thanos àquela altura, inexplicavelmente Quartermain ainda sobrevive para levar uma bicuda nas costelas e descobrir quem é sua algoz, que deixa um recadinho malcriado para Nick Fury na microcâmera do agente.

"A vingança será minha", diz ela.

Atenção na loira.

Ela é a filha do Barão Strucker, Andrea von Strucker, a vilã da trama. No filme ela usa o codinome Viper, num caso de flagrante apropriação indébita. Nos quadrinhos, Viper é Ophelia Sarkissian, anteriormente conhecida como Madame Hydra. Aquela, das volumosas madeixas verdes. E Andrea, juntamente com o irmão gêmeo Andreas, tem o codinome Fenris. Vai saber porque inverteram a coisa toda. Mas isso é o de menos...

Andrea é interpretada pela suíça Sandra Hess, que, apesar de bonita (foi a Sonya Blade até), é a responsável por boa parte da ruindade deste filme. É uma das atrizes mais canastronas que já vi exercendo a profissão. Não vejo nada igual desde Cinderela Baiana. Com muita boa vontade, daria pra elencá-la no cast do seriado do Batman dos anos 60. E mesmo assim correríamos o risco de um ataque de pelanca por parte de Adam West e Burt Ward.

Se a intenção dela foi soar forçada, histriônica e incrivelmente poser, parabéns. Missão cumprida e com louvor.

Mas voltando...

Mediante à invasão da base, ao roubo do corpo do Barão e aos seguidos assassinatos do agente Quartermain, a solução foi recorrer a um veterano-aposentado-brucutu-fodão.

Aquilo que comentei sobre Comando para Matar...


"Será que é ele mesmo nessa caverna? O famoso Nick Fur..."


"Deixa pra lá"

O ex-soldado John Rambo participava de sangrentas lutas com bastões na Tailândia. O ex-coronel John Matrix cortava sequóias para abastecer sua lareira. Já Nicholas Joseph Fury curte a aposentadoria trabalhando 23 horas por dia numa mina abandonada.

Sol, cerveja gelada e bem-alimentadas garotas de biquíni são para fracos!

Quem faz o contato inicial é o novato Goodwin Pierce, papel do ator Neil Roberts. O agente é o alívio cômico da história e não só é chatinho, como de fato lembra muito Ramon, o infame "pool guy" de Seinfeld. Deve ser primo.

Obviamente, ele não consegue despertar o menor interesse no atarefado Fury, que tem sua cota de dissabores com a velha organização. Mas nada tudo é tão ruim que uma abordagem correta não conserte.


"Eita!"


A expressão de fracasso do aspira é comovente

Essa é Contessa Valentina de Allegro Fontaine. "Val" para os íntimos. Personificada pela Lisa Rinna e seus lábios abnormalmente carnudos e entorpecivelmente convidativos.

Infelizmente, ela não comparece paramentada como nos quadrinhos...


...mas vemos la doce Rinna correndo pra lá e pra cá com um uniforme de couro justinho e fazendo biquinho de mean girl. Também sabemos aí que ela já foi território de Nick.

Val informa a Fury que abotoaram o paletó de seu velho chapa Quartermain, concluindo com um diálogo badass tão clichê que ficou até bacana:

Val: "Soou como se tivessem te mandado uma mensagem" 
Fury: "Parece que ouvi!"

Daí pra Fury tirar a poeira do seu distintivo e ir para o helicarrier é um pulo.


O famoso porta-aviões aéreo não ficou tão tosco quanto se poderia supor, logicamente descontado o CGI primário do orçamento disponível. O curioso é que mesmo com a fachada de alta tecnologia, a estética e o visual interno da nave é de um antigo encouraçado, com porões, portas de escotilha e afins. De uma maneira um pouco melancólica, me recordou dos saudosos tempos de Space Battleship Yamato.

Já a bordo, Fury reencontra velhos amigos dos tempos de Guerra Fria, como o Dr. Gabriel Jones (Ron Canada) e o bonachão modafócka Timothy "Dum Dum" Dugan (Garry Chalk).

Quer dizer, "bonachão modafócka" nos quadrinhos...


No filme ele parece meu professor de matemática do 2º ano.

Na sequência, Fury faz um breve tour para se atualizar e logo flerta com o estilo Dredd de ser: conhece uma agente telepata - Kate (Tracy Waterhouse), a única personagem dotada de algum superpoder no filme - e ganha uma pistola configurada com sua assinatura térmica (quem tentar dispará-la ficará eunuco). Muito sutil.

Mas Fury se espanta mesmo com a última novidade da SHIELD: os replicantes LMDs (Life Model Decoys). Inclusive havia um quase pronto e personalizado com a fuça do caolho.


"Now that's a scary shit!"

Todos nós já sabemos onde isso vai dar (shame on you, Goyer!). Mas o crédito tem que ser dado. Esses replicantes não apenas existem nas HQs como fazem parte dos recursos jurássicos da SHIELD criados originalmente pelo dynamic duo Lee & Kirby.

Enquanto isso, Andrea e Andreas planejam os toques finais de sua vingança. A ternura e o afeto entre os irmãos remete ao Pietro e à Wanda do universo Ultimate.


Mas trabalho é trabalho e Andrea aproveita pra dar uma prensa nas cabeças da HYDRA instaladas no Cairo, Londres, Praga e Osaka. À toa, diga-se, já que eles não aparecem mais depois disso.

Em seguida, os heróis seguem uma pista até Berlim. Lá, encontram a agente alemã mais estereotipadamente noir que a produção conseguiu fazer. Juntos, enfrentam alguma resistência até prenderem e interrogarem o infame Arnim Zola, gênio geneticista da HYDRA, que não é o Toby Jones, nem tem a cabeça no meio do tronco. Aqui ele é só um velhinho muito encarquilhado em uma cadeira de rodas.


Teimoso, Zola se recusa a dar pistas sobre o paradeiro de Andrea. Kate então tenta ler a mente do sujeito e não gosta nem um pouco do que vê: trechos de antigos documentários sobre a 2ª Guerra e filmagens de arquivo de testes nucleares que até a minha avó tá careca de assistir, revelando que Zola é um ávido espectador da TV Cultura.

E não para por aí: Zola fez um condicionamento cerebral que o protege contra hackeadas mentais e ejeta os invasores de sua cachola embolorada. Ok, isso foi bem legal.

Não muito longe dali, Nick acha que é seu dia sorte e que está prestes a pegar uma gata pomerana do serviço secreto. Contudo, ele é traído e, através de um beijo, envenenado com uma toxina de rã (é sério!).

Pra piorar, ele descobre que a loirinha na verdade é...


"Oh, shit... Andrea?! Continua!!"

De volta ao QG voador, Nick é informado que só tem até o fim do filme pra encontrar um antídoto, prender os bandidos, dar umazinha com a Val e ainda conseguir fechar com a Fox a produção de uma temporada inteira disso aí.

De repente, surge um andróide-clone do atual diretor da SHIELD, que é um baita pé-no-saco. Talvez por isso que é prontamente recebido a bala por Fury.

Nesse momento me ocorre duas coisas.



1) Esse Nick pode não ser gangsta, mas atira igual a um mano!

2) Como diabos o andróide chegou ao porta-aviões aéreo pairando a quilômetros de altura?

Isso permanecerá um mistério para a posteridade, mas o fato é que ele traz um SMS ameaçador de Andrea.


A HYDRA irá atacar New York com mísseis contendo o supervírus Death's Head, a menos que sejam depositados 1 bilhão de clintons em suas contas nas Ilhas Maluf.

Mas o pior ela deixa pro final, na forma de um trocadilho ultra-infame vindo direto da mente prevelejeada de Goyer:

"Against HYDRA, there's no shield!" (escudo)

Urgh.

Tem início então uma corrida desesperada dos mocinhos em busca dos terroristas. Fury, Goodwin e Kate vão ao encalço de Andrea, enquanto Val lidera uma equipe tática para vaculhar a Big Apple atrás dos mísseis.

Nesse ponto desperta um certo déjà vu.


O cerco a um furgão parado num beco, Val reportando à base em tempo real, a arriscada missão de desativar uma arma de destruição em massa no centro de uma metrópole, o clima de tensão no ar...

Caramba... 24 Horas puro! Quase dá pra ver o Jack Bauer ali falando "Dammit Chloe, we're running out of time!".

Faltou só o... o...

Peraí... Curtis?


 Curtis, é você mesmo, meu filho?



Curtis!!

Confesso que foi uma grata surpresa rever o Curtis Manning - aqui creditado apenas como "Shield Agent #1" - chutando bundas terroristas novamente. Ou melhor, anteriormente, visto que o agente Bauer só começou a interrogar pobres almas em 2001.

Como a vida de herói não é fácil, o furgão era uma pista falsa. A carga na verdade estava sendo transportada num caminhão de lixo.


Por sinal, o caminhão de lixo mais suspeito da história da espionagem.

Só o naipe do motorista já derruba qualquer disfarce.


Um pequeno adendo aqui... Andrea é assessorada por um time de lacaios idênticos, algo robóticos, de terno, gravata, óculos escuros, parecendo agentes M.I.B. albinos.

A trama nunca revela qual a natureza desses drones esquizóides, tampouco se formam a guarda de elite pessoal da vilã. No filme, a HYDRA conta com vários tipos de mão-de-obra especializada em suas fileiras (espiões, técnicos, cientistas, soldados, etc.), o que os deixa muito redundantes no quadro geral.

Nos quadrinhos, a força de trabalho da HYDRA é só um exército de stunts com uniforme verde e pronto. Menos é mais.

Mas voltando... por incrível que pareça, os vilões atravessam a cidade numa boa e estabelecem a base num cais abandonado (onde mais?). Lá, os mísseis da HYDRA são ativados, configurados, preparados...




E apontados para...


Oh, man.

Lembrando que, em 1998, essa não era uma possibilidade nem um pouco plausível. E que outros filmes também já exploraram a ideia de forma ainda mais incisiva. Mas que deu um frio na espinha, isso com certeza.

Sem muita dificuldade, Val consegue encontrar o covil e enfiar um balaço na cabeça do Andreas, mas o ataque ainda é iminente, já que os mísseis foram programados e a contagem regressiva já começou.

Impressionante como preferem esperar pelo Nick ao invés de removerem a plataforma inteira dali, evacuarem as torres ou chamarem o esquadrão anti-bombas.

No outro front, os mocinhos caem numa cilada e são capturados por Andrea, já testando o figurino que usará em seu aguardado ensaio para a Penthouse.


Fury não tira um olho

Após uma fuga mirabolante do calabouço, onde Fury literalmente arranca um C4 na cavidade ocular baldia atrás de seu tapa-olho (desafio qualquer um a não rolar de rir com a cena), os heróis travam uma batalha épica contra o time HYDRA.

O primeiro a rodar é Arnim Zola, que tenta atirar em Fury com a arma dele...


...e fica eunuco no processo. Não que vá fazer falta.

Tem início então um mano a mano entre Fury e Andrea, em que ele consegue perder no braço pra magrela. A vilã termina o serviço crivando de balas o veterano agente, cujo corpo se estabaca no chão, sem vida.

E é aí que vem uma das cenas mais sensacionais do filme.


"Ahahahah, se fodeu Bátema... digo, Fury. Se fodeu, se fod... hã?"


"Não fui eu quem morreu, sua putinha relaxada, foi meu clone eunuco!"

Depois dessa, Andrea manda tudo à merda. Ela é presa, o antídoto que existe em seu sangue é recolhido e os códigos para o desarme dos mísseis são extraídos de sua mente à fórceps.

O dia está salvo!

Mas a filha do Barão é guerreira. Consegue se libertar das algemas (?), driblar todo o contingente da S.H.I.E.L.D. que abarrotava seu QG naquele momento e fugir com o corpo criogenizado do papai Strucker.

E ainda joga beijinho.


"Tchau, seu corno manso, a gente se vê na Batcaverna!"

Com tudo resolvido, Fury finalmente acerta as velhas pendências com a S.H.I.E.L.D., retoma seu lugar na cadeia de comando e ainda arma aquela bimbadinha exxxperta com a Val.

Isso não vemos, mas somos brindados com um lindo final romântico com direito à pôr-do-sol visto do helicarrier...


Droga.

Mas espere. Isso é um filme pra TV. E também um piloto. Tem que reforçar a continuidade.

Ou seja...


Castelo sinistro, check. 


Vilã ressurgindo das sombras ostentando um enorme camel toe... check. 


Barão Strucker voltando aos negócios, check. 


Mais demonstração de carinho familiar WTF, check. 


HUAHEUEHUAEUHAUE vilânico... check! ✓✓✓✓✓✓✓✓✓

E esse foi o epílogo feito especificamente para dar base aos vindouros episódios... que nunca vieram.

É claro que não dá pra esperar nada muito louvável de Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D.. Mas se o espectador casual se aventurar no filme com isso em mente, é provavel que saia recompensado no final das contas. Com certeza, o filme oferece bem mais risos e diversão involuntários do que a maioria das produções atuais feitas para esse objetivo. E não apenas para quem tem boa tolerância à tosqueira. 

Excetuando se for fanboy de qualquer tipo ou cinéfilo restrito a superproduções sisudas e candidatas a épico. Nesses casos, passe muito longe e fuja, fuja para as montanhas!!

Bom, S.H.I.E.L.D. TV em dia.

Agora deixa eu ver como anda aquela season premiere que eu joguei no uTorrent...


Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D. ("Nick Fury: Agent of Shield", EUA, 1998), 90 min.
Direção: Rod Hardy
Elenco: David Hasselhoff, Lisa Rinna, Sandra Hess, Neil Roberts, Garry Chalk, Tracy Waterhouse, Tom McBeath, Ron Canada, Peter Haworth