quinta-feira, 27 de novembro de 2025

The Smashing Corgan


Há algum tempo acompanho o conteúdo do Track Star* – tenho um fraco pela premissa do cabra-cega musical. Conspiram a favor do canal a dinâmica enxuta, a seleção diversificada de gêneros e um entrevistador não-pentelho que sabe ouvir, pra variar. E essa edição com o Billy Corgan é um escândalo de boa.

Corgan – que tem um podcast viciante, The Magnificent Others with Billy Corgan – é franco como uma tijolada. Acerta tudo (menos uma armadilha picareta lá pro final), despeja um conhecimento histórico-musical absurdo, um impagável desdém por New York e sua voracidade hipsterista e uma bagagem de causos sensacionais. E com a moral de ilustrar um deles com um show em que divide o palco com David Bowie...

Imagina se o careca não estivesse mal-humorado.

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Auf Wiedersehen, Herr Kier


Udo “Kier” Kierspe
(1944 - 2025)

Udo Kier era uma força da natureza. Imparável – em nível dramático e volume de produção.

Estrelou mais de 200 filmes, tanto grandes produções quanto grandes trasheiras, participou de clipes de Madonna e Korn, trabalhou em game (Call of Duty: WWII), foi Adolf Hitler umas três vezes, foi vampiro pelo menos duas vezes e, entre seus últimos projetos, estão dois hits brasileiros até o talo.

Em outras palavras, Udo Kier gabaritou.




Legado suficiente para uma eternidade é isso aí.

Vielen Dank für alles, Udo Kier.

sábado, 15 de novembro de 2025

I see dog people


Antes de tudo, Bom Menino (Good Boy) deve ter dado um trabalho do cão. Segundo o diretor Ben Leonberg, a ideia de um longa de terror pela perspectiva canina foi inspirada por Buzz, o cachorro de Poltergeist (1982). No filme, o talentoso golden retriever foi o 1º a perceber que algo errado não estava certo na casa mal-assombrada. Histórias com um totó sensitivo às forças sobrenaturais de um lugar não é algo novo e remonta até ao valente Harry, de Terror em Amityville (1979). Mas é a primeira vez que esse conceito ganha um filme inteirinho para brincar, passear, morder e chamar de seu.

Quem é cachorreiro sabe. Às vezes parece que ver fantasmas é a única coisa que explica certas maluquices de um cachorro. A trama coescrita por Leonberg e Alex Cannon é bem enxuta e se vale de uma boa dose de sugestão para equilibrar a escassez de texto.

Sofrendo de uma doença pulmonar crônica e de uma depressão severa, o garotão Todd (Shane Jensen) resolve largar tudo e partir com seu cachorro Indy para a afastada casa de campo da família. Vazia desde o falecimento do avô (o veterano Larry Fessenden), a propriedade é a antessala do inferno. O pobre Indy é o único a perceber isso e faz o possível para proteger Todd – certeza que ele se preparou para o papel maratonando Coragem, o Cão Covarde.

Sabiamente, o roteiro evita dar super-habilidades a Indy e se atém ao básico de qualquer doguinho: a lealdade inegociável por seu tutor, a curiosidade instintiva e o dom de ver espíritos malignos tentando ferrar com os vivos. Nesse ponto, é quase um documentário.

O filme tem poucos jump scares (o do close na retina é o melhor) e investe mais na construção de uma atmosfera lúgubre e sombria. Que visualmente funciona muito bem, mas expõe o aspecto mais frágil da premissa. Com Todd imerso em seu próprio inferno pessoal, Indy é o único vetor de medo no filme para o espectador – e um cachorro não tem a visão humanizada de fenômenos sem explicação, esfriando assim boa parte da identificação e da empatia com o protagonista.

Trocando em miúdos, em tela, Indy não rosna e nem demonstra medo frente a eventos que fariam um homo sapiens voltar correndo para as cavernas. A única cena em que ele expressa medo e angústia reais não tem nada a ver com os eventos paranormais da casa.

Talvez o cineasta tenha pegado leve com seu ator canino, evitando situações de estresse animal e futuras dores de cabeça midiáticas. Na minha época®, qualquer aventura do Benji na Sessão da Tarde deixava o espectador empenado de tensão. Cachorros me mordam, ainda lembro do choro desesperado da cadelinha Lucky no filme O Cão do Diabo (1978). Um negócio impensável nos dias atuais.

Isto posto, é notável a engenhosidade visual de Leonberg para driblar o lugar-comum narrativo. O roteiro tem alguns tropeços, mas mantém a linearidade com direito a um final chocante, triste, evocativo e até mesmo belo.

Como terror per se, no entanto, o filme mais ladra do que morde. É realmente um bom menino...