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domingo, 19 de outubro de 2025

Planeta James Glam


"E... corta! Querida, mais uma vez. Um pouco mais caliente, ok?"

O mal de James Gunn é a fanboyzice. Não importa o quão anacrônicos, coloridos e espalhafatosos os personagens sejam – quanto mais ridículo melhor, segundo minhas pesquisas de campo. Independente de serem propriedades Marvel ou DC, Gunn os trata como filhos. O probleminha para o espectador (este, pelo menos) e para o leitor de quadrinhos (este, pelo menos²) é que esse fascínio quase obsessivo engessa perigosamente a evolução da história, aquele espaço entre o ponto A e o ponto B.

Na 2ª temporada de Pacificador nem sequer existe um ponto B. Ao menos, não um satisfatório. Aquele da entrega, do clímax, do auge. Do Petkovic cobrando aquela falta na final do Cariocão 2001.

Sim, sim, foi lindo. Vai lá rever pela milionésima vez. Eu aguardo.

Então, é o tipo de coisa que Gunn fez com desenvoltura e certa propriedade – mas não plena – na divertida 1ª temporada, em 2022. O que acontece desta vez é um exercício de inércia narrativa, um pacote de 8 episódios que passam a sensação de não terem saído do lugar, embora efetivamente tenham saído, e amarrados com sequências musicais de glam metal e a sitcom nonsense que é marca registrada do cineasta – que nem sempre funciona, mas a piada da equipe embolsando dinheiro sujo pelas costas do Vigilante é ótima.

De porradaria redentora no final, que costura até Falha de San Andreas, nada. Para John Cena, acostumado à rotina punk do Wrestling, foi uma colônia de férias. Até aquela Stargirl do Geoff Johns na CW (boazinha) tinha mais delivery.

Como se não bastasse, Gunn ainda despeja dois elementos graúdos do Universo DC como se fosse uma terça-feira. Cygnus 4019 ou Planeta Salvação e a agência Xeque-Mate fazem aqui suas estreias nas adaptações de quadrinhos. E já no finalzinho do frustrante último episódio.


Gibi ruim que eu gosto: "Planeta Salvação" no fandom é o "Planeta Infernal" na edição da Panini

Como reviravolta foi interessante, mas é aquele tudo ao mesmo tempo agora que Zack Snyder adorava fazer recheando com ação e quebra-quebra. Paradoxalmente, Gunn recheou a coisa com longas declarações de amizade verdadeira, família verdadeira e amor verdadeiro. Que, claro, resvala num verdadeiro melodrama. Se me dissessem que ele mandou repetir a cena do beijo ao som do Nelson umas 46 vezes até ficar perfeito, acreditaria. Doa a testa de quem doer.

Considerando que o 7º episódio parece um perfeito cliffhanger de vingança, o end season funciona mais como um final de novela prólogo para a próxima temporada. Quiçá para um filme, não dá pra saber. O Lex Luthor de Nicholas Hoult, fundamental na temporada, chega até a aparecer em uma cena (ah, esses contratos). Aliás, quem não lê gibis da DC ou não assistiu O Esquadrão Suicida ou à série animada Comando das Criaturas pode ficar boiando e se desinteressar rápido. Por mais que (ainda) curta universos compartilhados, isso é ruim para Gunn e seu projeto de dominação mundial.

Fora isso, para mim é um mistério o desperdício da sequência de exploração dos portais dimensionais. Não precisava envolver as marcas da 1ª divisão, tipo Superman, Batman & Mulher-Maravilha. Há um universo de possibilidades ali. Gunn, uma traça de Arquivos DC, sabe disso mais do que ninguém. Com certeza, já deve ter respondido algum tweet por aí a respeito – e ele responde mesmo.

Entre poucos mortos e feridos e a esperança de que há um grande plano em curso, são sete horinhas e pouco de entretenimento que ainda valem. Mas que já foram melhores.

Na última cena, quem lembrou do "Now what?!" do final de Tentáculos (1998), ganha um cupom de desconto em locadora de vídeo.

terça-feira, 18 de março de 2025

A Balada das Fúrias Femininas


Agosto de 1994 foi um divisor de águas. Naquele mês, saía a polêmica Green Lantern #54. Ao mesmo tempo em que a edição choca os leitores com a morte brutal de Alex DeWitt, a namoradinha do Lanterna Verde Kyle Rayner, também dá uma nova carreira à cabeleireira Gail Simone. Seu website Women in Refrigerators – título sem rodeios e autoexplicativo – leva o fato um pouquinho pra fora da bolha nerd e rende contatos com figuras-chave da indústria. Alçada a roteirista, Gail tem breves passagens pelo gibi dos Simpsons e pela Marvel, até que, em 2003, assina com aquela mesma DC Comics da historinha brutal, onde está até hoje.

Claro que a DC não é a única editora historicamente misógina e sexista. A Marvel, tradicionalmente mais progressista, também tem sua cota de esqueletos femininos no armário. Mas é na DC que, por algum motivo, a passada da boiada sempre manteve o cardio em dia. Um exemplo é que logo após cooptar Gail Simone, a distinta publicou a minissérie Crise de Identidade, de Brad Meltzer, com toda a sorte de atrocidades às quais a personagem Sue Dibny foi submetida.

Quando o assunto é idade de consentimento, então, a coisa vira mato. O que queriam fazer com a Mary Marvel foi além de qualquer sensatez. E que o diga o amor-estranho-amor de Slade Wilson e Dana Markov, Hal Jordan e sua bimbo de 13 anos Arisia Rrab (mais tarde, embaraçosamente "consertada" por Geoff Johns para 240 anos!) e prefiro nem mencionar o Terry Long, pelo amor de Nabokov.

A raiz disso tudo parece remontar a uma época em que o escoteirão Superman flertava com suas jovens primas Supergirl e Poderosa como se fosse o sugar daddy das galáxias. Aquele agosto de 1994 pode ser sido um divisor de águas para Gail Simone, mas para a DC, era uma terça-feira qualquer.


São algumas viagens que ficaram após a leitura de As Fúrias Femininas, mini em 6 partes publicada em 2019 lá fora e compilada pela Panini em abril de 2021 aqui dentro. E minhas expectativas com o quadrinho eram o exato oposto desse papo. Com a guarda de elite de Darkseid em pose épica e ameaçadora na capa de Joëlle Jones, imaginei uma aventura de ação militar-espacial 2000 ADística, curta, grossa e divertida. Mas o roteiro da escritora, diretora e indie rocker Cecil Castellucci prefere explorar a cena pelos bastidores. O que, a priori, é uma ideia ótima e, ao mesmo tempo, perigosamente desafiadora.

Poucos terrenos das HQs são tão férteis para analogias ao preconceito de gênero (ou a qualquer preconceito) e à luta pelas causas femininas (ou a qualquer causa) quanto o inferno totalitário de Apokolips. Em particular, as Fúrias Femininas parece que nasceram para isso. A abordagem de Castellucci fica evidente no logo nas primeiras páginas, com a Vovó Bondade supervisionando a 1ª formação da equipe: Auralie, Lashina, Bernadeth, Harriet Louca e Grande Barda. Ah, esses nomes.

Enquanto conclui anos de treinamentos mortais, Bondade relembra seus próprios perrengues em nome da ascensão social e profissional – incluindo éons de humilhações e gaslighting de seus camaradas até a submissão sexual para o chefão de pedra chapiscada.

Paradoxalmente, as Fúrias eram, de certa forma, "protegidas" pelo treino e condicionamento extremos. Quando são oficialmente apresentadas, passam a conhecer o mundo-cão-machista no qual Vovó Bondade se graduou.

Dentre elas, a maior vítima é Auralie, alvo constante de assédio e estupros por um oficial da alta cúpula. Apesar das tentativas de trazer alguma justiça para seu caso, Auralie só encontra indiferença por parte de Bondade e repúdio das demais Fúrias. Sororidade passa longe das hostes apokoliptianas. A única que desenvolve alguma empatia (tardia) é Barda, já a um passo de seu relacionamento com o Senhor Milagre e do passaporte para a liberdade na Terra.


Castellucci teve bastante cuidado com o momentum de sua trama. Tudo está muito bem encaixado na cronologia sem influir nos eventos clássicos. A HQ começa com o assassinato da mãe de Darkseid, Heggra, a mando do próprio. Depois, Scott Free inicia sua parceria com o líder rebelde Himon. Até a sofrida Auralie tem o mesmo destino de sua encarnação original, em Mister Miracle #9, de maio de 1972. Detalhes extras bacanudos que mostram que a roteirista leu todo o Quarto Mundo de Jack Kirby com atenção e mucho gusto.

A coisa só patina um pouco nas elipses da narrativa, nos entrequadros. Alguns cortes são muito truncados, fora que algumas ideias chafurdam no absurdo, como a sequência envolvendo Auralie, Barda e um cadáver desovado num cometa (!). O desenlace é puro nonsense da Era de Prata.

A arte da paulistana Adriana Melo é eficiente e esteticamente agradável – sua "jovem" Vovó Bondade é qualquer coisa de espetacular e implora por arcos com missões solo. A exceção são as cenas de luta, confusas como as de um gibi do StormWatch ou do Justice (lembra disso, Vicente?). A artista também evita aquelas panorâmicas industriais/tecnomedievais de Apokolips, um personagem à parte das sagas Kirbyanas. Se conscientemente ou não, vai saber. Mas ela, com absoluta certeza, teria cacife.

No final, surpreende ver que a chamadinha de capa "A Revolução no Quarto Mundo!" não fica apenas na promessa. A tal revolução, furiosa e feminina, realmente acontece, embora destoe da cronologia jogando tudo pra conta de um provável Elseworld. Uma ousadia que não consegue suprir totalmente a sua (enorme) ambição. Não foi dessa vez.

Deixemos isso, ainda, com a Martha Washington de Frank Miller e com a Halo Jones de Alan Moore. Mas valeu a tentativa.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Épico ROM na Epic


Chutão da Marvel no ângulo: o ROM clássico de Bill Mantlo e Sal Buscema terá uma versão Epic Collection pra chamar de sua. Está lá, entre as solicitações de fevereiro. ROM Epic Collection: The Original Marvel Years Vol. 1 será um brochurão de 432 páginas compreendendo as edições #1 a #20 de ROM (dez/1979-jul/1981)). Uma surpresa que ouriçou num êxtase cósmico os fãs do Cavaleiro Espacial. Todos os oito.

Brincadeira (?).

O fato é que o herói cibernético, mesmo nos Estados Unidos, sempre operou em escala modesta, pra marvete fanboy graduado. Quem dirá aqui no Brasil, 35 anos depois da última publicação. Boletos chegaram, fraldas e cabelos brancos também. Dos bravos guerreiros que sobraram, poucos ainda têm di$posição pra essa coisa de gibi. Então, a republicação via Epic Collection – formato bom-e-barato (você me entendeu) – acaba sendo um passe açucarado para a Panini.

Confesso que fiquei loucamente apaixonado pelos ROMNIBUS. Mas talvez não seja a reeedição épica que precisamos agora. Precisamos da Epic. Mesmo que seja suspeito o fato da Panini até agora não ter dado continuidade a nenhum de seus títulos da série. No caso do galadoriano cromado, seriam necessários ao menos uns 4 volumes para fechar as 75 edições originais*.

* Já fazendo vista grossa para a edição #38, com o crossover com o Mestre do Kung Fu, cujos direitos estão agora revertidos ao Sax Rohme Estate.

De todo modo, é interessante assistir essa nova lua de mel do casal Marvel-Hasbro (Masbro?) com jeitinho de pornozão em VHS embolorado. Ainda mais porque, nos últimos anos, a Casa das Ideias andou pulando a cerca do copyright e cometeu pequenas indiscrições aqui e ali. E acolá.


Esqueletos Armaduras do armário de Rick Jones em O Incrível Hulk #136

ROM Epic Collection é tudo o que precisávamos.

(...)

Se bem que “A Saga de ROM, o Cavaleiro Espacial” ® não soa nada mal. Nada mal mesmo.


Atualização 8/12

É, a Panini optou pela facada com giradinha: será ROMNIBUS, mesmo. Em três volumes. E$pectros me mordam.

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

O cliente ficou louco!


Fiz sexo com o meu cartão hoje. A maioria saiu por quase metade do preço na promocha da Panini acumulando com o cupom HQBARATA – até o momento, ainda tá valendo.

Deu pra enxugar um pouco daquela lista de candidatos à zona de rebaixamento (= reimpressão só na próxima era geológica). Mais uma nóia para o gibizeiro pós-moderno...

quarta-feira, 12 de junho de 2024

Entre morcegos e lobos


Que leitura. Batman: Gritos na Noite é considerada uma das histórias mais pesadas do Cruzado Encapuzado. E, adivinha, é pesada mesmo. Nem foi necessário recorrer ao Coringa, ao Duas-Caras, ao Espantalho ou qualquer residente do Arkham. Só precisou do elemento humano, no seu mais errático, imperfeito e trágico. Figurinhas tão triviais quanto o colega de trabalho, o vizinho que acena, o parente próximo. E isso é assustador.

O roteiro é do lendário Archie Goodwin, que co-argumentou a premissa com o artista Scott Hampton (Lúcifer, Deuses Americanos). A trama gira em torno de chacinas brutais de famílias de Gotham City, uma nova e poderosa droga que está agitando as ruas e casos de abuso infantil. Temas sombrios por natureza, nunca abordados de forma tão nevrálgica num quadrinho mainstream. Eu, pelo menos, nunca vi.

Lá fora, Gritos na Noite saiu em outubro de 1992. Foi publicada aqui pouco depois, pela Abril, em dezembro de 1993. E foi publicada novamente pela Panini no finzinho do ano passado, exatos 30 anos depois. Acompanhei essa cronologia in loco. Velho é pouco. Mas meu 1º contato não foi dos melhores: na época, achei a história arrastada, a arte muito escura e um tom geral de "quadrinho adulto" que não apeteciam aquele leitor espinhento viúvo de Heróis da TV. Pérolas aos porcos, é o que dizem.

Precisei desses 30 anos – mais seis meses até tirar do plástico (as páginas do bendito couché já começavam a colar) – para adquirir o cabedal necessário para apreciar a graphic com propriedade. Trata-se de uma obra sui generis, perturbadora, atual e necessária.


A arte aquarelada e suja de Hampton é o coração da HQ. O artista trabalha em diferentes tons escuros conferindo uma sensação opressiva, pesarosa e desesperadora à narrativa. É incrível como uma história que investiga a escuridão da alma humana tenha acertado tanto na escolha de seu artista.

A Gotham de Scott Hampton é apavorante. Parece situada n'alguma dimensão fantasmagórica, trevosa e obscura, como o Outro Mundo (Silent Hill) ou o Mundo Invertido (Stranger Things). Ou, melhor ainda, no Umbral.

Como ele mesmo chegou a brincar:
“No que me diz respeito, ninguém em Gotham City tem nada superior a uma lâmpada de 20 watts.”

Definição melhor, impossível.

O contraste entre as cenas escuras e as cenas claras também é espetacular. Literalmente uma supernova direto no olho logo após um longo blecaute.

É uma leitura que demanda tempo e atenção. Não foram poucas as vezes em que precisei acostumar a retina até capturar tudo o que estava acontecendo num quadro.


Assim como não foram poucas as vezes em que achei que havia algo e era apenas a transparência de algum balão na página de trás. Duh.

Sabiamente, Hampton evita qualquer traço de virtuosismo, o que cortaria a sua fina sintonia com a trama. Ainda assim, em vários momentos, acaba lembrando uma cruza dos mestres John J Muth e Richard Corben. O que não é nada mal para um autodidata confesso.

Mesmo esse evidente compromisso com o espírito da história rende cenas que são um convite a uma bela moldura.


Bons tempos em que isso era mais valorizado

Nunca vi um Bruce Wayne no papel do playboy-filantropo-bon vivant tão soturno, tão pouco à vontade, tão Batman. E Jim Gordon, ainda imundo das ruas em suas primeiras horas como Comissário, é o protagonista moral aqui. Complexo, obstinado, falho e, novamente, humano.

Gritos na Noite justifica o título. É um thriller psicológico barra pesadíssima que bem poderia ter sido a fonte de consultas para David Fincher em Se7en (1995). Especialmente fortes são as duas sequências das páginas 51–55, inesperadas para um comic book e difíceis de ler, nauseando o leitor com uma impotência que remete aos próprios personagens. É um quadrinho que te traga para dentro, gostando ou não.

A conclusão, inevitavelmente pós-traumática, sugere até certa natureza elseworld, à Piada Mortal. Algo para refletir.

Difícil saber onde estavam as mentes dos quadrinistas quando escreveram a história. Hampton costuma dizer que é uma HQ muito pessoal, seja lá o que isso quer dizer.

E o veterano Archie Goodwin, falecido em 1998, trabalhou nas revistas Creepy e Eerie na década de 1960, foi editor da Epic Illustrated e, depois, do selo Epic, na Marvel, por dez anos. Estava acostumado com temáticas hardcore e mundo cão, mas nada assim.

A única coisa que sei é que o Batman era seu personagem predileto da DC. E talvez isso tenha sido o suficiente.

segunda-feira, 11 de março de 2024

Uma gata perfeita

Olhei o descontinho de 42%, respirei fundo e fui.


Mulher-Gato por Ed Brubaker parecia inatingível e, mesmo assim, inevitável. Só conhecia os dois primeiros arcos, publicados pela Panini em Mulher-Gato: Um Crime Perfeito, e já tinha achado o melhor material que li da Selina. Coisas que só a dupla Ed BrubakerDarwyn Cooke faz por você.

Isso foi em 2008. Os tempos mudaram. E os preços também.

Desta vez, a fase está completa e trazendo um selecionado que vai de Mike Allred e Javier Pulido a Sean Phillips e Paul Gulacy. O irônico é que durante muito tempo, achava que o TPBzinho único cobria todo o material... Ignorance is bliss.

Mas que TPBzinho maravilhoso foi aquele.


Tal qual a anti-heroína, a edição era um charme: capa cartão com orelhas e reserva de verniz, papel couché, extras com capas originais, bios e pequenos mimos com informações. Um trampo editorial caprichado do Oggh.

Mesmo após 15 anos, o gibi nunca saiu do alcance da mão. Já o Omnibus-calhamaço de 1080 páginas não consegui nem levantar para a foto.


Na época, deve ter vendido meia dúzia de exemplares. Uma pena. Preferia mil vezes que o run fosse serializado assim.

domingo, 21 de janeiro de 2024

Depart... Corregedoria de aquisições


Quando foi publicada pela Panini em agosto de 2022, Supergirl: Mulher do Amanhã foi direto para a lista completa-carrinho – também conhecida como zera-frete. O que foi indigno e burro da minha parte, não precisa me informar. O megahit de Tom King e da talentosíssima Bilquis Evely não apenas varreu o mundo em velocidade warp, como será a base do filme solo da heroína no DCU do James Gunn. É uma Genki Dama de moral quadrinhístico.

Isso me deixou tranquilo para empurrar a aquisição com a barriga por mais uns bons 4 meses. Procrastinei por mais uns 2, com a mini ainda hypadaça e, teoricamente, hors concours no catálogo.

Até que um dia resolvi ensacolar e voilá:

Produto indisponível.

"Sem problema", pensei errado. "Vou à caça e resolvo rapidinho", permaneci no erro.

Da noite pro dia, o encadernado evaporou da web. Esgotou em todas as lojinhas e sebos online, varejistas, marketplaces e até nos maloqueiros deviantes da OLX. Na verdade, só encontrei um único exemplar à venda na Shopee por módicos 310 lulas + frete. Só 227% em cima do preço de capa – o anúncio continua lá.

O jeito foi ativar a notificação no site da Panini, sentar e esperar. Mesmo que isso tenha o efeito de uma supernova na bioquímica de um verme colecionador. E após as sagas homéricas para botar as mãos em O Evangelho Segundo Lobo, Hellboy: Edição Gigante e os dois John Constantine, Hellblazer da Denise Mina, isso seria só mais um passeio no parque. Bom... nem tanto.

Quase 1 ano de espera e nada. O departamento comercial da Panini claramente se inspirou na "estratégia" da HQM no auge da febre The Walking Dead. Mas pelo menos me deu a chance de acompanhar em 1ª mão uma dessas anomalias que testemunhamos de vez em quando em compras online.

Primeiro. nunca subestime a Estante Virtual. Já encontrei relíquias a preço de banana por lá e fui prontamente ressarcido em eventuais BO's. Sempre munido, claro, com a tal da paciência. É basicamente logar, fazer a busca do Graal e pressionar F5 ao menos umas duas vezes por dia. Mágicas acontecem. Dessa vez, não foi diferente.

Da noite pro dia², magicamente surgiram 20 anúncios de Supergirl: Mulher do Amanhã por quase a metade do preço original (94,90). E o mais interessante...


...pelo vendedor Editora Panini.

Ora, já comprei produtos esgotados no site da Panini até por sua conta oficial no Mercado Livre – o que ainda acho esquisito, por desviar tráfego de sua própria loja online e por se tratar de uma plataforma de vendedores, em sua maioria, informais. Mas nunca por preços abaixo de sua tabela. Essa já uma nova modalidade de esquisitice.

Antes mesmo que pudesse jogar o gibi no carrinho, outra reviravolta: o sininho de notificações dá notícias, após uma volta completa em torno do Sol.


Reiterando, isso aconteceu basicamente no mesmo minuto (lembra do F5 psicótico?). Que Olavo de Carvalho renasça das cinzas se eu estiver mentindo.

Respirei fundo e fechei a compra – na E$tante, lógico. Mas antes fiz uns prints para a minha própria sanidade mental. Aqueles 1.100 lulas (e 80 cents) não iriam passam batidos.

Após tantas kryptonitas pelo percusso, Kara chegou voando em Mach 5. Ficaram as dúvidas, mas cavalo (quase) dado não se olha os dentes. Mesmo que seja o Cometa.

E Supergirl: Mulher do Amanhã, neste exato momento, voltou ao seu status anterior. Sumiu da internet. Mais uma vez.


Como se tudo não tivesse passado de um sonho de verão. Realismo mágico é isso aí.

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Momentos que ficarão - parte 2

Enquanto isso, nos bastidores de X-Táticos - O Filme...


Momento de descontração alfinha em X-Men Extra #30

Detalhe para o ator que interpreta o Senhor Sensível/Órfão dando aquela coçadinha durante o papo. Espontaneidade é isso aí.

Com X-Táticos, Peter Milligan e Mike & Laura Allred criaram o melhor remédio para curar a ressaca dos anos 90. Era bom demais. Sozinho, já pagava a X-Men Extra. Difícil não pegar uma edição qualquer na pilha e não ser fisgado – leia-se "separar todo o run para reler desde o início". Até aqui, envelheceu melhor do que vinho.

Ia ajudar horrores se coletassem tudo. O formato fica a cargo. Pegaria até em cordel.

Aqui a parte 1.

domingo, 26 de novembro de 2023

The Black Friday Journal


100 reais é o novo 50 reais, pelo visto. Peguei as 500 páginas do "Justiceiro do Jim Lee" da Panini com parcos 30% de alívio todo pimpão e com um sorriso besta na cara. Friday fraca. Ainda mais porque já tinha fechado uns carrinhos nos "Esquenta" da Mino e da Amazon ao longo do mês.

As primeiras 19 edições de The Punisher War Journal são provavelmente as melhores coisas que Jim Lee já fez na vida. A série pululou por aqui entre Superaventuras Marvel, Grandes Heróis Marvel e a breve revista solo do Justiceiro, onde seguiu até o #24 apenas com o roteiro e layouts do Carl Potts. Mas a sua parceria com o americoreano é o diamante (bruto) aqui.

Era o Jim Lee operário ultra-abnegado, talentoso, meio rústico, pré-Image, processando e regurgitando (eca!) tudo aquilo que assimilou dos estilos de John Byrne, Alan Davis e John Buscema. E mudou o curso dos quadrinhos.

Claro, o que veio depois é outro papo. Mas às vezes tenho que me lembrar que o Jim Lee é um grande artista.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

Em busca do Warlock perdido


De um lado, o Omnibus mais desnecessário da História – do outro, um verme desprezível com um dilema nas mãos

Adam Warlock Omnibus é um calhamaço bíblico de 904 páginas com o Best Of do Gladiador Dourado, do Avatar da Vida, do Matador de Deuses, do Mestre de Todas as Almas...

O pack é de responsa:
Fantastic Four 66-67, The Mighty Thor 165-166, Marvel Premiere 1-2, Warlock 1-15, The Incredible Hulk 176-178, The Incredible Hulk Annual 6, Strange Tales 178-181, Marvel Team-Up 55, The Avengers Annual 7, Marvel Two-in-One 61-63 e Marvel Two-in-One Annual 2
São 35 edições com profissionais top de linha da Era de Ouro da Marvel em plena Era de Bronze com destaque para um jovem e faminto Jim Starlin. Um sonho de verão intergaláctico. O problema é quase todo esse conteúdo foi publicado aqui. Em reedições recentes, inclusive.

Juntos, os dois volumes de A Saga de Thanos (Panini), A Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel - Clássicos Vol. 32 e Vol. 33 (Salvat), Os Heróis Mais Poderosos da Marvel Vol. 44 - Warlock (Salvat) e até Coleção Histórica Marvel: Os Vingadores Vol. 2 (Panini) compreendem algo como 90% do Omnibus. Quem tiver todos esses, pode passar sem dó. Meu caso.

Mas verme que é verme sempre encontra brechas na legislação interna.

No tomo inteiro, apenas quatro edições não têm republicação recente: a Hulk Annual #6 (novembro de 1977), publicada aqui há 43 anos (!) pela RGE em Almanaque do Hulk #2 (junho de 1980), e as Marvel Two-in-One #61, #62 e #63 (março-abril-maio de 1980), que a Abril "condensou" daquele jeitinho em O Incrível Hulk #19 e #20 (janeiro e fevereiro de 1985).

O primeiro caso, passo sem problema, mas o segundo...


O casulo de "Ela", a entrada triunfal de Parágona (depois, Kismet e, atualmente, Ayesha) e Benji providenciando as boas-vindas

A história traz o bom e velho Coisa com Alicia Masters, Águia Estelar/Aleta, Serpente da Lua, Alto Evolucionário e a semideusa Parágona indo até os confins do universo para reviver o lendário Adam Warlock. Essa aventura é uma queridona. Li e reli gazilhões de vezes desde molequinho. Na época, raramente conseguia de$colar duas edições novas na sequência, mas estas consegui por alguma rara conjunção astral.

Lembro que ficava fascinado pela intrigante capa de George Pérez, pelos desenhos de Jerry Bingham – com arte-final de Gene Day – e pelo roteiro frenético, engraçado e, ao mesmo tempo, reflexivo e melancólico do Mark Gruenwald. Qualidades que resistem até hoje. Era o Método Marvel no seu melhor.


"O Roubo da Contraterra" é o melhor título ÉVER e a splash do Alto Evolucionário é para emoldurar



A metamorfose macho-fêmea de Parágona e a transição corpórea de Águia Estelar e Aleta sem problematizações



Rindo disso há 38 anos — Titio Ben em momento Jece Valadão sem medo do cancelamento



Troféu cata-piolho: a Abril não era a Bloch, mas também inventava página ampliando um quadro



O momento que todos esperavam e que me ensinou uma lição para a vida

Sem dúvida, é uma história muito importante para mim. Formadora de caráter até.

Há décadas espero por esta reedição na íntegra, em formato original e com papel delícia, mas ainda assim... Pegar um Busão de 370 paus por causa de três histórias parece a descrição de um crime hediondo.

Já fiz algo levemente parecido, há pouco tempo, quando peguei Liga da Justiça: Antologia só por causa da maravilhosa JLA #200. Mas isso já é outro nível de conversação. Outro, outro.

Completamente.

(...)

Ps: 🤔

quarta-feira, 5 de julho de 2023

A Saga Definitiva

A Saga do Homem-Aranha. Por que comprá-la, por que não comprá-la, por que comprá-la...



...comprei-a-a.

É Roger Stern e não posso passar as Sternadas em formato original. Essa fase foi formadora de caráter.

A pegadinha Paninesca da vez é que acompanho caninamente a Edição Definitiva, já no volume 11. O que se traduz como "caraio, as Definitivas estão agora na Amazing Spider-Man #166 e as Sagas começam a partir da #206, será que vai rolar repeteco?"

E nem boto na conta as Spectacular, as Annual e as Team-Up, igualmente compiladas nos dois títulos.

Já rodei por inúmeras caixas de comentários, vi turbas na mesma situação e a Panini fazendo ouvido de mercador. Porcos capitalistas. Sei que se vender mal, eles cancelam até um Big Numbers finalizado. O que não parece ser o caso das Definitivas, que, apesar do preço, exibe um fôlego notável. Mas será que chega lá?

Vou pagar pra ver. De novo.

Foda-se, Peter Parker.

sexta-feira, 23 de junho de 2023

quarta-feira, 19 de abril de 2023

John Buscema vive!

Ao menos no legado e nas artes de Roberto De La Torre para Conan the Barbarian, da Titan Comics.



"Big" John Buscema sempre foi uma referência bíblica para quadrinistas do Oiapoque à Angoulême. Junto com Stan Lee, ele reformulou e modernizou o Estilo Marvel de desenhar HQs. E mesmo após tantos anos e dos incontáveis artistas que o sucederam em Conan, nunca vi um traço tão diretamente influenciado pelo homem. Isso é surreal. E é o que faz estas prévias soarem tão impactantes e... canônicas.

Além, claro, de ser um bálsamo para olhos, após décadas de coisas que simplesmente não dá para desver. Crom!

Recapitulando, após a extensa fase Marvel a partir de 1970, o bárbaro foi para a Dark Horse. A estadia também foi generosa: começou em 2003 e durou até 2018, quando a licença foi revertida mais uma vez para a Casa das Ideias. Neste interím, os direitos caíram em domínio público na França e, no mesmo ano, a Glénat passou a publicar a série de álbuns Conan le Cimmérien, lançada aqui pela Pipoca & Nanquim — a Itália e a Espanha também têm seus próprios Conans, via Weird Book e DQómics, respectivamente.

A última passagem pela Marvel foi breve e durou até outubro de 2022. Logo em seguida, Conan já estava na britânica Titan Comics. Os direitos, assim como os das demais obras de Robert E. Howard, pertencem à Cabinet Entertainment, da qual a Conan Properties International é uma das subsidiárias.

A nova equipe do cimério parece bem montada pela Titan. Tanto De La Torre quanto o roteirista Jim "Zub" Zubkavich são reincidentes na Era Hiboriana: ambos colaboraram em algumas edições da ótima Conan the Barbarian recente da Marvel, publicada aqui pela Panini. Já o veterano colorista José Villarrubia trabalhou no Conan fase Timothy Truman, da Dark Horse, que a Mythos publicou até ano passado.

Mas confesso que até preferia o material em preto e branco mesmo, como nas preliminares só no nanquim. As páginas ficaram espetacularmente ESC.

O clima de Conan da Era Clássica Marvel parece ter contagiado inclusive Dan Panosian e Patrick Zircher, artistas do material promocional e da capa variante da edição #1.


Nem imagino o que o ranzinza do Barry Windsor-Smith diria desta recriação, mas ficou legal demais.

Na sinopse:
“Na véspera de sua primeira grande batalha, o jovem CONAN DA CIMÉRIA imagina uma vida além das fronteiras de sua terra natal e anseia por uma vida de aventuras jamais sonhada em seu pequeno vilarejo.

Visões de futuros aliados e males indescritíveis que ele eventualmente encontrará ao longo de sua lendária carreira preenchem sua mente enquanto ele faz a escolha de dar seu primeiro passo fatídico para a ERA HIBORIANA!
A nova Conan the Barbarian está prevista para sair em julho. Antes disso, terá uma edição #0 no Free Comic Book Day, em 6 de maio.

E é claro que estarei no encalço disso tudo, como um maldito cão rastreador picto.


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Enquanto isso, no Depto. de Aquisições & Lombadas...


Huh, oquei... acompanhei todo o processo, mas confesso que não vi isso chegando.

Fico tentado a fechar com um tradicional "Porra, Panini!" ®, mas, desta vez, eles não têm culpa. Ao contrário. Fizeram o melhor que puderam, até.

Questão de costume. Outras coisas me incomodam bem mais.