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sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Velha Abril Jovem


Vou te dizer... os cortes e alterações dos gibis da Abril ainda me dão nos nervos, mas a diagramação, o letreiramento e os retoques – em condições 100% artesanais – eram incrivelmente agradáveis aos olhos. Especialmente aos olhos de um moleque com o conforto de um prático formatinho.

Os caras sabiam fazer.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Superleituras Marvel

“Tudo bem. Ninguém deve ler tudo. Não é assim que a obra deve ser vivenciada. Então, obviamente, foi o que eu fiz. Li todas as mais de 540 mil páginas da história publicadas até hoje...”
Não faltam ambições para Douglas Wolk em seu livro Todas as Aventuras Marvel (Conrad, 2023). E talvez a maior delas seja reconectar o velho leitor à essência da Casa das Ideias. Só por isso já valeu o mergulho em suas 415 páginas. Pra mim, foi restaurador. Finda a leitura, era palpável o senso de uma perspectiva renovada e ampliada. A vontade era de catar o 1º calhamaço de gibis pela frente e devorá-lo imediatamente. Não era um sentimento de urgência, mas de volta a um pertencimento. Como nos tempos em que folheava, deslumbrado, meus primeiros quadrinhos do Hulk, do Homem-Aranha e dos Vingadores.

Ok, para um leitor de longa data, a premissa do livro não é estranha. Ler tudo, tudo mesmo, é um devaneio recorrente. O escritor e quadrinista de Portland, por sua vez, foi à luta e leu cada um dos cerca de 27 mil gibis publicados pela Marvel desde 1961 até o fechamento do livro, em 2021. Moleza.

Segundo Wolk, a empreitada durou cinco anos e foi administrada com o mindset mais Tracy Lawless possível: com exemplares de sua coleção particular, de gibis emprestados de bibliotecas e amigos, por tablet, brochurões Essential em p&b, scans do Jack Sparrow (evidente!), pelo acervo digital da própria Marvel, em relançamentos deluxe, sebos, convenções e de onde mais brotassem revistas. Tática de guerra.

Sobre a metodologia, o autor não fornece grandes detalhes. Esta, IMHO, era uma história que merecia ser contada, inclusive com fotos, diários e rascunhos. Tenho lá uma imagem mental da cena, mas o mesmo afirma reiteradamente que o processo foi muito espontâneo e informal. Inclusive me parece bem estoico a respeito.
“Mais uma vez, a incompletude faz parte da diversão dessa história interminável, imperfeita e criada de forma colaborativa.”
A cronologia Marvel é, provavelmente, o maior cadáver esquisito já elaborado na História.

A criação do universo compartilhado foi o divisor de águas da editora – cujo ponto zero é fantasticamente triangulado no livro como sendo em Kathy #14, Patsy and Hedy #79 e Patsy Walker #98, todas de dezembro de 1961. São HQs sobre romances adolescentes e jovens modelos e que, pela 1ª vez, interagiam entre si. Nascia ali o crossover.

Com o passar das décadas, esse universo foi ganhando contornos meio vilanescos, afastando neófitos que julgavam imprescindível a leitura de tudo o que havia sido lançado até então. “Por onde eu começo a ler tal HQ...?” ainda é uma das perguntas mais frequentes no meio.

Wolk, com poucas exceções, abriu mão da leitura por ordem de publicação. Lia o que queria (e o que podia) no momento, partindo da teoria de que cada HQ é formatada como uma potencial porta de entrada para novos leitores. Na Marvel, inexistem hermetismos ou longos períodos no escuro. Tudo é feito para facilitar o entendimento em uma saga de 60 anos de cronologia ininterrupta. Só assim para garantir a renovação e o fluxo de leitores. Por mais confusa e caótica que uma história em andamento possa ser, ela nunca será intransponível e nossa habilidade de juntar as peças de um quebra-cabeça, seja em alguns meses ou em alguns anos, é tão natural quanto respirar.

O que tira algumas toneladas de obrigação conceitual das minhas costas. Me lembrou que posso pegar qualquer HQ da pilha e me divertir, sem maiores elucubrações. Pela capa que seja, como nos velhos tempos. E aí vai mais um ponto para o escritor.

O livro guarda uma tensão inicial sobre como Wolk irá destrinchar sua experiência em texto. O modo como ele mapeia o sequenciamento criativo da Marvel é muito eficiente e com alguns sacrifícios dolorosos já esperados. Faz parte. Não dá pra contar tudo. Já fiquei muito satisfeito com os capítulos sobre Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, Shang-Chi (meu segmento favorito), X-Men, Thor & Loki, Pantera Negra (meu 2º favorito), Walt Simonson, Jonathan Hickman e outros. Foi um trabalho hercúleo.

O escritor também destaca o fato da Marvel reverberar as mudanças culturais de cada zeigeist com seus aspectos cada vez mais diversos e pluralistas – da forma mais esforçada possível para um produto desenvolvido majoritariamente por homens brancos e americanos. Quase todo o escopo da “Montanha da Marvel" (como ele mesmo se refere ao projeto) é sedimentado sobre observações sociais e políticas*.

* pois é, a Marvel sempre foi política. E seu gibizinho nunca te enganou a esse respeito. Não seja aquele cara.

Há um trecho notável em “Norman Osborn e seu Reinado Sombrio” onde ele parte kamikaze rumo à reflexão:
“A melhor obra de ficção que já vi a respeito da vida durante o governo Donald Trump — a que capta com mais precisão o lento avanço do desespero e da tensão daquele período na cultura americana — é Reinado Sombrio...”
Palavras dele com a precognição da Marvel respingando nas teclas. Reinado Sombrio rolou de 2008 a 2009, oito anos antes daquela administração, mas os esquemas de conspiração e desinformação em massa denunciam as similaridades entre o Duende Verde e o Duende Laranja.

Na reta final, chega a ser inusitado como Douglas Wolk consegue encontrar emoção genuína na série da Garota-Esquilo (!). E continua, em “Passando o bastão”, num relato mais intimista de suas experiências de leitura ao lado do filhinho de 10 anos. É comovente e simplesmente espetacular. Na saideira, os agradecimentos e, de voleio, um apêndice-intensivão onde ele sumariza toda a Saga da Marvel até aqui. De novo, a escala é mesmerizante.

Tirando a capa (há outras melhores), só elogios para a edição da Conrad. Especialmente o trampo minucioso de André Gordirro. Além de traduzir e adaptar, ele garimpou nomes de personagens, histórias, sagas e títulos espalhados em várias editoras brasileiras e cruzou com as referências metralhadas em mais de 400 notas de rodapé. Neste quesito, o e-book sai ganhando com seus práticos links indo e voltando de cada notinha – aliás, confesso que Wolkeei e li parte da obra na versão física e parte na versão digital.

Todas as Aventuras Marvel é tão divertido, informativo e analítico quanto se propõe. Não tem a pretensão de reivindicar a verdade absoluta em suas teorias, mas ajuda demais a vislumbrar a complexidade deste imenso quadro que é a cronologia Marvel. É uma volta à jornada fantástica e incipiente que nos encantava e uma oportunidade singular para reavaliar esta mesma jornada como um todo.

Que venha o volume 2, 3, 4... Vamos lá, Doug. Ainda sobraram muitas aventuras pra contar.

Site oficial
Podcast Voice of Latveria
Entrevista no TCJ

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Guns, Love and Thunder N' Roses

Detratores e amantes de Thor: Ragnarok, treimei-vos e regozijai-vos: aportou o trailer de Thor: Amor e Trovão.


É como receber uma transfusão do sangue do Taika Waititi chapado de LSD. Tem o aspecto da fanfarronice, incorreção e otimismo inabalável, que, misturado ao hino dos gunners (e esse deve ter sido o cheque mais gordo que Slash recebe desde 1996), dá uma sensação meio James Gunn à coisa toda. Finalmente vemos a Natalie Portman como a poseur Thor Jane Foster e ainda não dá pra ver o Christian Bale soterrado sob quilos de látex como o temível Gorr, mas a referência ao Carniceiro dos Deuses comparece, em alto e bom som.

Oito de julho (?) estarei lá. Tudo pela pipoca & guaraná.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Um pouco de luz antes da luz no fim do túnel

E de preferência canalizada pelo Mjolnir. Não parece que foi ontem?

ENDGAME: A Nice Reminder
Just like the Avengers, we will assemble once more.
Publicado por IGN em Terça-feira, 7 de abril de 2020

Precisamos de um Vingadores: Ultimato ou similares para torcida-de-arquibancada-no-cinema quando toda essa confusão terminar.

domingo, 4 de agosto de 2019

quinta-feira, 30 de maio de 2019

Um


Dizem que a jornada é mais importante que o destino. Só esqueceram de avisar aos cineastas Joe e Anthony Russo. Vingadores: Ultimato entrega tudo que o público médio não-estúpido espera de um blockbuster de qualidade (e mais), além de concluir espetacularmente as três primeiras fases do universo cinematográfico da Marvel Studios. É o auge de um trabalho ousado e faraônico que levou onze anos num projeto inédito até aqui em dimensão, capital humano e conquistas técnicas.

Para um velho leitor de gibis, a recompensa maior é ver na telona vários daqueles conceitos malucos e infilmáveis até há alguns anos funcionando como se tivessem nascidos pra isso. Neste sentido, é o filme mais eficiente já realizado no gênero, com um Taa II de vantagem sobre os demais. Acima de tudo, por entender que não se trata apenas de som e fúria, mas também de coração, altruísmo e sacrifício, a quintessência dos quadrinhos de super-herói desde sempre. Ultimato não cede um milímetro desses fundamentos, em maior parte, veja só, de raiz marvete.

Heróis que são pessoas antes de tudo e com cada um fazendo a diferença no resultado final; uma admirável preocupação pelo estado psicológico geral; tempo e espaço para cada personagem respirar e se redescobrir; narrativa que sabe onde enxugar e o que priorizar; trama imprevisível no ponto de partida, na condução e na conclusão sem reviravoltas mágicas; e tridimensionalidade: cada integrante do núcleo principal, seja herói, vilão ou zona cinza/azul/verde, tem suas motivações pessoais e age de acordo.

É notável como os roteiristas de Christopher Markus e Stephen McFeely, que também assinam Vingadores: Guerra Infinita, conseguem administrar tantos personagens e variáveis. E ainda manter o foco numa premissa complexa para os padrões mainstream e, por isso mesmo, potencialmente desastrosa. De forma sucinta, o roteiro exerce sua lógica interna apoiado em extrapolações simples, cobrindo assim os pontos cegos enquanto leva o espectador para a brincadeira.

No fim, Ultimato não só se apresenta como uma sequência digna para Guerra Infinita, como expande seu conflito e aumenta as apostas.

O filme tem três atos divididos por um exercício de estilo brutal. O 1º terço amarra as pontas deixadas pelo longa anterior em tempo recorde e investe com mão pesada no drama. Num clima funesto, os sobreviventes tentam juntar os estilhaços de um mundo com 50% a menos de seres vivos e todos os estragos decorrentes disso. A 2ª etapa sobe o tom partindo de um princípio bem difundido na ficção pop - mas com uma dinâmica deliciosamente... quadrinhos - e faz uma verdadeira celebração para quem acompanhou os filmes da Marvel todos esses anos. Já o arco final é a experiência Splash Page de George Pérez definitiva. É todo o pay-off e o fanservice que existem no final do arco-íris. Sangue de Kirby tem poder.

Quase todo o elenco principal está integrado ao seu personagem-avatar num nível Christopher Reeve-é-o-Superman de conversação, além de apresentar suas melhores performances até aqui: Jeremy Renner zera o até então subaproveitado Gavião Arqueiro num bem-vindo acerto de contas com o roteiro, Karen Gillan extrai ainda mais camadas da hermética Nebulosa, Paul Rudd precisa fazer muito em muito pouco tempo e o Homem-Formiga dá conta, Scarlett Johansson se atira, literalmente, na evolução de "Nat" Romanoff, o Capitão América de Chris Evans é a melhor personificação do herói clássico que poderíamos ter hoje e Robert Downey Jr. fecha o ciclo com a redenção do personagem de sua vida.

Chris Hemsworth, por sua vez, tirou a sorte grande. Thor foi um dos poucos que mantiveram uma saga própria nos dois filmes. Em Ultimato, confesso, o susto inicial foi grande, porém coerente. Plus: agora sim o loiro está parecendo um Viking.

E a Situação-Hulk. Personagem que a Marvel Studios penou para achar o tom na telona, algo que só aconteceu em Thor: Ragnarok, quando já era tarde demais para qualquer pretensão cinematográfica do Golias Esmeralda & mitologia. A expectativa por uma virada foi lá pro caixa-prego após a ignorada sistemática em Guerra e agora, em Ultimato.

Pensando bem, isso já vinha sendo estabelecido desde Vingadores: Era de Ultron (2015), com a infame derrota do Verdão para o Hulkbuster (Hulkbusters e esquadrões Caça-Hulk existem para serem esmagados pelo Hulk, oras!). Seus poderes nos gibis nunca foram adotados pelo UCM: nada de saltos quilométricos, palmada sônica, fator de cura e o mais importante e muda-vidas, o "quanto mais furioso, mais forte o Hulk fica". O que sobrou é um Hulk limitado e em estado de calma - em Ultimato, em estado de calma baiana. Mark Ruffalo é um sujeito boa-praça, mas nem de longe é um Dr. Bruce Banner. A trama ainda dá alguma continuidade à sua cronologia nas HQs, despejando o personagem direto na fase do Hulk inteligente, o que resulta apenas e tão somente num Ruffalo Verde. Um Hulkffalo.

Paradoxalmente, é dali que sai uma das referências mais bacanas aos quadrinhos - a clássica imagem do Hulk em Guerras Secretas. E outras, que não sei bem se foram referências de fato ou apenas dissonâncias em minha cachola de gibizeiro: o Verdão doando o braço em Planeta Hulk, a aventura espaço-tempo-apoteótica de Vingadores Eternamente, o "1" do Dr. Estranho para Tony Stark paralelo ao timing de Adam Warlock para o Surfista Prateado em Desafio Infinito, Steve Rogers e Gail no final de Supremos 2 e por aí vai. Essas vieram fluídas e precipitadas como lembranças de velhos amigos. E eu agradeço ao filme por isso.

Surpreendente mesmo foi o resgate de dois grandes personagens por dois atores maiores que a vida: Tilda Swinton reprisando a Anciã e Robert Redford novamente como Alexander Pierce. Redford já havia encerrado a carreira em meados de 2018, mas voltou atrás no final do mesmo ano. Esqueça a mera condição de filme-pipoca. Isso já é cinema grande, meu chapa.


Josh Brolin pode não ter percebido ainda (ou é modesto demais para admitir), mas acabou por personificar um dos maiores vilões do cinema. Thanos é fascinante, perspicaz, tem a sua cota de honra distorcida e acredita piamente que está do lado certo da História. Ameaçador e absurdamente poderoso, Thanos protagoniza, fácil, as melhores e mais engenhosas lutas super-heroísticas já feitas até aqui. Mesmo a Capitã Marvel de Brie Larson - um tanto deslocada pelos cameos pontuais - teve seus melhores minutos numa telona, incluindo aí seu filme solo. O ponto alto, claro, é sua frenética e nervosíssima luta com o Titã Louco.

Há pelo menos uns três ganchos antológicos durante a luta de Thanos contra a "Trindade" - também conhecida como Vingadores Primordiais. E fazia tempo que não via uma sala de cinema virando uma arquibancada em final de campeonato. Especialmente no momento "Capitão, o Digno". Memorável.

Quando Jim Starlin criou Thanos no início da década de 1970, a gênese do Titã não indicava uma carreira muito promissora. O autor mesmo comentou: "Você pensaria que Thanos foi inspirado em Darkseid, mas não era o caso quando eu o apresentei. Nos meus primeiros desenhos de Thanos, se ele parecia com alguém, era com Metron. (...) Roy (Thomas) deu uma olhada no cara com a cadeira ao estilo Metron e disse: 'Aumente esses músculos! Se for para roubar um dos Novos Deuses, então roube Darkseid, o único realmente bom!'"

45 anos depois, Thanos está mais vivo do que nunca, coletando Jóias do Infinito em blockbusters bilionários e se tornando uma referência pop no mundo inteiro. E o que é mais incrível: adaptado sem comprometer sua personalidade. Pra mim, que li e reli as sagas de Thanos infinitas vezes, isso é muito além de um presente.

Toda a sequência final reservada ao personagem é sob medida. O momento da transição do Thanos ambientalista para o Thanos niilista é de arrepiar. Era o passo que faltava para o... Dark Side. E ainda corrobora os pensamentos de Jim Starlin sobre uma futura abordagem da Senhora Morte, a convidada que faltava. Promissor como parece.

Já se vão onze anos desde que saí daquela sessão de Homem de Ferro com um enorme sorriso no rosto e a cabeça fervilhando em pensamentos. Alguns viraram texto; outros, atrelados a uma certa melancolia por tempos idos, foram para o mesmo cantinho da memória que já serviu de palco para grandiosas batalhas emprestadas das páginas dos gibis. Eu sabia que ali era o máximo que o cinema real se aproximaria dos quadrinhos e estava mais do que satisfeito com aquilo. Filme após filme, desafio após desafio, a Marvel Studios foi superando aqueles limites - em maior ou menor grau e com resultados variáveis, mas sempre com bom senso, respeito às duas artes e, principalmente, coração.

Vingadores: Ultimato é sangue, suor e lágrimas. O ápice de uma autêntica odisséia cósmica (epa!) e o registro de que um dia duas formas de arte chegaram tão perto que quase convergiram.

Mesmo sendo o mais épico, ambicioso e visualmente deslumbrante, claro, não é um filme perfeito. Capitão América: O Soldado Invernal (2014) segue no topo da minha lista. E ainda tenho um carinho todo especial por Os Vingadores (2012) pelo impacto sobre este leitor ad eternum de Heróis da TV. Junto com Guerra Infinita, Ultimato habita n'algum lugar no éter entre esses dois.

Algo a se avaliar com o tempo. E com sessões infinitas.

domingo, 28 de abril de 2019

Amo Vingadores: Ultimato 3000



Se eu dissesse para aquele moleque embasbacado com a inesquecível Grandes Heróis Marvel #1 que um dia o mundo inteiro conheceria Thanos... provavelmente ele acreditaria, já que sua visão de mundo, ainda relativamente inocente e sonhadora, permitiria tal devaneio. Mas nada que durasse muito.

Thanos, cara. Thanos.


Como disse o Dr. Estranho na reta final de Vingadores: Guerra Infinita, "estamos no fim do jogo agora". Errado duas vezes: estamos em Vingadores: Ultimato - numa das maiores vaciladas de adaptação de títulos em português; e não estamos só no fim do jogo, mas numa final de campeonato.

Daquelas pra ficar na história.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

We have a Hiddleston


Thor: O Mundo Sombrio adota parcialmente a estratégia bigger-stronger-faster das sequências cinematográficas. No caso, maximizando apenas alguns dos ganchos do Thor edição #1, sendo o mais proeminente o inusitado humor físico - com resultados pra lá de variáveis, é verdade, mas, ei, estamos vivendo num mundo onde se produzem continuações ao vivo & arrasa-quarteirão do Thor... o quão orgástico é isso pra quem um dia teve que se contentar com os desenhos inanimados da Grantray-Lawrence? Além do mais, se na estreia do asgardiano imperava uma vibração condescendente e refém do evento Os Vingadores, O Mundo Sombrio se revela mais independente, malandro e ambicioso. Ao menos bem mais do que, por exemplo, Homem de Ferro 3.

Uma das maiores qualidades do filme é justamente a valorização da química proposta na primeira aventura. Voltam todos os elementos grandiosos/hollywoodianos de Asgard e o microcosmo indie terrestre - algo montado até com certa ousadia pelo diretor Alan Taylor e pelo roteiro a 3 mãos (chutando que nenhum é ambidestro) de Christopher Yost, dos divertidos Hulk vs., Christopher Markus e Stephen McFeely, que souberam extrair novamente bons frutos da colisão improvável entre esses dois extremos. Nota-se que não apenas apostam, mas de fato acreditam no material que herdaram. Claro, nem tudo é perfeito e o filme tem lá sua dose brobdingnaguiana de clichês e forçadas de amizade, mas até aí, a cota está dentro dos limites do cinema mainstream - não só o dos EUA.

A abertura de O Mundo Sombrio é praticamente um revamp da intro do primeiro filme, retrocedendo em 1 geração a família de Odin e apagando os Gigantes do Gelo para colar os Elfos Negros por cima. Remanescente de uma época em que ainda não existia a luz, a raça ancestral é liderada por Malekith, que pretende usar uma força obscura chamada Éter para jogar o universo de volta à escuridão, mas é derrotado por Bor, governante de Asgard e pai de Odin. Nesse ponto fiquei pensando como seria interessante uma abordagem maior desse personagem, que, apesar de sábio e o deus-in-chief, transparecia ser pouco mais que um guerreiro rústico e selvagem, fazendo o contingente asgardiano atual parecer um catálogo de modelos da Gucci. Só que a batalha é mostrada já em seus momentos finais (o ator, Tony Curran, sequer é creditado) e a narração em off de Anthony Hopkins, o Odin em pessoa, logo dá lugar a uma sitcom na Terra. Bizarro assim. Mas um bizarro bom.

Por incrível que pareça, esse crossover de gêneros funciona, já que o roteiro é bastante espirituoso ao desenvolver o segmento pessoas/rotina/perrengues do dia-a-dia. E o elenco, agora radicado em Londres, retoma a sintonia: Natalie Portman reprisa sua Jane Foster amargando uma fossa pelo sumiço do seu Deus do Trovão favorito enquanto tenta fazer a fila andar a contragosto (pueril, mas ótimo momento o do encontro no restaurante, graças ao timing cômico de seu parceiro de cena, o inglês Chris O'Dowd); Stellan Skarsgård faz um dr. Erik Selvig completamente noiado após sua experiência em Os Vingadores (impagável, mas eu podia passar sem vê-lo balangando as castanhas em Stonehenge); Kat Dennings continua fazendo com sua Darcy o que faz com toda personagem que cai em suas mãos, ou seja, cara de whatever; já o novato Jonathan Howard, que interpreta o estagiário Ian, é um raro caso de coadjuvante cômico da coadjuvante cômica (Darcy), também não muito feliz em nos fazer felizes.


Enquanto na Terra a vida segue, em Asgard, Thor (Chris Hemsworth, completamente à vontade) e seus camaradas concluem uma guerra de 2 anos que pacificou os Nove Reinos após as traquinagens de Loki - que pode até não ser um deus per se, mas com certeza dividiu o calendário de Tom Hiddleston em "antes de Loki" e "depois de Loki". Tudo corre bem, Asgard está em paz, Loki está em cana e Thor vê a sucessão de Odin cada vez mais próxima, mas aí o caldo entorna com o retorno de Malekith - que não desistiu de restabelecer seu antigo way of life, não hesitando em sacrificar seus semelhantes pela causa - e do reaparecimento do Éter, o elemento que fará a diferença numa guerra contra a toda-poderosa Asgard.

Há uma metáfora redondinha aí sobre a política externa dos EUA e seus reflexos pelo mundo, com direito à nave batendo em torre e tudo. É o tipo da coisa que o cinemão hollywoodiano vomita sem perceber e que faz o Žižek lavar a égua com Lux Luxo. Mas vou praticar o silêncio de rádio aí, pois a vida é muito curta. Apenas uma coisa: não há lugar melhor para captar o pensamento norte-americano, conservador ou liberal que seja, do que num blockbuster. Não pela mensagem que eles querem transmitir, mas pela mensagem que eles nem imaginam que estão transmitindo. Spy this, NSA.

Não deixa de ser instigante a estética Terra-Média-encontra-Guerra-nas-Estrelas da periferia asgardiana. Um saudável fuzuê pop-cultural com trolls, alienígenas e cavaleiros se digladiando com machados, espadas e armas de raios é a liberdade criativa primitive-future definitiva. Sword & sorcery &, porque não, sci-fi. He-Man e os Defensores do Universo agradecem. Thundercats e Thundarr, o bárbaro, mais ainda. Ver a Natalie Portman mais uma vez se aventurando nesse contexto foi um agradável déjà vu. Igualmente curioso é o centrão de Asgard, com arquitetura à Oscar Niemeyer in the 25th Century e naves "aladas" que lembram coisas d'O Incal, do mestre Moebius. Meio acachapante ver isso com tamanha amplificação sem esperar. Durante a invasão dos Elfos Negros eu queria mais era descer ali numa avenida qualquer e interagir com os cidadãos, conhecer a gastronomia local, bater umas fotos...

Esse esmero visual se repete no filme inteiro harmoniosamente; ao contrário do anterior, não há efeitos de 1ª convivendo com outros meia-boca. Pena que o coração nem sempre esteve no lugar certo. Um bom exemplo foi a deliciosa referência sabor Harryhausen à primeira ameaça que Thor enfrentou nos quadrinhos - um legítimo kronan da raça de guerreiros de pedra que o loirão combateu em sua estreia, muito bem-feito e impressionante. Aquilo foi de encher de amor e ternura o coração fanboy, mas a conclusão incrivelmente abrupta foi como levar um fora via SMS com emoticon triste no final. Por ali já dava pra ver que o cineasta Alan Taylor (claramente um não-nerd), ao contrário de Joss Whedon (obviamente um nerd), não ia se render tão fácil ao doce prazer culpado de gastar alguns milhões do orçamento em uma sequência de porradaria-pela-porradaria igual aos quadrinhos.

Aliás, Taylor deixa seu DNA profissional bem impresso ao longo da trama, particularmente a experiência acumulada em séries de ponta. As conspirações, subtramas, dramas familiares e anti-heroísmo têm um pé fincado em Game of Thrones, Roma e Família Soprano, sempre para o melhor. Em contrapartida, o delivery escancarado pra mocinha boba suspirar alto denuncia os vários episódios que dirigiu em Sex and the City. Pela primeira vez as namoradinhas de plantão vão gostar de ter ficado até o fim dos créditos. E pela primeira vez, eles não.


O Malekith do ótimo Christopher Eccleston é mais sombrio e unidimensional que o dos quadrinhos, onde era um tipo manipulador e shapeshifter, Loki-like. Em compensação, era bem menos poderoso, então fica elas por elas. Kurse nos quadrinhos era mais legal, mas esteticamente impraticável num filme - podiam ao menos ter poupado aquela bobagem de guerreiros "kursed". Já Odin, está mais irascível e menos ponderado, o que é compreensível dadas as recentes guerras e turbulências familiares, enquanto a Frigga de Rene Russo finalmente tem algo a dizer e fazer, sendo vital para uma das reviravoltas da trama.

Os Três Guerreiros tiveram uma participação tímida (Hogun foi dispensado logo de cara), com exceção do novo Fran "Chuck-você-por-aqui?!" dal, estranhamente destacado e mostrando que o agente de Zachary Levi é dos bons. E foi um crime o desperdício da Sif da deusa Jaimie Alexander. Além de boa atriz que convence nas cenas de ação, as diferenças parsecquicas entre Sif e Jane renderiam um triângulo promissor com o rapagão do martelo, o que foi tratado de forma apenas superficial.

Um dos aspectos discutíveis foi a superdosagem de humor, principalmente na 2ª metade. Se no filme de Kenneth Branagh o clima jovial já trafegava no limite, aqui a coisa acelera na ladeira - a já citada presença de dois coadjuvantes cômicos, mais Skarsgård no Jackass mode, não é menos do que sintomático. Chega a prejudicar a sequência final, diluindo qualquer tensão e sensação de perigo relativa ao ataque dos Elfos Negros em Londres. Até a luta entre Thor e o Malekith deusificado pelo Éter - bacana e expensive, se revezando entre dois mundos - ganhou toques engraçadinhos. Era só o universo conhecido que estava em jogo ali.

Fora que já deu assistir vilões de filmes conquistando seus respectivos MacGuffins-fontes-inesgotáveis-de-poder, pra depois não saber o que fazer com eles e, pior, serem derrotados num mano a mano com o herói. Thanos, a maior antítese disso nos quadrinhos, que se cuide.

Algumas inconsistências também batem ponto no roteiro, sendo a maioria TOCs aparentemente incuráveis do cinemão pop. Então dá pra eleger uma preferida e abstrair o resto em nome da busca pela felicidade: fico com a cena em que Jane e Thor se abrigam na mesma caverna onde está o portal de convergência com a Terra, no exato momento em que o celular dela está tocando por lá. Uma beleza de atentado ao item #19 das regras do bom roteiro propostas por Emma Coats, da Pixar. Escolhi bem ou não?


Como sequência, Thor: O Mundo Sombrio cumpre seu papel sem fugir ao script, não fosse um trunfo que o projeta sensivelmente acima do padrão: Tom Hiddleston, sério candidato a maior rockstar da Marvel Studios pós-Robert Downey Jr., talvez até apressando esse fim de era. Com um senso soberbo de continuidade, o ator não parou de evoluir e enriquecer o personagem em relação às já memoráveis performances em Thor e Os Vingadores - até porquê é evidente que ele está se divertindo pra caralho ali - e ainda gera interesse de sobra para justificar novas situações e aventuras. Solo, inclusive.

Ao final, fiquei muito mais curioso pelo "what's next?" de Loki do que o de seu meio-irmão. Fez por merecer essa sua "trilogia trapaceira" (a única do gênero!) e, tomara, os vários capítulos que virão, como deixa antever a conclusão.

Em Loki eu confio. Epa...

Thor: O Mundo Sombrio ("Thor: The Dark World", Estados Unidos, 2013), 111 min.
Direção: Alan Taylor
Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Kat Dennings, Stellan Skarsgård, Tom Hiddleston, Anthony Hopkins, Christopher Eccleston, Jaimie Alexander, Zachary Levi, Ray Stevenson, Idris Elba, Rene Russo

Ps: então... Guardiões da Galáxia será esse camp todo mesmo? Schumachers me mordam.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Kneel before Thor


Nem sempre são as grandes produções que nos marcam. Às vezes, esse papel é assumido por filmes com ambições mais modestas, escapistas, não raro beirando o guilty pleasure. Foi mais ou menos meu caso com Uma Noite de Aventuras (Adventures in Babysitting, 1987), com a adorável Elisabeth Shue no auge de sua adorabilidade. A história era um Depois de Horas adolescente safra anos 80, levando o(s) título(s) ao pé da letra. Figurinha fácil na Sessão da Tarde até uns anos atrás. E eu, telespectador fácil do filme, sempre que podia. Por uma inesperada afinidade.

Por exemplo: um dos garotos é apaixonado pela personagem de Shue, a tal babá (leia-se garota mais velha-quase mulher), que se mostra compreensiva, lisonjeada, doce e totalmente demais ao lidar com esses sentimentos (por causa dessas coisas que ele se apaixonou em primeiro lugar) antes de tentar dissuadí-lo com pretextos do calibre de você-tem-a-vida-inteira-pela-frente e o destruidor a-nossa-amizade-é-muito-mais-importante e se voltar para o seu verdadeiro target romântico, que é independente, descolado e está na mesma faixa etária que ela... ai... alguém mais precisa uma bebida?

Se isso bateu forte, o que dirá da irmãzinha caçula do rapazote de coração partido: um autêntica fanboyzinha do Thor, colecionadora de gibis e pôsteres do herói, e que usa roupas com as cores dele - com direito à elmo com asinhas e um Mjolnir de plástico!

Logicamente, ela e seu ídolo são zoados o tempo todo pelo irmão mais velho, mas isso até ela e o próprio "Deus do Trovão" salvarem a pátria numa cena emocionante...


Confesso que só um tempão depois percebi que era o Vincent D'Onofrio ali. Ator improvável, atriz improvável e até herói improvável (Thor, referenciado numa comédia juvenil em plena década do neon?). Mas de alguma forma a química aconteceu e até a essência do que é ser um herói está lá, fazendo o que os heróis fazem: a diferença.

Uma das homenagens mais bacanas que o cinema já prestou aos quadrinhos.

God of Thunder vs. Black Metal King!

Achaste que o Thor do estúdio The Asylum e o Thor do velho seriado do Hulk eram os piores deuses do trovão já personificados? Digo-te não!, valoroso amigo! Há muito, muito tempo atrás, num mundo muito, muito distante (o 1º) havia uma famosa revista especializada em heavy metal...


Publicada na Kerrang! em 1984, a presepada fotonovela "Thor versus Cronos: When Titans Clash!" trazia protagonistas que eram seus próprios personagens, por assim dizer: o bodybuilder, ator e cantor Jon Mikl Thor, da banda de heavy/hard Thor, e Conrad "Cronos" Lant, baixista e vocalista do Venom.

Considerando que Thor (o Jon Mikl) construiu toda a sua "carreira" em cima do mito nórdico e que Cronos é o tataravô do black metal, ambos sempre com indumentárias de guerra e tudo, pode-se dizer que o Bem e o Mal estavam bem representados. E que qualquer senso de ridículo foi completamente desintegrado em nível atômico. Se existe uma prova de que os dois entraram pra esse negócio pra valer é essa.

Além das bravatas falaciosas, sangue falso e canastrice suprema até para fazer poses, destaque para a amada do herói, a "Pantera" mais famosa do metal até o surgimento de Phil Anselmo & cia...


Detalhe para os créditos, com desculpas prévias à Stan Lee. Chorei.

Via Bazillion Points.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Poderoso Thormento


Esculhambar O Poderoso Thor é muito pior que chutar cachorro morto. O longa para TV foi mais uma incursão do estúdio The Asylum, desta feita, para capitalizar em cima do hype do Thor da Marvel Studios. Então era mais que óbvio que sua natureza seria de subproduto genérico rasgado. Mas O Poderoso Thor consegue ser avant-garde em sua incompetência. A produção está muito abaixo do status de ruim, pois até pra isso existe o pré-requisito básico de querer ser um filme. E essa ambição em nenhum momento se desenha nessa pilha fumegante de estrume. Qualquer esforço em racionalizá-lo enquanto forma de arte - mesmo a mais pedestre possível - supera facilmente todos os esforços dispendidos desde sua concepção até a sua exibição - no que, creio, ter sido uma noite trágica para o canal Syfy.

Em comparação ao Thor-filme, às diversas versões de Thor dos quadrinhos, ao da mitologia clássica, à reimaginação alternativa bitolada que seja, é o equivalente filmográfico à restauração do Cristo de Borja, sem o apelo da piada involuntária. É um antifilme mais carne de pescoço que muito filme experimental por aí.

Enfim.

Fica claro que o orçamento foi todo captado no semáforo com a venda de paçoquinhas superfaturadas. Qualquer sombra de técnica e planejamento inexiste, soando como se tivesse sido criado na hora em que as câmeras foram ligadas, num único take é-tudo-ou-nada na "melhor" tradição de Ed Wood. Mesmo assim, um bacana chamado Christopher Ray (de Mega Shark vs Crocosaurus!) assina a direção, deixando Uwe Boll feliz da vida ao parecer Stanley Kubrick perto dele. Pessoalmente, acho que qualquer pobre coitado, na condição de apaixonado por cinema, conseguiria salvar um abacaxi desse, mesmo sem um tostão no bolso e nenhuma linha decente no roteiro. O fator diversão está aí pra isso mesmo.

Em O Poderoso Thor ele também aparece, à prestação e por puro acidente, espremido entre a preguiça mastodôntica da trama escrita (sic) por Erik Estenberg e a canastrice de todos os envolvidos.


Esqueça qualquer fidelidade ao panteão de divindades nórdicas, porque o roteirista aparentemente nunca ouviu falar em ninguém ali. No início, vemos Odin e seus filhos Baldir e Thor, fugindo de Loki... isso mesmo, fugindo (!)... enquanto tentam salvar uma Asgard em CGI de 8-bits do ataque iminente do deus da trapaça. Loki planeja destruir a Árvore da Vida (Iggdrasil, que, logicamente, nunca é citada aqui) e assim apagar o universo e recriá-lo à sua imagem e semelhança.

Para isso ele precisa do Martelo da Invencibilidade (!!) - na verdade um enorme paralelepípedo num palito - que pertence à Odin (!!!). Durante a luta, Loki mata Baldir e Odin (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!) e a responsabilidade de guardar o Martelo fica com o jovem e inexperiente Thor.

O parentesco entre Loki, Odin e Thor nunca é mencionado (quiçá conhecido pelos realizadores) e seu visual parece um filhote do Edward Mãos de Tesoura com o que restou da fantasia do Esqueleto de Frank Langella.


Por sinal, é difícil precisar se sua fisionomia disforme e decrépita é resultado da maquiagem ruim ou se sequer houve maquiagem mesmo, já que se trata do ator Richard Grieco no papel. Sim, o Richard Grieco.

Antes de prosseguir, um pouquinho de cultura inútil para quem tem menos de 35...

Na reta final dos anos 1980, Richard Grieco era uma das figuras mais promissoras de Hollywood, encabeçando a turminha pós-brat pack que formaria a próxima safra de novos astros. No caso dele, graças ao sucesso de um dos personagens mais populares da série 21 Jump Street (aqui, Anjos da Lei) - onde, dizem, rivalizava feio com Johnny Depp - e inclusive ganhando até uma série spin-off. Grieco era um dos maiores salários da TV na época.

Na crista da onda, ele pediu as contas da telinha e aterrissou de 1ª classe em Hollywood. Espião por Engano (If Looks Could Kill, 1991), seu 1º filme "solo", porém, não teve uma grande receptividade da crítica e nem do público. Mas serviu para marcar território.


Grieco era jovem, galã e famoso, o franco next-big-thing daquela geração. Só que o rapaz tomou uma série de decisões pra lá de equivocadas: sucessivas plásticas que detonaram seu rosto, um mergulho de cabeça (de nariz, pra ser mais exato) num relacionamento cocainômano com a ex-deusa Yasmine Bleeth (de S.O.S. Malibu), escolhas medíocres de filmes e a carreira de ator sendo gradativamente colocada de lado para dar lugar aos seus trabalhos como pintor abstrato, músico e poeta.

Não deu outra: Grieco evaporou. Acabou virando uma lenda urbana para assustar atores e atrizes iniciantes em Hollywood. Um manual prático de tudo o que não deveria ser feito naquele negócio.

Mas voltando (tsc)...


Com esse background todo, ele acaba deixando um pouco mais fácil comprar o ódio e a frustração de Loki, que em nenhum momento é contextualizado apropriadamente. Aliás, ninguém é contextualizado ali. Nunca.

Minha primeira pista de que eles estavam pouco se estrepando para o que filmavam foi Odin. Um brutamontes musculoso e cheio de tatuagens, o Allfather mais parecia um motoqueiro hell angel. Ou um wrestler. E eis que o sujeito, chamado Kevin Nash, é mesmo um wrestler!

Por mais estranho que pareça, essa foi uma boa ideia derivada daquele fator diversão anteriormente citado. Ok, é preciso um certo paladar B para apreciar tal iguaria. Tenha em mente o Papai Noel hardcore da versão Santa's Slay ou o de Lobo Paramilitary X-Mas Special...

Mas, novamente, foi apenas acidental, pois essa deixa para o escracho nunca é aproveitada como deveria.


Com Odin e Baldir despachados pro Valhalla, o que se segue é Loki perseguindo Thor para obter o tal Martelo da Invencibilidade (Mjolnir quem?). E assim vai até o final, assassinando sem a menor piedade tudo o que o conceito de narrativa nos proporcionou desde os tempos do teatro grego.

No papel do deus do trovão está Cody Deal, a resposta norte-americana, com juros exorbitantes, ao cigano Igor. Dizer que ele é péssimo seria corroborar de algum modo que ele é, de fato, um ator, então prefiro me abster. Mas infelizmente não é só isso. De "poderoso" esse Thor não tem nada. É covarde, burro, chato, pedante, infantil, cara de mamão, uma bruta sacanagem que fizeram com o viking.

Teria apanhado muito mais de Loki, não fosse o auxílio de Jarnsaxa, guerreira e ex-serva de Odin, que salvou seu rabo de ser fritado quatrocentas e oitenta e oito vezes no resto da bagaça. Fora as vezes que o impediu de fritá-lo ele mesmo em algum de seus acessos de idiotice.



Pra ser sincero, Jarnsaxa foi a única razão de eu ter conseguido chegar ao fim de O Poderoso Thor. Mesmo durando cerca de 1 hora e meia (com os créditos), é uma das coisas mais inassistíveis que já tive o desprazer de testemunhar. Chegou a me dar saudades daquele tratamento de canal.

Como uma feliz providência do destino, Jarnsaxa foi interpretada pela Patricia Velásquez (a Anck-Su-Namun, a amada do feiticeiro Imhotep, da franquia A Múmia), ainda espetacular aos 40 e poucos anos e parecendo uma Sandra Bullock latina. E você que reclamava do Heimdall afro.


Apesar de Patricia quixotescamente tentar atuar ali, foram as coxas esculpidas e o umbiguinho libertino de Jarnsaxa que me guiaram através daquela provação.

Já na Terra, onde todas as ruas são transitadas pelas mesmas 5 pessoas, Jarnsaxa ensina algumas coisinhas bacanas a Thor.


Óbvio que sem grandes resultados práticos, mas que, visualmente, até têm seu apelo. É mais uma daquelas boas ideias mal-aproveitadas.

Muito mal-aproveitadas, aliás.


Quando Thor eventualmente é derrotado por Loki, que se apodera do Martelo e o manda direto para o Hel, os realizadores também tiveram outra grande sacada - só que desta vez, admito, apenas para sommeliers da cultura trash: em meio ao inferno escandinavo, Thor extrai matéria de um veio de lava e começa a moldar um novo martelo...

...forjando na porrada!


Além de séria candidata à cena WTF da Década, também serviu pra me acordar, pois àquela altura Jarnsaxa já tinha mandado tudo às picas e ido cavalgar com suas priminhas Valquírias (óóó, spoiler...?), apesar de, na mitologia nórdica, ela ser uma jötunn.

Mais uma vez, foi um mero lampejo de docaralhismo isolado. Eu encararia na boa um filme de horinha e meia só com essas maluquices.

No final das contas, Thor foge do Hel voando e, com seu novo martelo, destrói o Martelo da Invencibilidade - que na verdade era o Martelo da Imbecilidade - e, no processo, manda Loki também pra cucuia (não pergunte como). De quebra, salva a Árvore da Vida, a Terra, Asgard, etc., sem muitas explicações. Graças ao meu bom Odin.

Viva! Cheguei ao final!

Excelsior!!
O Poderoso Thor não é filme, é uma arma. Usado com responsabilidade, é ideal pra espantar visitas indesejadas ou partir pros finalmentes com o ser amado sem a preocupação de estar perdendo algo que preste. Do contrário, os danos psicológicos serão catastróficos e irreversíveis. Agora me dá licença que tá na hora do meu remedinho.

Ah... obrigado, sra. Hatchet. Posso tomar mais um? Por favor...

O Poderoso Thor ("Almighty Thor", Estados Unidos, 2011), 92 min.
Direção: Christopher Ray
Elenco: Richard Grieco, Patricia Velásquez, Kevin Nash, Jess Allen, Cody Deal

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Hoje é Thor's day!


Mais do que qualquer outro projeto da fase 1 da Marvel Studios, a ideia de uma adaptação do Thor era, de longe, a mais cabulosa. Difícil até de visualizar em minhas adaptaçõezinhas live-action mentais cultivadas em lugares edificantes como filas de banco, ônibus lotados, salinhas de espera e concursos do Banco do Brasil. Tudo bem, um inventor bilionário numa armadura voadora e um supersoldado da 2ª Guerra com síndrome de Rip van Winkle foram belas amostras do nonsense que permeia toda essa campanha de adaptações da Marvel, mas ao menos esses tiveram suas conexões com a realidade cimentadas com resquícios empíricos à base de ciência, empreendedorismo e futurismo pra viagem. Já um antigo deus nórdico pagão...

Mesmo com o conceito já filtrado e ocidentalizado pela "versão Marvel" dos precursores Stan Lee, Jack Kirby e Larry Lieber (Thor acabou virando a puta paga do domínio público: a DC tem dois, a Image também e até a ilustre America's Best Comics deu uma bicada), a simples ideia de personagens mágicos surgindo em cena por si já perfaz uma ruptura do, arram, dogma tecnocrata vigente naquele universo cinematográfico. Se contextualmente era um backflip conceitual, comercialmente, porém, parecia o próximo passo lógico a ser dado. Afinal, se Voldemort e Sauron viraram rockstars, porque não Surtur?

Primeira boa surpresa: a escolha de Kenneth Branagh para a direção, puro futebol-arte. Quem mais qualificado para ilustrar poder, suntuosidade, loucura, tragédia, horror e dramaticidade épicas (ou divinas?) que o gênio que transmigrou Hamlet inteiro para um filme de quatro embasbacantes horas que passam voando? O horizonte ficou ainda mais promissor com a descoberta de que Branagh, além de um excelente vendedor de seus projetos, também era um profundo conhecedor do terreno em que estava pisando. Pra mim, era razão suficiente para celebrar a vida tomando porres de hidromel nas tavernas mais vis do reino.


Bom, Thor não teve Surtur, mas teve Loki, o deus da trapaça e das traquinagens, o Saci-Pererê do folclore escandinavo. Que por pouco não dribla todo o contingente celestial de Asgard e sai correndo com a taça de melhor personagem debaixo do braço. Toda divindade, mágica e mística foram jogadas na sacola da ciência do imponderável, entre planos interdimensionais e galáxias perdidas éter afora n'algum ponto indefinido das 11 supercordas. Resumindo, não eram deuses, eram astronautas. Enquanto isso, Branagh operava bem abaixo de suas capacidades, relegado quase a um timoneiro de luxo. Não de uma nau de guerra viking, mas de um caríssimo iate multiplex em meio a recifes e corais ameaçadores. Sem dúvida, a firma não quis arriscar e limitou os aguerridos movimentos wagnerianos do homem até o limite da completa descaracterização. Só isso explica porque o tom do filme saiu tão soft. Claro que eu não esperava por um Valhalla Rising 2: Ragnarök Now, mas esperava menos ainda pelos açucarados cubinhos de comédia romântica que frequentemente se dissolviam na tela.

Mas pensando bem, salvo em reimaginações autorais, o perfil do Deus do Trovão nos quadrinhos regulares da Marvel nunca foi o do viking primevo e animalesco empunhando um martelo do tamanho de um poste. E em seu universo havia ainda mais conflitinhos pessoais/amorosos do que no filme. Basta lembrar de seus alter-egos com vidas sociais bastante agitadas para um hospedeiro espiritual. O Thor do filme, além de cortar todo o papo furado de identidade secreta disfuncional para os dias atuais (paralelo ao Tony Stark na conclusão de Homem de Ferro), num primeiro momento faz questão de se auto-afirmar como o übermensch tanto no céu (Asgard/Jotunheim) quando na terra (Terra). Não o suficiente para configurá-lo como um überasshole, mas necessário para que sua transformação de um deus para uma pessoa melhor servisse como o rito de passagem que Odin tramava para seu filho e sucessor.

Do ponto A (o Thor imaturo e impulsivo) até o ponto B (o Thor paciente e compassivo) poderia muito bem ter sido um combinado entre a graphic Thor: A Era do Trovão, de Matt Fraction, com o Thor humanista/humanizado do universo Ultimate - especialmente no que tange à sua via crucis terrena.

E não faltam referências ao Cristianismo em Thor.


Muitos fragmentos da narrativa cristã têm passe livre na história, não só nos subtextos do roteiro, como também no timing, na dimensão dos eventos, nas motivações e principalmente no enorme apelo estético de algumas cenas. Temos lá Odin enviando seu filho à Terra despido de toda sua glória e completamente mortal; temos os amigos recém-feitos que, como bons discípulos hebreus, o seguem e o auxiliam em sua jornada, mesmo reprimidos por forças governamentais; seus ensinamentos meio revolucionários meio transcendentais meio bicho-grilo-mermão a esses mesmos amigos-discípulos; Thor se sentindo abandonado por seu pai todo-poderoso e quase perguntando o porquê disso - nem precisava -, reeditando uma famosa cena de sua versão Ultimate; a salvação através do sacrifício; a redenção e a ascensão aos céus; e, claro, a queda do vilão chifrudo do firmamento direto para o buraco (de minhoca?). E com certeza teve mais, muito mais.

Costumo pagar certo pau pro J. Michael Straczynski, que co-escreveu a história, mas gosto de pensar nessas analogias mítico-religiosas como um código Morse transgressor que Branagh enviou subliminarmente aos seus admiradores bem debaixo dos narizes dos censores da Disney-Marvel (eu copiei, Branagh, eu copiei, câmbio!). Porque não devia ser do interesse do estúdio bancar um longa com qualquer outra objetivo que não o de acessório promocional para o blockbuster que foi Os Vingadores. E de todos os filmes dessa primeira safra, Thor foi o que mais teve cara de brinde.

Isso a despeito dos valores de produção, explodindo na telona com a força de mil megatons nos segmentos passados em Asgard (uma magnífica renderização tridimensional da arte de Walter Simonson - a versão 3D do filme, no entanto, foi uma belíssima porcaria). Nem em meus sonhos marvetes mais psicodélicos pude vislumbrar um reino tão grandioso e deslumbrante, ainda que Bifröst pareça dar direto no Studio 54 em plena efervescência disco. Poderia até ter saído diferente, mas dificilmente melhorado - é uma ponte de arco-íris, queria o quê?

O mesmo alto padrão criativo se repete no CGI em torno dos Nove Mundos de Yggdrasil, onde o espaço mais parece um óleo sobre tela vivo retratando os efeitos especiais do filme Contato. A tela verde ainda não é amigável à presença dos atores, mas o espetáculo visual é inegável. Meus olhos saíram de barriga cheia.


Chris Hemsworth provavelmente é o melhor Thor Odinson que o cinema atual poderia vender. Não é como se ele fosse protagonizar a cinebiografia do Laurence Olivier. O filho de Odin é meio como se fosse o Conan ou o Tarzan. Aqui conta mais a postura, o sangue nos óio e o físico do jagunço. Fora que o rapaz nem é ruim, ainda mais beneficiado pelo fato de que a canastrice do Thor dos quadrinhos responde por boa parte do seu charme. E só não blasfemo que Anthony Hopkins nasceu para interpretar Odin porque esse posto já pertence a um certo psiquiatra glutão. Na época do casting, eu torcia por Stellan Skarsgård, por motivos óbvios, mas hoje vejo o quão sábia foi a escolha. Rene Russo, tadinha e ainda linda, teve suas cenas jazendo no Hel da sala de edição. Entrou muda e saiu quase calada. Não muito diferente da Frigga nos quadrinhos, por sinal. Já Colm Feore (esse cara me assusta) também foi desperdiçado, ainda que em menor escala.

Ironicamente, o papel de Loki era o mais traiçoeiro de compor. Facilmente poderia resvalar no histriônico, unidimensional e clichê. Uma verdadeira armadilha de urso que Tom Hiddleston soube evitar com notável destreza (lembra dessa expressão, fiel seguidor? 'Nuff said!). Seu Loki é conflituoso por natureza e tem seu caráter questionável, mas também consegue demonstrar dor e amargura diante de sua trágica situação (um imbróglio familiar interplanetário bem à Novos Deuses). No clímax do filme, Hiddleston manda um olhar de "você morreu pra mim" que é de cortar o coração e pendurá-lo em praça pública.

Os Três Guerreiros renderam a melhor piada do filme e, mesmo sendo esquisito ver um ex-Frank Castle pilotando a barriga do Volstagg, estavam muito bem caracterizados. Assim como - e comeria feliz - a mulher maravilha Jaimie Alexander recheando de curvas a armadura de Lady Sif e segurando o fator tomboy bem firme na coleira, afinal ela pode virar o interesse romântico do herói a qualquer momento, ou filme. Idris Elba, ameaçador. Até hoje não sei porquê o auê em torno da cor da pele do homem. A cota foi descarada, sim, mas ele consegue ser sensacional mesmo naquele modelito de rei da bateria. Ah, contextualmente... o Heimdall do filme não era germânico, nem caucasiano. Nem humano era. Reparou na altura dele em relação aos outros? Isso posto...

Do núcleo "turma de Asgard", senti falta do Balder. Talvez no próximo. Ou melhor, no próximo depois do próximo.


Skarsgård fez um melhor negócio ficando na pele do dr. Selvig mesmo. Além de coadjuvar neste filme, também foi um quase-MacGuffin em Os Vingadores e ainda pegou a continuação de Thor. Confesso que é um pouco estranho vê-lo tanto em filmes-pipoca, mas não tanto quanto ver a Kat Dennings como coadjuvante cômica meio sem ter nada pra fazer ali. Natalie Portman, que provavelmente ainda será adorável quando tiver uns 105 anos, encabeça o trio improvável com uma Jane Foster que não é enfermeira, mas uma astrofísica. Papel que ela interpreta com os pés nas costas e fazendo malabarismo com duas tochas, três gatinhos e quatro facas ginsu. Natalie é a Hit Girl da minha geração. E vem matando dragões há muitas eras antes de levar um Oscar pra casa. Foi bom vê-la ganhando uns milhões de doletas só pra se divertir, trocar umas ideias com o Branagh (a razão dela assinar o contrato) e dar uns amassos no galã musculoso. Ela merece.

O que faz Thor tão coxo quanto o dr. Donald Blake é sua falta de ambição. A cinematografia não chega a ser do tipo TV-movie, como os longas do Quarteto Fantástico, mas também não é muito mais além. A maior parte da verba destinada aos efeitos deve ter ficado nas contas de Asgard, porque na Terra o esquema é muito mais modesto. Toda a destruição do Destruidor (pleonasmo?) beira o inócuo, principalmente durante as investidas dos Três Guerreiros-mais-a-donzela, quando são simplesmente expelidos de um lado pro outros pelos raios do monstro. Thor conjurando o tornado mais fake do cinema e sua luta virtualmente inexistente com o Destruidor foi a cereja. Ou a framboesa. Nos quadrinhos, odes eram escritas em torno desse confronto titânico, que durava páginas a fio e, não raro, terminava mal pro loirão. Anticlímax é isso aí.

Sendo um pouco mais chato, o roteiro também não fez muita questão de esconder seus buracos. No ato final, os Três Guerreiros-mais-a-donzela desaparecem sem grandes explicações. Do mesmo jeito, Heimdall, que seria o cara que resolveria a parada ali pro lado dos mocinhos, evapora. E Odin não precisaria fazer absolutamente nenhuma escolha naquele momento, já recuperado do Sono e com seus superpoderes de deus bombando em suas sagradas veias. A impressão é que eles tinham uma agenda nas mãos, uma deadline no pescoço e nenhuma ideia brilhante naquele momento.

Por tudo o que já foi cometido em nome do personagem, Thor se sobressai com facilidade. Podia ter sido bem melhor? Vastamente. E tinha todas as condições pra isso. Essa permanece sendo minha maior frustração com o filme e que não influi no que ele realmente representa: uma super-produção no mínimo digna daquele Thor das HQs, que mesmo eu, com onze anos de idade, jamais acreditei que um dia sairia daquelas páginas para outro lugar que não fosse a minha imaginação fértil.

Sentimentos fortes no cinema aquele dia. Por um filme que se contentou em ser um mero passatempo.

Thor (EUA, 2011), 115 min.
Direção: Kenneth Branagh
Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston, Anthony Hopkins, Stellan Skarsgård, Kat Dennings, Idris Elba, Jaimie Alexander, Ray Stevenson, Clark Gregg, Colm Feore

domingo, 24 de janeiro de 2010

Marvel Zombies des-animator


Com ferramentas simples (YouTube, criatividade & falta do que fazer), o user whoiseyevan resolveu homenagear os Marvel Zombies, bem como as capas putrefactas do artista Arthur Suydam. Para tanto, injetou uma overdose de trioxyna nas intros de dois desenhos desanimados da Marvel - aqueles, do estúdio Grantray-Lawrence - e do desenho clássico do Quarteto pela Hanna-Barbera.

Sabiamente, ele manteve as trilhas originais embalando toda a tosqueira gore. O resultado é hilário, outstanding, awesome, ducaraio e outros predicados igualmente lisonjeiros.


Thor!


Coronel América!


Os Quatro Fantásticos!

sexta-feira, 2 de setembro de 2005

ENQUANTO ISSO, NO COMIC ART COMMUNITY

(sai clicando em cima)


Arte conceitual de Kojima Ayami para Castlevania - Curse of Darkness

Seven Soldiers Zatanna #4 Seven Soldiers Bulleteer #1
Ainda sonho com um filme da Zatanna com a Jennifer Connelly no papel... e um chamariz interessante à direita... ou melhor, dois...

Swamp Thing #21 O Deus do Trovão rende ótimas cenas!
Meu ídolo Eric Powell (The Goon) desenhando o Monstro do Pântano? Eu quero ver isto! Ao lado, uma bela arte de Ariel Olivetti... será o novo Esad Ribic?



THE FUTURE IS THE PAST BABY
O miolo de alguns dos álbuns que estão aí ao lado


THE CULT - LIVE MARQUEE LONDON MCMXCI
(Beggar's Banquet/1999)


Esse disco ao vivo é uma raridade na discografia do The Cult, o que é uma pena, pois é muito superior ao recente Live Cult. Gravado originalmente como um bootleg, Live Marquee London MCMXCI recebeu mais tarde uma encorpada técnica em estúdio. Nada muito radical (algumas entonações e regulagens de volume), o que lhe confere um clima de piratão bem produzido. E melhor, sem os famigerados overdubs. Está tudo lá como foi no show, inclusive com alguns ligeiros errinhos, o que deixa a coisa ainda mais autêntica (e rock 'n' roller).

O show, de 27/11/1991, traz todas as músicas que importam do Cult, em versões vigorosas e cheias de entrega. Tem músicas da fase inicial pós-punk/gótica, como Spiritwalker, Horse Nation, Nirvana, Love, Brother Wolf Sister Moon, Rain, porradas hard-stoneanas-ac/dczísticas como Lil' Devil, Wild Flower, Full Tilt, Love Removal Machine, e hits certeiros como Revolution, She Sells Sanctuary e Fire Woman. Showzão.

Ainda que freqüentemente associado à cena hard dos anos 80, o Cult se destacava fácil na multidão, seja pelas porradas do batera Michael Lee, pelas guitarradas do ótimo Billy Duffy ou pelos vocais quase olímpicos de Ian Astbury - que foi recrutado pela nova encarnação do The Doors.


THE KILLERS - HOT FUSS [LIMITED EDITION]
(Island/2005)


Bem, já fazia mesmo algum tempo que as bandas mais recentes andavam metendo o dedo na torta de amora dos anos 80. The Killers não se fez de rogado e enfiou logo o mãozão inteiro. O resultado é um assalto àquele som redondo, dançante, encorpado, cheio daqueles tecladinhos chicletudos que foram explorados à exaustão desde o fim do Joy Division. Hot Fuss é a trilha sonora daqueles inferninhos dance'n'roll de antigamente. Quer saber? Irresistível. Não é cabeção como o Interpol, vacilante como o Blur, nem deprê como o Coldplay. Muito pelo contrário. A banda consegue reeditar aquele mesmo climão de alegria, escapismo e satisfação, como há muito tempo não se (ou)via.

A seqüência de abertura é uma covardia pumperô. Logo de cara, Jenny Was a Friend of Mine já entrega ao que a banda veio, com aquele tecladinho synth-superbonder e os slaps do baixão em cima. Mr. Brightside é uma dance porrada que Andrew W.K. daria o braço direito pra ter composto. Smile Like You Mean It já é mais espaçosa, com o maldito teclado colando nos neurônios novamente e uma guitarra percussiva à The Edge. Já o megahit Somebody Told Me quebra todos os recordes de chicletitude estabelecidos pelo Gorillaz. Ainda bem que eu não ouço FM. Engraçado que dessa faixa em diante a banda emenda em uma sonzeira mais rebuscada, às vezes beirando o pós-punk à Gang Of Four, como All These Things I've Done, Andy You're a Star e Midnight Show. Mas também restam umas colas bem resistentes, como On Top (que lembra muito Trio) e a maresia à Madness de Glamourous Indie Rock 'nRoll.

Essa versão "limitada" (em tempos de web... há!) traz duas faixas-bônus: The Ballad of Michael Valentine, que lembra muito a Plastic Ono Elephant's Memory Band de John Lennon, e a atiradinha Under The Gun.

E honrando o espólio oitentista, The Killers também fez um cover para Why Don't You Find Out for Yourself, do Morrissey, que saiu em um single lançado na Inglaterra.

Mais sugestões de covers para os Killers:

After the Fire - Der Kommissar
The Romantics - Talking in Your Sleep
The Thompson Twins - Lies


SAXON - THE EAGLE HAS LANDED PART II (LIVE)
(CMC International/1996)


Egresso da cena NWOBHM, o Saxon nunca teve aquela mesma carga lírica tradicionalista de contemporâneos como o Iron Maiden, Judas Priest ou Tygers Of Pan Tang. Apesar da inegável veia heavy, o grupo era dono de uma pegada muito mais chutada, mais rocker. E sempre foi assim, o que impede que a banda seja contextualizada em "fases". O Saxon faz rock'n'roll estradeiro da mesma forma que AC/DC e Motörhead: all time.

Neste showzaço, desfilam todos os pontos altos dos então vinte e poucos anos da banda. Tem Dogs of War, Forever Free, Requiem, Princess of the Night, Light in the Sky, Refugee, Wheels of Steel, a levanta-estádio Crusader... na moral: este disco é um arraso do início ao fim. E não poderia deixar de destacar os vocais e a simpatia do frontman Biff Byford. Ele bota o público pra comer na sua mão e deixa transparecer o quanto a banda - que já esteve no Brasil um punhado de vezes - deve ser arrasadora ao vivo.


THE MIST - THE HANGMAN TREE
(Cogumelo Records/1992)


Esse disco pertence à melhor safra do rock pesado brazuca e é um dos mais representativos daquela época. O ano era 1992 e o frisson causado pelo Rock In Rio 2 fazia coro com uma cena prolífica que incluía bandas como Sepultura, Korzus, Overdose, Sarcófago, Dorsal Atlântica, Witchhammer, Atommica, Holocausto, entre tantas outras - a maioria do cast quase heróico da Cogumelo Records. E, mais importante, sempre com uma alta qualidade, tanto de produça quanto de performance musical.

Formado pelo ex-Chakal Vladimir Korg (vocal), Jairo Guedz (guitarra), Marcello Diaz (baixo/teclados) e Christiano Salles (bateria), o grupo mineiro The Mist estreou em 1989, com o cultuado Phantasmagoria. Nesse disco, a mistura de thrash, doom e gothic com vocais cavernosos (parecia um Lemmy Kilmister morto-vivo), já era bem eficiente, mas chegou quase à perfeição no segundo álbum, The Hangman Tree. Pauladas assustadoras como Scarecrow, Falling Into My Inner Abyss, Broken Toys, Leave Me Alone e Peter Pan Against the World, dividem espaço com momentos mais soturnos e introspectivos, como trechos da faixa de abertura, God of Black and White Images, e a faixa-título (fragmentada em duas partes). E tudo sendo mandado no clima de pesadelo mais tenebroso que se possa imaginar.


VIPER - EVOLUTION
(Eldorado/1992)


Até 1994, achei que essa banda fosse a the next big thing do brazilian metal for export. Um acidente de percurso (mudança para pop rock com letras em português) tirou o Viper dos trilhos. O grupo perdeu o mercado externo e não conseguiu emplacar aqui dentro. Pena. Livre das amarras do heavy tradicional que praticava no começo (quando contava com o André Matos na formação), o Viper optou pelo básico e acertou em cheio. Evolution é um dos álbuns de rock mais divertidos já lançados por um grupo brasileiro.

Power, speed, heavy, melodic, hard, enfim... quase todo o combo metálico comparece nesse disco energético e festeiro. Evolution é disco de festa por excelência. É rock de arena ganchudo e descarado. Tenta ouvir o arregaço Rebel Maniac sem berrar o refrão. Ou a faixa-título, com uma esperta jogada de tempo no andamento. Já a balada hard Dead Light te faz aumentar o som quase que inconscientemente. E as guitarras de The Shelter? Nossa senhora. E Still the Same? Não consigo imaginar um lugar melhor pra ouvir essa música do que numa Harley Davidson à mil por hora na estrada. É uma paulada atrás da outra. Quase no finalzinho você ainda pode torcer o nariz pra baladinha The Spreading Soul, mas duvido que consiga ficar incólume por muito tempo...

Uma única reserva eu faço à versão speed metal para o clássico We Will Rock You, do Queen. Hino lento e pesado, esse tour-de-force da brodagem etílica ficou banal em alta velocidade. Mas é perdoável.


dogg - gripado e enchendo o talo de café!