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segunda-feira, 18 de abril de 2022

Guns, Love and Thunder N' Roses

Detratores e amantes de Thor: Ragnarok, treimei-vos e regozijai-vos: aportou o trailer de Thor: Amor e Trovão.


É como receber uma transfusão do sangue do Taika Waititi chapado de LSD. Tem o aspecto da fanfarronice, incorreção e otimismo inabalável, que, misturado ao hino dos gunners (e esse deve ter sido o cheque mais gordo que Slash recebe desde 1996), dá uma sensação meio James Gunn à coisa toda. Finalmente vemos a Natalie Portman como a poseur Thor Jane Foster e ainda não dá pra ver o Christian Bale soterrado sob quilos de látex como o temível Gorr, mas a referência ao Carniceiro dos Deuses comparece, em alto e bom som.

Oito de julho (?) estarei lá. Tudo pela pipoca & guaraná.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

We have a Hiddleston


Thor: O Mundo Sombrio adota parcialmente a estratégia bigger-stronger-faster das sequências cinematográficas. No caso, maximizando apenas alguns dos ganchos do Thor edição #1, sendo o mais proeminente o inusitado humor físico - com resultados pra lá de variáveis, é verdade, mas, ei, estamos vivendo num mundo onde se produzem continuações ao vivo & arrasa-quarteirão do Thor... o quão orgástico é isso pra quem um dia teve que se contentar com os desenhos inanimados da Grantray-Lawrence? Além do mais, se na estreia do asgardiano imperava uma vibração condescendente e refém do evento Os Vingadores, O Mundo Sombrio se revela mais independente, malandro e ambicioso. Ao menos bem mais do que, por exemplo, Homem de Ferro 3.

Uma das maiores qualidades do filme é justamente a valorização da química proposta na primeira aventura. Voltam todos os elementos grandiosos/hollywoodianos de Asgard e o microcosmo indie terrestre - algo montado até com certa ousadia pelo diretor Alan Taylor e pelo roteiro a 3 mãos (chutando que nenhum é ambidestro) de Christopher Yost, dos divertidos Hulk vs., Christopher Markus e Stephen McFeely, que souberam extrair novamente bons frutos da colisão improvável entre esses dois extremos. Nota-se que não apenas apostam, mas de fato acreditam no material que herdaram. Claro, nem tudo é perfeito e o filme tem lá sua dose brobdingnaguiana de clichês e forçadas de amizade, mas até aí, a cota está dentro dos limites do cinema mainstream - não só o dos EUA.

A abertura de O Mundo Sombrio é praticamente um revamp da intro do primeiro filme, retrocedendo em 1 geração a família de Odin e apagando os Gigantes do Gelo para colar os Elfos Negros por cima. Remanescente de uma época em que ainda não existia a luz, a raça ancestral é liderada por Malekith, que pretende usar uma força obscura chamada Éter para jogar o universo de volta à escuridão, mas é derrotado por Bor, governante de Asgard e pai de Odin. Nesse ponto fiquei pensando como seria interessante uma abordagem maior desse personagem, que, apesar de sábio e o deus-in-chief, transparecia ser pouco mais que um guerreiro rústico e selvagem, fazendo o contingente asgardiano atual parecer um catálogo de modelos da Gucci. Só que a batalha é mostrada já em seus momentos finais (o ator, Tony Curran, sequer é creditado) e a narração em off de Anthony Hopkins, o Odin em pessoa, logo dá lugar a uma sitcom na Terra. Bizarro assim. Mas um bizarro bom.

Por incrível que pareça, esse crossover de gêneros funciona, já que o roteiro é bastante espirituoso ao desenvolver o segmento pessoas/rotina/perrengues do dia-a-dia. E o elenco, agora radicado em Londres, retoma a sintonia: Natalie Portman reprisa sua Jane Foster amargando uma fossa pelo sumiço do seu Deus do Trovão favorito enquanto tenta fazer a fila andar a contragosto (pueril, mas ótimo momento o do encontro no restaurante, graças ao timing cômico de seu parceiro de cena, o inglês Chris O'Dowd); Stellan Skarsgård faz um dr. Erik Selvig completamente noiado após sua experiência em Os Vingadores (impagável, mas eu podia passar sem vê-lo balangando as castanhas em Stonehenge); Kat Dennings continua fazendo com sua Darcy o que faz com toda personagem que cai em suas mãos, ou seja, cara de whatever; já o novato Jonathan Howard, que interpreta o estagiário Ian, é um raro caso de coadjuvante cômico da coadjuvante cômica (Darcy), também não muito feliz em nos fazer felizes.


Enquanto na Terra a vida segue, em Asgard, Thor (Chris Hemsworth, completamente à vontade) e seus camaradas concluem uma guerra de 2 anos que pacificou os Nove Reinos após as traquinagens de Loki - que pode até não ser um deus per se, mas com certeza dividiu o calendário de Tom Hiddleston em "antes de Loki" e "depois de Loki". Tudo corre bem, Asgard está em paz, Loki está em cana e Thor vê a sucessão de Odin cada vez mais próxima, mas aí o caldo entorna com o retorno de Malekith - que não desistiu de restabelecer seu antigo way of life, não hesitando em sacrificar seus semelhantes pela causa - e do reaparecimento do Éter, o elemento que fará a diferença numa guerra contra a toda-poderosa Asgard.

Há uma metáfora redondinha aí sobre a política externa dos EUA e seus reflexos pelo mundo, com direito à nave batendo em torre e tudo. É o tipo da coisa que o cinemão hollywoodiano vomita sem perceber e que faz o Žižek lavar a égua com Lux Luxo. Mas vou praticar o silêncio de rádio aí, pois a vida é muito curta. Apenas uma coisa: não há lugar melhor para captar o pensamento norte-americano, conservador ou liberal que seja, do que num blockbuster. Não pela mensagem que eles querem transmitir, mas pela mensagem que eles nem imaginam que estão transmitindo. Spy this, NSA.

Não deixa de ser instigante a estética Terra-Média-encontra-Guerra-nas-Estrelas da periferia asgardiana. Um saudável fuzuê pop-cultural com trolls, alienígenas e cavaleiros se digladiando com machados, espadas e armas de raios é a liberdade criativa primitive-future definitiva. Sword & sorcery &, porque não, sci-fi. He-Man e os Defensores do Universo agradecem. Thundercats e Thundarr, o bárbaro, mais ainda. Ver a Natalie Portman mais uma vez se aventurando nesse contexto foi um agradável déjà vu. Igualmente curioso é o centrão de Asgard, com arquitetura à Oscar Niemeyer in the 25th Century e naves "aladas" que lembram coisas d'O Incal, do mestre Moebius. Meio acachapante ver isso com tamanha amplificação sem esperar. Durante a invasão dos Elfos Negros eu queria mais era descer ali numa avenida qualquer e interagir com os cidadãos, conhecer a gastronomia local, bater umas fotos...

Esse esmero visual se repete no filme inteiro harmoniosamente; ao contrário do anterior, não há efeitos de 1ª convivendo com outros meia-boca. Pena que o coração nem sempre esteve no lugar certo. Um bom exemplo foi a deliciosa referência sabor Harryhausen à primeira ameaça que Thor enfrentou nos quadrinhos - um legítimo kronan da raça de guerreiros de pedra que o loirão combateu em sua estreia, muito bem-feito e impressionante. Aquilo foi de encher de amor e ternura o coração fanboy, mas a conclusão incrivelmente abrupta foi como levar um fora via SMS com emoticon triste no final. Por ali já dava pra ver que o cineasta Alan Taylor (claramente um não-nerd), ao contrário de Joss Whedon (obviamente um nerd), não ia se render tão fácil ao doce prazer culpado de gastar alguns milhões do orçamento em uma sequência de porradaria-pela-porradaria igual aos quadrinhos.

Aliás, Taylor deixa seu DNA profissional bem impresso ao longo da trama, particularmente a experiência acumulada em séries de ponta. As conspirações, subtramas, dramas familiares e anti-heroísmo têm um pé fincado em Game of Thrones, Roma e Família Soprano, sempre para o melhor. Em contrapartida, o delivery escancarado pra mocinha boba suspirar alto denuncia os vários episódios que dirigiu em Sex and the City. Pela primeira vez as namoradinhas de plantão vão gostar de ter ficado até o fim dos créditos. E pela primeira vez, eles não.


O Malekith do ótimo Christopher Eccleston é mais sombrio e unidimensional que o dos quadrinhos, onde era um tipo manipulador e shapeshifter, Loki-like. Em compensação, era bem menos poderoso, então fica elas por elas. Kurse nos quadrinhos era mais legal, mas esteticamente impraticável num filme - podiam ao menos ter poupado aquela bobagem de guerreiros "kursed". Já Odin, está mais irascível e menos ponderado, o que é compreensível dadas as recentes guerras e turbulências familiares, enquanto a Frigga de Rene Russo finalmente tem algo a dizer e fazer, sendo vital para uma das reviravoltas da trama.

Os Três Guerreiros tiveram uma participação tímida (Hogun foi dispensado logo de cara), com exceção do novo Fran "Chuck-você-por-aqui?!" dal, estranhamente destacado e mostrando que o agente de Zachary Levi é dos bons. E foi um crime o desperdício da Sif da deusa Jaimie Alexander. Além de boa atriz que convence nas cenas de ação, as diferenças parsecquicas entre Sif e Jane renderiam um triângulo promissor com o rapagão do martelo, o que foi tratado de forma apenas superficial.

Um dos aspectos discutíveis foi a superdosagem de humor, principalmente na 2ª metade. Se no filme de Kenneth Branagh o clima jovial já trafegava no limite, aqui a coisa acelera na ladeira - a já citada presença de dois coadjuvantes cômicos, mais Skarsgård no Jackass mode, não é menos do que sintomático. Chega a prejudicar a sequência final, diluindo qualquer tensão e sensação de perigo relativa ao ataque dos Elfos Negros em Londres. Até a luta entre Thor e o Malekith deusificado pelo Éter - bacana e expensive, se revezando entre dois mundos - ganhou toques engraçadinhos. Era só o universo conhecido que estava em jogo ali.

Fora que já deu assistir vilões de filmes conquistando seus respectivos MacGuffins-fontes-inesgotáveis-de-poder, pra depois não saber o que fazer com eles e, pior, serem derrotados num mano a mano com o herói. Thanos, a maior antítese disso nos quadrinhos, que se cuide.

Algumas inconsistências também batem ponto no roteiro, sendo a maioria TOCs aparentemente incuráveis do cinemão pop. Então dá pra eleger uma preferida e abstrair o resto em nome da busca pela felicidade: fico com a cena em que Jane e Thor se abrigam na mesma caverna onde está o portal de convergência com a Terra, no exato momento em que o celular dela está tocando por lá. Uma beleza de atentado ao item #19 das regras do bom roteiro propostas por Emma Coats, da Pixar. Escolhi bem ou não?


Como sequência, Thor: O Mundo Sombrio cumpre seu papel sem fugir ao script, não fosse um trunfo que o projeta sensivelmente acima do padrão: Tom Hiddleston, sério candidato a maior rockstar da Marvel Studios pós-Robert Downey Jr., talvez até apressando esse fim de era. Com um senso soberbo de continuidade, o ator não parou de evoluir e enriquecer o personagem em relação às já memoráveis performances em Thor e Os Vingadores - até porquê é evidente que ele está se divertindo pra caralho ali - e ainda gera interesse de sobra para justificar novas situações e aventuras. Solo, inclusive.

Ao final, fiquei muito mais curioso pelo "what's next?" de Loki do que o de seu meio-irmão. Fez por merecer essa sua "trilogia trapaceira" (a única do gênero!) e, tomara, os vários capítulos que virão, como deixa antever a conclusão.

Em Loki eu confio. Epa...

Thor: O Mundo Sombrio ("Thor: The Dark World", Estados Unidos, 2013), 111 min.
Direção: Alan Taylor
Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Kat Dennings, Stellan Skarsgård, Tom Hiddleston, Anthony Hopkins, Christopher Eccleston, Jaimie Alexander, Zachary Levi, Ray Stevenson, Idris Elba, Rene Russo

Ps: então... Guardiões da Galáxia será esse camp todo mesmo? Schumachers me mordam.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Hoje é Thor's day!


Mais do que qualquer outro projeto da fase 1 da Marvel Studios, a ideia de uma adaptação do Thor era, de longe, a mais cabulosa. Difícil até de visualizar em minhas adaptaçõezinhas live-action mentais cultivadas em lugares edificantes como filas de banco, ônibus lotados, salinhas de espera e concursos do Banco do Brasil. Tudo bem, um inventor bilionário numa armadura voadora e um supersoldado da 2ª Guerra com síndrome de Rip van Winkle foram belas amostras do nonsense que permeia toda essa campanha de adaptações da Marvel, mas ao menos esses tiveram suas conexões com a realidade cimentadas com resquícios empíricos à base de ciência, empreendedorismo e futurismo pra viagem. Já um antigo deus nórdico pagão...

Mesmo com o conceito já filtrado e ocidentalizado pela "versão Marvel" dos precursores Stan Lee, Jack Kirby e Larry Lieber (Thor acabou virando a puta paga do domínio público: a DC tem dois, a Image também e até a ilustre America's Best Comics deu uma bicada), a simples ideia de personagens mágicos surgindo em cena por si já perfaz uma ruptura do, arram, dogma tecnocrata vigente naquele universo cinematográfico. Se contextualmente era um backflip conceitual, comercialmente, porém, parecia o próximo passo lógico a ser dado. Afinal, se Voldemort e Sauron viraram rockstars, porque não Surtur?

Primeira boa surpresa: a escolha de Kenneth Branagh para a direção, puro futebol-arte. Quem mais qualificado para ilustrar poder, suntuosidade, loucura, tragédia, horror e dramaticidade épicas (ou divinas?) que o gênio que transmigrou Hamlet inteiro para um filme de quatro embasbacantes horas que passam voando? O horizonte ficou ainda mais promissor com a descoberta de que Branagh, além de um excelente vendedor de seus projetos, também era um profundo conhecedor do terreno em que estava pisando. Pra mim, era razão suficiente para celebrar a vida tomando porres de hidromel nas tavernas mais vis do reino.


Bom, Thor não teve Surtur, mas teve Loki, o deus da trapaça e das traquinagens, o Saci-Pererê do folclore escandinavo. Que por pouco não dribla todo o contingente celestial de Asgard e sai correndo com a taça de melhor personagem debaixo do braço. Toda divindade, mágica e mística foram jogadas na sacola da ciência do imponderável, entre planos interdimensionais e galáxias perdidas éter afora n'algum ponto indefinido das 11 supercordas. Resumindo, não eram deuses, eram astronautas. Enquanto isso, Branagh operava bem abaixo de suas capacidades, relegado quase a um timoneiro de luxo. Não de uma nau de guerra viking, mas de um caríssimo iate multiplex em meio a recifes e corais ameaçadores. Sem dúvida, a firma não quis arriscar e limitou os aguerridos movimentos wagnerianos do homem até o limite da completa descaracterização. Só isso explica porque o tom do filme saiu tão soft. Claro que eu não esperava por um Valhalla Rising 2: Ragnarök Now, mas esperava menos ainda pelos açucarados cubinhos de comédia romântica que frequentemente se dissolviam na tela.

Mas pensando bem, salvo em reimaginações autorais, o perfil do Deus do Trovão nos quadrinhos regulares da Marvel nunca foi o do viking primevo e animalesco empunhando um martelo do tamanho de um poste. E em seu universo havia ainda mais conflitinhos pessoais/amorosos do que no filme. Basta lembrar de seus alter-egos com vidas sociais bastante agitadas para um hospedeiro espiritual. O Thor do filme, além de cortar todo o papo furado de identidade secreta disfuncional para os dias atuais (paralelo ao Tony Stark na conclusão de Homem de Ferro), num primeiro momento faz questão de se auto-afirmar como o übermensch tanto no céu (Asgard/Jotunheim) quando na terra (Terra). Não o suficiente para configurá-lo como um überasshole, mas necessário para que sua transformação de um deus para uma pessoa melhor servisse como o rito de passagem que Odin tramava para seu filho e sucessor.

Do ponto A (o Thor imaturo e impulsivo) até o ponto B (o Thor paciente e compassivo) poderia muito bem ter sido um combinado entre a graphic Thor: A Era do Trovão, de Matt Fraction, com o Thor humanista/humanizado do universo Ultimate - especialmente no que tange à sua via crucis terrena.

E não faltam referências ao Cristianismo em Thor.


Muitos fragmentos da narrativa cristã têm passe livre na história, não só nos subtextos do roteiro, como também no timing, na dimensão dos eventos, nas motivações e principalmente no enorme apelo estético de algumas cenas. Temos lá Odin enviando seu filho à Terra despido de toda sua glória e completamente mortal; temos os amigos recém-feitos que, como bons discípulos hebreus, o seguem e o auxiliam em sua jornada, mesmo reprimidos por forças governamentais; seus ensinamentos meio revolucionários meio transcendentais meio bicho-grilo-mermão a esses mesmos amigos-discípulos; Thor se sentindo abandonado por seu pai todo-poderoso e quase perguntando o porquê disso - nem precisava -, reeditando uma famosa cena de sua versão Ultimate; a salvação através do sacrifício; a redenção e a ascensão aos céus; e, claro, a queda do vilão chifrudo do firmamento direto para o buraco (de minhoca?). E com certeza teve mais, muito mais.

Costumo pagar certo pau pro J. Michael Straczynski, que co-escreveu a história, mas gosto de pensar nessas analogias mítico-religiosas como um código Morse transgressor que Branagh enviou subliminarmente aos seus admiradores bem debaixo dos narizes dos censores da Disney-Marvel (eu copiei, Branagh, eu copiei, câmbio!). Porque não devia ser do interesse do estúdio bancar um longa com qualquer outra objetivo que não o de acessório promocional para o blockbuster que foi Os Vingadores. E de todos os filmes dessa primeira safra, Thor foi o que mais teve cara de brinde.

Isso a despeito dos valores de produção, explodindo na telona com a força de mil megatons nos segmentos passados em Asgard (uma magnífica renderização tridimensional da arte de Walter Simonson - a versão 3D do filme, no entanto, foi uma belíssima porcaria). Nem em meus sonhos marvetes mais psicodélicos pude vislumbrar um reino tão grandioso e deslumbrante, ainda que Bifröst pareça dar direto no Studio 54 em plena efervescência disco. Poderia até ter saído diferente, mas dificilmente melhorado - é uma ponte de arco-íris, queria o quê?

O mesmo alto padrão criativo se repete no CGI em torno dos Nove Mundos de Yggdrasil, onde o espaço mais parece um óleo sobre tela vivo retratando os efeitos especiais do filme Contato. A tela verde ainda não é amigável à presença dos atores, mas o espetáculo visual é inegável. Meus olhos saíram de barriga cheia.


Chris Hemsworth provavelmente é o melhor Thor Odinson que o cinema atual poderia vender. Não é como se ele fosse protagonizar a cinebiografia do Laurence Olivier. O filho de Odin é meio como se fosse o Conan ou o Tarzan. Aqui conta mais a postura, o sangue nos óio e o físico do jagunço. Fora que o rapaz nem é ruim, ainda mais beneficiado pelo fato de que a canastrice do Thor dos quadrinhos responde por boa parte do seu charme. E só não blasfemo que Anthony Hopkins nasceu para interpretar Odin porque esse posto já pertence a um certo psiquiatra glutão. Na época do casting, eu torcia por Stellan Skarsgård, por motivos óbvios, mas hoje vejo o quão sábia foi a escolha. Rene Russo, tadinha e ainda linda, teve suas cenas jazendo no Hel da sala de edição. Entrou muda e saiu quase calada. Não muito diferente da Frigga nos quadrinhos, por sinal. Já Colm Feore (esse cara me assusta) também foi desperdiçado, ainda que em menor escala.

Ironicamente, o papel de Loki era o mais traiçoeiro de compor. Facilmente poderia resvalar no histriônico, unidimensional e clichê. Uma verdadeira armadilha de urso que Tom Hiddleston soube evitar com notável destreza (lembra dessa expressão, fiel seguidor? 'Nuff said!). Seu Loki é conflituoso por natureza e tem seu caráter questionável, mas também consegue demonstrar dor e amargura diante de sua trágica situação (um imbróglio familiar interplanetário bem à Novos Deuses). No clímax do filme, Hiddleston manda um olhar de "você morreu pra mim" que é de cortar o coração e pendurá-lo em praça pública.

Os Três Guerreiros renderam a melhor piada do filme e, mesmo sendo esquisito ver um ex-Frank Castle pilotando a barriga do Volstagg, estavam muito bem caracterizados. Assim como - e comeria feliz - a mulher maravilha Jaimie Alexander recheando de curvas a armadura de Lady Sif e segurando o fator tomboy bem firme na coleira, afinal ela pode virar o interesse romântico do herói a qualquer momento, ou filme. Idris Elba, ameaçador. Até hoje não sei porquê o auê em torno da cor da pele do homem. A cota foi descarada, sim, mas ele consegue ser sensacional mesmo naquele modelito de rei da bateria. Ah, contextualmente... o Heimdall do filme não era germânico, nem caucasiano. Nem humano era. Reparou na altura dele em relação aos outros? Isso posto...

Do núcleo "turma de Asgard", senti falta do Balder. Talvez no próximo. Ou melhor, no próximo depois do próximo.


Skarsgård fez um melhor negócio ficando na pele do dr. Selvig mesmo. Além de coadjuvar neste filme, também foi um quase-MacGuffin em Os Vingadores e ainda pegou a continuação de Thor. Confesso que é um pouco estranho vê-lo tanto em filmes-pipoca, mas não tanto quanto ver a Kat Dennings como coadjuvante cômica meio sem ter nada pra fazer ali. Natalie Portman, que provavelmente ainda será adorável quando tiver uns 105 anos, encabeça o trio improvável com uma Jane Foster que não é enfermeira, mas uma astrofísica. Papel que ela interpreta com os pés nas costas e fazendo malabarismo com duas tochas, três gatinhos e quatro facas ginsu. Natalie é a Hit Girl da minha geração. E vem matando dragões há muitas eras antes de levar um Oscar pra casa. Foi bom vê-la ganhando uns milhões de doletas só pra se divertir, trocar umas ideias com o Branagh (a razão dela assinar o contrato) e dar uns amassos no galã musculoso. Ela merece.

O que faz Thor tão coxo quanto o dr. Donald Blake é sua falta de ambição. A cinematografia não chega a ser do tipo TV-movie, como os longas do Quarteto Fantástico, mas também não é muito mais além. A maior parte da verba destinada aos efeitos deve ter ficado nas contas de Asgard, porque na Terra o esquema é muito mais modesto. Toda a destruição do Destruidor (pleonasmo?) beira o inócuo, principalmente durante as investidas dos Três Guerreiros-mais-a-donzela, quando são simplesmente expelidos de um lado pro outros pelos raios do monstro. Thor conjurando o tornado mais fake do cinema e sua luta virtualmente inexistente com o Destruidor foi a cereja. Ou a framboesa. Nos quadrinhos, odes eram escritas em torno desse confronto titânico, que durava páginas a fio e, não raro, terminava mal pro loirão. Anticlímax é isso aí.

Sendo um pouco mais chato, o roteiro também não fez muita questão de esconder seus buracos. No ato final, os Três Guerreiros-mais-a-donzela desaparecem sem grandes explicações. Do mesmo jeito, Heimdall, que seria o cara que resolveria a parada ali pro lado dos mocinhos, evapora. E Odin não precisaria fazer absolutamente nenhuma escolha naquele momento, já recuperado do Sono e com seus superpoderes de deus bombando em suas sagradas veias. A impressão é que eles tinham uma agenda nas mãos, uma deadline no pescoço e nenhuma ideia brilhante naquele momento.

Por tudo o que já foi cometido em nome do personagem, Thor se sobressai com facilidade. Podia ter sido bem melhor? Vastamente. E tinha todas as condições pra isso. Essa permanece sendo minha maior frustração com o filme e que não influi no que ele realmente representa: uma super-produção no mínimo digna daquele Thor das HQs, que mesmo eu, com onze anos de idade, jamais acreditei que um dia sairia daquelas páginas para outro lugar que não fosse a minha imaginação fértil.

Sentimentos fortes no cinema aquele dia. Por um filme que se contentou em ser um mero passatempo.

Thor (EUA, 2011), 115 min.
Direção: Kenneth Branagh
Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston, Anthony Hopkins, Stellan Skarsgård, Kat Dennings, Idris Elba, Jaimie Alexander, Ray Stevenson, Clark Gregg, Colm Feore

terça-feira, 11 de abril de 2006

QUE PAÍS É ESTE


"Estamos em 1988 agora. Margaret Thatcher está entrando em seu terceiro mandato e falando confiante de uma aliança inquebrantável dos Conservadores no próximo século. Minha filha mais jovem tem sete anos, e um jornal tablóide está circulando a idéia de campos de concentração para pessoas com AIDS. Os soldados das tropas de choque usam visores negros, bem como seus cavalos, e suas unidades móveis têm câmeras de vídeo rotativas instalados no capô. O governo expressou o desejo de erradicar a homossexualidade e as pessoas já ficam especulando contra qual outra minoria irá legislar. Estou pensando em reunir a família e deixar o país nos próximos anos. Este lugar está virando uma terra fria e hostil, e eu não gosto mais daqui."
Alan Moore, março de 1988

Anos após a publicação original de V de Vingança, Alan Moore ainda penava com o cenário político de sua terra natal. Fascismo imperialista de extrema direita ditando as regras do jogo, em plena Guerra Fria. Reagan e Thatcher caminhando juntos e antevendo um futuro em chamas. Era desse futuro que tratava V, obra clássica que Moore desenvolveu ao lado do desenhista David Lloyd. Apesar de ainda em início de carreira, Moore discorre com maestria sobre temas não-usuais como favorecimento político, massificação e manipulação da mídia (isso te lembra alguma coisa?). Outro ponto que sempre me interessou em V, foi a opção do autor em observar de perto o impacto dessa repressão extrema sobre o cidadão comum. Mais ainda, sobre os próprios agentes do autoritarismo. O tal "elemento humano" que a Máquina é incapaz de processar com exatidão.

V apresentava um naipe de personagens complexos, tridimensionais, cada um enfrentando o seu próprio drama particular. Além de estarem de alguma forma ligados ao status quo, a única relação entre eles era a conseqüência das ações de um terrorista auto-entitulado V (ou "Codinome V"). Nada se sabe a respeito do indivíduo, apenas o que ele mesmo faz questão de deixar claro: travestido de Guy Fawkes (genial idéia de Lloyd, Moore odeia admitir), V faz de sua estréia um tributo ao mesmo e explode as casas do Parlamento britânico. Momentos antes, ele havia trucidado três agentes do governo (policiais à paisana, denominados "homens-dedo") para salvar a desesperada Evey Hammond da morte certa. Isso, logo nas primeiras páginas da graphic novel. A partir daí, Moore traça um painel amargo do que pode acontecer quando as pessoas erradas estão no poder. E faz questão de lembrar que a diferença pode sim ser feita por uma pessoa - ou uma idéia.


Agora, fãs da clássica Vendetta, vamos dar as mãos: que susto levamos, hein. Adaptação cinematográfica hollywoodiana feita no controle remoto por Matrix's Larry & Andy Wachowski? E quando soltaram aquele trailer japonês cheio de caratê e música tecno? Brrrr... gotas frias de suor caindo com efeito bullet-time. Po-rém... pensando friamente, os caras têm sim uma boa experiência no quesito "No Future/Fuck The System" - talvez sejam os profissionais top de linha no assunto atualmente - o que é, sem dúvida, indispensável para dar vazão à abordagem emputecida que Moore impregnou no texto original. E o diretor James McTeigue se mostra um controle remoto daqueles do tipo "universal", hiper-versátil. É dono de uma bela folha de serviços em blockbusters, como diretor de 2ª unidade e diretor assistente (em dois episódios de Star Wars e nos três, oohh... Matrixes), o que, categoricamente, não quer dizer porra nenhuma.

Mas nem tudo foi baixa expectativa. Acho humanamente impossível algum admirador de V não ter comemorado a inclusão de Natalie Portman no cast. Quase não consigo imaginar outra atriz melhor no papel de Evey (quase). A aura inocente, a jovialidade (aparentemente eterna), o olhar mezzo estarrecido mezzo intrigado, e, claro, sua beleza natural irresistível, seja pra homem, mulher ou GLS (desafio qualquer um a não ser um natalieportmanssexual). E ela ainda tem um background interessante com esta motivação em particular. A primeira vez que vi Natalie foi em O Profissional, aquela belezura de filme em que ela, ainda molequinha, fazia um mix de mocinha-em-perigo com sidekick de uma força da natureza ambulante, encarnada pelo Jean Reno. Juntos, eles enfrentavam a personificação de um sistema caótico e corrupto - o melhor papel de vilão do Gary Oldman. E ela roubou a cena dos dois. Perfeita. Já estava preparada para este papel desde aquela época. Tá contratada.

"Não há carne ou sangue dentro deste manto para morrerem. Há apenas uma idéia. Idéias são à prova de balas."
Codinome V

Uma pequena confissão: após meses acompanhando os percalços da produção, não sei porquê cargas d'água, acabei entrando no cinema sem a mínima idéia de quem interpretaria V. Incrível. Pode ter sido apenas uma monumental falta de atenção, mas prefiro acreditar que foi influência direta da revista, que minimizava ao zero absoluto a importância individual neste caso (afinal, ele representava, antes de tudo, "uma idéia").

Corta pra hq novamente (pulem esta parte, desafortunados que ainda não leram V... há spoilers aqui):

Quando li V pela primeira vez, eu já estava tão embriagado por aquele ideal libertário, que cheguei a torcer para que Evey não retirasse a máscara de V, já moribundo. No começo, é claro que estava curioso pra saber como ele era. Mas depois de toda aquela dicotomia revolucionária e subversiva, - e já totalmente "convertido" - fiquei com medo de virar a página e me sujeitar à uma desmistificação abrupta daqueles conceitos - que passei a tomar como preciosas informações. Ou que isso acarretasse o fim daquela viagem (cacete... Moore e seus argumentos que transcendem o final físico da história. Espero que este legado esteja sendo bem rateado por aí, pois de uns dias pra cá ando pensando muito nisto).


Hugo Weaving talvez não tenha o timbre de voz que eu imaginava (detalhe que, neste personagem, leva uns 90% do carisma). Pra mim, seria algo mais suave e melodioso. Em todo caso, até pelo tom áspero e o fôlego filhadaputa, a já conhecida mis-en-scene vocal do ator garantem a diversão (pô, a caricatura que ele fazia com o Agente Smith era demais)... e insólita, diga-se. Recitar riminhas complicadas pouco antes de deitar uns seis na mãozada é digno daquela reprise de Laranja Mecânica. Ultra-violência shakespieriana! Felizmente, as cenas de luta são filmadas de maneira digna, sem muitas novidades modernosas. Aqui não há nenhum pulinho, seguido de loop em 360º e chutinho que joga algum infeliz pra longe. As lutas são honestas, as facas são altamente letais (e estavam na hq... são faquinhas super-idôneas!) e as coreografias são decentes (a melhor foi a da fuga na estação de TV). Pero hay que endurecerse... a seqüência final foi inegavelmente matrixiana. Não que eu vá ignorar o que isso tecnicamente ofereceu de bom até certo ponto, mas ver as faquinhas girando em slow-motion-querendo-ser-bullet-time me irritou sobremaneira. Preciosismo altamente dispensável.

O produtor Joel Silver andou falando que Alan Moore só ficaria satisfeito com o roteiro se cada palavra do texto original fosse transcrita. Quem dera. Mas o trabalho de adaptação foi respeitoso em relação ao conceito, e, ao mesmo tempo, pra lá de ousado. O resultado foi bastante funcional. Os puristas vão engasgar com a pipoca devido ao efeito impiedoso da condensação e com a semi-inversão na ordem dos acontecimentos (disto eu gostei muito). E os cortes? O supercomputador Destino não aparece, assim como a obsessão do Líder Sutler (o grande John Hurt, desperdiçado). Também não aparecem personagens-chave que fizeram toda a diferença, como a ambiciosa Helen Heyes e a vitimizada Rosemary Almond. O assassinato de Lewis Prothero - ex-"Voz do Destino", rebatizado "Voz de Londres" - foi relegado à uma seqüência padrão que passa longe daquela maravilha ritual vista na hq (aquilo sim era uma vendetta!). Já Gordon Deitrich não pega Evey (muuuuito pelo contrário...), justamente pra não ofuscar uma infeliz opção do roteiro quase na reta final. E Stephen Rea, um ator que eu admiro muito e também nem imaginava que estaria em V, caiu como uma luva no papel de Edward Finch - papel este que seria memorável, caso não tivesse um final tão alterado.


Mas o que aparece transposto literalmente chega a ser emocionante. O processo de "purificação espiritual" a que Evey é submetida ficou uma beleza (e prova que Natalie Portman fica bonita até azul com bolinhas amarelas). As cenas e os flashbacks relacionados à carta sufocante de Valerie ficaram perfeitas, talvez o auge dramático do filme. Ótimas as seqüências de V despachando a amargurada Doutora Delia e o repugnante Bispo Lilliman. Irretocáveis.

Eu defendo até a atualização da geopolítica envolvida. Muito se fala que as referências ali são ao W. Bush way of life, e são mesmo. Fazer o quê, se a Inglaterra andou importando alguns mal-costumes de sua ex-colônia (vide a co-autoria na invasão ao Iraque e o caso Jean Charles)? Não que isso vá acontecer com eles mais pra frente... não apenas com eles. Hoje, esta não é apenas uma visão do futuro da Inglaterra, mas do mundo. Inclusive nós aqui. Sem querer soar condescendente... estamos num país onde milhões de dólares são saqueados de cofres públicos e políticos assumidamente corruptos se beneficiam de acordos para evitarem a cassação, enquanto uma doméstica desempregada fica cinco meses na cadeia por roubar um pote de manteiga. Não se engane, neste exato instante, vivemos no universo de V. Mas em breve teremos mais uma chance de mudar algo - não através da força, ainda bem.

"O povo não deveria ter medo do seus governos. Os governos deveriam de ter medo de seu povo."
Codinome V²

Temos muito o que aprender aí, com todos estes acontecimentos e informações disponíveis, com este filme e seu final apelativo e populista. O pedido por indignação e contestação se confirma quando os créditos sobem ao som do clássico stoneano Street Fighting Man - uma ode ao cara que vai às ruas lutar pelo que acredita. A palavra de ordem não é mais "acorde", e sim "reaja". Nada mal em se tratando de uma mega-produção hollywoodiana.

A revolução definitivamente não será televisionada.

domingo, 22 de maio de 2005





Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith (Star Wars: Episode III - Revenge of the Sith, 2005) - direção: George Lucas
Elenco: Ewan McGregor, Hayden Christensen, Samuel L. Jackson, Natalie Portman, Ian McDiarmid, Jimmy Smiths, Anthony Daniels, Kenny Baker, Peter Mayhew, Christopher Lee.

E qualquer sombra de descrição técnica acaba aí. Não dá pra escrever sobre esse filme sem conter o entusiasmo histérico de um típico fã de Star Wars (isso, pode rotular aí: doggma é fã de Star Wars e é só isso o que ele faz da vida). Inclusive acho uma sacanagem não termos uma nomenclatura própria, estilo trekkie ou hooligan. Talvez uma mistura dos dois. O ideal pra mim era estar digitando devidamente caracterizado com um roupão jedi ou, melhor ainda, um capuz sith gangsta da hora. Sou fã mesmo nos momentos (ou episódios) ruins, e aquela madrugada de quinta-feira passou longe disso. Recebi em dose cavalar tudo o que esperei da série desde que assisti O Império Contra-Ataca pela primeira vez.

E é exatamente esse o ponto. A Vingança dos Sith é violento, dark, grandioso, revelador e, ao mesmo tempo, visceral e tragicamente tocante. Era o elemento que faltava na mitologia e que passou a justificar toda a hesitação narrativa de A Ameaça Fantasma e, em menor grau, O Ataque dos Clones. Mas A Vingança dos Sith ainda transcende o mérito de ser, em todos os sentidos, o melhor da nova trilogia e assume sua vocação natural de link direto para os acontecimentos de SW a partir de Uma Nova Esperança - e aparando quase todas as pontas soltas existentes aí. Algo necessário e até com várias soluções previstas há anos pelos fãs mais atentos (principalmente aqueles que acompanham o Universo Expandido - livros, HQs e games beatificados por São Lucas), mas inigüalavelmente impactante quando vemos acontecendo li, na telona, como uma peça autêntica e oficial de SW.

(Há muito, muito tempo que eu espero pra ver aquela máscara sendo colocada em Darth Vader... e a sua primeira respiração...)

Ah, sim... levando em consideração que a nova trilogia é uma odisséia épica sobre origem, é particularmente interessante o lugar em que se coloca A Vingança dos Sith nisso tudo. Aqui, contextos envolvendo nascimento, morte e renascimento se entrelaçam de forma ímpar e irretocável (e pode colocar aí um padrão Akira Kurosawa de analogia e conceitualização) em nada menos que três situações distintas, ocorrendo ao mesmo tempo e com impacto emocional igualmente devastador (padrão P.T. Anderson, mestre na área). Salva de palmas para George Lucas, que se sobrepôs à incredulidade das rodinhas pseudo-intelectuais e se reencontrou com o tino perdido de comover e relembrar que o maior de todos os efeitos especiais não pode ser criado digitalmente.

A Vingança dos Sith respira, tem alma e personalidade. E honra. É filme épico como antigamente - Ben-Hur, El Cid, Spartacus - com a dinâmica e a produção atualizadas para os dias de hoje.

As velhas referências de SW ao incorruptível código de honra samurai aparecem em A Vingança dos Sith de forma recorrente, até justificando algumas nuances e motivações do roteiro. Basicamente é o conflito entre um nobre seguidor de tais conceitos (jedi) e um antagonista inescrupuloso que tenta ganhar vantagem justamente em cima destas limitações (sith). A partir daí, testemunhamos todo processo de renúncia e negação do jedi Anakin Skywalker a tais preceitos. E é uma longa e penosa via-crucis. Lucas acerta em cheio quando confere a Anakin a motivação inicial de fazer a escolha errada conscientemente, por amor puro e inabalável.

A partir daí, Darth Vader, o mais emblemático dos vilões, ganha uma perspectiva tridimensional e deixa de ser o estereótipo maniqueísta por excelência. A máscara no qual ele é encerrado inicia um ciclo mítico que só irá terminar quando ele finalmente a retira, na conclusão em O Retorno de Jedi.


A história já começa em ritmo de dobra estelar, com algumas das melhores seqüências de batalha espacial da série - vamos lá... é a melhor, perdendo só para o pique-pega nos cânions da Estrela da Morte, em UNE. É de tirar o fôlego. Caças da República entram em combate direto com as forças separatistas, lideradas pelo General Grievous. O objetivo é resgatar o Chanceler Palpatine, que foi seqüestrado. Apesar disso ser explicado no habitual resumo de abertura, nota-se aí um detalhe peculiar na continuidade do filme.

Ao contrário de todos os episódios da saga, A Vingança dos Sith ganhou um background na forma da minissérie animada Clone Wars, exibida pelo canal pago Cartoon Network. Todos os meandros provenientes das Guerras Clônicas foram mostrados pelo desenho - como as primeiras aparições de Grievous (e o motivo de sua tosse), personagens como a sith Asajj Ventress e o mercenário Durge, a invasão separatista a Coruscant e o seqüestro de Palpatine. Pra quem não assistiu, como eu, dá pra viver sem isso - mas dá pra viver muito melhor com isso.

Durante a infiltração na nave-mãe separatista por Anakin, Obi-Wan Kenobi e R2D2 (que literalmente rouba a cena), ocorre o primeiro dos esperados embates de SW3: o tira-teima Anakin versus Conde Dooku. Tomado pela necessidade de vingança e motivado até o último midichlorian, Anakin dá o troco em Dooku até com certa justiça poética no que tange a amputações via sabre de luz. Ao final da contenda, ele dá um largo passo em direção ao Lado Obscuro - devidamente instigado pelo Chanceler Palpatine, a.k.a. Darth Sidious, o lorde negro de Sith.

SW3 também marca o fim das maquinações políticas de Darth Sidious. Além de ganhar a confiança de Anakin com o pretexto de amizade verdadeira e irrestrita, Sidious dá seu toque final no ambicioso plano que veio desenvolvendo nos dois primeiros episódios. A exemplo de um certo fürher da Alemanha dos anos 30, Sidious fomenta uma crise de organização interna (guerra civil e ameaça separatista) e toma para si a imagem de salvador da(s) pátria(s). E a hora é essa, com o gigantesco exército de clones em prontidão e um Conselho Jedi acuado.

Líder carismático e dono de um discurso imbatível, Sidious tem o Senado praticamente aos seus pés. Os poucos focos de resistência política e ideológica se concentram na figura do Senador Bail Organa e da Rainha de Naboo.


O Mal permeia todas as vertentes de SW3.

O planejamento e timing estratégico de Darth Sidious se mostra impressionante em eficiência. O lorde negro estruturou um plano de ação a longuíssimo prazo, lançando mão de vários sidekicks facilmente identificáveis (Federação do Comércio, Darth Maul, Jango Fett, Lord Tyrannus, General Grievous), formando um cast de inimigos que passam ao largo de sua polida imagem política. Mesmo sua natureza sith é obscurecida da aguçada percepção jedi. O que sobram são suspeitas infundadas (via Conselho Jedi) e uma total desconfiança de suas intenções políticas (por Bail Organa e Padmé, já esperando por Leia e Luke-boy).

Agora um ponto. Existem algumas seqüências em SW3 feitas sob medida para se chorar copiosamente, igual a um corinthiano. Não foi o meu caso, juro, mas se carregassem um pouco mais no melodrama, seria sessão de SW3 seguida de uns tragos em algum barzinho 24hs. Um dos momentos em questão é quando Sidious espalha pelas tropas de clones a tal Ordem 66, que, na prática, é o extermínio sumário e imediato de todos os jedi, inclusive os jovens padawans - tarefa desumana e cruel que ficou a cargo do recém-desvirtuado Anakin, agora muito mais próximo do Vader que detonou Alderaan, logo no início de UNE. Triste, muito triste. Os cavaleiros jedi sendo eliminados um a um pelo exército de clones me lembrou até a famosa cena do Willem Dafoe sendo metralhado pelas costas em Platoon. Se tocasse aquela música então...

Por falar em música, muito me agradou a reutilização da já clássica Duel of the Fates - originalmente composta para A Ameaça Fantasma. Apesar do mestre John Williams ter concebido para SW3 a melhor trilha incidental da nova trilogia (mais intensa, agressiva e com nuances mais variadas), nenhuma peça individual superou a perfeição de Duel of the Fates. A mistura de coral gótico com canto gregoriano, agilidade instrumental, tons baixos e passagens mais pesadas é a trilha perfeita para momentos épicos, redentores, no pináculo da emoção (= duelo de sabres de luz entre dois mestres jedi em meio a um inferno incandescente).

E não custa lembrar também do resgate da ultra-mega-clássica The Imperial March, aqui num arranjo mais lento e atmosférico.


Oh, fuck it:

Download:Duel of the Fates
The Imperial March (original version)
The Imperial March (heavy version) - na versão do Metallica, mas lembra muito as pirações orquestrais do Apocalyptica. Divertida.


No quesito ação, SW3 supera de longe o standard digital dos episódios anteriores. Os confrontos militares estão mais elaborados, com algumas novidades que transcendem a habitual tela azul (ou verde). Há mais personalidade e inventividade, sendo que as cenas de batalha em Kashyyyk, lar dos wookies, são as melhores. Os peludões são grandes guerreiros! Pena que o figuraça Chewbacca só apareça em uma breve cena.

Mas a cereja de SW3 fica mesmo nos duelos jedi. Claro. Todos os lutadores são guerreiros de primeiro nível, alguns com uma reputação até então irrepreensível. Já imaginou o resultado de alguma luta do Mestre Yoda que não seja uma acachapante vitória do verdinho? Ou uma possível derrota de Mace Windu, que na animação e no Ep.2 demonstrou uma técnica formidável e uma força descomunal? E o famoso combate entre Obi-Wan Kenobi e Anakin Skywalker, no auge de suas formas? E como seria uma luta de Darth Sidious (fi-nal-men-te), utilizando ao máximo o poder do extremo negativo da Força?

Alguns destes resultados já nasceram polêmicos, embora estejam em harmonia com a lógica prevista. Mace Windu, p.ex., não poderia seguir adiante, por mais que os fãs gostem dele. Nem Yoda poderia ter 100% de sucesso, pois tinha de se auto-exilar por algum motivo. O que resta é discutir se os resultados, previsíveis até certo ponto, foram... hã... "coerentes" e fizeram justiça ao grau de relevância de cada um dos personagens abordados.


ANAKIN & OBI-WAN vs CONDE DOOKU


De cara, a batalha mais controversa. O Conde Dooku novamente é confrontado por Obi-Wan e Anakin, reeditando a treta comunitária que tiveram no final de O Ataque dos Clones. Em parte, Dooku repete o mesmo modus operandi e cria dois pólos de combate - afasta Anakin e se concentra primeiro em Obi-Wan.

Parece que foi de difícil digestão a relativa facilidade com que Dooku derrota Obi-Wan (clique no shot à direita). Mas lembrando do background dos dois, vemos que Dooku nunca teve muito trabalho contra ele, seja pelo uso esperto do sabre de luz (razão da vitória em Ep.2) ou pelo oportunismo no uso da Força (no caso, asfixia seguida de impulsão concussiva). Dooku sempre utilizou um timing malandro contra Obi-Wan, mas não era pra menos. Foi mestre de Qui-Gon Jinn, que foi o mestre de Obi-Wan. Ele conhecia muito bem a técnica old school na qual Obi-Wan foi treinado. 2 in a row de Dooku em cima de Obi-Wan. Simples assim. Ou não?

O que nos leva à próxima rodada...


ANAKIN vs CONDE DOOKU


Obi-Wan sucumbe ao ser arremessado violentamente contra uma parede e Anakin tem a chance de acertar as contas com Dooku no mano-a-mano. E o moleque dá show. O resultado, na minha opinião, foi tão natural quanto possível. O rancoroso Anakin obviamente treinou feito um louco, esperando pela revanche. Sem contar que já tinha experiência contra ele - dolorosa, diga-se de passagem. E além de estar motivado, ele já demonstrava características inequívocas de um combatente selvagem e impiedoso. Um típico guerreiro sith. Na verdade, foi um combate estilo "jovem sith contra velho sith". Ganhou a juventude.

Luta rápida. E excelente.


OBI-WAN vs GENERAL GRIEVOUS


Muito bem, eu não vi o desenho. General Grievous é um dos maiores guerreiros de Clone Wars. Antes de liderar o exército separatista, ele caçava cavaleiros jedi por esporte. É um motherfucker carniceiro com fome de sangue jedi, e ainda coleciona os sabres de luz dos oponentes que trucida - Predator style.

Mas... eu não vi o desenho. Portanto, o que eu vi no filme foi uma criatura mezzo alien mezzo droid (enfim, um ciborgue), meio trôpega e com uma tosse interminável. O motivo é que pouco antes do início de SW3, Grievous foi seriamente ferido por Mace Windu em Coruscant, o que lhe conferiu um estado meio avariado (clique no shot à esquerda pra ver a seqüência - imagens gentilmente cedidas pelo Fivo).

Mesmo sem o seu potencial quase insuperável do desenho, Grievous, que foi treinado por Dooku e se "auto-aprimorou" com componentes eletrônicos, ainda era um inimigo mortal. Usou tudo o que pôde contra Obi-Wan. A cena em que ele manejou os quatro sabres de luz de uma vez só foi de arrepiar. Mas Obi-Wan é um cavaleiro jedi calejado, de longe o que mais ralou na série. Já enfrentou intempéries de todos os tipos e tamanhos. Guerreiros de tudo quanto é raça. Siths, super-droids, mercenários de alto nível, monstros gigantes. Provavelmente venceria Grievous mesmo se este estivesse 100%.

In Obi-Wan I trust.


DARTH SIDIOUS vs MACE WINDU


A primeira briga envolvendo grandalhões. George Lucas falou dia desses que o mais poderoso no Universo Star Wars era o Mestre Yoda, e o segundo mais poderoso era o Mace. Falou tá falado, quem sou eu pra discordar. Daí que essa luta foi a mais intrigante, pois a variação de nuances possíveis era muito extensa, mesmo com um resultado já conhecido. Darth Sidious é uma espécie de "anti-Yoda" ou "Yoda negativo"... seja como for, é um extremo da Força. Como ficaria essa luta, se Mace era mais poderoso e, ao mesmo tempo, Sidious tinha de vencer?

O combate, visceral ao extremo, foi talvez o mais convincente em termos de resultado. Mace é uma força da natureza e Samuel L. Jackson, com seu olhar inquisidor, conseguiu passar isso com maestria. Do lado de Sidious, pra mim foi quase uma celebração vê-lo pela primeira vez com a sua verdadeira face: insano, tétrico, selvagem, demoníaco. A personificação do Mal. Até a sua fala ficou bestial. Ian McDiarmid. Que ator. Dois atores incríveis em cena.

A seqüência foi toda excepcional, mas aquelas queimaduras no rosto de Sidious - impingidas pela energia negra reprimida por Mace - foram demais para o meu coração. Além de ser uma puta de uma cena bacana, ainda forneceu a explicação perfeita para a face disforme e decrépita do Imperador nos episódios seguintes. Infelizmente, a luta já tinha resultado prévio e Anakin se entregou de vez ao Lado Negro quando traiu Mace. Foi batizado Darth Vader ali mesmo.

Mas o Mace ganhou.


DARTH SIDIOUS vs MESTRE YODA


O Bem contra o Mal. Há uma centena de analogias embutidas aí, mas isso não vem ao caso. Yoda contra Sidious era pra ser um confronto de proporções cósmicas. Não foi, mas nem por isso deixou a desejar. No meu caso, foi pelo inusitado de algumas nuances da luta. Após uma entrada ultra-mega-cool, Yoda, pingando de tanto poder, esquece os jargões new age ditos ao contrário e chama Darth Sidious pra dentro.

Logo de cara, o verdinho leva uma inesperada rajada de energia na cara. Caiu e tonteou. Foi feio (ver imagem ao lado). Achei que ele fosse bloquear e dissipar a energia negra, como fez com Dooku em Ep.2. Entendi que, se tratando do Imperador, o nível de energia empregado foi exorbitante, um milhão de vezes mais forte que as faíscas de Dooku.

Darth Sidious um, Mestre Yoda zero.

Na seqüência, Yoda usa o Lado Emputecido da Força e dá um chega pra lá sinistro em Sidious, que rasga os céus em direção à lona.

Sidious 1 x Yoda 1. Tudo igual em Coruscant.

Modalidade seguinte: esgrima até o fim com sabres de luz. Yoda e Sidious ficam bem nivelados, numa espécie de empate técnico. Mas devo dizer que achei o baixinho jedi muito mais ágil com o sabre em Ep.2.

Após esses duelos de igual pra igual, a coisa vira bagunça. A luta vai para o meio da câmara do senado, vazia. Sidious usa a Força para arremessar várias daquelas plataformas flutuantes em cima de Yoda. E o verdinho não consegue se aproximar o suficiente para reiniciar o combate direto no qual, imagino eu, é o melhor.

Mas logo a guarda imperial chega e Sidious se prepara para deixar o local. A batalha acaba melancolicamente com Yoda dizendo que falhou. A lógica histórica de Star Wars chegou e impediu o fim da esperada luta, que terminou sem vantagem aparente para nenhum dos dois lados.

Pena, mas necessário.


OBI-WAN KENOBI vs ANAKIN SKYWALKER


Essa é a luta que é esperada há mais tempo pelos fãs de Star Wars. Ela foi citada pela primeira vez em UNE, quando Darth Vader enfrentou o velho Obi-Wan. A partir daí, a imaginação dos fãs ganhou asas e, anos depois, teve a chance de virar realidade com o anúncio de um prequel em forma de trilogia... ou seja, uma chance em um milhão, pois esse formato não é dos mais comerciais. Lucas meteu a mão no bolso e, literalmente, pagou pra ver. E, vai por mim, ele não é uma pessoa das mais crédulas. Certa vez, ele disse que não entendia porque o clássico THX-1138 é considerado por muitos como tal. "Não rendeu quase nada", justificou.

Enfim, chegamos ao tão esperado duelo. Dois mestres com suas diferenças técnicas niveladas pelos seus talentos individuais. O local, Mustafar, um planeta vulcânico e um ambiente propício - além de simbólico. Sabemos que Anakin tinha de perder, mas e as circunstâncias que o levaram à isso? Estavam em harmonia com o perfil dos dois personagens? Soou forçado?

En garde!

A luta começou quase estourando de expectativa. Uma dama desacordada, uma arena ampla e grandes motivações dos dois lados. Boa parte do destino da galáxia dependia disso. Sem mais delongas, começam os "uuóóónnnn" dos sabres de luz. Anakin, jovem com um enorme potencial, está pau-a-pau em técnica com Obi-Wan, que é macaco velho, sabe improvisar e é um guerreiro nato - anos atrás, o cara ganhou do capoeirista Darth Maul, oras! E um ponto decisivo é justamente o seu status de quem treinou Anakin quase a vida inteira. Obi-Wan conhece como ninguém as idiossincrasias e pormenores técnicos do estilo pessoal de Anakin. Sabe exatamente o que ele vai fazer só de olhar em seus olhos - vide o momento em que os dois usam a Força simultaneamente (grande cena!).

Ainda assim, Anakin deu muito trabalho e Obi-Wan só ganha por se utilizar de um recurso básico em lutas de esgrima. Uma estratégia que já era anciã desde que Errol Flynn empunhou uma espada pela primeira vez. Obi-Wan se colocou em um nível de terreno mais alto e amplo. Seria apenas um belo corte ou uma contusão bonita se as armas não fossem os categóricos sabres de luz. Ou dá ou desce, literalmente.

Voltemos ao velho background. Em O Ataque dos Clones, por duas vezes Obi-Wan teve de chamar a atenção de Anakin, que estava prestes a se deixar levar pela impulsividade (quando quis parar uma perseguição para resgatar Amidala no deserto, e quando atacou Dooku de forma inconseqüente). Aqui não foi diferente. Nem quando Obi-Wan o avisou para não atacar naquela posição desprivilegiada. Anakin, imerso em ódio e alucinado pela sede de Poder, tentou saltar mesmo assim, abriu a guarda e levou um "talho" que lhe amputou as duas pernas.

Obi-Wan ganhou pelo que sempre demonstrou: paciência e improviso.

Fim (justo) da contenda.



Star Wars III - A Vingança dos Sith não é perfeito. Algumas pontas ainda teimam em balançar, soltinhas. Como diabos a Leia se lembrava de sua mãe triste, em RDJ? Só se ela estava se referindo à Breha Organa, sua madrasta (esposa do senador Bail e rainha de Alderaan). E como Anakin aprendeu a técnica para se tornar uno com a Força e adquirir imortalidade? Ele nunca ficou sabendo que tal técnica existia. Yoda só revelou a sua existência quando disse a Obi-Wan para "estudar a técnica de Qui-Gon Jinn durante o exílio", no final de SW3. E foi Qui-Gon quem criou a técnica? Por que ele nunca apareceu em espírito?

Por outro lado, algumas coisas foram explicadas (a memória de C3PO, que foi zerada) e outras foram deixadas apenas para serem subentendidas (o velho Obi-Wan, que finge não reconhecer R2 em Tatooine, em UNE).

Dúvidas... Pode ser que o vindouro DVD solucione algumas questões com seus extras turbinados.

Ao final dessa saga atemporal, não temos tempo nem de lamentar o seu fim, pois a conclusão se emenda perfeitamente nos eventos iniciais de UNE: Darth Vader, o Imperador e o Governador Tarkin, senhores da galáxia, vislumbrando a construção da Estrela da Morte.

E um momento pra ficar na memória: a já citada e genial passagem em que o moribundo Anakin dá lugar à figura sombria de Darth Vader, ao mesmo tempo do nascimento de Luke e Leia e da emocionante morte de Padmé Amidala. E ainda tem o vozeirão de James Earl Jones entre uma coisa e outra.

Eu diria que só isso já vale o filme, mas lembre-se que eu comentei sobre muitas outras coisas lá atrás.

Por aí você já tem uma idéia do brilhantismo de A Vingança dos Sith.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2005

ELAS ESTÃO DESCONTROLADAS

Especial Mulheres que Amamos


IGNORANCE IS BLISS


"Já viu um coração? Parece um punho banhado em sangue!" - Larry, personagem de Clive Owen descrevendo o amor no filme Closer - Perto Demais (Closer, 2004 e um belo sic pelo subtítulo nacional).

E digo mais... "coração dos outros é terra que ninguém pisa". Mas sim, o amor existe sim, mas esqueça essa besteira de cavalo branco, compreensão à toda prova, ou pior, frases de efeito como "me guardei pra você". Isso é viagem de hippie encharcado de ácido na ressaca do Woodstock. O amor é um turbilhão de empatia, sensações carregadas de frenesi incontrolável, calor humano e sentimentalidades (como bem disse o Arnaldo Antunes). São aspectos quase conceituais, intangíveis, que demandam fé cega imediata por parte do outro, visto que não podemos provar que eles existem. O que nos deixa com o outro aspecto do amor, dessa vez bem mais físico, instintivo e selvagem, que é mais antigo na índole do ser humano, e por isso mesmo mais recorrente, embora muito pouco (ou nada) romântico e idealizado. No fim das contas, "back-to-the-basic". Closer, dirigido pelo veterano Mike Nichols, trata primorosamente de muita coisa, mas o básico instinto é definitivamente a cereja.

Situado em Londres, o filme mostra Dan (Jude Law), um escritor fracassado que escreve obituários de jornal, se envolvendo com Alice (Natalie Portman), uma ex-stripper americana. A princípio é um relacionamento perfeito, até que Dan conhece a fotógrafa Anna (Julia Roberts) e se apaixona, mas é rejeitado. Sem querer, durante uma conversa fake num chat (e existe alguma que não seja?), Dan acaba jogando Anna para os braços do dermatologista Larry. A partir daí, tem início um jogo passional de... hã, encontros e desencontros que, juro por Deus, vai te fazer se enxergar na tela nem que seja por alguns poucos segundos.


Adaptado de uma peça teatral, Closer revela em algumas seqüências a sua verdadeira natureza, visto que é repleto de situações e climas no argumento, suficientes para lavar a alma de qualquer fã de uma boa interpretação. Os diálogos são nada menos que excelentes. Natalie Portman prova pela enésima vez seu talento intrínseco e uma segurança invejável, mesmo em cenas não tão confortáveis assim. É incrível como alguém pode atingir tamanha autenticidade, mesmo com laboratório e outros preparativos. Embora "técnico" demais, seu trabalho foi excepcional e irretocável, sem dúvida. O mesmo não se pode dizer de Julia Roberts, ainda que tenha ela demonstrado uma inegável competência. Sua personagem, Anna, é passiva e emocionalmente contida, o que também é algo difícil de se conseguir sem que pareça mera auto-preservação. Ótima atuação, mas subjetiva por natureza.

E por falar em natureza, Jude Law, embora talentoso, sempre carregou consigo uma aura de arrogância suprema (ecos de Gattaca?), mas aqui ele embalou com uma camada de narcisismo travestido de um providencial romantismo. Dan é o par ideal para as meninas que sublimam o amor e, mais ainda, o sexo. Lembra do que eu escrevi sobre o "cavalo branco" idealizado? Então. Dan é o tipo do sujeito que chega montado em um desses. Mas não... calma aí. Recapitulando, o "cavalo branco" existe sim. Mas como um belo de um símbolo fálico. O que nos leva ao cara que fala tudo o que a gente pensa primeiro antes do glacê: Larry (um espírito-irmão de Frank Mackey, personagem de Tom Cruise em Magnólia). Ele é uma manifestação do id masculino que traz à tona todo o sexismo, perversão, voyerismo, egocentrismo natural, e até uma certa covardia emocional. Essas coisinhas que vivemos tentando reprimir para podermos conviver em sociedade e não voltarmos a morar em cavernas, mas que têm a sua utilidade até hoje.


Fica claro que, após um segundo ato inglório, Larry, que não é nenhum gênio, passou a usar o que tinha em mãos. Algo que ele já tinha desde que nasceu: o conhecimento sobre a natureza masculina, que, por tabela, é o mesmo que ele tem de si. A grosso modo, ele não fez "nada" (fez sim, mas em termos concretos e definitivos não foi nada), apenas deixou que o outro fizesse. Gostaria de resumir esse sentimento primal em apenas uma palavra, mas só consigo lembrar do refrão de uma música do Sepultura (!)... "War for territory". Sem exceções, todos os homens trazem consigo essa informação. Faz parte da nossa natureza, mesmo em alguém supostamente mais "sofisticado" emocionalmente, como Dan. Quanto ao título "ignorance is bliss" (música do Ramones), é auto-explicativo e comparece no filme como uma derrocada por querer saber demais. "O que o coração não vê"... É por aí, temos fraquezas também. E o Larry sabia disso.

Clive Owen... mal posso esperar até a estréia de Sin City.

Mike Nichols fez para a raça masculina o que Nelson Rodrigues fez para a feminina, com direito a finalzinho surpresa. Os homens não prestam, mas a vida é assim mesmo. Mulheres... prometam que não serão tão deslumbradas que a gente promete não manipular tanto pra conseguir o que queremos.

Em tempo, Bebel Gilberto na vernissage foi mesmo um luxo (I got it Fivo!). Mas How Soon Is Now?, dos Smiths, numa boate londrina com certeza faz parte dos meus devaneios mais tolos.

E "Alice Ayres"... "can't take my eyes of you"...


GIRLS JUST WANNA HAVE FUN


''E eis que o Evanescence chega ao seu segundo disco (se não considerarmos o Origin) da mesma forma que o nosso hoje sucateado RPM. Saídos de um sucesso estrondoso, com direito à tema principal em filme hollywoodiano, a banda retarda seu retorno à realidade (o temido 2º disco), com Anywhere but Home, um CD/DVD gravado ao vivo no The Zenith, Paris, e dirigido por Hamish Hamilton. O combo ainda traz um música inédita, Missing, estratégia que deve amenizar um pouco a expectativa dos fãs mundo afora.

O grupo faz um mix de gothic rock, heavy e new metal, com vocais líricos femininos. Mas não se enganem, existem bandas mais precursoras e muito mais eficientes e/ou sofisticadas nesse mesmo contexto musical, como Theatre of Tragedy, Nightwish, Lacuna Coil, After Forever, The Gathering, The Sins of thy Beloved, Nocturne, Within Temptation e Gardens of Gehenna, só pra citar algumas. Mas o mérito maior do Evanescence foi ter criado uma solução mais acessível e pop para um estilo que sempre pediu por isso. Não é para o gosto médio de um fã do Slayer, por exemplo, mas é honesto e tecnicamente bem-resolvido.

Com uma evidente boa performance (= pesada e com espírito de "entrega"), o Evanescence é do tipo que só tem hits no repertório. Isso se nota facilmente pela recepção alucinada do público, que delira em cada virada, cada refrão e, principalmente, cada gesto da vocalista Amy Lee. E em Anywhere But Home, Amy impera. É impressionante a quantidade de garotas gritando "i love you" para a líder do Evanescence. Mas também não é pra menos.


Amy sempre cultivou uma imagem de princesa gótica com espírito livre, sexualidade passional e ambivalente, e uma personalidade soturna e cheia de mistérios (ai), ampliada ainda mais pelas baladonas intimistas levadas no piano de cauda mal-assombrado, como Hello, Breathe No More e, principalmente, My Immortal - essa última rendeu talvez o maior orgasmo coletivo já registrado na História. Mas a parte que eu mais gostei do show foi a execução raçuda de Going Under, não por acaso a música que mais exige o fôlego real de Amy. Aqui não fica funcional a inclusão em demasia de playbacks, então a Amy "tem de fazer o serviço direitinho", e ela o faz, se esgoelando, gemendo e suspirando exausta ao fim de cada falsete. Não sei por quê, mas existe esse sentimento meio sádico por parte do público. A técnica pode ser absurda, mas por si só não resolve. A gente quer é ver os caras dando o sangue lá em cima.

Já os playbacks, eles existem sim, mas inseridos de modo responsável e não chegam a ofuscar o esmero técnico da banda (pô, até o Rush usa playbacks). Na verdade, a maior falha do show ficou por conta da direção e edição do DVD. Eu costumo sempre comparar gravações de performances com dois extremos que conheço. O pior vai para o Live & Loud, do tio Ozzy. Mesmo com uma excelente banda (uma constante na carreira dele), o vídeo foi lotado de overdubs criminosos e cada música executada foi recortada com trechos de vários shows, o que jogou a estabilidade na vala, literalmente. Uma desgraceira de edição de rock. Já o melhor é Cunning Stunts, do Metallica, extremamente bem balanceado entre a funcionalidade da performance instrumental (dá pra ver até as cordas da guitarra tremendo) sem perder a agilidade frenética que se espera desse tipo de show. Anywhere But Home fica bem no meio-termo, com desonroso destaque para os irritantes replays de gestos que permeiam toda a apresentação. Quase um clip longa-metragem da MTV.

Na seção behind the scenes, um pouco da intimidade do pessoal. Fora a bem-vinda olhada no dia-a-dia da Amy (nada daquela Deusa do Caos... Amy é uma menina... toda bobona, muito divertida e desencanada como só uma menina se dá o direito), o que rola são quebradeiras OK em hotéis, bagunças em backstages, passagens de som, fãs enlouquecido(a)s, bunda-lêlês na sacada (não é o apê do Latino), brincadeiras em jammin's despretensiosas, videokês rolando Bring Me to Life, uma bacana seqüência "video-cassetada" durante algumas apresentações... Sim, a banda está curtindo muito tudo isso. Esse é o momento do Evanescence. É aproveitar enquanto a responsa do 2º disco não chega.

Ah sim, tem um cheat no DVD. Na tela de apresentação, pressione a tecla esquerda duas vezes em cima de behind the scenes. Vai aparecer o logotipo da banda no lado esquerdo, e aí é só clicar em cima. O bônus é uma apresentação ao vivo de (adivinha) Bring me to Life.


DEADPOOL TAMBÉM AMA


Algum troglodita já se engraçou pra sua namorada e ela te obrigou a tirar uma satisfação com ele? Não? Coitado... desejo boa sorte. - - Essa pergunta é só pra efeito estatístico pessoal, nada a ver com o resto - -

Tem gente que curte o Homem-Múltiplo, outros o Lobo. Meu personagem favorito nos dias de hoje é o Deadpool. É o que eu mais leio ultimamente em termos de super-herói. Ainda que se pareça demais com o Hitman (que eu me amarro também!), o Deadpool tem algumas idiossincrasias interessantes. Ele não acerta o tempo inteiro e às vezes se mete em umas enrrascadas sinistras. É um anti-herói nato (assassino profissional e mercenário), mesmo assim é impossível não curtir suas ações. Tem coragem para encarar monstros como o Rino ou o Fanático, mas encontra a maior dificuldade para se declarar para sua amada, Siryn, da X-Force.


Na saudosa Marvel 99 foram publicadas as histórias do Deadpool escritas por Joe Kelly e desenhadas por Ed McGuinness. O senso de humor (negro ou apenas espirituoso), a ação poderosa e dinâmica, quase um mangá, e situações inusitadas e desconcertantes lembram muito a dupla Peter David/Chris Cross, nas histórias do Capitão Marvel. Nas edições #3, #4 e #5 de Deadpool (publicadas aqui em M99 #4 e #5), nosso herói tem seu fator de cura danificado após uma missão na Antártida. Como sabemos (sabemos?), o fator de cura é a única coisa que impede o mercenário de morrer de câncer. E qual é a solução? Lê aí, mas adianto que tem algo a ver com um enfezado Incrível Hulk.

Mas a melhor parte é a seqüência final. A resposta... :)

Clique na imagem abaixo. Vai aparecer uma página, escolha a opção de download "FREE", espere a contagem regressiva. Quando acabar, é só baixar.

Link jurássico off, claro, mas ainda dá pra achar por aí!


dogg, ouvindo uma seqüência com Girls, do Beastie Boys, Girls, Girls, Girls, do Motley Crüe, Material Girl, da Madonna, e Eu Gosto é de Mulher, do Ultraje.