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segunda-feira, 18 de abril de 2022

Guns, Love and Thunder N' Roses

Detratores e amantes de Thor: Ragnarok, treimei-vos e regozijai-vos: aportou o trailer de Thor: Amor e Trovão.


É como receber uma transfusão do sangue do Taika Waititi chapado de LSD. Tem o aspecto da fanfarronice, incorreção e otimismo inabalável, que, misturado ao hino dos gunners (e esse deve ter sido o cheque mais gordo que Slash recebe desde 1996), dá uma sensação meio James Gunn à coisa toda. Finalmente vemos a Natalie Portman como a poseur Thor Jane Foster e ainda não dá pra ver o Christian Bale soterrado sob quilos de látex como o temível Gorr, mas a referência ao Carniceiro dos Deuses comparece, em alto e bom som.

Oito de julho (?) estarei lá. Tudo pela pipoca & guaraná.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

We have a Hiddleston


Thor: O Mundo Sombrio adota parcialmente a estratégia bigger-stronger-faster das sequências cinematográficas. No caso, maximizando apenas alguns dos ganchos do Thor edição #1, sendo o mais proeminente o inusitado humor físico - com resultados pra lá de variáveis, é verdade, mas, ei, estamos vivendo num mundo onde se produzem continuações ao vivo & arrasa-quarteirão do Thor... o quão orgástico é isso pra quem um dia teve que se contentar com os desenhos inanimados da Grantray-Lawrence? Além do mais, se na estreia do asgardiano imperava uma vibração condescendente e refém do evento Os Vingadores, O Mundo Sombrio se revela mais independente, malandro e ambicioso. Ao menos bem mais do que, por exemplo, Homem de Ferro 3.

Uma das maiores qualidades do filme é justamente a valorização da química proposta na primeira aventura. Voltam todos os elementos grandiosos/hollywoodianos de Asgard e o microcosmo indie terrestre - algo montado até com certa ousadia pelo diretor Alan Taylor e pelo roteiro a 3 mãos (chutando que nenhum é ambidestro) de Christopher Yost, dos divertidos Hulk vs., Christopher Markus e Stephen McFeely, que souberam extrair novamente bons frutos da colisão improvável entre esses dois extremos. Nota-se que não apenas apostam, mas de fato acreditam no material que herdaram. Claro, nem tudo é perfeito e o filme tem lá sua dose brobdingnaguiana de clichês e forçadas de amizade, mas até aí, a cota está dentro dos limites do cinema mainstream - não só o dos EUA.

A abertura de O Mundo Sombrio é praticamente um revamp da intro do primeiro filme, retrocedendo em 1 geração a família de Odin e apagando os Gigantes do Gelo para colar os Elfos Negros por cima. Remanescente de uma época em que ainda não existia a luz, a raça ancestral é liderada por Malekith, que pretende usar uma força obscura chamada Éter para jogar o universo de volta à escuridão, mas é derrotado por Bor, governante de Asgard e pai de Odin. Nesse ponto fiquei pensando como seria interessante uma abordagem maior desse personagem, que, apesar de sábio e o deus-in-chief, transparecia ser pouco mais que um guerreiro rústico e selvagem, fazendo o contingente asgardiano atual parecer um catálogo de modelos da Gucci. Só que a batalha é mostrada já em seus momentos finais (o ator, Tony Curran, sequer é creditado) e a narração em off de Anthony Hopkins, o Odin em pessoa, logo dá lugar a uma sitcom na Terra. Bizarro assim. Mas um bizarro bom.

Por incrível que pareça, esse crossover de gêneros funciona, já que o roteiro é bastante espirituoso ao desenvolver o segmento pessoas/rotina/perrengues do dia-a-dia. E o elenco, agora radicado em Londres, retoma a sintonia: Natalie Portman reprisa sua Jane Foster amargando uma fossa pelo sumiço do seu Deus do Trovão favorito enquanto tenta fazer a fila andar a contragosto (pueril, mas ótimo momento o do encontro no restaurante, graças ao timing cômico de seu parceiro de cena, o inglês Chris O'Dowd); Stellan Skarsgård faz um dr. Erik Selvig completamente noiado após sua experiência em Os Vingadores (impagável, mas eu podia passar sem vê-lo balangando as castanhas em Stonehenge); Kat Dennings continua fazendo com sua Darcy o que faz com toda personagem que cai em suas mãos, ou seja, cara de whatever; já o novato Jonathan Howard, que interpreta o estagiário Ian, é um raro caso de coadjuvante cômico da coadjuvante cômica (Darcy), também não muito feliz em nos fazer felizes.


Enquanto na Terra a vida segue, em Asgard, Thor (Chris Hemsworth, completamente à vontade) e seus camaradas concluem uma guerra de 2 anos que pacificou os Nove Reinos após as traquinagens de Loki - que pode até não ser um deus per se, mas com certeza dividiu o calendário de Tom Hiddleston em "antes de Loki" e "depois de Loki". Tudo corre bem, Asgard está em paz, Loki está em cana e Thor vê a sucessão de Odin cada vez mais próxima, mas aí o caldo entorna com o retorno de Malekith - que não desistiu de restabelecer seu antigo way of life, não hesitando em sacrificar seus semelhantes pela causa - e do reaparecimento do Éter, o elemento que fará a diferença numa guerra contra a toda-poderosa Asgard.

Há uma metáfora redondinha aí sobre a política externa dos EUA e seus reflexos pelo mundo, com direito à nave batendo em torre e tudo. É o tipo da coisa que o cinemão hollywoodiano vomita sem perceber e que faz o Žižek lavar a égua com Lux Luxo. Mas vou praticar o silêncio de rádio aí, pois a vida é muito curta. Apenas uma coisa: não há lugar melhor para captar o pensamento norte-americano, conservador ou liberal que seja, do que num blockbuster. Não pela mensagem que eles querem transmitir, mas pela mensagem que eles nem imaginam que estão transmitindo. Spy this, NSA.

Não deixa de ser instigante a estética Terra-Média-encontra-Guerra-nas-Estrelas da periferia asgardiana. Um saudável fuzuê pop-cultural com trolls, alienígenas e cavaleiros se digladiando com machados, espadas e armas de raios é a liberdade criativa primitive-future definitiva. Sword & sorcery &, porque não, sci-fi. He-Man e os Defensores do Universo agradecem. Thundercats e Thundarr, o bárbaro, mais ainda. Ver a Natalie Portman mais uma vez se aventurando nesse contexto foi um agradável déjà vu. Igualmente curioso é o centrão de Asgard, com arquitetura à Oscar Niemeyer in the 25th Century e naves "aladas" que lembram coisas d'O Incal, do mestre Moebius. Meio acachapante ver isso com tamanha amplificação sem esperar. Durante a invasão dos Elfos Negros eu queria mais era descer ali numa avenida qualquer e interagir com os cidadãos, conhecer a gastronomia local, bater umas fotos...

Esse esmero visual se repete no filme inteiro harmoniosamente; ao contrário do anterior, não há efeitos de 1ª convivendo com outros meia-boca. Pena que o coração nem sempre esteve no lugar certo. Um bom exemplo foi a deliciosa referência sabor Harryhausen à primeira ameaça que Thor enfrentou nos quadrinhos - um legítimo kronan da raça de guerreiros de pedra que o loirão combateu em sua estreia, muito bem-feito e impressionante. Aquilo foi de encher de amor e ternura o coração fanboy, mas a conclusão incrivelmente abrupta foi como levar um fora via SMS com emoticon triste no final. Por ali já dava pra ver que o cineasta Alan Taylor (claramente um não-nerd), ao contrário de Joss Whedon (obviamente um nerd), não ia se render tão fácil ao doce prazer culpado de gastar alguns milhões do orçamento em uma sequência de porradaria-pela-porradaria igual aos quadrinhos.

Aliás, Taylor deixa seu DNA profissional bem impresso ao longo da trama, particularmente a experiência acumulada em séries de ponta. As conspirações, subtramas, dramas familiares e anti-heroísmo têm um pé fincado em Game of Thrones, Roma e Família Soprano, sempre para o melhor. Em contrapartida, o delivery escancarado pra mocinha boba suspirar alto denuncia os vários episódios que dirigiu em Sex and the City. Pela primeira vez as namoradinhas de plantão vão gostar de ter ficado até o fim dos créditos. E pela primeira vez, eles não.


O Malekith do ótimo Christopher Eccleston é mais sombrio e unidimensional que o dos quadrinhos, onde era um tipo manipulador e shapeshifter, Loki-like. Em compensação, era bem menos poderoso, então fica elas por elas. Kurse nos quadrinhos era mais legal, mas esteticamente impraticável num filme - podiam ao menos ter poupado aquela bobagem de guerreiros "kursed". Já Odin, está mais irascível e menos ponderado, o que é compreensível dadas as recentes guerras e turbulências familiares, enquanto a Frigga de Rene Russo finalmente tem algo a dizer e fazer, sendo vital para uma das reviravoltas da trama.

Os Três Guerreiros tiveram uma participação tímida (Hogun foi dispensado logo de cara), com exceção do novo Fran "Chuck-você-por-aqui?!" dal, estranhamente destacado e mostrando que o agente de Zachary Levi é dos bons. E foi um crime o desperdício da Sif da deusa Jaimie Alexander. Além de boa atriz que convence nas cenas de ação, as diferenças parsecquicas entre Sif e Jane renderiam um triângulo promissor com o rapagão do martelo, o que foi tratado de forma apenas superficial.

Um dos aspectos discutíveis foi a superdosagem de humor, principalmente na 2ª metade. Se no filme de Kenneth Branagh o clima jovial já trafegava no limite, aqui a coisa acelera na ladeira - a já citada presença de dois coadjuvantes cômicos, mais Skarsgård no Jackass mode, não é menos do que sintomático. Chega a prejudicar a sequência final, diluindo qualquer tensão e sensação de perigo relativa ao ataque dos Elfos Negros em Londres. Até a luta entre Thor e o Malekith deusificado pelo Éter - bacana e expensive, se revezando entre dois mundos - ganhou toques engraçadinhos. Era só o universo conhecido que estava em jogo ali.

Fora que já deu assistir vilões de filmes conquistando seus respectivos MacGuffins-fontes-inesgotáveis-de-poder, pra depois não saber o que fazer com eles e, pior, serem derrotados num mano a mano com o herói. Thanos, a maior antítese disso nos quadrinhos, que se cuide.

Algumas inconsistências também batem ponto no roteiro, sendo a maioria TOCs aparentemente incuráveis do cinemão pop. Então dá pra eleger uma preferida e abstrair o resto em nome da busca pela felicidade: fico com a cena em que Jane e Thor se abrigam na mesma caverna onde está o portal de convergência com a Terra, no exato momento em que o celular dela está tocando por lá. Uma beleza de atentado ao item #19 das regras do bom roteiro propostas por Emma Coats, da Pixar. Escolhi bem ou não?


Como sequência, Thor: O Mundo Sombrio cumpre seu papel sem fugir ao script, não fosse um trunfo que o projeta sensivelmente acima do padrão: Tom Hiddleston, sério candidato a maior rockstar da Marvel Studios pós-Robert Downey Jr., talvez até apressando esse fim de era. Com um senso soberbo de continuidade, o ator não parou de evoluir e enriquecer o personagem em relação às já memoráveis performances em Thor e Os Vingadores - até porquê é evidente que ele está se divertindo pra caralho ali - e ainda gera interesse de sobra para justificar novas situações e aventuras. Solo, inclusive.

Ao final, fiquei muito mais curioso pelo "what's next?" de Loki do que o de seu meio-irmão. Fez por merecer essa sua "trilogia trapaceira" (a única do gênero!) e, tomara, os vários capítulos que virão, como deixa antever a conclusão.

Em Loki eu confio. Epa...

Thor: O Mundo Sombrio ("Thor: The Dark World", Estados Unidos, 2013), 111 min.
Direção: Alan Taylor
Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Kat Dennings, Stellan Skarsgård, Tom Hiddleston, Anthony Hopkins, Christopher Eccleston, Jaimie Alexander, Zachary Levi, Ray Stevenson, Idris Elba, Rene Russo

Ps: então... Guardiões da Galáxia será esse camp todo mesmo? Schumachers me mordam.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Hoje é Thor's day!


Mais do que qualquer outro projeto da fase 1 da Marvel Studios, a ideia de uma adaptação do Thor era, de longe, a mais cabulosa. Difícil até de visualizar em minhas adaptaçõezinhas live-action mentais cultivadas em lugares edificantes como filas de banco, ônibus lotados, salinhas de espera e concursos do Banco do Brasil. Tudo bem, um inventor bilionário numa armadura voadora e um supersoldado da 2ª Guerra com síndrome de Rip van Winkle foram belas amostras do nonsense que permeia toda essa campanha de adaptações da Marvel, mas ao menos esses tiveram suas conexões com a realidade cimentadas com resquícios empíricos à base de ciência, empreendedorismo e futurismo pra viagem. Já um antigo deus nórdico pagão...

Mesmo com o conceito já filtrado e ocidentalizado pela "versão Marvel" dos precursores Stan Lee, Jack Kirby e Larry Lieber (Thor acabou virando a puta paga do domínio público: a DC tem dois, a Image também e até a ilustre America's Best Comics deu uma bicada), a simples ideia de personagens mágicos surgindo em cena por si já perfaz uma ruptura do, arram, dogma tecnocrata vigente naquele universo cinematográfico. Se contextualmente era um backflip conceitual, comercialmente, porém, parecia o próximo passo lógico a ser dado. Afinal, se Voldemort e Sauron viraram rockstars, porque não Surtur?

Primeira boa surpresa: a escolha de Kenneth Branagh para a direção, puro futebol-arte. Quem mais qualificado para ilustrar poder, suntuosidade, loucura, tragédia, horror e dramaticidade épicas (ou divinas?) que o gênio que transmigrou Hamlet inteiro para um filme de quatro embasbacantes horas que passam voando? O horizonte ficou ainda mais promissor com a descoberta de que Branagh, além de um excelente vendedor de seus projetos, também era um profundo conhecedor do terreno em que estava pisando. Pra mim, era razão suficiente para celebrar a vida tomando porres de hidromel nas tavernas mais vis do reino.


Bom, Thor não teve Surtur, mas teve Loki, o deus da trapaça e das traquinagens, o Saci-Pererê do folclore escandinavo. Que por pouco não dribla todo o contingente celestial de Asgard e sai correndo com a taça de melhor personagem debaixo do braço. Toda divindade, mágica e mística foram jogadas na sacola da ciência do imponderável, entre planos interdimensionais e galáxias perdidas éter afora n'algum ponto indefinido das 11 supercordas. Resumindo, não eram deuses, eram astronautas. Enquanto isso, Branagh operava bem abaixo de suas capacidades, relegado quase a um timoneiro de luxo. Não de uma nau de guerra viking, mas de um caríssimo iate multiplex em meio a recifes e corais ameaçadores. Sem dúvida, a firma não quis arriscar e limitou os aguerridos movimentos wagnerianos do homem até o limite da completa descaracterização. Só isso explica porque o tom do filme saiu tão soft. Claro que eu não esperava por um Valhalla Rising 2: Ragnarök Now, mas esperava menos ainda pelos açucarados cubinhos de comédia romântica que frequentemente se dissolviam na tela.

Mas pensando bem, salvo em reimaginações autorais, o perfil do Deus do Trovão nos quadrinhos regulares da Marvel nunca foi o do viking primevo e animalesco empunhando um martelo do tamanho de um poste. E em seu universo havia ainda mais conflitinhos pessoais/amorosos do que no filme. Basta lembrar de seus alter-egos com vidas sociais bastante agitadas para um hospedeiro espiritual. O Thor do filme, além de cortar todo o papo furado de identidade secreta disfuncional para os dias atuais (paralelo ao Tony Stark na conclusão de Homem de Ferro), num primeiro momento faz questão de se auto-afirmar como o übermensch tanto no céu (Asgard/Jotunheim) quando na terra (Terra). Não o suficiente para configurá-lo como um überasshole, mas necessário para que sua transformação de um deus para uma pessoa melhor servisse como o rito de passagem que Odin tramava para seu filho e sucessor.

Do ponto A (o Thor imaturo e impulsivo) até o ponto B (o Thor paciente e compassivo) poderia muito bem ter sido um combinado entre a graphic Thor: A Era do Trovão, de Matt Fraction, com o Thor humanista/humanizado do universo Ultimate - especialmente no que tange à sua via crucis terrena.

E não faltam referências ao Cristianismo em Thor.


Muitos fragmentos da narrativa cristã têm passe livre na história, não só nos subtextos do roteiro, como também no timing, na dimensão dos eventos, nas motivações e principalmente no enorme apelo estético de algumas cenas. Temos lá Odin enviando seu filho à Terra despido de toda sua glória e completamente mortal; temos os amigos recém-feitos que, como bons discípulos hebreus, o seguem e o auxiliam em sua jornada, mesmo reprimidos por forças governamentais; seus ensinamentos meio revolucionários meio transcendentais meio bicho-grilo-mermão a esses mesmos amigos-discípulos; Thor se sentindo abandonado por seu pai todo-poderoso e quase perguntando o porquê disso - nem precisava -, reeditando uma famosa cena de sua versão Ultimate; a salvação através do sacrifício; a redenção e a ascensão aos céus; e, claro, a queda do vilão chifrudo do firmamento direto para o buraco (de minhoca?). E com certeza teve mais, muito mais.

Costumo pagar certo pau pro J. Michael Straczynski, que co-escreveu a história, mas gosto de pensar nessas analogias mítico-religiosas como um código Morse transgressor que Branagh enviou subliminarmente aos seus admiradores bem debaixo dos narizes dos censores da Disney-Marvel (eu copiei, Branagh, eu copiei, câmbio!). Porque não devia ser do interesse do estúdio bancar um longa com qualquer outra objetivo que não o de acessório promocional para o blockbuster que foi Os Vingadores. E de todos os filmes dessa primeira safra, Thor foi o que mais teve cara de brinde.

Isso a despeito dos valores de produção, explodindo na telona com a força de mil megatons nos segmentos passados em Asgard (uma magnífica renderização tridimensional da arte de Walter Simonson - a versão 3D do filme, no entanto, foi uma belíssima porcaria). Nem em meus sonhos marvetes mais psicodélicos pude vislumbrar um reino tão grandioso e deslumbrante, ainda que Bifröst pareça dar direto no Studio 54 em plena efervescência disco. Poderia até ter saído diferente, mas dificilmente melhorado - é uma ponte de arco-íris, queria o quê?

O mesmo alto padrão criativo se repete no CGI em torno dos Nove Mundos de Yggdrasil, onde o espaço mais parece um óleo sobre tela vivo retratando os efeitos especiais do filme Contato. A tela verde ainda não é amigável à presença dos atores, mas o espetáculo visual é inegável. Meus olhos saíram de barriga cheia.


Chris Hemsworth provavelmente é o melhor Thor Odinson que o cinema atual poderia vender. Não é como se ele fosse protagonizar a cinebiografia do Laurence Olivier. O filho de Odin é meio como se fosse o Conan ou o Tarzan. Aqui conta mais a postura, o sangue nos óio e o físico do jagunço. Fora que o rapaz nem é ruim, ainda mais beneficiado pelo fato de que a canastrice do Thor dos quadrinhos responde por boa parte do seu charme. E só não blasfemo que Anthony Hopkins nasceu para interpretar Odin porque esse posto já pertence a um certo psiquiatra glutão. Na época do casting, eu torcia por Stellan Skarsgård, por motivos óbvios, mas hoje vejo o quão sábia foi a escolha. Rene Russo, tadinha e ainda linda, teve suas cenas jazendo no Hel da sala de edição. Entrou muda e saiu quase calada. Não muito diferente da Frigga nos quadrinhos, por sinal. Já Colm Feore (esse cara me assusta) também foi desperdiçado, ainda que em menor escala.

Ironicamente, o papel de Loki era o mais traiçoeiro de compor. Facilmente poderia resvalar no histriônico, unidimensional e clichê. Uma verdadeira armadilha de urso que Tom Hiddleston soube evitar com notável destreza (lembra dessa expressão, fiel seguidor? 'Nuff said!). Seu Loki é conflituoso por natureza e tem seu caráter questionável, mas também consegue demonstrar dor e amargura diante de sua trágica situação (um imbróglio familiar interplanetário bem à Novos Deuses). No clímax do filme, Hiddleston manda um olhar de "você morreu pra mim" que é de cortar o coração e pendurá-lo em praça pública.

Os Três Guerreiros renderam a melhor piada do filme e, mesmo sendo esquisito ver um ex-Frank Castle pilotando a barriga do Volstagg, estavam muito bem caracterizados. Assim como - e comeria feliz - a mulher maravilha Jaimie Alexander recheando de curvas a armadura de Lady Sif e segurando o fator tomboy bem firme na coleira, afinal ela pode virar o interesse romântico do herói a qualquer momento, ou filme. Idris Elba, ameaçador. Até hoje não sei porquê o auê em torno da cor da pele do homem. A cota foi descarada, sim, mas ele consegue ser sensacional mesmo naquele modelito de rei da bateria. Ah, contextualmente... o Heimdall do filme não era germânico, nem caucasiano. Nem humano era. Reparou na altura dele em relação aos outros? Isso posto...

Do núcleo "turma de Asgard", senti falta do Balder. Talvez no próximo. Ou melhor, no próximo depois do próximo.


Skarsgård fez um melhor negócio ficando na pele do dr. Selvig mesmo. Além de coadjuvar neste filme, também foi um quase-MacGuffin em Os Vingadores e ainda pegou a continuação de Thor. Confesso que é um pouco estranho vê-lo tanto em filmes-pipoca, mas não tanto quanto ver a Kat Dennings como coadjuvante cômica meio sem ter nada pra fazer ali. Natalie Portman, que provavelmente ainda será adorável quando tiver uns 105 anos, encabeça o trio improvável com uma Jane Foster que não é enfermeira, mas uma astrofísica. Papel que ela interpreta com os pés nas costas e fazendo malabarismo com duas tochas, três gatinhos e quatro facas ginsu. Natalie é a Hit Girl da minha geração. E vem matando dragões há muitas eras antes de levar um Oscar pra casa. Foi bom vê-la ganhando uns milhões de doletas só pra se divertir, trocar umas ideias com o Branagh (a razão dela assinar o contrato) e dar uns amassos no galã musculoso. Ela merece.

O que faz Thor tão coxo quanto o dr. Donald Blake é sua falta de ambição. A cinematografia não chega a ser do tipo TV-movie, como os longas do Quarteto Fantástico, mas também não é muito mais além. A maior parte da verba destinada aos efeitos deve ter ficado nas contas de Asgard, porque na Terra o esquema é muito mais modesto. Toda a destruição do Destruidor (pleonasmo?) beira o inócuo, principalmente durante as investidas dos Três Guerreiros-mais-a-donzela, quando são simplesmente expelidos de um lado pro outros pelos raios do monstro. Thor conjurando o tornado mais fake do cinema e sua luta virtualmente inexistente com o Destruidor foi a cereja. Ou a framboesa. Nos quadrinhos, odes eram escritas em torno desse confronto titânico, que durava páginas a fio e, não raro, terminava mal pro loirão. Anticlímax é isso aí.

Sendo um pouco mais chato, o roteiro também não fez muita questão de esconder seus buracos. No ato final, os Três Guerreiros-mais-a-donzela desaparecem sem grandes explicações. Do mesmo jeito, Heimdall, que seria o cara que resolveria a parada ali pro lado dos mocinhos, evapora. E Odin não precisaria fazer absolutamente nenhuma escolha naquele momento, já recuperado do Sono e com seus superpoderes de deus bombando em suas sagradas veias. A impressão é que eles tinham uma agenda nas mãos, uma deadline no pescoço e nenhuma ideia brilhante naquele momento.

Por tudo o que já foi cometido em nome do personagem, Thor se sobressai com facilidade. Podia ter sido bem melhor? Vastamente. E tinha todas as condições pra isso. Essa permanece sendo minha maior frustração com o filme e que não influi no que ele realmente representa: uma super-produção no mínimo digna daquele Thor das HQs, que mesmo eu, com onze anos de idade, jamais acreditei que um dia sairia daquelas páginas para outro lugar que não fosse a minha imaginação fértil.

Sentimentos fortes no cinema aquele dia. Por um filme que se contentou em ser um mero passatempo.

Thor (EUA, 2011), 115 min.
Direção: Kenneth Branagh
Elenco: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston, Anthony Hopkins, Stellan Skarsgård, Kat Dennings, Idris Elba, Jaimie Alexander, Ray Stevenson, Clark Gregg, Colm Feore