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quinta-feira, 27 de novembro de 2025

The Smashing Corgan


Há algum tempo acompanho o conteúdo do Track Star* – tenho um fraco pela premissa do cabra-cega musical. Conspiram a favor do canal a dinâmica enxuta, a seleção diversificada de gêneros e um entrevistador não-pentelho que sabe ouvir, pra variar. E essa edição com o Billy Corgan é um escândalo de boa.

Corgan – que tem um podcast viciante, The Magnificent Others with Billy Corgan – é franco como uma tijolada. Acerta tudo (menos uma armadilha picareta lá pro final), despeja um conhecimento histórico-musical absurdo, um impagável desdém por New York e sua voracidade hipsterista e uma bagagem de causos sensacionais. E com a moral de ilustrar um deles com um show em que divide o palco com David Bowie...

Imagina se o careca não estivesse mal-humorado.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

A última nota de Quincy Jones


Quincy Delight Jones Jr.
(1933 - 2024)

Se foi o Quincy Jones. Isso nem parece uma expressão de verdade. É quase como afirmar que "se foi a música" ou "se foi um instrumento". Lendário? Também é muito pouco.

Quincy não foi apenas o produtor, compositor e arranjador que moldou a cara dos anos 1980 com os estelares Off the Wall (1979), Thriller (1982) e Bad (1987), de Michael Jackson. E nem apenas o produtor e condutor de "We Are the World", um dos singles mais vendidos de todos os tempos. Do alto de seus 28 Grammys (e desculpe, mas, sim, isso vale muita coisa), a história de Quincy se confunde com a história da música pop contemporânea e da própria história da comunidade negra da América no século 20.

Neto de uma ex-escrava, a vida não facilitou para Quincy. Desde criança, quando vivia de pequenos roubos, até sua estreia na banda do jazzista Lionel Hampton e suas colaborações com nomes como Frank Sinatra, Ray Charles, Dinah Washington, Louis Armstrong, entre outros gênios, e ainda sentindo na alma toda a violência da segregação racial dos Estados Unidos, pode se dizer que Quincy fez e viveu o seu próprio milagre. Que vida. Que história.

Neste momento, é impossível não recomendar Quincy, documentário da Netflix co-dirigido por sua filha Rashida Jones (também uma ótima atriz) e por Alan Hicks. Se ainda não assistiu, recomendo demais. É excelente e imperdível.


Ninguém é eterno, lógico. Mas algumas vezes, vivenciar um momento histórico traz uma sensação de fim de festa absurdo e que daqui pra frente a ladeira abaixo será ainda mais íngreme. Essa é uma dessas ocasiões.

Rest in Power, Quincy Jones.

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

A insustentável complexidade do simples

Comentando sobre o Rick Beato outro dia, comecei a rever alguns vídeos antigos dele e me diverti demais. Produtor, engenheiro de som, compositor, multi-instrumentista e educador universitário, o músico nova-iorquino usa sua incrível articulação – e seu ainda mais incrível ouvido absoluto – para levar aos neófitos os rigores da teoria musical de maneira prática, espirituosa e mastigadinha. O que rende muito em suas entrevistas, causos de bastidores e análises de sucessos pop.

Foi nessa última que ele descobriu "a música pop mais complexa de todos os tempos". Que foi lançada por um brasileiro®...


Ok, artisticamente, "Never Gonna Let You Go" é tão brasileira quando "Sweet Home Alabama". Sérgio Mendes, ou Sergio Mendes, a incluiu em seu álbum homônimo de 1983 apenas porque precisava de uma balada para dar uma quebra no clima festivo e carnavalesco do disco. E saiu dali com um hit mundial nas mãos. Talvez o seu maior, o que é notável.

Mendes, radicado nos EUA desde 1964, foi um gigante pop nas décadas de 1960-1970. Contabilizou alguns sucessos, como "The Look of Love", "Scarborough Fair", a versão de "The Fool on the Hill", dos Beatles, e, lógico, o clássico "Mas que Nada", do Jorge Ben. Foi indicado várias vezes ao Grammy (levou alguns) e até ao Oscar. Tocou com Deus, na figura de Stevie Wonder, e o mundo. Tocou na Casa Branca para dois presidentes – não que isso valide alguma coisa, mas é a moralzinha agregada. Sacumé.

Lembro de crescer ouvindo "Never Gonna Let You Go" tocando sem parar em tudo que canto, em rádios, novelas, na casa vizinha, na rua. Por décadas. É daqueles standards do gênero adulto contemporâneo que não saem nunca das 50+. Mas sempre notei que havia algo muito estranho naquelas progressões de guitarra e vocais. E por "sempre", leia-se "sempre". Mesmo.

Iria para o túmulo com essa, mas graças aos céus pelo Rick Beato. E só levou 40 anos.

Ps: às vezes as canções pop mais simples são mais difíceis do que se imagina...

terça-feira, 6 de junho de 2023

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

O pai da invenção

Esquadrinhar a vida, a obra, a genialidade e a transgressão do signore Frank Vincent Zappa é impossível para uma produção de duas horas. Para arranhar a lataria, seriam necessárias algumas temporadas de uma série padrão HBO. Enquanto isso não acontece, Zappa parece ser um ótimo aperitivo. E ainda periga ser o documentário musical mais necessário de 2020.


Só esse trailer já me abriu um sorriso de uma orelha cansada até a outra orelha cansada.

Zappa é escrito, produzido e dirigido por Alex Winter (o Bill, dos filmes da série Bill & Ted), que é curtista e documentarista de longa data. Pelas cenas, dá para ver alguns highlights obrigatórios: a obsessão com a teoria musical, a fase The Mothers of Invention, os shows surreais, a iconoclastia sem prisioneiros, a briga histórica com a PMRC e o ativismo político, quando já alertava para o perigo de um estado democrático se tornando uma "teocracia fascista".

Claro, é só a ponta do iceberg. O terrível incidente em Montreux (a mais famosa citação da História do Rock), o atentado quase fatal que sofreu durante uma apresentação em Londres apenas seis dias depois, a amizade com o presidente (e fã) da antiga Tchecoslováquia e por aí vai. Tudo isso já se encontra do excelente doc Eat That Question: Frank Zappa in His Own Words (Thorsten Schütte, 2016), obrigatório para quem se interessa minimamente pela cultura pop e pela política do século 20 e como elas estão ligadas ao cenário atual. O longa é recheado de trechos de shows, entrevistas raríssimas e filmagens de arquivo até então inéditas – o que me deixa com o pé atrás com a mesma oferta sendo vendida no trailer de Zappa.

Olha lá, Bill...