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quarta-feira, 24 de setembro de 2025
“There comes a time...”
Na recente edição do festival The Town, fui surpreendido por um Lionel Richie se apresentando em grande forma. Foi um show divertido, pesado e tecnicamente impecável que acionou alguns gatilhos que nem sabia que ainda estavam lá. Cresci praticamente respirando a obra do popstar. Era só passar perto de algum rádio ligado em qualquer estação – FM ou AM – e ser bombardeado por sua longa fileira de hits solo ou nos Commodores, de "Easy" e "Three Times a Lady" a "Hello", "All Night Long (All Night)", "Endless Love", "Say You, Say Me", etc, etc, ad-infinitum-e-além. Sem descanso.
Algumas, confesso, reouvi pela 1ª vez após décadas de molho. E foi um reencontro muito bom. Tanto pela performance energética e bem-humorada de Richie, quanto por ver essas joias pop gabaritando no teste do tempo. Mas uma canção em particular se tornou a grande surpresa do setlist: a emblemática "We Are the World", defendida heroicamente no piano e no gogó abençoados do compositor.
Com essas boas vibrações, resolvi tirar do porão este fenômeno que, em 1985, ajudou a combater a fome na Etiópia, mas que megassaturou rádios e tevês por metade da década de 1980. Que foi um momento histórico, isso nem se discute. E já era tempo de revisitar e estudar a música e seu antológico videoclipe com olhos e ouvidos mais calejados.
Bom, fui atrás – hoje é fácil.
Aproveitei e estendi a estadia sonora com o sensacional documentário A Noite que Mudou o Pop (The Greatest Night in Pop, 2024), disponível na Netflix. O filme foi dirigido pelo americano-vietnamita Bao Nguyen, do igualmente sensacional Be Water, doc de 2020 sobre Bruce Lee. E a experiência foi fascinante, pra dizer o mínimo.
O documentário é revelador e até desmistificador sob muitos aspectos. Espertamente, Nguyen imprimiu à empreitada uma narrativa tensa, com um clima de Missão Impossível (a série sessentista, por favor). E foi exatamente isso, uma missão impossível com uma deadline ridícula entregue nas mãos dos multitalentosos Richie, Quincy Jones e Michael Jackson. Ficou famoso o aviso "check your ego at the door" – "deixe seu ego na porta" – pregado na entrada do estúdio, mas é lógico que algum percentual daquilo acabou passando de penetra.
O que não sabia era de todo o resto: a operação top secret para convocar os convidados (o que rende a memorável sequência com cada artista chegando ao estúdio da A&M sem saber quem estaria por lá), a logística é-tudo-ou-nada para gravar a coisa toda em uma só noite, Bob Geldof (Live Aid, Live 8) explicando aos astros a importância humanitária do projeto, Quincy Jones regendo e amansando a manada pop enquanto Lionel Richie se encarregava de apagar os pequenos incêndios, a complexidade de harmonizar vozes com estilos tão diferentes, o apoio essencial (e engraçado e brilhante) de Stevie Wonder ao deslocado Bob Dylan, a furada histórica de Prince, a insólita "dificuldade técnica" da Cyndi Lauper, a fofura suprema de Diana Ross, Bruce Springsteen só o pó da rabiola, saído da maior turnê de sua carreira direto para a gravação e por aí vai. Uma delícia de caos.
Para quem curte música, história da música, saber mais sobre a indústria e os bastidores, o documentário é um masterclass.
As interações espirituosas de Springsteen e Ray Charles mais os depoimentos impagáveis de Richie e de Huey Lewis são ouro puro. Podia ter rolado entrevistas com Paul Simon, Willie Nelson, Steve Perry e com os atores Dan Aykroyd (a tirada com os Caça-Fantasmas foi ótima) e Bette Midler, que também bateram ponto no coral gospel. A meu ver, dariam perspectivas atuais bem relevantes.
Como título, A Noite que Mudou o Pop não é acurado. Mas A Maior Noite do Pop, como reza o original, não ouso discordar.
Foi mesmo uma noite daquelas.
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segunda-feira, 4 de novembro de 2024
A última nota de Quincy Jones
Se foi o Quincy Jones. Isso nem parece uma expressão de verdade. É quase como afirmar que "se foi a música" ou "se foi um instrumento". Lendário? Também é muito pouco.
Quincy não foi apenas o produtor, compositor e arranjador que moldou a cara dos anos 1980 com os estelares Off the Wall (1979), Thriller (1982) e Bad (1987), de Michael Jackson. E nem apenas o produtor e condutor de "We Are the World", um dos singles mais vendidos de todos os tempos. Do alto de seus 28 Grammys (e desculpe, mas, sim, isso vale muita coisa), a história de Quincy se confunde com a história da música pop contemporânea e da própria história da comunidade negra da América no século 20.
Neto de uma ex-escrava, a vida não facilitou para Quincy. Desde criança, quando vivia de pequenos roubos, até sua estreia na banda do jazzista Lionel Hampton e suas colaborações com nomes como Frank Sinatra, Ray Charles, Dinah Washington, Louis Armstrong, entre outros gênios, e ainda sentindo na alma toda a violência da segregação racial dos Estados Unidos, pode se dizer que Quincy fez e viveu o seu próprio milagre. Que vida. Que história.
Neste momento, é impossível não recomendar Quincy, documentário da Netflix co-dirigido por sua filha Rashida Jones (também uma ótima atriz) e por Alan Hicks. Se ainda não assistiu, recomendo demais. É excelente e imperdível.
Ninguém é eterno, lógico. Mas algumas vezes, vivenciar um momento histórico traz uma sensação de fim de festa absurdo e que daqui pra frente a ladeira abaixo será ainda mais íngreme. Essa é uma dessas ocasiões.
Rest in Power, Quincy Jones.
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