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segunda-feira, 1 de abril de 2024

Para os que ficam


Edward R. Piskor Jr.
(1982 - 2024)

Se foi o Ed Piskor. Voluntariamente. Com apenas 41 anos.

Descrever a rápida saga que levou à sua implosão profissional e pessoal é exaustivo só de pensar a respeito. O jornalista, escritor e tradutor Érico Assis montou um fio compreensivo e prático.

Li alguns trechos da carta de despedida. Só consegui ver ressentimento, instabilidade e imaturidade. Talvez com razão – talvez não. Muito ainda será discutido a respeito e termos como cultura do cancelamento, tribunal da internet, saúde mental, vitimização e/ou culpabilidade da vítima serão atirados no ventilador com toda a força.

A repercussão desse caso ainda vai durar um bom tempo no escrutínio público. E não poderia ter vindo em pior hora para alguns ex-queimados estão ensaiando um retorno à cena. A verdade é que ninguém sabe ainda como fazer isso direito. Piskor não soube.

comentei aqui: adorava o Cartoonist Kayfabe que ele dividia com o ex-amigo Jim Rugg. E considero Hip Hop Genealogia e X-Men: Grand Design alguns dos quadrinhos mais importantes das últimas décadas. Mas estaria mentindo se afirmasse que, para mim, a fruição dessas obras não sofreu um baque com as escolhas de vida (e de morte) do autor. Como tantos outros antes dele e, temo, depois também.

Da mesma forma, também não sei o que fazer sobre isso. Não ter controle sobre uma situação é foda.

Descansa em paz aí, Ed Piskor.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

The Liefeld Experience

Guilty pleasure #214: canais com gibis sendo folheados. Nada muito elaborado, apenas o virar de páginas daquele quadrinho surrado e esnobado nas incontáveis passadinhas pela banca. Quase dá pra sentir o cheiro do papel velho, o que também é preocupante —quem me viu, quem me vê.

Já há um bom tempo ando com o nariz enterrado nos arquivos do Cartoonist Kayfabe, dos quadrinhistas Ed Piskor (X-Men: Grand Design) e Jim Rugg (Afrodisiac). Além da "folheada proibida" (quem nunca levou um puxão de orelha do dono da banca?), eles elaboram um exame página a página da HQ da vez com o melhor papo de boteco possível.

Uma das minhas folheadas prediletas é a da COLOSSAL e BOOOMBÁSTICA X-Force #1 (jun/1991), da dupla quintessencial do zeitgeist massavéio noventista Rob Liefeld & Fabian Nicieza. É uma maravilha. Mas não pelos motivos de sempre.


Sabiamente, os dois evitam a manjada malhação do(s) Judas. Até por quê, para aqueles que têm o mínimo de critérios —e sabemos que fanboys são muito criteriosos, não é?— seria como chutar cachorro morto.

Liefeld e Nicieza não valem um copo de Paratudo, o que é ponto pacífico (espero). Mas também é visível que, no meio do chorume, co-existia ali uma profusão de ideias promissoras, novas e/ou rearranjadas, ironicamente sabotadas pela própria imaturidade e inaptidão narrativa do par, sem um único filtro de bom gosto (ou bom senso) para administrar a sobrecarga de cultura pop. O que não impediu a edição de vender seus 5 milhões de exemplares só nos Estados Unidos da América Fuck Yeah.

Piskor/Rugg destrincham o blockbuster de Liefeld/Nicieza com uma lupa quântica. E em cada quadrinho amplificado saltam aos olhos as fagulhas de genuíno entusiasmo e dedicação pelo que eles estavam fazendo e que não é outra coisa senão a expressão máxima da experiência quadrinhística. E que, por sua vez, acabou recarregando a minha arriada bateria de gibizeiro das antigas.

Sim, chegou o dia que tanto temia: fiquei inspirado após ver um gibi do Rob Liefeld.

Claro que achei graça das romantizadas e hipérboles efusivas (disparadas, em sua maioria, pelo empolgado Piskor) em cima de sequências que são, em última análise, apenas quadrinho ruim com força. O mesmo para as insistentes analogias relacionando o "estilo" Liefeldiano ao do Fletcher Hanks, criador do Stardust the Super Wizard e da Fantomah. Ah, por favor. Onde o venerável Hanks era pura virulência e idiossincrasia (por sinal, ele também era um completo vida loca que bem merecia um filme ou uma série biográfica naqueles padrõezinhos HBO-filé), Liefeld é só um manqueta descendo a ladeira durante um terremoto. Mas é legal desopilar por alguns momentos e compreender melhor por que aqueles quadrinhos mexeram tanto com os corações e mentes da piazada da época.

No fim da viagem, antes de retornar ao meu Northrop Frye (pfff), um último espasmo foi inevitável: X-Force #1 é massa, velho.