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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Blend scotch western


Há um sem número de coisas a se comemorar aí - Josh Brolin finalmente pegando a trilha certa para o oeste, uma nova colaboração entre Bridges e os Coen, o Cash arrepiante lá pelas tantas.... mas o melhor mesmo é só degustar a vibe casca-grossa, como um bom Black Label doze anos.

Ordem do dia: rever a produção de 1969 enquanto não chega a estreia.

domingo, 4 de março de 2007

DIRETOR FANTASMA


"Spawn was much much better than this". Essas palavras calaram fundo na minha mente quando li o review do Harry Knowles sobre Motoqueiro Fantasma (Ghost Rider, 2007). E ele estava lá, desfiando passionalmente sua fúria fanboy-mor em cima de mais um suposto desperdício de um bom personagem dos quadrinhos. Analisando friamente, nada de novo até aí, visto que o diretor é o mesmo Mark Steven Johnson, do meio-médio-ligeiro Demolidor e responsável por uma nova enfermidade chamada transtorno obsessivo-compulsivo de Elektra*. O mal de Johnson é muito peculiar. Ele soa como se fosse um subproduto de Paul W. Anderson (de Aliens vs Predador), que por si só já é um subproduto de diretor-operário. A ironia é que Johnson tem boas idéias conceituais (Demolidor mesmo tem várias delas), mas as anula uma a uma impiedosamente em lances de absurda previsibilidade. Pra piorar, não parece ter a mínima intimidade com diálogos inspirados ou roteiros bem amarrados. E neste filme, além de dirigir, ele adapta e roteiriza... ou seja, Motoqueiro Fantasma é 100% Mark Steven Johnson, um cineasta 25%.

De qualquer modo, o filme é bastante fiel à premissa dos quadrinhos e condensa tudo que o Motoqueiro tem de melhor. Seu alter-ego é o motoqueiro Johnny Blaze com a roupagem e os poderes do motoqueiro Daniel Ketch. Nicolas Cage finalmente conseguiu o tão sonhado papel de super-herói e não faz feio no que lhe diz respeito. E a história é aquele mesmo causo faustiano contado na Marvel Spotlight #5, só que mais enxuto. O jovem Johnny (Matt Long) e seu pai, Barton Blaze (Brett Cullen), fazem um espetáculo com acrobacias em motos. Nas horas vagas, Johnny encara outro espetáculo, de nome Roxanne Simpson (Raquel hhhmmm Alessi). Um belo dia, ele descobre que seu velho pai tem câncer e está em fase terminal. É quando aparece o boitatá-de-Armani Mefisto (Peter Fonda), com um providencial contrato debaixo da asa. Sem maiores espiritualidades, Johnny vende sua alma pra aprender a tocar guitarra... digo, salvar a vida de seu pai do mal irremediável. Desse mal irremediável, melhor dizendo, pois o mesmo empacota na primeira manobra arriscada de sua apresentação, configurando aí uma autêntica sacanagem dos diabos.

Amargurado, Johnny cai na estrada e embarca numa carreira-solo bem sucedida, mas vazia. Os anos passam e ele reencontra seu antigo amor, Roxanne (já esculpida com as curvas de Eva Mendes), que, óbvio, virou jornalista. Como esmola demais o santo desconfia, Johnny também recebe a desagradável visita de Mefisto – o ser mega-satânico está reivindicando sua parte no contrato para conter a rebeldia de seu filho, Coração Negro (Wes Bentley).


Um grande mérito foi manter intacta não só a presença cavernosa do Motoqueiro, como também a enorme extensão de seus poderes - o personagem é muito poderoso, mesmo para os padrões super das HQs, e isto é claramente demonstrado aqui em diversas situações. Seu vozeirão gutural ficou ótimo, de meter medo em vocalista de death metal. Rola Crazy Train, do Ozzy. O maneiríssimo Olhar da Penitência está lá também. E quando seu "uniforme" fica totalmente caracterizado, com os vinte quilos de couro preto, corrente atravessada e espinhos metálicos, bate até um certo regozijo nerd. Nem o Homem-Aranha foi tão justiçado. Outra boa sacada foi o background sintético do Blaze pré-Motoqueiro. Ficou tudo mais ágil e marcante. Nos quadrinhos, a trajetória do rapaz (que era adotado) é um dramalhão texano daqueles. E uma vez mais, Johnson prova que, tirando alguns poucos Aflecks, é certeiro no que tange à escolha do elenco. Além do easy rider Peter Fonda, também tem meu tio Sam Elliott num papel que, fora ele, apenas meu outro tio, Clint Eastwood, poderia personificar com tal foderocitude, son. Rrrc. Cusp.

Parece bom, né. Mas não é bem por aí não. Johnson ainda continua matando seus bons rompantes com a frieza de um serial-killer, e a partir da segunda metade, ele o faz com talento ímpar. É aí que eu entendo melhor a fúria Knowlesca: o cineasta parece se esmerar para garantir que o produto final seja milimetricamente razoável e nada mais, mesmo com todas as condições favoráveis para deslanchar (o extremo oposto de Bryan Singer, na época do 1º X-Men). Johnson assume a ponta sem grandes dificuldades, mas aperta o freio bem no meio da curva. Essa atitude irrita mais do que se o filme fosse uma pilha de merda fresca.

Em Motoqueiro Fantasma existem momentos de puro vazio contextual. Não raro o personagem, com todo aquele visual dark hardcore, "trava" em cena e não diz a que veio, e quando diz não tem a menor importância - é impossível lembrar das falas do Motoqueiro segundos após as mesmas. Fonda e Elliott não passam de coadjuvantes de luxo – Elliott então, é praticamente despejado do filme em uma última cena cheia de buracos na lógica (não podia só ter pego carona na moto pra poder ajudar mais?). Já Coração Negro tem um poder com um efeito sinistrão, mas passa o filme inteiro se utilizando de seus assistentes – demônios buchas que representam as forças elementais. Cage, por sua vez, insiste em apontar o dedo em riste, ficar uma eternidade em silêncio pra finalizar dizendo alguma pasmaceira óbvia – maneirismo canastrão repetido ad nauseum (de quem terá sido a idéia...). Isso pra não falar na fixação do personagem por Carpenters e balinhas de jujuba (!!).

A apenas quinze minutos do final, eu imaginava se uma boa briga entre o Motoqueiro e Coração Negro não resolveria a parada. Sim, resolveria. Mas Johnson já tinha jogado a toalha há quarenta minutos atrás. Imagine o Deacon Frost, vilão do 1º Blade, com as mesmas motivações e planos para dominação do mundo, mas sem a luta final. Este é Coração Negro, que, por sinal, não tem nada demais em sua forma verdadeira, à despeito das declarações exageradas do diretor.

Um ano de pós-produção pra isto. Estou impressionado.


Parabéns Johnson, você conseguiu. Motoqueiro Fantasma é o filme mais mediano dos últimos tempos. Pelo menos rendeu aquela simulação em flash no site oficial.

Ah, mas eu não tenho webcam... tsc.


A propósito, um breve adendo:


Nicolas Cage já topou com um motoqueiro dos infernos, certa vez. Tal de Leonard Smalls, motoqueiro solitário do Apocalipse... ou algo que o valha.






Puxa vida, aquele cara era bem durão para uma metáfora.


Parabéns Eva Mendes. Beijão na boca!