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sábado, 21 de junho de 2025

De volta à terra prometida


Extermínio 3: A Evolução (28 Years Later, 2025) evidencia em cada frame o quarto de século que o separa do filme original, que hoje pode ser considerado um clássico de gênero sem dor na consciência. Ao mesmo tempo, oferece toda a cortesia e reverência ao tropo que fez daquele microcosmo um lugar tão fascinante. O diretor Danny Boyle e o roteirista Alex Garland reformam sua parceria naquilo que vinha sendo cozinhado desde 2007 – e que, tenho certeza, foi adiado deliberadamente até que a punchline dos títulos se alinhassem com a passagem do tempo do lado de cá da telona. Uma piscadela para os espectadores mais resilientes, mas também um abacaxi gigante de expectativa para dar conta.

Algo para se ter em mente antes da experiência do filme, é que o tempo passou também para a dupla. O Boyle 2020 é um diretor diferente daquele dínamo de urgência cinética que entregava estética e narrativa punk para as massas. A energia ainda está lá, porém calculada e compartimentalizada, quase ferramental, sempre servindo a um propósito que não o gore puro e simples.

Quem espera aquela carga de tripas, vísceras e um vomitório de sangue infectado, vai receber. Mas não em um trem desgovernado.

A retomada da dupla está em sintonia fina. Como no 1º filme, a base da trama é uma mistura de drama familiar com o terror à espreita num bucólico cenário rural. Boyle não economiza nos experimentalismos visuais cruzando metáforas históricas com o mythos da franquia, criando uma sensação perturbadora e incômoda. Em certos momentos, chegam a remeter aos recortes psicóticos de Oliver Stone no filme Assassinos por Natureza (1994). Tudo isso no bom sentido.

Em contrapartida, é bom retornar a um inferno conhecido, com a trilha sonora do grupo Young Fathers seguindo a pegada instrumental drone/post-rock eternizada pelo compositor John Murphy. Não existe no cinema uma trilha mais estilosa e tensa para cenas com zumbis/infectados raivosos. É de empenar os braços da cadeira com a ponta dos dedos.


A cena de abertura segue a tradição da série em fazer o espectador assistir ao resto do filme sob o mais absoluto TEPT. Os Teletubbies finalmente foram ressignificados. A sequência não deixa nada a dever ao Boyle raiz e nem à chocante intro que Juan Carlos Fresnadillo dirigiu em Extermínio 2.

A história central é conduzida por Jamie (Aaron Taylor-Johnson), sua esposa enferma Isla (Jodie Comer) e seu filho de doze anos, Spike (Alfie Williams). A família reside em uma pequena comunidade estrategicamente isolada que conseguiu funcionar dentro da quarentena imposta ao devastado Reino Unido.

Numa surpreendente boa atuação de Taylor-Johnson, Jamie é um dos caçadores e escavadores mais experientes do lugar. Orgulhoso e paternalista, ele visa o mesmo destino para Spike e o inicia em sua 1ª saída fora da comunidade, dois anos antes da idade mínima recomendada pela tradição local. Após uma experiência aterradora, Spike se vê diante de algo ainda mais alarmante: a piora no estado de saúde de sua mãe, que sofre de uma doença desconhecida. E justamente lá fora pode estar a única chance de cura, na figura do misterioso e recluso Dr. Kelson, personagem do grande Ralph Fiennes.

Felizmente, o roteiro de Garland não ignora os eventos catastróficos que pontuaram o filme anterior. Pelo contrário, lida sobriamente com todas aquelas nuances da cronologia e vai (muito) além, expandindo o conceito original para níveis inéditos até então. No filme, o status quo dos infectados andou um bom pedaço nesses 28 anos. A tela ferve de tantas possibilidades.

O que é uma faca de dois gumes para Extermínio 3.

☣️ ☣️ ☣️ SPOILERS ☣️ ☣️ ☣️

Um dos aspectos mais marcantes dos dois primeiros filmes é o protagonismo à toda prova do vírus. Ainda mais do que os próprios raivosos, que já no filme original apresentavam indivíduos moribundos, sofrendo de inanição severa ou simplesmente mortos e empilhados em algum canto. O perigo maior sempre foi a da infecção, mesmo pelo mero contato com uma gotinha furtiva de sangue contaminado. Sua ameaça paira sobre os personagens como uma nuvem negra pronta para ferrar com tudo. Invisível e onipresente, o vírus é o grande vilão da série.

Em teoria, era só aguardar uns meses até todos morrerem de fome e fazer uma cuidadosa faxina na base do lança-chamas – o que não deu lá muito certo no segundo filme. Em Extermínio 3 tampouco, visto que os infectados desenvolveram um senso primitivo de sobrevivência. Entre uma e outra regurgitada de sangue infecto, eles passaram a caçar em bandos para se alimentar. Fora isso, uma variante do vírus causou uma mutação mastodôntica em alguns infectados, em que o "vírus age como esteróides", segundo um personagem. Os chamados Alfas são infectados bombados com mais de dois metros de altura, uma rola do tamanho do Peter Dinklage e muito difíceis de matar.

E fica pior.

Os infectados agora conseguem acasalar e procriar. O resultado ainda é incerto, já que o filme apresenta o que pode ser o 1º nascimento do tipo. Aqui, a bebê em questão está aparentemente saudável, sem sinais da infecção raivosa – o "milagre da placenta", como define o Dr. Kelson. Porém, ainda pode ser a hospedeira do vírus inativo (lembra da sofrida heroína de Extermínio 2?). A ver... embora tenha certeza que já vi.

Zack Snyder, ele mesmo, já bateu nessa tecla não apenas uma, mas duas vezes – no remake Madrugada dos Mortos (2004) e em Army of the Dead: Invasão em Las Vegas (2021). Tanto na questão do "bebê zumbi" quanto na dos "super-zumbis Alfas". Visionário, enfim!

Em tempo... Há uma teoria se espalhando raivosamente pelo Reddit na qual o austero Dr. Kelson é o criador do vírus, daí seu comportamento peculiar. Tese interessante, embora contradiga o curta de "quadrinhos animados" 28 Days Later: The Aftermath - Stage 1 escrito por Steve Niles e constante nos extras do DVD do 2º filme (e, portanto, canônico?). Sempre haverá o que se explorar aí, de qualquer forma.

Mais uma amostra das sampleadas marotas de Boyle e Garland: a introdução de Jimmy e sua gangue. No contexto daquele cenário pós-apocalipse zumbístico, Jimmy assume contornos de um Negan (The Walking Dead), liderando um grupo de combatentes e espalhando sua lenda urbana pelas terras arrasadas. Sutileza passa longe.

Aliás, que puta choque estético e sonoro naquele final. 45% Warriors, 45% Laranja Mecânica e 10% vamos-ver-no-que-vai-dar-no-próximo-filme.


☣️ FIM DOS SPOILERS ☣️



Com atuações marcantes da excelente Jodie Comer, do veterano Fiennes e, especialmente, do jovem Alfie Williams, Extermínio 3 é um animal diferente do tour de force de ação & gore dos filmes anteriores. Isso não há o que discutir. No final das contas, se aproxima de um coming of age pós-apocalíptico (e foi impossível não lembrar do curta aussie I Love Sarah Jane, de 2008), por vezes gratificante, por vezes tocante, quase sempre apavorante. Como a própria chegada da idade, por assim dizer.

Mesmo com suas idiossincrasias, Extermínio 1 e 2 mantiveram a alta octanagem como força motriz de suas narrativas. A sensação que eles transmitem é a mesma (deve ser, porra) de participar de um torneio de roleta russa. Extermínio 3 (28 Years Later, porra²) mantém essa qualidade inata, embora divida sua atenção com planos mais abrangentes, mais ambiciosos. O final intrigante e escancarado não deixa dúvidas de suas intenções.

Não por acaso, a continuação 28 Years Later: The Bone Temple foi filmada simultaneamente, com previsão de estreia em janeiro de 2026. Danny Boyle deixa a casa toda desarrumada e a bola da vez está com a cineasta Nia DaCosta. Te vira aí, minha filha.

quinta-feira, 17 de abril de 2025

65 Dias Antes

Trailer novo e novamente espetacular de 28 Years Later (Extermínio 3... bah!²). Agora com maiores e aterradoras infos sobre aquele bravo mundo novo arrancando tinta do spoiler.


É preciso admirar o marketing da produção, que teve a sagacidade de resgatar o elemento mais comentado do 1º trailer (exatamente 1 frame mostrando um possível Cillian Murphy faquir), expandir aquilo e ainda promover a thumb da prévia! Fizeram o dever de casa direitinho.

A dinâmica pai-e-filho dos personagens de Aaron Taylor-Johnson e do guri Alfie Williams vagando por uma terra maldita recheada de territórios autônomos, pra mim, foi um gatilho quase imediato para o universo de The Walking Dead. Irônico, visto que as franquias tiveram pontos de partida idênticos, com Rick/Jim acordando de um coma em pleno apocalipse zumbi/infectado. Nunca esqueceremos.

Mas Extermínio (bah!³) veio antes.

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

28 Anos Depois 22 anos depois de 28 Dias Depois


Finalmente.

A franquia Extermínio está de volta dos mortos. E meio que na surdina – não ouvi um pio sobre a produção, que, ao que consta, se concentrou toda em 2024. O novo filme marca o retorno da colaboração entre Danny Boyle e Alex Garland. Por mais que tenha adorado o trabalho de Juan Carlos Fresnadillo em Extermínio 2 (triste como os títulos brasileiros desperdiçaram toda a sacada dos originais), ver a saga novamente nas mãos dos criadores chega a ser emocionante. É uma das maiores duplas do cinema pop-transgressor, ora pois.

Trailer maravilhoso. Sem mais. E atenção para o retorno do Jim/Cillian Murphy na marca dos 1:48. Não me arrisco a palpitar sobre o que se vê ali, mas é de arrepiar.

28 Years LaterExtermínio 3... bah! – conta com o ex-Mercúrio & ex-Kick-Ass Aaron Taylor-Johnson, a sensação Jodie Comer (de Killing Eve) e o grande Ralph Fiennes no elenco principal. A estreia está prevista para 20 de junho de 2025 lá fora.

Ps: já há uma sequência a caminho, chamada 28 Years Later Part II: The Bone Temple e está sendo dirigida pela Nia DaCosta.
Pps: tecnicamente, essa não é uma série de zumbis. São "infectados". Mas a tag está mantida para efeitos práticos.