Mostrando postagens com marcador Sony. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Sony. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

RELEASE THE KRAVEN

É Sony e seu Spider-Verse picareta. Óbvio que será um lixo. Mas pode ser divertido. Afirmo isso com a (falta de) autoridade de quem viu os dois Venom no cinema – e curtiu.


Este sangrento novo trailer de Kraven: O Caçador resgata aquela saudável atitude badassery has no limits que Blade implementou lá em 1998 pra escapar da vala comum dos filmes de super-heróis. Senão, vejamos.

Em ritmo de Bourne com esteróides, Kraven foge de uma prisão de segurança máxima na base da porrada, cai de um penhasco, faz kite surf com helicóptero, é bombardeado, massacra guardas, gângsteres e mercenários armados até os dentes e ainda sai no braço com o Rino em meio ao estouro de uma manada de búfalos!

Em outras palavras, o cara é foda, patroa. Não via um pack de ação tão exagerado e nonsense desde que o Vin Diesel saiu arrastando um cofre gigantesco pelas ruas do Rio de Janeiro.

Em que pesem as presenças do ex-Kick-Ass, ex-Mercúrio e sempre canastrão Aaron Taylor-Johnson no papel-título e de Russell Crowe (um pé-frio certo no gênero) como o patriarca Nikolai Kravinoff, o filme traz alguns pontos ao seu favor. O roteiro a seis mãos é de Richard Wenk, da boa trilogia O Protetor, juntamente com a dupla Art Marcum/Matt Holloway, de Homem de Ferro e Justiceiro: Em Zona de Guerra. E o diretor é o ótimo J.C. Chandor, que só fez filmaços até aqui.

Por fim, não esqueceram do mais importante: o colete de juba de leão. Imprescindível num filme sobre um macho alfa diferenciado como o Kraven.


Abril e sua tradução à Montanha & Maçaranduba

Ainda falta a legging de oncinha, mas tudo ao seu tempo.

Kraven: O Caçador tem estreia prevista nos cinemas daqui em 12 de dezembro. Olha que eu vou.

sábado, 4 de dezembro de 2021

Homem-Aranha e seus Incríveis Amigos 2

Pode me zoar à vontade: estou curioso sobre Sem Volta para Casa. Mas a curiosidade nem chega perto da expectativa em torno de Homem-Aranha no Aranhaverso 2, continuação do longa animado divertidíssimo, cheio de coração e meio caótico de 2018. E o teaser só instigou, com perdão do pleonasmo.


A sequência final é literalmente uma HQ viva*. E com o Homem-Aranha 2099 nela.

Outubro de 2022 tá muito longe...


* E não é pra menos! 👇

Wawawewa. Am excite. I was fortunate to have worked on this in the conceptual stages. Count me doubly anticipatory.

Publicado por Bill Sienkiewicz em Domingo, 5 de dezembro de 2021

terça-feira, 9 de abril de 2019

Big Guy & Rusty sonham com ovelhas elétricas?


Deu no Guia dos Quadrinhos: há 10 anos, Big Guy & Rusty, o Menino-Robô era publicado no Brasil. Criado por Frank Miller e Geof Darrow em 1995, o título teve vida relâmpago, se bastando em duas edições fininhas lá na gringa via selo Legend, da Dark Horse. Mas rendeu uma moralzinha cult com direito a remasterização em hardcover, action-bonequinhos e uma série animada espetacular.

Mesmo com o hype há muito perdido - se é que teve algum naquela era pré-Internet - a microssérie acabou saindo por aqui 14 anos mais tarde. Provavelmente, a Devir deve ter visto ali a chance de uma capitalizadinha com a (acredito) boa receptividade da HQ mais conhecida da dupla, Hard Boiled - À Queima-Roupa, republicada aqui um ano antes. Com isso, fecharam em duas graphics os trampos do power duo em formatão magazine. Grandes caras.

E por que o formatão foi importante? Essa é fácil.




A arte de Geof Darrow é um show à parte, isso até a minha bisavó sabe. Mas com esse detalhismo obsessivo nem mesmo as dimensões 21 x 28 cm da brochura parecem segurar o rojão visual; e provavelmente nada menos que as medidas de um Wednesday Comics ou de um King-Size Kirby fariam justiça ao seu TOC preciosista-micronauta.

Era a trincheira perfeita para Miller sair metralhando suas críticas curtidas em humor negro-vantablack ao american way, ao capitalismo e ao consumismo desenfreado. Tudo no mesmo balaio do sci-fi militarizado de Hard Boiled, Bad Boy, Martha Washington e, Milton Friedmans me mordam, suas colaborações na franquia RoboCop. Só lembrando que se tratava daquele Miller recém-saído da DC cuspindo marimbondo contra a censura e o establishment - mas ainda não era aquele Miller pós-11/9, danificado e cheirador de napalm pela manhã. Ainda era um meio-termo anárquico, divertido e combinando genialmente panfleto com escapismo.

A respeito de Big Guy & Rusty, muito se comenta sobre a patriotada impressa por Miller na história. Mais especificamente, sobre o fator Complexo do Salvador Branco/Narrativa do Salvador Branco, explícito numa sequência em que autoridades do Japão delegam aos EUA o status de xerife do mundo. Isso rola, exato e previsível como um relógio suíço. A diferença é que os perdedores têm o seu lado da história contado por eles mesmos; e o lado dos vencedores é conduzido num tom conciliador e amigável, não superior ou sectário.

Em contrapartida, já desarticulando minha própria defesa, uma das melhores coisas de Big Guy & Rusty é justamente seu ufanismo americanóide. Tudo à moda antiga, cheio de valores morais ("Agora é matar ou ser morto! ...Não! Tem que haver outro jeito!"), cristãos ("Eu só tenho um Deus, meu chapa e, com certeza, ele não é um iguana supercrescido!") e todos aqueles anacronismos deliciosos convivendo com cenas frenéticas de ação em toda a sua glória chuta-bundas/yippee-ki-yay-motherfucker.

Dá pra ver quanto o Mark Millar bebeu daqui para compor seu Capitão América Ultimate. E até mesmo o Universo Cinematográfico Marvel recente - mas aí é só suspeita minha.


Fuck yeah.

Ao contrário do que geralmente ocorre, soube da existência de Big Guy & Rusty anos antes da HQ sair aqui, pela série animada. Foi co-produzida pela Columbia TriStar Television e Adelaide Productions - o mesmo pessoal das divertidas Men in Black: The Series e Godzilla: The Series - em conjunto com a Dark Horse Entertainment e exibida pela Fox Kids. Coisa linda de joint venture.

Na TV aberta, o desenho passou na Globo na década de 2000, ou seja, nos últimos suspiros da sua faixa infantil matinal. Nem imagino em qual programa - seria aquele com a ruivinha marota, a TV Globinho? Àquele ponto, eu já era um autêntico Sargento Rock de guerra civil brasileira, então é certo que conheci pela tevê de alguma repartição pública, enquanto me decompunha em vida com uma senha de atendimento na mão; por sinal, o mesmo cenário desolador que me fez descobrir o igualmente maravilhoso desenho Avatar: A Lenda de Aang. Como um alívio em meio a tamanha tortura, foi amor à primeira assistida.

O conceito era, basicamente, os ícones do cânone pop-animê (Astro Boy/Jet Marte, Gigantor, Pirata do Espaço) e da cultura kaiju (Godzilla, Gamera, Rodan) colidindo com a ficção-científica americana do pós-Guerra. Irresistível.

Uma das grandes sacadas do cartoon foi adotar a ingenuidade e bom-mocismo dos 50's, apesar de se passar num futuro próximo - e isso inclui a patriotada, assumida de forma ainda mais incisiva e paródica que na HQ. Sempre há uma bandeira tremulando em algum lugar, os valores americanos são repetidos como mantras, a propaganda da máquina de guerra yankee é massiva, a trilha tem várias passagens em ritmo marcial e até o tema de abertura lembra um orgulhoso e grandiloquente hino militar.

A galeria de vilões era esparsa e variada: robôs, alienígenas, aberrações genéticas (e nucleares e químicas), mais robôs, monstros interdimensionais, evil cientistas e ainda mais robôs. Dos poucos recorrentes, meus favoritos eram os masterminds terminators da Legião Pró-Máquina (Legion Ex Machina), que mereciam até um desenho solo. Apesar de censura livre, o desenho era generoso em gore e grafismo sugeridos. Por várias vezes pesquei referências às nojeiras de O Enigma de Outro Mundo, The Hidden - O Escondido, A Mosca e até Do Além. O simples design de alguns monstros já parecia quase demais para um desenho voltado para crianças.


A parte técnica era um primor, com animação acima da média e arte mimetizando, à medida do possível, os traços originais - tanto que impressionou o próprio Darrow. O elenco de dublagem era um dream team: Jim Hanks (irmão do Tom) como o Tenente Dwayne Hunter, o piloto de Big Guy; o saudoso R. Lee Ermey como o General Thornton; o veterano ator M. Emmet Walsh como Mac, o mecânico mais velho de Big Guy; Stephen Root (de Corra!) como o ganancioso Dr. Axel Donovan; Gabrielle Carteris (a Andrea de, opa, Barrados no Baile) como a Dra. Erika Slate; o grande Clancy Brown (a voz definitiva do Lex Luthor!) fazendo quase todos os integrantes da Legião Pró-Máquina; o mestre Tim Curry como o Dr. Neugog; e fazendo a voz estridente de Rusty, a talentosa Pamela Adlon - a impagável Marcy, de Californication.

Já a relação gibi-desenho era curiosa, considerando o minimalismo típico do Miller noventista. Além do trabalho de adaptação, o desenho desenvolveu todo o background da HQ, criando do zero quase todos os personagens, cenários, motivações e objetivos a médio/longo prazo. A única grande convergência é o episódio de estreia, que começa do ponto onde o quadrinho parou (Big Guy e Rusty salvando vacas de uma abdução alienígena!), mas na verdade é uma adaptação livre do gibi inteiro, com alguns diálogos e cenas adaptadas ipsis literis. Muito legal.

A grade de cartoons americanos sempre foi competitiva e implacável. Assim, Big Guy & Rusty, o Menino-Robô foi uma pérola de vida curta, durando apenas 26 episódios em 2 temporadas - e nenhum home video para a posteridade. Tive que me contentar com aquele pack TV-rip em baixa resolução da Baía do Pirata. Sem grandes revisionismos da velha geração ou reverências da nova, segui resignado com a certeza que a viagem terminava ali.

Contra todas as (minhas) expectativas, em julho de 2016 veio a quase-redenção: Big & Rusty, the Boy Robot finalmente foi lançado em DVD.


Não foi um home video per se, mas um DVD MOD (made on demand) exclusivo da Amazon. A prática é corriqueira da gigante americana e mostra que: 1) mesmo obscuras, algumas séries tem sim uma demanda expressiva, saudosista que seja; 2) é uma das maneiras mais fáceis de fazer grana investindo uma merreca: o DVD é o cúmulo do básico, com a capinha impressa em HP Deskjet e autorado sem extras de qualquer tipo, constando apenas o menu de seleção com o nome dos episódios. Consumidor de DVD MOD é second-class citizen na visão das distribuidoras.

Mesmo assim, estava disposto em converter meu desvalorizado, mas suado dinheirinho nos 27 Trump$ e 99 + shipping para ter em minhas mãos putrefactas este item superlativo da minha coleção pop por ordem autobiográfica®. Mas bucaneiro véio nunca se endireita, então resolvi fazer pequenas escavações atrás de um lendário baú do tesouro em forma de arquivos matroska/container do DVD da série. Ou ao menos um DVD-rip em mp4. E nada.

Fui procrastinando e enrolando o carrinho da Amazon-US igual noivo fujão. Até que, há algumas semanas, sob um ímpeto fecha-compra ferrado e com a página amazônica escancarada, fiz uma última busca no Yandex. Dessa vez, com um resultado novo por ali: uma página japonesa - com tudo o que isso representa - trazendo a lista dos episódios em mkv e um magnet link solitário lá no finzinho.

Colei no µTorrent sem grandes expectativas e... não é que milagres acontecem?

Hooray!

Clique aí no Tetsujin 28-go - o Gigantor, pô - para copiar o magnet link.


O torrent agora está na Baía do Pirata também. E em outras fontes.

Sobraram poucos seeds, é verdade. Demorei uma vida pra completar esse download. Então vou manter os arquivos semeando ainda por um bom tempo. Não direto 24/7, mas ao menos algumas horas, todos os dias à noite. E quase direto nos fins de semana.

E a quem colaborar possa: que tal degustar esse torresmo, subir os episódios em alguma conta do Mega ou Mediafire e espalhar a palavra? O espírito público agradece.

Maratonei o desenho reservando certa condescendência para um possível envelhecimento técnico e narrativo. Felizmente, foi desnecessário: a série continua tão espirituosa, eletrizante e divertida quanto da primeira vez. Pode até ser uma Síndrome de Peter Pan (é provável), mas já quero conferir mais uma vez os "golpes movidos a plutônio" de BGY-11, vulgo Big Guy, e os "poderes núcleo-protônicos" de Rusty - que, lembrando, não tem "receptores de dor".

O tiozão do Anime Abandon concorda comigo.


Ps: é tarde demais pra sonhar com aquele live-action?

domingo, 10 de março de 2019

Precisamos falar sobre o Clark

A história de um menino que veio do espaço e é adotado por um típico casal americano. Uma fábula para os nossos tempos, o que significa...


Quem diria que revisitariam as origens do Superman de Zack Snyder, hein? Brincadeirinha, fã de O Homem de Aço e Batman v Superman, não precisa me perguntar se eu sangro.

Brightburn é co-produzido por James Gunn e seria promovido na SDCC ano passado, antes do cineasta ser excomungado pela Disney. Então estamos aí já no 2º trailer do Superboy Primordial da Terra-2019 e só agora fiquei sabendo da existência do filme. O roteiro é de dois outros Gunns, Mark e Brian, e a direção é de David Yarovesky, que além de trabalhar nos 2 Guardiões da Galáxia, também brincou em alguns episódios da impagável PG Porn.

Ou seja, vandalismo de fanboys gore/hardcore claramente putos com a indústria cinematográfica de quadrinhos - essa última é por minha conta (mas é possível, é possível). E mirando na maior jóia da coroa, que é o nosso bom e anacrônico - e por isso mesmo bom - Escoteirão. Chega a lembrar as travessuras do piá Mark Milton, só que esticadas por um longa inteiro e de propósito.

Em algum lugar, Zack Snyder se contorce de inveja.

Brightburn estreia em 24 de maio na região do Kansas. Já aqui, por enquanto, nem sombra.

sábado, 10 de julho de 2004

LEMBRA DISSO?®


Julho de 2001. Finalmente o teaser do filme Homem-Aranha estava on-line, após uma espera de mais de 30 anos (o pessoal da velha guarda que o diga)! Eram umas 4 horas da madruga e, após um senhor congestionamento na base de dados da Sony Pictures, finalmente baixei o disputado curta-metragem. Dezenas de reviews e análises já pipocavam em vários lugares da web, minutos depois dele ser disponibilizado, o que me deixava ainda mais ansioso. Mas, sinceramente, nada havia me preparado para o que eu ia assistir.

Com uma edição rápida e um roteiro simples, eu me deparei com o mesmo clima que estava acostumado a ver nas HQs, desde que era moleque. Os ladrões de banco high-tech, a ação veloz, o helicóptero dos vilões na cobertura do prédio, estava tudo lá... e o suspense para ver o aracnídeo, crescendo a cada frame. Após uma fuga espetacular, o susto. O helicóptero é bruscamente puxado para trás e eu ainda não havia assimilado que aquilo era uma teia... nada que dezenas de replays não resolvessem.

Aliás, esse teaser foi, com certeza, o vídeo que eu mais reassisti na vida (mais até do que o Dead End). Aquele helicóptero fazendo o papel de mosca presa na teia, em meio ao monumental World Trade Center, foi de gelar a alma. Eu estava tão assombrado quanto os malfeitores do filme. E o vislumbre final do Homem Aranha live-action foi indescritível. Ele se balançando nas teias entre os arranha-céus de New York era a realização de um sonho. Eu não acreditava no que estava vendo, literalmente. Minha lembrança mais próxima de um Aranha em carne e osso era aquele seriado medonho dos anos 70. Foi emocionante.












Já na terceira reprise (seguida) eu reparei no "Otto Octavius" do quadro dentro do banco. Bem antes de ler isso na web. Se eu tivesse blog naquela época... E olhando hoje, temos a certeza de que o segundo vilão da série já havia sido escolhido há muito tempo. Muitos cogitaram que seria o Lagarto ou o Venom. Tinha quem jurasse que seria os dois!


Após os atentados do 11/9, o teaser foi banido de toda e qualquer divulgação do filme. Achei uma pena, pois o herói simboliza a grandiosidade da cidade de New York, e seria sim, uma belíssima homenagem. Mas entendo perfeitamente esse caso em particular, que passa ao largo da censura instituída pós-atentado. O mundo estava traumatizado e era um momento muito delicado para questões de ordem pública.

Essa pequena pérola revolucionou o modo de se promover potenciais blockbusters e, como nunca foi vinculada ao filme em si, se tornou um momento único e inesquecível para os fãs do Amigo da Vizinhança. Foi a primeira vez que vimos o Aranha pessoalmente, de verdade.

Esse vídeo clássico está disponível aqui, para download.




PETER PARKFLY & SUPERMAN: RED SON - REDUX
(doggma's cut)


Analisar determinadas obras de forma mais técnica e particular é quase uma blasfêmia para alguns. Para esses, tudo tem de se limitar apenas à emoção. Geralmente isso ocorre quando se trata de um clássico reconhecido, e é fácil chamar opinião de pretensão. No escopo das HQs então, nem se fala... Fanboys são guerreiros xiitas que retaliam de forma selvagem e com requintes de crueldade passional. Eu sou um deles (paddawan ainda, mas sou sim), então conheço bem isso. Mas também sei que muitos guardam para si opiniões pessoais que diferem da maioria – talvez pra não gerar discussões, ou talvez por não ter saco para agüentá-las. É foda. :P

Como eu sou cabra-macho/bisneto de Lampião, questionarei aqui alguns pontos de obras consideradas irretocáveis e, "pior" ainda, recentes: Homem-Aranha 2 e Superman: Red Son. Putz.


Concordo que fui evasivo ao expressar em cotação o que achei do filme (embora o texto tenha ficado bem transparente). Antes, os pontos "negativos", que eu não que creio que o sejam, como o fato do Aranha ter parado o metrô. Ele consegue erguer cerca de 10ts, e é claro que esse nível de força lhe confere automaticamente uma resistência física sobre-humana. Não é qualquer pancadinha que faria o aracnídeo sangrar, por exemplo. Então, vejamos: esse nível de invulnerabilidade o livrou de fraturar as pernas nos trilhos, e foi um grande acerto ele não ter tido sucesso dessa forma. Levando em conta o peso e a velocidade do metrô, ali deveria ter umas 55/60ts de pressão pro Aranha segurar. Coisa pra um Hulk ou um Juggernaut. Se ele tivesse o brecado na hora seria osso de acreditar, mas ele ainda percorre uns 450m antes disso. Fazendo um contrapeso com picos de 10ts a cada 30m percorridos, dava sim. Sem contar com a ajuda do atrito existente entre as rodas e os trilhos. Além do mais, ele já fez coisa pior nas HQs (como suportar o peso da fundação de um edifício - isso que foi exagero). Pontuando a seqüência de forma corretíssima, o aracnídeo fica um caco após a façanha.


Ao contrário do que muitos acharam, não encarei como um erro grave o Parker ter revelado sua identidade pra metade de New York. Aquilo tinha de acontecer mesmo com o Harry e com a Mary Jane. Ninguém, em sã consciência, iria agüentar mais outro filme com o Harry choramingando e pressionando Parker, nem a deliciosa M.J. se esfregando no rapaz, sem sucesso ("ah, se ela me desse mole!"). Quanto aos passageiros do metrô, tudo certo também. A revelação de sua identidade contextualizou mais um elemento do sacrifício que a carreira de herói exige. E quando eles o carregaram cuidadosamente, ficou estabelecido um sentimento de solidariedade genuíno, muito mais verdadeiro do que o "mexeu com um, mexeu com todos" do primeiro filme (incitando uma reação coletiva ao 11/9, soando muito forçada). Isso foi um ponto a favor, na minha humilde e nada pretensiosa opinião.

Mas voltemos à lida: apesar do charme inegável que permeia a maior parte do filme, é inegável também que a estrutura da história é padronizada. É sim, tá tudo lá no manual dos filmes de aventura. A inovação no cinema pop acabou desde que Errol Flynn atirou a primeira flecha na pele de Robin Hood. Isso acontece. Lembro quando assisti no cinema o Terminator 2. Eu já sabia tudo do filme, como começava e como acabava. Até cenas importantes do meio eu já tinha visto na TV. Muito disso se dá em decorrência do marketing pesado, tal qual no spider-movie, mas a maior parte se deve mesmo à pouca ousadia do roteiro. No primeiro filme a grande sacada foi o motivo que levou Parker a ser um combatente do crime. Mérito de Stan Lee. Já HA2 veio "deserdado" de uma grande idéia e não se preocupou tanto com o quesito da originalidade. Isso não é exatamente grave, é apenas uma leve embaçada, afinal os personagens são tão carismáticos que tiram de letra qualquer clichê.

Também não é criticável a boa forma física exibida pela Tia May, quando se pendurou naquele guarda-chuva, no alto de um prédio. A intenção era de comicidade e a conclusão da cena foi simplesmente hilária.


Chato mesmo foi a suposta "morte" do Doutor Octopus. Assistir o Oquinho se rendendo e afundando que nem o Titanic foi, literalmente, um balde de água fria, principalmente depois daquelas lutas eletrizantes. E a calma relativa de todos perante aquela imensa esfera de energia foi anti-climática, especialmente quando o Oquinho estava caído e Parker ficou lá parado na frente dele. Cara, se aquela bolinha de gude causou tanto estrago na apresentação científica, aquela supernova era pra deixar todos desesperados. Acabou que a ameaça foi minimizada diametralmente à calmaria dos personagens envolvidos. Considerando que era a conclusão, esse deveria ser o auge do filme inteiro, a cena mais importante e a mais tensa. Esses detalhes foram ruins? Nem tanto. Poderiam ser melhorados? Poderiam sim, muito. Ficou faltando aquela última seqüência que povoaria nosso imaginário até o próximo filme.

Agora, detalhado: superior ao primeiro, mas longe de fazê-lo um retardatário. Nota que eu considero justa e sóbria pro HA2: 9,0 (a nota do primeiro é 8,5). Como podem ver, é uma excelente nota, mas não a melhor. Ainda não foi dessa vez que um filme do Aranha alcançou o nível de excelência.


A idéia do Superman comandando, com mão-de-ferro, um sistema totalitário e fascista já foi sugerido antes (vide Reino do Amanhã), mas Mark Millar elevou o conceito a novos patamares ao remanejar o super-caipira do Kansas para uma fazenda coletiva da Ucrânia. O roteiro é intrincado e sua complexidade é digna de nota. Saber transpor personagens já conhecidos para um outro contexto é difícil, e mais difícil ainda é saber que personagens. O Clark é uma força da natureza, uma fonte de inspiração e a representação máxima da ambição humana. É mais que um "super-herói", ele é uma figura simbólica, referencial e utópica - justamente a peça que faltava para o complicado tabuleiro de xadrez comunista. Tal qual o ideal soviético inalcançável, logo Clark passou a ser encarado como a personificação viva desses falsos anseios. Ninguém jamais chegaria um dia a ser um Super-Homem, a não ser ele próprio. Um Narciso ao avesso que só Freud explica e olhe lá.


Bom, qual é a bronca? Nenhuma, as pequenas imperfeições que se encontram em Red Son são próprias de edições especiais. Sentiríamos até falta se elas não estivessem lá. Um exemplo é a velocidade irregular da narrativa. Bizarro teve uma participação muito breve e carregada de mistério a respeito de sua natureza. Brainiac então, nem se fala. Ele vem do nada e é derrotado do nada também. Só aparece o CPU dele e olhe lá. Inimigos que poderiam render situações interessantes, como Metallo e Parasita foram reduzidos à experiências genéticas mal sucedidas. Se Red Son fosse uma maxi-série (como Watchmen) seria diferente, com certeza.


Uma pequena observação eu faria em relação ao contexto histórico envolvido. A história começa durante o período do pós-Guerra, na década de 50, retratando Clark como o braço forte de Josef Stalin. Não é especificado lá, mas imagino que o Super já estava com seus 35 anos de idade (seus poderes se manifestaram com 12). Bem, cerca de 15 anos antes, a União Soviética protagonizou um dos momentos mais críticos da 2ª Guerra. Eles foram responsáveis pela primeira grande derrota do exército alemão, em Stalingrado. Nessa época, Clark já deveria ter saído da fazenda e já estaria transitando pelos arredores de Moscou. Antes da virada em cima dos alemães, o povo russo foi vítima de um dos maiores genocídios da História da Humanidade. Só na Operação Barbarrossa, em 1941, foram mais de um milhão de mortos em apenas algumas semanas. Durante esse período, Stalin mergulhou em uma profunda depressão (ficou dias trancado em seus aposentos enquanto o povo era massacrado), devido à "traição" de Hitler, com quem havia assinado um tratado de cooperação mútua, pouco antes. Aonde estava Clark nesse ponto? Por que ele não interveio no massacre – pelo menos em território soviético?

Bom, isso de fato não é um ponto negativo e muito menos tira o brilhantismo da obra, afinal, toda história tem de começar de algum lugar. Pena que não começou antes. Millar perdeu uma excelente chance aí, mas obviamente foi intencional. Havia o risco de desvirtuar o objetivo da história, que era mostrar o impacto de um Clark soviético nos dias de hoje, e não nos dias de ontem.

Isto posto, proponho uma versão "sem cortes" de Red Son, com 12 edições de 100 páginas cada. :P