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segunda-feira, 19 de maio de 2025
Esculachando o sistema por dentro
Marie Severin era impagável.
Ainda funciona à perfeição, tanto pra Marvel e DC quanto para o quadrinista indie ralando para sobreviver nessa eterna guerra civil brasileira.
sexta-feira, 2 de junho de 2023
O Tigre e o Barqueiro
Com o barulho em torno das capas do Frank Miller, lembrei de uma das minhas preferidas dele: a de Peter Parker: The Spectacular Spider-Man #52, de março de 1981. A edição foi publicada por aqui em agosto de 1985 na Homem-Aranha #26, formatinho da Abril. A capa trazia a imagem chocante (para a época) de um grupo largando o aço no vigilante Tigre Branco. Apesar do exagero Milleriano na quantidade de algozes, a imagem não estava longe da verdade.
Rapei a edição logo que chegou às bancas. Lembro como se tivesse sido há 40 minutos, mas foi há quase 40 anos. Era o "mês dos minipôsteres" que a Abril encartou de brinde nos títulos Marvel e DC. Além do Teioso, consegui os do Verdão, do Bandeiroso e dos Superamigos, sabe-se lá com quanto troco superfaturado da padaria. Naqueles tempos, dava.
A HQ traz o Aranha-Linha Direta — ou Aranha-Documento Especial, para os velhuscos — em plena fase Roger Stern e enfrentando a criminalidade na sombria e violenta New York pré-Giuliani. "Ilusões do Outro Mundo", com arte dos saudosos Jim Mooney e Marie Severin, abre o mix com o Amigão da Vizinhança desmantelando a quadrilha de um Mysterio tão camp que parecia ter vindo de Gotham City. Tá lá o capanga ouvindo Kid Abelha que não me deixa mentir. Maior pinta de que trampou para um certo Palhaço do Crime em frilas anteriores. E com a mesma competência.
Em meio à confusão, a sofrida Debra Whitman se vira para escapar de Mysterio e correr para os braços do Peter. Saudades da Debby.
"...o Tigre Branco" vem na sequência, com o lápis de Denys Cowan e arte-final de Mooney. Começa com um recap da origem do personagem e sua ligação com os Filhos do Tigre. Muito oportuno para quem não leu aquela Deadly Hands of Kung Fu #19 sensacional, até hoje inédita por estas bandas. A combinação de ação policial, artes marciais, misticismo e poderes era irresistível. Fui fisgado na hora. E havia mais um elemento que talvez ainda fosse muito jovem para assimilar conscientemente: o Tigre Branco Hector Ayala era o 1º herói latino desde... sei lá, Zorro?
Todos os aspectos envolvidos, da dura vida no gueto à proximidade com a família, gerou uma ressonância enorme e inconfundível. Era identificação.
A história conclui na sequência-spoiler-de-capa, com o Tigre sendo metralhado pelo ex-coronel e terrorista miliciano Gideon Mace. E emenda na splash não menos brutal que abre a trama de "Assassinos de Heróis", onde o traço de Rick Leonardi atinge na artéria. Imagética de violência urbana crua, acachapante e repleta de subtexto. Material para SAM, fácil.
Ah, o minipôster... o regozijo nerd da minha geração; A 1ª bad trip quadrinhística a gente não esquece
A conclusão do arco é o fim da jornada de Hector Ayala como o Tigre Branco, por hora. Há inclusive uma inesperada metáfora à dependência química, assunto também abordado em Superamigos #4, do mesmo mês, de forma mais direta. A Era de Bronze foi um lugar sombrio para transitar.
Nesse 1º contato com o herói, a edição era um expresso para o inferno. Além do flashback dos quebras com o Valete de Copas e com o Aranha e da identidade sendo revelada publicamente pelo Mestre da Luz, Hector tem a família chacinada, quase morre em sua busca cega por vingança e, no fim, dá adeus ao manto do Tigre. Ou, no caso, aos amuletos que lhe conferiam seus poderes.
Isso tudo mostrava o quão trágica a vida do Tigre Branco era — e ainda seria.
Na sequência, o Ka-Zar de Bruce Jones e Brent Anderson — de longe, a melhor coisa que já fizeram com o Senhor da Terra Selvagem. O run é espetacular, ganhou Omnibus lá fora há pouco tempo e demorou para ser relançado, Panini. Lembro de acompanhar na época e já sonhava com essa maravilha devidamente coletada. E olha que o mais próximo de um TPB que existia por aqui era o Encalhe do MAD.
O expresso para o inferno continua, literalmente, em "Viagem Fantástica", parte de um arco publicado orinalmente em Ka-Zar the Savage #9-12. Na história, Kevin "Ka-Zar" Plunder, Shanna "The She-Devil" O'Hara, Zabu, o andróide atlante Dherk e o guerreiro alado shalaniano Buth descem até as profundezas do inferno. O mesmo inferno onde, segundo as viagens de Jones, o escritor e poeta italiano Dante Alighieri derrotou cultistas que sacrificaram Beatriz e que depois o inspirou a criar A Divina Comédia.
Na realidade, era um inferno/parque animatrônico, construído por atlantes em plena Pangea. Ecos de Westworld...
Dizem que confessar faz bem para a alma, então vá lá: a sequência de Ka-Zar e sua trupe pegando uma corrida com Caronte, o Barqueiro do Inferno, me arrepiou mais do que todas as Kriptas e Calafrios que havia lido até então. Primeiro, porque tinha pavor de andróides (obrigado, Proteus e fembots). Segundo, porque a ideia de uma decapitação ainda era algo novo e profundamente perturbador para mim. E por último, porque Anderson desenhou o Barqueiro à imagem e semelhança de qualquer figura bíblica clássica, o que dava um toque meio blasfemo à cena.
E nem menciono o Caronte sem cabeça e com as "vísceras" eletrônicas expostas partindo pra cima do Ka-Zar... brrr.
Brent Anderson desenhava que era uma grandeza. Alguns painéis chegam a lembrar as tintas grandiosas do mestre Alfredo Alcala. Triste isso ainda não ter saído por aqui em formato americano. E a escrita de Bruce Jones nunca esteve tão afiada e maliciosa. Humor negro, frases de duplo sentido e referências à sacanagem (Ka-Zar e Shanna não eram fãs da monogamia) brotam das páginas. Isso tudo e ainda conseguia entregar uma aventura fantástica inventiva e divertidíssima.
Às vezes dá saudades de um bom gibizinho mix, mesmo com suas combinações improváveis e esdrúxulas, mas, acima de tudo, eficientes. Como foi — e ainda é — esta Homem-Aranha #26.
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quinta-feira, 13 de junho de 2019
Typhoid Ann
Ann Nocenti, minha heroína particular e reserva moral da Superaventuras Marvel, deu uma entrevista bacanuda para o podcast Women of Marvel.
O episódio completo pode ser conferido abaixo...
...ou aqui, para fazer um agrado às garotas com um buquê de page hits.
Jornalista, roteirista e ex-editora na Marvel, Nocenti sempre rendeu ótimas entrevistas. Ela não é de fazer média: normalmente solta o verbo até o limite possível antes de incomodar (muito) alguém, mas sempre com franqueza e bom humor adoráveis. E, mais importante: zero frescurite. Talvez seja herança da época pré-redes sociais, quando as pessoas conversavam olhando nos olhos e não se ofendiam tão fácil.
Sendo assim, salta aos ouvidos como as podcasters Sana Amanat e Judy Stephens desperdiçam o Fator Nocenti para um bom papo de boteco. Apesar da eventual quadrinhista se mostrar articulada e generosa, a condução é respeitosa e bem chapa branca. E termina dez minutos antes do tempo regulamentar. Sintomático.
Ainda assim, Nocenti fala bastante sobre sua juventude lendo velhas antologias do Pogo (o Bone original) e do Dick Tracy - cujos inimigos caricatos e disformes lhe criou um fascínio por vilões e monstros ainda criança - e sobre a dinâmica interna da Marvel com alguns causos de bastidores da era Jim Shooter - o ponto onde a entrevista poderia ter virado puro rock & roll, não fossem as comportadas apresentadoras/funcionárias da editora.
Outros pontos interessantes: a importância de Louise Simonson e da grande Marie Severin em sua carreira, a perícia de Archie Goodwin em mecânicas de plots, a ocasião em que Mark Gruenwald a pediu para matar a Mulher-Aranha logo num de seus primeiros trabalhos, como é a transição de editor-assistente para mentor ("e então você se demite"), suas crias (Longshot, Mojo, Espiral, Coração Negro), a influência de Chris Claremont na composição de personagens femininas fortes e os conselhos de Dennis O'Neil - também um jornalista - sobre como inserir questões políticas e sociais em gibis de super-herói.
Um dos trechos em que fica evidente a diferença entre as cascas-grossas gerações 1970-1980 e a superprotegida geração pós-milênio, é quando ela comenta sobre a "experiência de campo" necessária para contar uma boa história - coisa a própria Ann conhece bem. Curiosa também era a estratégia quase suicida do processo criativo. Com deadlines absurdas e trabalhando literalmente madrugadas adentro, "trazíamos muitas ideias malucas porque achávamos que elas iriam acabar numa lata de lixo".
A melhor parte, pra mim, é sobre os primórdios da relação com John Romita Jr. e a escalação da dupla, por intermédio de Ralph Macchio, para assumir o Demolidor pós-Miller/Mazzucchelli. Uma senhora responsabilidade. E, claro, o trecho onde que ela fala sobre uma de suas maiores personagens: Mary Tyfoid.
Segundo ela, a vilã tem uma dualidade e contradição equivalentes às do próprio Matt Murdock/Demolidor, que, por sua vez, ainda tem uma queda por garotas malvadas. Tal qual o Destemido, Mary lida o tempo todo com um reflexo distorcido dela própria. E Nocenti não se furtava em ir fundo na ferida. Isso bate com a impressão que sempre tive da personagem, cuja complexidade ia muito além do perfil crazy bimbo de uma Arlequina, por exemplo.
Perturbação de identidade dissociativa num contexto pop com super-heróis e supervilões? Você já via (lia) muito antes de Shyamalan e a trilogia Corpo Fechado.
Num dos meus trechos favoritos, Nocenti reflete sobre a evolução de Tyfoid, ficando mais e mais sombria até virar uma matadora de homens. Ou, nas palavras dela, "alguém que poderia invadir um abrigo para mulheres e checar nos arquivos o que cada homem fez com cada mulher e então ir atrás deles para retribuir cada ferimento".
Uma excelente ideia.
Lógico que a Mary Tyfoid é uma das minhas vilãs do coração. E a primeira a conquistar um lugarzinho na (disputada) estante...
O episódio completo pode ser conferido abaixo...
...ou aqui, para fazer um agrado às garotas com um buquê de page hits.
Jornalista, roteirista e ex-editora na Marvel, Nocenti sempre rendeu ótimas entrevistas. Ela não é de fazer média: normalmente solta o verbo até o limite possível antes de incomodar (muito) alguém, mas sempre com franqueza e bom humor adoráveis. E, mais importante: zero frescurite. Talvez seja herança da época pré-redes sociais, quando as pessoas conversavam olhando nos olhos e não se ofendiam tão fácil.
Sendo assim, salta aos ouvidos como as podcasters Sana Amanat e Judy Stephens desperdiçam o Fator Nocenti para um bom papo de boteco. Apesar da eventual quadrinhista se mostrar articulada e generosa, a condução é respeitosa e bem chapa branca. E termina dez minutos antes do tempo regulamentar. Sintomático.
Ainda assim, Nocenti fala bastante sobre sua juventude lendo velhas antologias do Pogo (o Bone original) e do Dick Tracy - cujos inimigos caricatos e disformes lhe criou um fascínio por vilões e monstros ainda criança - e sobre a dinâmica interna da Marvel com alguns causos de bastidores da era Jim Shooter - o ponto onde a entrevista poderia ter virado puro rock & roll, não fossem as comportadas apresentadoras/funcionárias da editora.
Outros pontos interessantes: a importância de Louise Simonson e da grande Marie Severin em sua carreira, a perícia de Archie Goodwin em mecânicas de plots, a ocasião em que Mark Gruenwald a pediu para matar a Mulher-Aranha logo num de seus primeiros trabalhos, como é a transição de editor-assistente para mentor ("e então você se demite"), suas crias (Longshot, Mojo, Espiral, Coração Negro), a influência de Chris Claremont na composição de personagens femininas fortes e os conselhos de Dennis O'Neil - também um jornalista - sobre como inserir questões políticas e sociais em gibis de super-herói.
Um dos trechos em que fica evidente a diferença entre as cascas-grossas gerações 1970-1980 e a superprotegida geração pós-milênio, é quando ela comenta sobre a "experiência de campo" necessária para contar uma boa história - coisa a própria Ann conhece bem. Curiosa também era a estratégia quase suicida do processo criativo. Com deadlines absurdas e trabalhando literalmente madrugadas adentro, "trazíamos muitas ideias malucas porque achávamos que elas iriam acabar numa lata de lixo".
A melhor parte, pra mim, é sobre os primórdios da relação com John Romita Jr. e a escalação da dupla, por intermédio de Ralph Macchio, para assumir o Demolidor pós-Miller/Mazzucchelli. Uma senhora responsabilidade. E, claro, o trecho onde que ela fala sobre uma de suas maiores personagens: Mary Tyfoid.
Segundo ela, a vilã tem uma dualidade e contradição equivalentes às do próprio Matt Murdock/Demolidor, que, por sua vez, ainda tem uma queda por garotas malvadas. Tal qual o Destemido, Mary lida o tempo todo com um reflexo distorcido dela própria. E Nocenti não se furtava em ir fundo na ferida. Isso bate com a impressão que sempre tive da personagem, cuja complexidade ia muito além do perfil crazy bimbo de uma Arlequina, por exemplo.
Perturbação de identidade dissociativa num contexto pop com super-heróis e supervilões? Você já via (lia) muito antes de Shyamalan e a trilogia Corpo Fechado.
Num dos meus trechos favoritos, Nocenti reflete sobre a evolução de Tyfoid, ficando mais e mais sombria até virar uma matadora de homens. Ou, nas palavras dela, "alguém que poderia invadir um abrigo para mulheres e checar nos arquivos o que cada homem fez com cada mulher e então ir atrás deles para retribuir cada ferimento".
Uma excelente ideia.
Lógico que a Mary Tyfoid é uma das minhas vilãs do coração. E a primeira a conquistar um lugarzinho na (disputada) estante...
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quinta-feira, 30 de agosto de 2018
Até mais, Marie & Gary
Marie Severin
(1929 - 2018)
&
Gary Friedrich
(1943 - 2018)
Parece que foi ontem que eu comemorava o encontro, num só encadernado, de grandes quadrinhistas da velha escola - entre eles, Marie Severin e Gary Friedrich. Saber da partida de ambos na mesma manhã de quinta-feira é daqueles momentos que fazem colocar certas coisinhas sob perspectiva. Mais precisamente, o tempo, a vida, sua finitude. Aquele post já tem absurdos dois anos. E tanto Severin quanto Friedrich, cidadãos seniores cujas biografias se confundem com a história dos comics, tiveram seus últimos trabalhos publicados há longínquos 25 anos - também conhecido como 1/4 de século.
Gary Friedrich não era um simples veterano. Era veterano de Atlas e Charlton Comics. Isso é pré-Pré-História. Chegou a trabalhar com o irmão de Marie, o fantástico John Severin, em Sgt. Fury and his Howling Commandos. Também foi um co-criador dos infernos, lançando Daimon Hellstrom, o Filho de Satã e o Motoqueiro Fantasma. Este último, foi pivô de um embróglio judicial interminável entre o artista e a Marvel em mais um capítulo vergonhoso na história da editora - e razão pela qual escolhi a imagem até meio comovente dele aí em cima.
Marie Severin começou com um empurrãozinho do irmão John para cobrir uma vaga de colorista na icônica EC Comics. Trabalhou ao lado do próprio Harvey Kurtzman. Sofreu diretamente com a paranoia do Comics Code na década de 1950, mas ressurgiu na Era de Prata da Marvel, onde construiu uma extensa bibliografia. Co-criou o Tribunal Vivo e a Mulher-Aranha original. Foi particularmente prolífica na cult Crazy Magazine e na Not Brand Echh, publicações satíricas da editora. Workaholic inveterada, brilhou tanto na arte - em gibis e designs de outros produtos relacionados, incluindo o papel higiênico do Hulk e do Aranha! - como também no comando de projetos e divisões.
Pioneira é pouco: Marie Severin foi um mulherão da porra.
E com lucidez e senso de humor afiado até (quase) o fim!
sábado, 20 de agosto de 2016
KERWHACKKK!
Esse é o som de (mais) contas sendo acertadas com o passado.
9/12 títulos anexados à coleção até aqui, uns 75% de aproveitamento. A extensão de clássicos da Salvat tem deflagrado uma justiça tardia para aqueles moleques fissurados numa HQ, mas sem um merréu pra comprar Almanaque Marvel e Almanaque Premiere Marvel... lá pelos idos de 1982-84...
Todos os títulos vêm mantendo alto o nível de relevância histórica, mas os gols de placa são indiscutíveis: Contos de Asgard, Dr. Estranho: Uma Terra sem Nome, um Tempo sem Fim e, pelas hostes de Hoggoth, o Nick Fury pop art/surrealista de Jim Steranko compilado em dois volumes antológicos. Só o caviar da gibizeira.
Com todos esses clássicos grandes, médios e pequenos, nada melhor que um pouco da boa e velha chinelagem quadrinhística. Mas, epa... um pouco não, muita. E chinelagem com todo o respeito à fantástica Marie Severin, ao grande Gary Friedrich e ao melhor desenhista ruim de todos os tempos, Herb Trimpe - que Deus (Jack Kirby) o tenha em bom lugar.
A Coleção Oficial de Graphic Novels, Clássicos vol. XI - O Incrível Hulk: O Monstro Está Solto... ufa... é exatamente o que parece: um gibi de porradaria honesta. Nada de complexidade narrativa, subtramas mirabolantes ou minuciosas análises psicológicas. No Golias Esmeralda pós-Lee/Kirby firulas inexistem. Não raro se aproximava fatalmente dos "gibis" que você rabiscava nas últimas páginas do caderno de matemática. Certo, certo, exagerei, mas esse é o espírito. Imediatismo.
O roteiro de Friedrich garantia o build-up mínimo exigido por Lei, mas ele sabia o que o povão queria. Após alguma contextualização - sempre ágil, sempre enxuta - era só questão de alguns quadr(inh)os para a coisa ficar verde (ha ha!). Perto do Hulk de Trimpe & cia., até o Hulk de Mantlo e (Sal) Buscema ficava parecendo o Woody Allen.
Em que pese a autoria do titio Stan numa história, Roy Thomas rachando outra ao meio com Archie Goodwin e mais outra com Bill Everett, a ordem era esmagar os adversários e ouvir o lamento de suas esposas. Tanto que o encadernado já abre com Hulk desembarcando em Asgard com os dois pés no peito de Heimdall pra seguir esculachando geral, d'Os Três Guerreiros ao Executor, e ainda chamar ninguém menos que Odin, Filho de Bor, para uma conversa ao pé do ouvido.
Após, um tira-teima protocolar com o Rino no mesmo ritmo fanfarrão de sua origem e entreveros com dois desafiantes bizarros o suficiente pra não constarem nem numa galeria onde figuram MODOK e Bi-Fera, além do Mandarim e seu servo autômato monstruoso com feições orientais e... amarelo... sem preconceito sessentista, é claro.
O green de la green, contudo, é a última história, extraída da - aí sim - clássica Hulk Annual #1 (1968). O assombro fanboy já começa na reprodução da épica e icônica capa original, homenageada e referenciada por décadas em várias esferas da cultura pop - mais uma vez, cortesia de Steranko, esse putardo maldito e talentoso (ainda tem graça chamá-lo de Andy Warhol da 9ª arte?). Nem a publicação atentando ao fato prepóstero de que a edição seguia inédita no Brasil embaçou minha felicidade.
...talvez só um pouquinho.
Hulk com Inumanos não precisa de muito escrutínio. A mera ideia já é coisa de louco. E eu já tinha cantado essa bola antes, mas me sinto na obrigação moral e cívica de avisar: há ali um quebra espetacular entre o Gigante Verde e Raio Negro...
...onde o Hulk leva provavelmente a surra da sua vida.
Boltagon esmaga!
Pode me chamar de pessimista, mas confesso que não via isso acontecendo num curto prazo.
A Panini corrigiu os erros do encadernado de A Saga da Fênix Negra, reimprimiu a bagaça deluxe e procedeu com o devido recall. A pentelhação da "carta anexada explicando os motivos da troca" ainda rolou, apesar de mais que escancarados em tudo que tenha tela.
O jogo de volta foi rápido, coisa de uma semana, via PAC reverso, sem custos. Uma merecida massagem shiatsu nesta alma que, desde fevereiro, vem sonhando com gatas de metal indestrutível e uma narração em off repetindo as mesmas sentenças.
9/12 títulos anexados à coleção até aqui, uns 75% de aproveitamento. A extensão de clássicos da Salvat tem deflagrado uma justiça tardia para aqueles moleques fissurados numa HQ, mas sem um merréu pra comprar Almanaque Marvel e Almanaque Premiere Marvel... lá pelos idos de 1982-84...
Todos os títulos vêm mantendo alto o nível de relevância histórica, mas os gols de placa são indiscutíveis: Contos de Asgard, Dr. Estranho: Uma Terra sem Nome, um Tempo sem Fim e, pelas hostes de Hoggoth, o Nick Fury pop art/surrealista de Jim Steranko compilado em dois volumes antológicos. Só o caviar da gibizeira.
Com todos esses clássicos grandes, médios e pequenos, nada melhor que um pouco da boa e velha chinelagem quadrinhística. Mas, epa... um pouco não, muita. E chinelagem com todo o respeito à fantástica Marie Severin, ao grande Gary Friedrich e ao melhor desenhista ruim de todos os tempos, Herb Trimpe - que Deus (Jack Kirby) o tenha em bom lugar.
A Coleção Oficial de Graphic Novels, Clássicos vol. XI - O Incrível Hulk: O Monstro Está Solto... ufa... é exatamente o que parece: um gibi de porradaria honesta. Nada de complexidade narrativa, subtramas mirabolantes ou minuciosas análises psicológicas. No Golias Esmeralda pós-Lee/Kirby firulas inexistem. Não raro se aproximava fatalmente dos "gibis" que você rabiscava nas últimas páginas do caderno de matemática. Certo, certo, exagerei, mas esse é o espírito. Imediatismo.
O roteiro de Friedrich garantia o build-up mínimo exigido por Lei, mas ele sabia o que o povão queria. Após alguma contextualização - sempre ágil, sempre enxuta - era só questão de alguns quadr(inh)os para a coisa ficar verde (ha ha!). Perto do Hulk de Trimpe & cia., até o Hulk de Mantlo e (Sal) Buscema ficava parecendo o Woody Allen.
Em que pese a autoria do titio Stan numa história, Roy Thomas rachando outra ao meio com Archie Goodwin e mais outra com Bill Everett, a ordem era esmagar os adversários e ouvir o lamento de suas esposas. Tanto que o encadernado já abre com Hulk desembarcando em Asgard com os dois pés no peito de Heimdall pra seguir esculachando geral, d'Os Três Guerreiros ao Executor, e ainda chamar ninguém menos que Odin, Filho de Bor, para uma conversa ao pé do ouvido.
Após, um tira-teima protocolar com o Rino no mesmo ritmo fanfarrão de sua origem e entreveros com dois desafiantes bizarros o suficiente pra não constarem nem numa galeria onde figuram MODOK e Bi-Fera, além do Mandarim e seu servo autômato monstruoso com feições orientais e... amarelo... sem preconceito sessentista, é claro.
O green de la green, contudo, é a última história, extraída da - aí sim - clássica Hulk Annual #1 (1968). O assombro fanboy já começa na reprodução da épica e icônica capa original, homenageada e referenciada por décadas em várias esferas da cultura pop - mais uma vez, cortesia de Steranko, esse putardo maldito e talentoso (ainda tem graça chamá-lo de Andy Warhol da 9ª arte?). Nem a publicação atentando ao fato prepóstero de que a edição seguia inédita no Brasil embaçou minha felicidade.
...talvez só um pouquinho.
Hulk com Inumanos não precisa de muito escrutínio. A mera ideia já é coisa de louco. E eu já tinha cantado essa bola antes, mas me sinto na obrigação moral e cívica de avisar: há ali um quebra espetacular entre o Gigante Verde e Raio Negro...
...onde o Hulk leva provavelmente a surra da sua vida.
Boltagon esmaga!
☮ ☮ ☮
Pode me chamar de pessimista, mas confesso que não via isso acontecendo num curto prazo.
A Panini corrigiu os erros do encadernado de A Saga da Fênix Negra, reimprimiu a bagaça deluxe e procedeu com o devido recall. A pentelhação da "carta anexada explicando os motivos da troca" ainda rolou, apesar de mais que escancarados em tudo que tenha tela.
O jogo de volta foi rápido, coisa de uma semana, via PAC reverso, sem custos. Uma merecida massagem shiatsu nesta alma que, desde fevereiro, vem sonhando com gatas de metal indestrutível e uma narração em off repetindo as mesmas sentenças.
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