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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

OMNI Produtos para o Consumidor® orgulhosamente apresenta:


Diretivas parciais:

1. Sai Capitão Nascimento, entra Neill Blomkamp e Dredd 2012;

2. Efeitos, ação e sci-fi genéricos + iRoboCop 5G + longas apresentações em flash holográfico;

3. Peter Weller > Joel Kinnaman | Michael Keaton = Steve Jobs;

4. ?


Ps: só lembrando do tempo em que as reuniões da OMNI eram mais animadas...


...e nada PG-13.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

domingo, 20 de julho de 2008

O REI DA COMÉDIA


Nunca achei que pensaria assim após três longos anos, mas lá vai: perto de Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, EUA, 2008), Batman Begins foi brincadeira de criança. Um dia ensolarado no parque. O lado mais pop e acessível do Batman na visão de Christopher Nolan. Agora a ordem do dia é chutar as crianças da sala. Livre das amarras ligadas ao passado negro da franquia, o cineasta britânico não perdoa. O roteiro escrito por ele, seu irmão Jonathan Nolan e David S. Goyer é dinâmico, inteligente, impactante e, acima de tudo, corajoso. Isto somado à montagem ríspida e uma marcação cerrada sobre as performances individuais - e pode crer que Nolan drena as capacidades cênicas de cada envolvido -, sedimentam bases ainda mais sóbrias do que as do primeiro filme. É um tour-de-force desmistificante.

A percepção de versão alternativa do herói triplica nesta seqüência, com a veia autoral de Nolan pulsando vertiginosamente - o que não deixa de estabelecer um paralelo insólito com Batman, de Tim Burton, e mais ainda com Batman: O Retorno, extremamente de Tim Burton. O que temos aqui é novamente um trabalho de reinvenção, porém minucioso e criterioso. Assim como Burton, Nolan "seqüestra" o personagem, mas as semelhanças acabam aí. Numa das cenas-chave, Cavaleiro das Trevas claramente dialoga com o Batman de 1989 e não parece dizer nada muito elogioso.

Se em Begins era notável a preocupação com praticidade e verossimilhança, Cavaleiro das Trevas assume o viés em toda a sua extensão. Começando por Gotham, que perdeu aqui todo o seu potencial turístico. Despida do art et décor faraônico e de gárgulas por toda a parte, a cidade acorda de seu sonho gótico para uma estética ordinária, anônima, ultra-realista, típica de qualquer centro urbano. Sem dúvida, transmigrou a locação para as telas. Gotham é Chicago. Mesmo os elementos tradicionais dos quadrinhos não passam intactos neste live-action-per se. O bat-sinal, por exemplo, não passa de um borrão ininteligível no céu nublado. Há várias tomadas à luz do dia. O arsenal utilizado é modesto, não existem raios da morte ou mecanismos milagrosos de nenhuma espécie. O Espantalho (Cillian Murphy) é colocado em seu devido lugar logo de cara, neste universo cuja Física se aproxima muito da nossa. E, como tal, também tem o Caos como uma força obscura da natureza.

O Coringa de Heath Ledger é incorruptível, imprevisível, irracional e... irremovível. O ator se entrega de maneira incondicional à sua psique grotesca e estilhaçada, com trejeitos desajeitadamente épicos, numa atuação que se desenrola imune à edição abrupta (o único personagem a ganhar esse luxo, aliás). O Coringa/Ledger passeia livre em cena, com o tempo e os olhares do mundo ao seu favor. E é realmente irresistível, magnético, trafegando com absoluta naturalidade entre o excêntrico, o engraçado e o aterrorizante. Ao longo da projeção, o personagem vai se transformando numa verdadeira entidade terrorista desconstruindo Gotham sistematicamente. Dos cidadãos comuns, às autoridades instituídas até seus maiores defensores. É a antítese caótica da simbologia de ordem e justiça que o Batman tenta inspirar. Para isso, o Coringa Bin Laden seleciona cuidadosamente a escória que servirá à "causa": bandidos de segunda para ações convencionais e legalmente insanos (loucos de pedra!) para as missões suicidas.

Suas maquinações são um show psicopático à parte. Desdobrando-se em etapas cada vez mais ousadas e letais, elas acabam se revelando um único e grandioso esquema ao estilo caixa-dentro-da-caixa. Sempre didático em suas piadas, se faz entender tanto com toneladas de explosivos quanto com meros utensílios básicos, como na já antológica cena do lápis (uma aula de como monopolizar a atenção!).

O Coringa definitivo, atemporal, merecedor com mérito de todas as homenagens e premiações póstumas. Para ser lembrado como algo único e referencial. No fim, uma dúvida para a eternidade... teria sido seu auge ou apenas seu início?


Dizer que Christian Bale foi ofuscado por Ledger pode ser até mais simples, mas não totalmente verdadeiro. O roteiro equilibra pelo menos cinco personagens de peso, cujas intervenções são fundamentais na resolução da trama. Assim, toda a narrativa envolvendo Batman/Bruce Wayne transcorre apenas um pouco acima das demais (e em alguns momentos até abaixo). Há eventos cruciais no roteiro operando fora do alcance e mesmo do conhecimento do protagonista, demarcando territórios com prognósticos inexistentes e conferindo tridimensionalidade ao contexto. Uma arrepiante seqüência envolvendo dois barcos foi emblemática neste sentido: sem exceção, todos são importantes aqui - principalmente a inteligência do público, jamais subestimada durante as duas horas e meia do filme.

Cavaleiro das Trevas situa-se pouco tempo após Begins. Com a mansão Wayne em reconstrução, Bruce utiliza um quartel-general provisório (quase um franchising do Inmetro), onde aprimora seus veículos, equipamentos e, em particular, sua armadura - muito pesada e pouco flexível, atestando que os realizadores estão cientes de que o design ainda está longe do ideal. Nas ruas, a lenda urbana do Batman está em franca ascensão, gerando controvérsias nos altos escalões. Toda a questão do vigilantismo é bastante discutida no filme e cria o gancho perfeito para a introdução do promotor Harvey Dent. Uma espetacular introdução, por sinal.

Celebrado como o "cavaleiro branco" de Gotham, Dent é visto com olhos esperançosos pela mídia e, especialmente por Bruce, que o considera uma alternativa mais civilizada (e menos fascista?) que a existência de um Batman. Isto até a grande virada do personagem, onde suas convicções morais e éticas são jogadas literalmente na brasa, dando origem ao trágico vilão Duas-Caras. Terrivelmente desfigurado aqui, ele supera de longe as cicatrizes bobinhas (e agora até charmosas) dos quadrinhos. Ao contrário da explosão anárquica do Coringa, o Duas-Caras é ironicamente unidimensional. Numa consciente abordagem, Aaron Eckhart manteve o mesmo tom de austeridade antes e depois do trauma. O que era virtuoso ficou diametralmente impiedoso no instante seguinte, o que é algo assustador de se imaginar.

Numa proposta em que dramaticidade e personagens são priorizados, o grande Gary Oldman recebeu um verdadeiro presente. Seu carismático Tenente Gordon foi elevado a um novo patamar, exercitando uma gama de nuances complexas em situações-limite e co-protagonizando o filme com maestria. E virou comissário, finalmente. Já Michael Caine adotou uma postura bem mais incisiva. Alfred - um lobo em pele de cordeiro - está muito mais influente e revela que nem sempre foi mordomo, o que só contribuiu na excelente química com Bale. Fora que o timing cômico dos dois é fabuloso.

Morgan Freeman teve poucas novidades com seu Lucius Fox, o Q do morcegão. Excetuando sua última cena (num gancho sutil e genial), ele apenas reeditou a pegada de sua participação anterior. E a personagem Rachel Dawes (Maggie Gyllenhaal, substituindo bem Katie Holmes) finalmente encontra lugar e relevância à altura da franquia, se é que você me entende.

O Cavaleiro das Trevas não é perfeito como a anfetamina midiática distribuída nos últimos meses levou a crer. Ainda assim, é muito mais do que apenas o melhor filme baseado em quadrinhos. É um marco. O precedente que, tomara, redefinirá o modo como serão adaptados os próximos exemplares da nona arte. E no que depender do box-office, serão mesmo.