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segunda-feira, 29 de maio de 2006

$NIKT!



"No one ever talks about extermination. They just do it. And you go on with your lives, ignoring the signs around you. And then one day, when the air is still and the night is fallen, they come for you. Only then do you realize that while you're talking about organizing and committees, the extermination has already begun. Make no mistake, my brothers, they will draw first blood. They will force their cure upon us. There is only one question you must answer:
Who will you stand with?"


Como o mundo dá voltas. Durante muito tempo, adaptações cinematográficas de histórias em quadrinhos eram consideradas malversação de verbas dentro de Hollywood. Pra cobrir as lacunas no seguimento de ação blockbuster, os estúdios tiveram de fabricar seus próprios super-heróis. O resultado foi a safra de action-heroes dos anos 80 e parte dos 90. Com o tempo, as idéias foram rareando e a sempre crescente demanda por escapismo pueril eliminou essa triangulação criativa (que eu chamo de ágioarzenegger) e foi beber direto nessa fonte que usa colante e cueca por cima da calça. Mas primeiro tiveram de amansar a fera carnavalesca que existe lá. O pacote ganhou uma roupagem mais dark e sóbria (bastiões mitológico-freudianos como Homem-Aranha e Superman são a exceção) e o uso intensivo de CG para tornar o impossível possível. Entre uma coisa e outra, ocorreu um saudável troca-troca (no bom sentido) de posições (eu já disse que é no bom sentido) entre profissionais dos quadrinhos e do cinema.

Ainda assim, uma adaptação dos X-Men soava como um desafio-mor no contexto geral, justamente pela incompatibilidade dos fatores envolvidos. Personagens demais, tempo de menos e, se o diretor não for adepto de Roger Corman, orçamento exorbitante. Resolveram tentar. Tinha tudo pra ser um único longa constrangedor, tosco e fracassado, mas Bryan "Who's your daddy?" Singer provou que sim, era possível. Exibindo poderes mutantes, ele transmutou cash rasteiro e argumento simplório em personagens carismáticos, direção classuda e atmosfera envolvente. Olhando hoje, o filme-debut dos X-Men revela uma malandragem soberba de Singer em maquiar eventuais buracos e limites orçamentários. Tudo isso e mantendo um apelo popular que garantiu a boa carreira nas bilheterias e a inevitável continuação. Roteiro bem acabado, todos os atores principais de volta e um investimento more expensive: X2, foi um filme praticamente perfeito dentro de sua proposta, onde Singer pôde se dar ao luxo de apenas deixar fluir seu inegável talento. Quando as coisas são assim, não há nada a temer. Engraçado como isto se dá de forma quase matemática ("dê-me um orçamento decente, um bom diretor e eu mudarei o mundo" - dogg, filósofo iugoslavo). Para um projeto que já atraiu o interesse até de James Cameron (e ninguém me tira da cabeça que ele desistiu por considerá-lo infilmável), pode-se dizer que os mutantes, antes de tudo, já são vitoriosos por conseguirem concluir sua primeira trilogia, em X-Men: O Confronto Final (X-Men: The Last Stand, 2006). Hooray!


"Since the dawn of existence, there have always been moments when the course of history shifted. Such a turning point is upon us now. The conflict between the better and worst angels of our very nature. Whose outcome will change our world so greatly... there will be no going back. I do not know if victory is possible. I only know that great sacrifice will be required. And because the fate of many will depend on a few, we must make the last stand."


O processo não foi dos mais harmoniosos. Halle "Cat-Woman" Berry extorquindo atenção, Singer trocando a Mansão X por um condomínio em Krypton, um novo diretor catado às pressas... Achei que a coisa começava a adquirir contornos framboesísticos - impressão logo suplantada por um teaser do caralho que provocou a mesma sensação de quando reencontramos velhos amigos depois de muito tempo. Podia jurar que o espírito "singeriano" ainda estava por lá, em cada cena, em cada frame... do discurso inflamado de Magneto (Ian MacKellen) à voz compenetrada do Professor Xavier (Patrick Stewart), passando pelos urros de Wolverine (Hugh Jackman). No entanto, elementos meio duvidosos também davam as caras. Um roteiro estilhaçado entre uma suposta "cura" para o gene mutante e uma versão da clássica fase da Fênix Negra, enquanto tenta encerrar todo o primeiro momento dos X-Men nos quadrinhos, ainda às voltas com a antiga Irmandade dos Mutantes liderada por Magneto.

E havia a questão do diretor Brett Ratner, que, embora competente, era apenas um operário. Ainda que eu tenha gostado demais do seu trampo em Dragão Vermelho (nada, nada, Ratner superou Ridley Scott de longe na franquia do Lecter), sua missão era simplesmente concluir o trabalho concebido e desenvolvido por um dos melhores diretores da atualidade - servicinho, convenhamos, muito além de sua alçada. Não por acaso, X-Men 3 foi achatado em econômicos 104 minutos, como se o próprio diretor, consciente de seu lugar no Universo, adotasse a postura "fale pouco pra não falar besteira".


Enquanto X2 entrelaçava as subtramas William Stryker/Wolverine's past, X-Men 3 traz uma narrativa com elementos mais heterogêneos. De um lado, a estratégia do governo norte-americano para a contenção mutante trazida a público sob o rótulo de "cura" e do outro, o retorno de uma Jean Grey (Famke Janssen) com TPM suficiente para explodir a Lua. Isso, em particular, foi colocado da melhor maneira possível dentro daquele universo: sai a entidade alienígena incorporadora, entram os bloqueios psíquicos que Xavier implantou em Jean ainda jovem, com o intuito de protegê-la e aos demais de tamanho poder. Decisão necessária ou arbitrária? Xavier excedeu em sua prepotência e privou Jean de escolher seu próprio destino? A interessante questão foi levantada e, após uma ótima cena de discussão com Wolverine, só pude lembrar do Professor X autoritário e (supostamente) manipulador da versão ultimate.

Desde que a sinopse foi divulgada oficialmente, não fiquei muito empolgado com a premissa envolvendo a cura para a mutação. Sendo um admirador das HQs, vejo a principal característica dos mutantes como uma força irreprimível da natureza, um processo evolutivo inevitável. Mesmo assim, fui surpreendido pela funcionalidade de tal artifício. Serviu tanto para forjar uma bela introdução para Warren Worthington III, o Anjo, quanto para garantir seu futuro frente às Indústrias Worthington (mais precisamente, após usar sua mutação para salvar a vida do pai xenófobo). Além, é claro, de justificar a visível relutância em certas cenas que, teoricamente, fariam desta produção o capítulo mais "Jim Lee" da franquia.


"Don't you know who I am? I'm Juggernaut, bitch!"


Pelo que se vê na telona, o orçamento de - dizem - 150 milhões de doletas não pareceram suficientes. Para conhecedores dos quadrinhos então, é algo latente. Será que o Universo X é assim tão caro? Tudo bem, alguns momentos são mesmo de dilatar a pupila na tentativa de assimilar tudo o que está se passando. A antológica seqüência em que Magnus manipula a ponte é a principal delas - poucas vezes uma cena fez tanta justiça à sentença "isto é quadrinhos puro!" Ao mesmo tempo, vemos um Colossus (Daniel Cudmore) sem qualquer função prática, apesar da boa caracterização visual. A coisa chega a resvalar em pura displicência, quando o personagem, em sua forma metalizada, distribui porrada a granel em mutantes peso-pena, desconsiderando totalmente o seu elevadíssimo nível de força. O que nos leva ao juggernaut Fanático (Vinnie fuckin' Jones, man... e sem sotaque!), felizmente aqui, com a finesse de sempre. Pra começar, não há qualquer treta entre ele e o mutante russo. É um crime reunir estes dois num filme e não agitar aquele vale-tudo de trincar placa tectônica. Temos de nos contentar com um baculejo divertidíssimo entre o imparável Juggy e o "nanico" Wolverine na residência dos Grey. Mas é tudo tão breve que chega a ser crueldade com o espectador.

Outro flagrante do capital de giro fantasma é a ausência do Efeito Fênix, marca registrada da personagem. Mesmo assim, a sugestão visual empregada para ilustrar o incomensurável poder de Jean é de arrepiar - algo indomável, invisível, aterrorizante. Mas, sem dúvida, o imenso pássaro de fogo tragando tudo à sua volta fez falta... Não foi desta vez que a belíssima e aterradora visão de Chris Claremont/John Byrne ganhou vida nas telonas. Já a aguardada briga de torcida mutante, embora funcional na narrativa, ficou aquém do esperado. Mas nesse ponto, sou compreensivo. Se até nas HQs é raro um super-pancadão coletivo realmente empolgante, quem dirá a execução disso em live-action. Talvez no dia em que chamarem o George Pérez pra fazer o story-board de algumas cenas...


O roteiro, de Zak Penn e Simon Kinberg, pouco arrisca no que tange à interação entre os personagens. Neste sentido, é um tanto burocrático. Quando se solta um pouco, consegue um bom resultado. Um bom exemplo é a hilária troca de "gentilezas" entre Wolverine e Fera (Kelsey Grammer, o Frasier, arrebentando), aqui um representante da comunidade mutante no Orkut... digo, no Congresso norte-americano. Falando em Grammer, ele protagoniza uma cena sensacional, quando experimenta a sensação de parecer um homo-sapiens. Apenas com o olhar, ele transmite um misto de alívio, realização, melancolia e culpa. Naquele momento, ele poderia largar tudo pelo que lutava e acreditava. Tocante. Deus abençoe os bons atores. Outra sacada interessante foi a "quebra de contrato" entre Magneto e Mística (Rebecca Romijn-Dogg... não custa nada sonhar) - o que finalmente confere à fascinante azulzinha o caráter dúbio e individualista que ela tem nas HQs. Já a deslocada Vampira (Anna Paquin) ganhou o status de coadjuvante, enquanto o Homem de Gelo ("homem" o caramba, é o guri Shawn Ashmore) passou a ciscar no terreiro de Kitty Pryde (a bezerrinha Ellen Page), que, além de se tornar intangível, também tem o poder de ficar mais nova a cada episódio. Eu diria que o Iceman deu uma de papa-anjo ali, mas ia pegar mal pro Warren.

Como sempre, muitos criticarão o aparente descaso com o personagem Ciclope (James Marsden), ainda que esteja em concordância com sua relevância nos filmes anteriores. Já está na hora de aceitar que a dinâmica de uma adaptação não tem de ser, necessariamente, a mesma do material de origem. O que aconteceu foi apenas sintomático. Apesar de admirar o trabalho do Marsden (confira o filme 24º Dia), vejo a opção do roteiro como algo que pode render bastante no futuro. O mesmo se pode dizer do destino de dois outros personagens (ainda que, no caso da Jean Grey/Fênix Negra, a simples aproximação do mutante Jimmy "Sanguessuga" fosse uma medida menos extrema). Quanto ao que acontece com Xavier, achei ousado e muito bem tramado. Gostei bastante, tanto pela circunstância de quebrar o encosto da poltrona quanto pelo genial subterfúgio pós-créditos - além da esperta referência à "fase Shiar" do Professor X.

X-Men 3 é caótico, no bom e no mau sentido. Não tem o charme e a espirituosidade do primeiro filme, nem o esmero técnico e a força dramática do segundo, mas é corajoso, eficiente e, acima de tudo, fiel ao background estabelecido. Amarrou todas as pendengas sinistramente levantadas pelos dois anteriores e apontou novos rumos para os que virão - e com certeza virão. Com a 4ª abertura mais rentável de todos os tempos, já posso até ouvir o "snikt" dos executivos ecoando pelos corredores da Fox.

Que tal uns Sentinelas de verdade da próxima vez?



BLUE SIDE OF THE MOON


O Vigia Uatu tem novos vizinhos... Área Azul - Observatório de Quadrinhos, Filmes & Cultura Pop é um espaço mantido pelo renegado Vigia Aron (alcunha dividida pelo Fivo, JP Volley e este humilde arauto), com a finalidade de promover discussões sobre a nossa tão amada cultura pop e, principalmente, repensar questões acerca da 9º Arte. A proposta é bastante segmentada (levando-se em consideração que o próprio BZ já é um lance segmentado), mas o intuito é justamente este: oferecer uma opção de debate para quem procura algo mais instigante que a superficialidade habitual.

A Área Azul já está visível no horizonte. Confira... e dê a sua opinião.

terça-feira, 1 de março de 2005

VAI CHOVER!


Eu sabia que um dia iria comentar sobre eles: o remake de O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre, 2003... 2003... 2003!!!) e a reestréia nas tel(inh)as de O Justiceiro (The Punisher, 2004). Dizer que "esperei muito" por essas duas produções seria de uma modéstia franciscana. O que aconteceu aqui foi o cúmulo da trapalhada na distribuição setorizada de filmes. Tudo o que podia dar errado, deu, e tudo o que não podia acontecer, aconteceu. Chegou num tal ponto, que, no caso de Massacre, a coisa descambou para uma tragicomédia com um lado cruel predominante. O filme fez até aniversário em terra brazilis, com sua estréia sendo adiada seguidamente (e sadicamente), para desespero dos fãs (ok, meu desespero). Já o pobre Frank Castle nem sentiu o gostinho das telonas, sendo encaçapado direto para as locadoras.

Não fiquei revoltado por causa desses filmes em particular (ou pela estréia defasadíssima dos dois volumes de Kill Bill), mas devido a uma tendência de atrasos que está se tornando cada vez mais constante por aqui - principalmente em produções com uma temática mais seguimentada e menos mainstream. Seria exagero dizer que estamos voltando ao Brasil sisudo do final dos anos 70/início dos 80, quando um filme/LP/livro/o-que-for demorava 2 ou 3 anos pra chegar aqui. É exagero mesmo, mas só o fato desses episódios terem me lembrado dessa época...


O Massacre da Serra Elétrica original foi um marco underground dos filmes de horror. Dirigido por Tobe Hooper, essa produção de 1974 acertou em cheio ao transformar aparentes deficiências técnicas em exercícios alternativos de estilo. Filmado em 8mm, ele causava a impressão típica de um snuff movie, criando uma atmosfera de pesadelo realístico tão impressionante quanto doentia. Quem assistiu o Massacre original, jamais irá esquecê-lo, mesmo que não tenha apreciado/suportado a bad trip.

A história, escrita por Hooper e Kim Henkel, foi baseada nos crimes do assassino em série, canibal e necrófilo (urgh) Ed Gein, que, junto com Ted Bundy e John W. Gacy, foi o 'muso inspirador' de 80% dos filmes de horror das últimas três décadas. Isso sem contar o maior mérito do filme (na minha opinião): a maravilhosa quebra de narrativa do meio pro final. A nervosa calmaria da primeira metade é atropelada sem cerimônia pelo massacre da segunda. É um filme praticamente dividido em dois. Obrigatório é pouco.

Michael Bay, quem diria, foi a via para realização do remake. Isso ainda não o redime daquele Pearl Harbor xaropão e de suas produções bróqui-bâster com o Jerry Bruckheimer, mas ao menos dessa vez ele segurou a serra elétrica do lado certo. Quem viu o arrepiante trailer, pode ficar tranqüilo - o filme, dirigido pelo clipeiro Marcus Nispel, corresponde a expectativa.

Na verdade, a nova versão é bem mais do que uma refilmagem. É uma releitura mesmo. Vários elementos novos pipocam aqui e ali, e são suficientes para criar uma nova mitologia, sem se apoiar excessivamente na original. E isso é ótimo! Além de driblar o óbvio (numa tentativa frustrada de reeditar o mesmo impacto do 1º filme), essa nova versão confere um novo fôlego a uma estrutura que já foi imitada ad nauseum desde seu lançamento. Méritos para Scott Kosar, que trabalhou o novo argumento em cima do clássico roteiro de Hooper/Henkel.


No filme original, após uma introdução sinistra que narra o ocorrido ao melhor estilo Caso Verdade, a história acompanha cinco jovens (dois casais e um carinha numa cadeira de rodas) viajando numa van. Em certo momento, o grupo dá carona a um sujeito, no mínimo, bizarro. Logo acabam parando numa teia de aranha disfarçada de posto de gasolina e daí pra se aventurarem pela vizinhança da família Sawyer é um pulo.

Na nova versão, há algumas mudanças, sendo todas relevantes. O novo grupo de jovens é formado por Erin (Jessica Biel), Morgan (Jonatan Tucker), Pepper (Erica Leerhsen), Andy (Mike Vogel) e Kemper (Eric Balfour), que estão vindo do México numa van cheia de marijüana malocada. Já o "caroneiro" da vez é uma mulher bastante desorientada que está vagando sem rumo no meio da estrada. Não demora muito e "nossos heróis" param no velho posto de gasolina atrás de ajuda. Daí pra frente é só descida. Eles fazem uma tour pelo assustador casarão-açougue e a quantidade de esguichos de sangue vai aumentando até culminar na mais que esperada primeira aparição de Leatherface, aqui encarnado pelo gigantesco Andrew Bryniarski (o Zangief, do buscapé Street Fighter: A Batalha Final, e o Lobo, do ótimo curta Lobo Paramilitary Christmas Special).

Com certeza, Bryniarski é o melhor serralheiro da série, depois do honorável carniceiro Gunnar Hansen, do clássico original. Entre Hansen e ele, vestiram a camisa 10 do Leatherface: Bill Johnson (The Texas Chainsaw Massacre 2), R.A. Mihailoff (The Texas Chainsaw Massacre 3) e Robert Jacks (The Texas Chainsaw Massacre: The Next Generation [blergh!]).



Os Sawyer agora são os Hewitt (um nome tão dechavado quanto "Voorhees"). Originalmente, o velho Leather chamava-se Bubba Sawyer e aqui ele foi rebatizado como Thomas Hewitt ("um bom garoto, mas com uma terrível doença de pele"). Fora ele, a formação da família recebeu um providencial upgrade. O excelente R. Lee Ermey passou a ser o "social" do bando. Quem conhece esse sensacional ator-por-acidente já sabe o que esperar de seu personagem (um xerife!). Outra adição foi o guri-monstrinho de bom coração Jedidiah (David Dorfman) e o velho escroque Monty (Terrence Evans, um maldito sortudo... assista pra saber por quê).

No "núcleo carinhoso" do filme, três senhoras esquisitas marcam presença - uma delas, a Henrietta, me impressionou pela ótima interpretação da atriz Heather Kafka... as feições de seu rosto mudam de "adorável" para "psicopata raivosa" com uma facilidade incrível. Aliás, a seqüência dentro do trailer funciona como uma pausa no pique-pega infernal, mas, ao mesmo tempo, é responsável pelo momento mais tenso e inquietante do filme - substituindo, naquela hora, o horror físico por um horror bem mais psicológico (devidas as proporções).

À princípio, o filme sugere um direcionamento de suspense teen, mas graças a São Jason, esta primeira impressão logo é arremessada na vala à base de serradas e desmembramentos. A fotografia (do mesmo Daniel Pearl do filme original), embora não traga aquela crueza visual de outrora, é de uma sujeira cavernosa, beirando a decadência dark. E repare na "participação especial" do ícone gordinho da cultura pop Harry Knowles, do site Ain't It Cool News. É dele a cabeça que está numa bandeja no casarão dos Hewitt. Isso que é fazer uma ponta.

O filme soa como um banho de sangue refrescante para qualquer fã de terror. Ele funciona. É catarse em celulóide. Perverso, desumano e cruel. Leatherface sofreu em continuações pífias onde foi reduzido a um mero brutamontes bobão ("muito trabalho e pouca diversão"). Mas aqui, ele voltou a ser aquele vagalhão demoníaco de mutilações e violência primal, atravessando portas como se fosse um trator descendo a ladeira.

A nova versão de O Massacre da Serra Elétrica entra tranqüilo na lista dos grandes remakes "que-são-muito-mais-do-que-isso", como A Noite dos Mortos-Vivos, de Tom Savini, e Madrugada dos Mortos, de Zack Snyder. Elogio maior, impossível.

E outra coisa: Jessica Biel correndo por aí com uma camiseta molhada e amarrada acima do umbigo... Nossa, esse filme é muito mais do que eu pedi a Deus.


Apesar do tsunami de adaptações de quadrinhos para o cinema, o Justiceiro, um dos personagens mais populares da última década, não teve moleza. Com uma campanha de marketing levada nas coxas, um trailer meia-boca à Temperatura Máxima e uma carreira internacional irregular, o filme obviamente foi um fracasso de bilheteria. Mesmo assim, está conseguindo uma sobrevida com as ótimas vendagens do DVD - fator que está se tornando cada vez mais decisivo nas previsões orçamentárias dos estúdios (vide os rumores sobre Hulk 2). Outro desafio era levar às telonas um personagem cujo universo e motivações já foram exploradas zilhões de vezes desde o primeiro Desejo de Matar, de 1974 (também o ano da criação do Frank Castle). A comparação com produções mais recentes, como O Vingador, com Vin Diesel, só servem para minar ainda mais a credibilidade do filme. Com um cenário nada amigável, o longa do Justiceiro se tornou persona non grata na originalidade temática do cinema atual. E não foi por falta de chances, pois o personagem perdeu a sua em 1989, num filme fraquinho pra chuchu com o Dolph Lundgren.

O que acaba restando como diferencial é a índole de anti-herói nato do Justiceiro. Mas essa só é reconhecida por fanboys, o que descarta uma maioria que não sabe nem o que significa "HQ". Portanto, de fanboy pra fanboy... O Justiceiro traz várias discrepâncias em relação aos quadrinhos, mas todas sem modificar o seu já conhecido perfil psicológico - muito pelo contrário, algumas até sendo mais coerentes com a mentalidade extrema de quem anda por aí atirando sem remorso.

Sai o Lundgren (com aquela cara de tuberculoso terminal) e entra o parrudo Thomas Jane, que é ator de verdade e absurdamente como eu sempre imaginei que o Castle seria em live-action (se bem que às vezes ele manda um olhar que é igualzinho ao do Christopher Lambert). Foi uma ótima escolha. Jane está para o Castle como o Jackman esteve pro Wolverine e como o Hasselhoff esteve pro Nick Fury... brincadeira.

Em sua estréia na direção, Jonathan Hensleigh (que também escreveu o roteiro) fica bem no meio-termo da fidelidade às HQs. A origem do Justiceiro sai do Central Park para uma idílica casa de praia em Miami, e ao invés de ter "apenas" esposa e filhos assassinados por criminosos, ele tem a família inteira chacinada (pais, tios, avós, papagaios, etc). Cabe aí o mérito para a interpretação de Jane, pois o seu sarcasmo e bom-humor iniciais se transformam num silêncio introspectivo e mortificante após o massacre. O culpado pelo genocídio é Howard Saint (John Travolta), um chefão do crime cujo filho morreu durante uma operação liderada por Castle contra o tráfico de armas. Completam a 'legião do mal' a voluptuosa esposa de Saint, Livia (Laura Harring), e seu capanga number one, Quentin Glass (Will Patton). Castle também arrebanha alguns simpatizantes: a triste e amargurada Joan (a maravilhosa Rebecca Romijn-Stamos) e uma dupla de outsiders/coadjuvantes cômicos.

Como visto, a história não traz nenhuma novidade, então o que sobra é a maneira como ela é conduzida. Vamos tomar como parâmetro o Castle malvadão de Garth Ennis (aquele que todo fanboy considera um legítimo Castle safra 74). Ele jamais se associaria a três pessoas extremamente comuns e que não teriam nenhuma serventia prática para ele (como o Microchip nas HQs, p.ex.). Mas como alívio narrativo para o espectador médio eles funcionam. E em nenhum momento Castle se deixa contagiar pela normalidade destes, o que rende algumas cenas até engraçadas de fato (como a do jantar). Nas seqüências de ação, fica evidente que o modus-operandi de Castle não é o de um sujeito normal. Ele mata com gosto, cheio de preciosismo. Numa das cenas, ele esfaqueia um inimigo abaixo do queixo, deixando à vista a lâmina atravessada dentro da boca.


E é aí que algumas seqüências realmente fazem O Justiceiro acontecer. A luta entre ele e o monstruoso Russo (Kevin Nash) poderia ser aquele churrasquinho de gato igual ao filme do Demolidor, mas acaba revelando uma insuspeita inventividade à base de narizes quebrados e nacos de carne arrancados, sendo, ao mesmo tempo, espirituosa e carregada de humor negro. Só essa briga, apesar de curtinha, já vale o aluguel.

Por outro lado, certos joguetes não soam nada naturais, como a intriguinha que Castle cria colocando Saint contra Glass. Apesar de curiosa, não tem nada a ver com o Justiceiro. John Travolta, por sua vez, leva tudo no controle remoto. Seu personagem é por demais contido em relação aos sucessivos ataques de Castle. Se tivesse a mesma presença maligna do vilão que ele interpretou na metade de A Outra Face, seria diferente. Ainda não foi dessa vez que o Justiceiro ganhou um antagonista à altura. Também não levou a nada a cena em que o mariachi assassino faz um número para Castle dentro de um bar, numa citação mais do que deslocada da trilogia de Robert Rodriguez. Outro furo - dessa vez colossal - foi o desaparecimento da polícia da metade pro final, mesmo após Castle ter deixado claro para dois oficiais que iria fazer justiça com as próprias flechas.

Entre mortos e feridos, O Justiceiro acaba conseguindo ser, por breves momentos, o filme que o personagem merecia. Do jeito que está, ele não é o diabo que pintaram por aí, mas também não é o filme com o qual Garth Ennis se emocionaria.

Pelo menos Castle não é grego. Nem ninja.


dogg, surdo e rouco... e na trilha, I Love The World, do sumido New Model Army - a primeira coisa que escuto desde o acachapante show do Anthrax...