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segunda-feira, 27 de maio de 2024

Meus 97 centavos

Sempre gostei mais de X-Men: Evolution do que de X-Men: The Animated Series.

Sério.


Agora que só ficaram os mais fortes (e leitor do BZ é, antes de tudo, um forte®), um contextinho. X-Men na década de 1990 foi a galinha dos ovos de ouro da Marvel. Fenômeno legítimo, daqueles estoura-bolhas. Não acompanhava quadrinhos naquela década, mas vivia topando com imagens de Wolverine, Vampira, Gambit e Cable em mochilas, lancheiras, camisetas, bonequinhos paraguaios, em tudo que é canto. Coisa que não acontecia nem na fase Claremont/Byrne. Naqueles tempos de internet a lenha, isso era um feito incrível.

Inclusive, soube primeiro da existência da série animada por um colega de trabalho cujo perfil era o mais antigibizeiro possível – estava mais pra Lucky Luciano mesmo. Mas assinava a Sky e, por consequência, a Fox Kids.

Quando finalmente assisti alguns episódios do desenho (num TV Globinho, acho), me surpreendi com a transposição do material. À 1ª vista, parecia tudo muito fiel. Claro, as adaptações e supressões devem ter deixado o leitor assíduo se roendo, mas, em termos gerais, a série trazia elementos das HQs até então impensáveis para o formato. Todas as discussões sobre preconceito, política segregacionista e extremos ideológicos estavam lá. Coisas como os Amigos da Humanidade e os Sentinelas de Bolivar Trask são mais atuais do que nunca, infelizmente. Junto com o combo vieram a estética atualizada e o fanservice massavéio de porradaria e ação nonstop. E esse era o grande problema da série pra mim: o pacing.

A montagem truncada ia de zero a cem em 0,5 segundo. Pausas para respirar/refletir/absorver inexistiam. Sequências frenéticas de ação eram emendadas umas nas outras sem nenhum critério. O material-base tampouco ajudava, com toda a mixórdia de clones, viagens no tempo, versões alternativas, alienígenas, retcons, etc, etc. Era o puro suco dos anos 90. Tudo isso ultraprocessado e prensado na deadline de 22 minutos/episódio. Uma dramática queda de qualidade para quem já assistia/venerava Batman: A Série Animada.

Mesmo assim, o desenho foi um sucesso estrondoso. Além de render 5 temporadas, seu molde rápido e rasteiro foi implementado em novas séries, de Homem-Aranha (que conseguia ser ainda pior na correria narrativa), Homem de Ferro e O Incrível Hulk até Quarteto Fantástico e o meu favorito, Surfista Prateado.

Portanto, afirmo sem dor na consciência (e amor à integridade física) que tive muito mais satisfação com X-Men: Evolution alguns anos depois. Era uma adaptação mais abrangente, porém sensata e pragmática. O storytelling, embora mais juvenil na 1ª temporada, era tridimensional e humano, com dramas e tensões finalmente bem desenvolvidos. Garotas & garotos numa escola agindo como garotas & garotos numa escola, ora pois.

Logicamente, o desenho foi excomungado pela fanboyzada.


Toda essa introdução bíblica (ops) só pra confirmar o óbvio: X-Men '97 foi produzida milimetricamente para agradar os órfãos da série original. Engajar diretamente novos fãs tem menos peso do que impulsionar o boca-a-boca elogioso dos antigos. Isso inclui até a recriação da abertura e do clássico tema original, escrito por Ron Wasserman e composto por Haim Saban e Shuki Levy, readquirido a peso de ouro após um quiprocó judicial. A produção chegou ao requinte de reunir vários dos dubladores originais para mais uma rodada.

Eles não pouparam esforços. Estão de volta as vozes da empolada Alison Sealy-Smith como Tempestade, Cal Dodd como Wolverine, George Buza como Fera e da estridente Lenore Zann como Vampira*.

* AJ Michalka, que deu voz à Felina em She-Ra e as Princesas do Poder, seria perfeita para a Vampira, mas os X-fãs têm verdadeira adoração pela Lenore...

Ao contrário do He-Man de Kevin Smith, o showrunner e roteirista Beau DeMayo interferiu o mínimo possível no efeito nostálgico do material – um elemento ao mesmo tempo poderoso e incrivelmente sensível, vide a histeria em torno do crop top do Gambit e da natureza não-binária do Morfo.

Do ponto de vista dramático e narrativo, as coisas estão melhores. Ainda aceleradas, contudo.

Ao longo dos 10 episódios desta 1ª temporada (contra 13 da série original), é feita a ponte entre as animações e adaptados os arcos do julgamento de Magneto, a bela fábula protagonizada por Tempestade e Forge em “Morte em vida”, as saliências de Magneto com Vampira, o casa-separa do Professor Xavier com Lilandra no Império Shi’ar, a destruição de Genosha, os paradoxos temporais de Cable e Bishop, as maquinações do Sr. Sinistro com Bastion e a Operação Tolerância Zero, mais pitadas da fase Grant Morrison à moda da casa.

Muita coisa esdrúxula acontecendo com muita chance de virar bagunça. Não virou e nem precisei fazer vista grossa. Não muita.

O massacre em Genosha por um Tri-Sentinela massivo foi meio rápido e com uma conclusão forçada – o que uma bateria cajun pode fazer que o Mestre do Magnetismo não poderia? E o Capitão América, reduzido a um pau-mandado do governo, estranhamente remete ao Clark em O Cavaleiro das Trevas. Proselitismo de 5ª, visto que esse não é o perfil dele.

Já a famosa sequência de Magneto extraindo o adamantium de Wolverine foi um gol perdido embaixo do travessão. Por que negar ao espectador-leitor a animação integral da cena? Melhor voltar a contemplar a terrível capa fingindo que é um Renoir.


Outro trecho que me incomodou no apoteótico final foi a batalha transcorrendo ora no Asteróide M, ora na Área Azul da Lua. Tudo testemunhado pela estupefata população terrestre, que não desgrudava os olhos do céu. Não sou astrônomo, mas até o Groo sabe que a Lua não é na esquina. Parece que o tempo e a chatice me pegaram de jeito.

O delivery body horror, quem diria, foi generoso. Em especial, o episódio #2, com a Madelyne Pryor personificando a Rainha dos Duendes. Surpreendente. O mesmo para os milhares de civis inocentes retorcendo seus corpos ao serem convertidos em Suprassentinelas. E com Bastion desfigurado e com seu lado Nimrod cada vez mais exposto na reta final, foi difícil não lembrar do amálgama Luthor-Brainiac na perfeita/maravilhosa/salve-salve Liga da Justiça sem Limites.

Além do Cap, foi muito legal ver os cameos do Homem de Ferro com sua Mark XIII Modular, do Homem-Aranha, do Demolidor, do Dr. Estranho, de Manto & Adaga, do Pantera Negra, de membros da Tropa Alfa e alguns ex-Supersoldados Soviéticos. Todos bem inseridos dentro do evento – cada qual no seu quadrado – e dando uma sensação de unidade ao Universo Marvel tal qual os desenhos da WB fizeram pelo Universo DC um dia. Ficou a sensação de que muito tempo foi perdido e que nestes anos todos poderíamos ter visto animações maravilhosas de cada um deles.

X-Men '97 deu uma boa melhorada neste cenário. Se a próxima temporada tiver a ambição e o coração nos lugares certos, não só os X-Men sairão beneficiados, como a história de sucesso multifranqueado poderá se repetir. Desta vez, com a régua lá em cima.

Afinal, todos sabem que é só através da arte que os heróis... renascem.

É, isso saiu esquisito.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Dias de um Futuro Lembrado

É com imensa satisfação que venho comunicar que Jonathan Hickman conseguiu de novo.


Acabei de sair de Powers of X #6, último capítulo da dobradinha com os outros seis balaços de House of X - HOXPOX para os íntimos que leram todas as edições mais de duas vezes pra não deixar escapar nada. E acompanhado das grandes artes de R.B. Silva e Pepe Larraz, Hickman entrega, não querendo estragar o menino, a 6ª Era dos X-Men, precedida, na ordem, por Stan Lee/Jack Kirby, 2ª Gênese de Chris Claremont, Chris Claremont/John Byrne, Grant Morrison e Joss Whedon (vamos apenas reconhecer o impacto pop-cultural dos anos 1990, certo?).

É excepcional assim - independente do que a Marvel fizer daqui pra frente nos títulos Dawn of X. Um case perfeito tanto para recuperação de marca quando de material pra cinema. E que material.

Tem mais, gafanhoto: após 38 anos de indústria vital, não é qualquer reviravoltinha que me faz perder o rumo de casa. Mas o caminhão narrativo - e atropelativo - de Powers of X #6 não tem nem placa.


Nem eu, Moira... nem eu...

"Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas" - Sun Tzu, A Arte da Guerra

Com o fim de HOXPOX, muito ficou para ser resolvido e/ou administrado no jogo de volta dos títulos X (Sina, Rei Vermelho, os cortes do diário de Moira, a agenda do Bar Sinistro e por aí vai). A torcida é que os coitados dos roteiristas deem conta - o que soa como jogar na casa do adversário precisando vencer com 2 gols de diferença. Mas vou conferir todos eles, obedecendo homo sapientemente o checklist indicado.

E é assim que se vende revistinha, Marvel.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Imagine all the mutants... living for today... except Cree-eeeed

A tentação do final idealizado em House of X #6 é intoxicante, irresistível, quase tangível. E Jonathan Hickman faz história (em quadrinhos).


Muito embora, pessoalmente, não tenha sido arrebatado tanto quanto gostaria (ou deveria). Tal qual o En Sabah Nur ali no canto, imerso em reflexões milenares, eu reluto em aproveitar a festa.

Já havia me incomodado o ritual à renascer carismático na quase Jim-Jonesiana House of X #5, me lembrando que fé demais pode cegar. E no decorrer dessa 6ª edição vi uma Krakoa na frente dos bois. Emocionante, sim, mas prematuro.

Quem pode garantir que a resposta do mundo ao anúncio de Xavier & cia. será de acordo com esses anseios? E se algo der errado de novo? Ou terrivelmente errado? O que acontecerá - ou já aconteceu - em Powers of X #6?

Chega um pouco pra lá, Nur...

segunda-feira, 29 de maio de 2006

$NIKT!



"No one ever talks about extermination. They just do it. And you go on with your lives, ignoring the signs around you. And then one day, when the air is still and the night is fallen, they come for you. Only then do you realize that while you're talking about organizing and committees, the extermination has already begun. Make no mistake, my brothers, they will draw first blood. They will force their cure upon us. There is only one question you must answer:
Who will you stand with?"


Como o mundo dá voltas. Durante muito tempo, adaptações cinematográficas de histórias em quadrinhos eram consideradas malversação de verbas dentro de Hollywood. Pra cobrir as lacunas no seguimento de ação blockbuster, os estúdios tiveram de fabricar seus próprios super-heróis. O resultado foi a safra de action-heroes dos anos 80 e parte dos 90. Com o tempo, as idéias foram rareando e a sempre crescente demanda por escapismo pueril eliminou essa triangulação criativa (que eu chamo de ágioarzenegger) e foi beber direto nessa fonte que usa colante e cueca por cima da calça. Mas primeiro tiveram de amansar a fera carnavalesca que existe lá. O pacote ganhou uma roupagem mais dark e sóbria (bastiões mitológico-freudianos como Homem-Aranha e Superman são a exceção) e o uso intensivo de CG para tornar o impossível possível. Entre uma coisa e outra, ocorreu um saudável troca-troca (no bom sentido) de posições (eu já disse que é no bom sentido) entre profissionais dos quadrinhos e do cinema.

Ainda assim, uma adaptação dos X-Men soava como um desafio-mor no contexto geral, justamente pela incompatibilidade dos fatores envolvidos. Personagens demais, tempo de menos e, se o diretor não for adepto de Roger Corman, orçamento exorbitante. Resolveram tentar. Tinha tudo pra ser um único longa constrangedor, tosco e fracassado, mas Bryan "Who's your daddy?" Singer provou que sim, era possível. Exibindo poderes mutantes, ele transmutou cash rasteiro e argumento simplório em personagens carismáticos, direção classuda e atmosfera envolvente. Olhando hoje, o filme-debut dos X-Men revela uma malandragem soberba de Singer em maquiar eventuais buracos e limites orçamentários. Tudo isso e mantendo um apelo popular que garantiu a boa carreira nas bilheterias e a inevitável continuação. Roteiro bem acabado, todos os atores principais de volta e um investimento more expensive: X2, foi um filme praticamente perfeito dentro de sua proposta, onde Singer pôde se dar ao luxo de apenas deixar fluir seu inegável talento. Quando as coisas são assim, não há nada a temer. Engraçado como isto se dá de forma quase matemática ("dê-me um orçamento decente, um bom diretor e eu mudarei o mundo" - dogg, filósofo iugoslavo). Para um projeto que já atraiu o interesse até de James Cameron (e ninguém me tira da cabeça que ele desistiu por considerá-lo infilmável), pode-se dizer que os mutantes, antes de tudo, já são vitoriosos por conseguirem concluir sua primeira trilogia, em X-Men: O Confronto Final (X-Men: The Last Stand, 2006). Hooray!


"Since the dawn of existence, there have always been moments when the course of history shifted. Such a turning point is upon us now. The conflict between the better and worst angels of our very nature. Whose outcome will change our world so greatly... there will be no going back. I do not know if victory is possible. I only know that great sacrifice will be required. And because the fate of many will depend on a few, we must make the last stand."


O processo não foi dos mais harmoniosos. Halle "Cat-Woman" Berry extorquindo atenção, Singer trocando a Mansão X por um condomínio em Krypton, um novo diretor catado às pressas... Achei que a coisa começava a adquirir contornos framboesísticos - impressão logo suplantada por um teaser do caralho que provocou a mesma sensação de quando reencontramos velhos amigos depois de muito tempo. Podia jurar que o espírito "singeriano" ainda estava por lá, em cada cena, em cada frame... do discurso inflamado de Magneto (Ian MacKellen) à voz compenetrada do Professor Xavier (Patrick Stewart), passando pelos urros de Wolverine (Hugh Jackman). No entanto, elementos meio duvidosos também davam as caras. Um roteiro estilhaçado entre uma suposta "cura" para o gene mutante e uma versão da clássica fase da Fênix Negra, enquanto tenta encerrar todo o primeiro momento dos X-Men nos quadrinhos, ainda às voltas com a antiga Irmandade dos Mutantes liderada por Magneto.

E havia a questão do diretor Brett Ratner, que, embora competente, era apenas um operário. Ainda que eu tenha gostado demais do seu trampo em Dragão Vermelho (nada, nada, Ratner superou Ridley Scott de longe na franquia do Lecter), sua missão era simplesmente concluir o trabalho concebido e desenvolvido por um dos melhores diretores da atualidade - servicinho, convenhamos, muito além de sua alçada. Não por acaso, X-Men 3 foi achatado em econômicos 104 minutos, como se o próprio diretor, consciente de seu lugar no Universo, adotasse a postura "fale pouco pra não falar besteira".


Enquanto X2 entrelaçava as subtramas William Stryker/Wolverine's past, X-Men 3 traz uma narrativa com elementos mais heterogêneos. De um lado, a estratégia do governo norte-americano para a contenção mutante trazida a público sob o rótulo de "cura" e do outro, o retorno de uma Jean Grey (Famke Janssen) com TPM suficiente para explodir a Lua. Isso, em particular, foi colocado da melhor maneira possível dentro daquele universo: sai a entidade alienígena incorporadora, entram os bloqueios psíquicos que Xavier implantou em Jean ainda jovem, com o intuito de protegê-la e aos demais de tamanho poder. Decisão necessária ou arbitrária? Xavier excedeu em sua prepotência e privou Jean de escolher seu próprio destino? A interessante questão foi levantada e, após uma ótima cena de discussão com Wolverine, só pude lembrar do Professor X autoritário e (supostamente) manipulador da versão ultimate.

Desde que a sinopse foi divulgada oficialmente, não fiquei muito empolgado com a premissa envolvendo a cura para a mutação. Sendo um admirador das HQs, vejo a principal característica dos mutantes como uma força irreprimível da natureza, um processo evolutivo inevitável. Mesmo assim, fui surpreendido pela funcionalidade de tal artifício. Serviu tanto para forjar uma bela introdução para Warren Worthington III, o Anjo, quanto para garantir seu futuro frente às Indústrias Worthington (mais precisamente, após usar sua mutação para salvar a vida do pai xenófobo). Além, é claro, de justificar a visível relutância em certas cenas que, teoricamente, fariam desta produção o capítulo mais "Jim Lee" da franquia.


"Don't you know who I am? I'm Juggernaut, bitch!"


Pelo que se vê na telona, o orçamento de - dizem - 150 milhões de doletas não pareceram suficientes. Para conhecedores dos quadrinhos então, é algo latente. Será que o Universo X é assim tão caro? Tudo bem, alguns momentos são mesmo de dilatar a pupila na tentativa de assimilar tudo o que está se passando. A antológica seqüência em que Magnus manipula a ponte é a principal delas - poucas vezes uma cena fez tanta justiça à sentença "isto é quadrinhos puro!" Ao mesmo tempo, vemos um Colossus (Daniel Cudmore) sem qualquer função prática, apesar da boa caracterização visual. A coisa chega a resvalar em pura displicência, quando o personagem, em sua forma metalizada, distribui porrada a granel em mutantes peso-pena, desconsiderando totalmente o seu elevadíssimo nível de força. O que nos leva ao juggernaut Fanático (Vinnie fuckin' Jones, man... e sem sotaque!), felizmente aqui, com a finesse de sempre. Pra começar, não há qualquer treta entre ele e o mutante russo. É um crime reunir estes dois num filme e não agitar aquele vale-tudo de trincar placa tectônica. Temos de nos contentar com um baculejo divertidíssimo entre o imparável Juggy e o "nanico" Wolverine na residência dos Grey. Mas é tudo tão breve que chega a ser crueldade com o espectador.

Outro flagrante do capital de giro fantasma é a ausência do Efeito Fênix, marca registrada da personagem. Mesmo assim, a sugestão visual empregada para ilustrar o incomensurável poder de Jean é de arrepiar - algo indomável, invisível, aterrorizante. Mas, sem dúvida, o imenso pássaro de fogo tragando tudo à sua volta fez falta... Não foi desta vez que a belíssima e aterradora visão de Chris Claremont/John Byrne ganhou vida nas telonas. Já a aguardada briga de torcida mutante, embora funcional na narrativa, ficou aquém do esperado. Mas nesse ponto, sou compreensivo. Se até nas HQs é raro um super-pancadão coletivo realmente empolgante, quem dirá a execução disso em live-action. Talvez no dia em que chamarem o George Pérez pra fazer o story-board de algumas cenas...


O roteiro, de Zak Penn e Simon Kinberg, pouco arrisca no que tange à interação entre os personagens. Neste sentido, é um tanto burocrático. Quando se solta um pouco, consegue um bom resultado. Um bom exemplo é a hilária troca de "gentilezas" entre Wolverine e Fera (Kelsey Grammer, o Frasier, arrebentando), aqui um representante da comunidade mutante no Orkut... digo, no Congresso norte-americano. Falando em Grammer, ele protagoniza uma cena sensacional, quando experimenta a sensação de parecer um homo-sapiens. Apenas com o olhar, ele transmite um misto de alívio, realização, melancolia e culpa. Naquele momento, ele poderia largar tudo pelo que lutava e acreditava. Tocante. Deus abençoe os bons atores. Outra sacada interessante foi a "quebra de contrato" entre Magneto e Mística (Rebecca Romijn-Dogg... não custa nada sonhar) - o que finalmente confere à fascinante azulzinha o caráter dúbio e individualista que ela tem nas HQs. Já a deslocada Vampira (Anna Paquin) ganhou o status de coadjuvante, enquanto o Homem de Gelo ("homem" o caramba, é o guri Shawn Ashmore) passou a ciscar no terreiro de Kitty Pryde (a bezerrinha Ellen Page), que, além de se tornar intangível, também tem o poder de ficar mais nova a cada episódio. Eu diria que o Iceman deu uma de papa-anjo ali, mas ia pegar mal pro Warren.

Como sempre, muitos criticarão o aparente descaso com o personagem Ciclope (James Marsden), ainda que esteja em concordância com sua relevância nos filmes anteriores. Já está na hora de aceitar que a dinâmica de uma adaptação não tem de ser, necessariamente, a mesma do material de origem. O que aconteceu foi apenas sintomático. Apesar de admirar o trabalho do Marsden (confira o filme 24º Dia), vejo a opção do roteiro como algo que pode render bastante no futuro. O mesmo se pode dizer do destino de dois outros personagens (ainda que, no caso da Jean Grey/Fênix Negra, a simples aproximação do mutante Jimmy "Sanguessuga" fosse uma medida menos extrema). Quanto ao que acontece com Xavier, achei ousado e muito bem tramado. Gostei bastante, tanto pela circunstância de quebrar o encosto da poltrona quanto pelo genial subterfúgio pós-créditos - além da esperta referência à "fase Shiar" do Professor X.

X-Men 3 é caótico, no bom e no mau sentido. Não tem o charme e a espirituosidade do primeiro filme, nem o esmero técnico e a força dramática do segundo, mas é corajoso, eficiente e, acima de tudo, fiel ao background estabelecido. Amarrou todas as pendengas sinistramente levantadas pelos dois anteriores e apontou novos rumos para os que virão - e com certeza virão. Com a 4ª abertura mais rentável de todos os tempos, já posso até ouvir o "snikt" dos executivos ecoando pelos corredores da Fox.

Que tal uns Sentinelas de verdade da próxima vez?



BLUE SIDE OF THE MOON


O Vigia Uatu tem novos vizinhos... Área Azul - Observatório de Quadrinhos, Filmes & Cultura Pop é um espaço mantido pelo renegado Vigia Aron (alcunha dividida pelo Fivo, JP Volley e este humilde arauto), com a finalidade de promover discussões sobre a nossa tão amada cultura pop e, principalmente, repensar questões acerca da 9º Arte. A proposta é bastante segmentada (levando-se em consideração que o próprio BZ já é um lance segmentado), mas o intuito é justamente este: oferecer uma opção de debate para quem procura algo mais instigante que a superficialidade habitual.

A Área Azul já está visível no horizonte. Confira... e dê a sua opinião.

quinta-feira, 5 de maio de 2005

CARCAJU RELOADED, FESTA CYBERPUNK e APOCALYPSE 2, A MISSÃO

MARVEL KNIGHTS WOLVERINE
#26-#27



Holy moley! Agent Of S.H.I.E.L.D, o novo arco do Wolverine, é o cão chupando manga!! Nem era pra eu estar comentando isso agora, visto que o bicho vai pegar mesmo é na edição #28, mas não consegui ficar impassível... Em apenas duas edições o novo arco está conseguindo ser ainda mais emocionante do que o anterior, o já clássico Enemy Of The State! Tudo bem, não podia mesmo ser diferente com Mark Millar e John Romita Jr regendo essa verdadeira orquestra da destruição... mas quando achei que as situações anteriores estabeleceram um certo limite narrativo, fui atropelado por uma seqüência arrasadora de acontecimentos. Aí é parar por alguns minutos, dar uma respirada e, aos poucos, retomar a leitura.

No arco anterior, Logan sofreu uma lavagem cerebral hardcore. Cortesia de uma mega-operação conjunta da Hydra com o Tentáculo. Com muito custo, e após uma matança generalizada (incluindo aí o despacho de um herói mais ou menos conhecido), a S.H.I.E.L.D. finalmente consegue capturar o baixinho dos infernos. O problema é que a Hydra gostou da brincadeira e passou a coletar e condicionar vários heróis e supervilões do segundo escalão. Mas nem todos vieram do semi-anonimato... Elektra que o diga.

Aliás, quem conhece o background da ninja grega sabe qual é o modus operandi do Tentáculo. A maioria deve saber que ela foi ressuscitada em uma cerimônia promovida pela organização. O que Millar fez foi elevar a funcionalidade desse procedimento a uma escala real. Afinal, alguém que tenha esse poder certamente o usaria para fins mais abrangentes e ambiciosos do que o que foi executado até aqui. Já a presença da Hydra se justifica tanto pela eficiência logística e ultra-tecnologia envolvida, quanto pela elaboração prática dos planos - que envolvem o controle de um avançadíssimo terraformer criado em parceria por Reed Richards, Tony Stark e Henry Pym.

Sem contar que, ao longo do anos, a Hydra foi uma das únicas organizações a encarar de frente, de forma consecutiva e sem derrotas iminentes, pesos-pesados como os Vingadores e a... S.H.I.E.L.D.


Não é todo dia que se vê o famoso porta-aviões aéreo indo à lona. Só vi uma vez, numa história antiga da Mulher-Hulk. Certamente seria mais fácil abater o Air Force One. A mega-batalha que precede essa cena é de arrepiar, e detalhe: é só o começo. Lembra do Millar falando que Enemy Of The State era um filme de 300 milhões de doletas? Agent of S.H.I.E.L.D. duplica esse orçamento em apenas duas edições.

Algumas referências se fazem presentes no novo arco, principalmente em relação à Wolverine: Arma X. O processo de desprogramação de Logan é praticamente reeditado do clássico de Barry Windsor-Smith, inclusive com o mesmo jogo de ponto de vista que "engana" o leitor. Outra referência é à mitologia dos vampiros. O approach conferido às operações de condicionamento do Tentáculo se aproxima bastante do ciclo de procriação vampiresco. Isso ficou bem nítido na cena em que Elektra e alguns ninjas são flagrados assassinando um super-coadjuvante num beco escuro. Pra reforçar ainda mais essa impressão, o único método conhecido pela S.H.I.E.L.D. para evitar que as super-vítimas sejam ressuscitadas e dominadas é decapitando seus cadáveres. Millar é doente.

Coincidentemente, o início da edição #26 e o fim da #27 compartilham momentos singulares de preparação para a iminência de uma situação maior. No primeiro caso, logo nas primeiras páginas somos brindados com uma seqüência belíssima, cheia de poesia e lirismo, quase etérea e - constraste total - carregada de dinâmica física, agraciada por uma palheta de cores e uma fluência de elementos digna de um filme do Zhang Yimou. É linda mesmo. Mérito da arte irretocável de Romita Jr.

A dita seqüência você pode conferir na íntegra no Cag@mba e é protagonizada pelo sujeito aí embaixo.


Gorgon periga ser o vilão mais bacana da Marvel em muito, muito tempo (pra ser mais exato, desde os primeiros momentos do Rei do Crime após sua reinvenção por Frank Miller). Não consigo imaginar alguém ganhando desse cara no mano-a-mano. Sua técnica é inexpugnável (sempre quis escrever isso!). Não tem pra ninguém. Como se não bastasse, Gorgon é um mutante capaz de petrificar qualquer pessoa só com o olhar - um dom que ele dificilmente utiliza, para não desvirtuar sua honra e status de guerreiro nato. Millar também resolve dar uma colher de chá e faz um breve resumo de sua origem - que bem merecia ser contada mais detalhadamente em um daqueles belos encadernados especiais.

Ao final, vemos a reabilitação forçada de Wolverine e um fato em particular que o liberta de todas as amarras pra fazer o que sabe melhor - e sem qualquer senso de justiça ou de redenção por trás, e sim por pura, urgente e necessária vingança. Após uma rápida e aterradora "contabilidade" (numa ótima seqüência, óóóótimaaaa... típica de um filme imperdível), ele estipula a quantidade de cadáveres e sangue jorrando em bicas que irá fazer nas próximas duas, três, quatro edições. Ah, eu não falei... Agent Of S.H.I.E.L.D. é um arco em 6 capítulos.

A hora da retribuição chegou, e meu amigo... a Hydra que se cuide.


LIVEWIRES
#1-#2



Um tecno-furacão cyberpunk, insano e mangazístico com clima de spinoff. Essa é Livewires, mini em 6 capítulos que está saindo pela linha Marvel Next. A revista conta com a fina-flor dos quadrinhos para o século 21: o desenhista Rick Mays (Kabuki), o arte-finalista Jason Martin (Battle Chasers) e o roteirista, "sketchista" e maluco de plantão Adam Warren (Gen¹³, Dirty Pair). Sou fã do Warren já há algum tempo. É um dos únicos quadrinhistas que só produziram coisa boa, e olha que eu nem sou tão fã de mangá. Assim que vi seu nome nos créditos dessa HQ já me interessei de imediato. Seu estilo está lá, intacto... ação vertiginosa, dinâmica à velocidade da luz, diálogos abarrotados de informação, situações beirando o nonsense e pinups esfuziantes.

Na edição de estréia, Livewires é toda velocista. Começa à mil por hora e termina à dez mil, sem pausa pra descanso. Explosões, invasões, monstros, superpoderes, tiros e quebra-quebra generalizado, com uma nesga de história sendo contada nas entrelinhas. É ótima. Livewires é o nome de um projeto secreto do governo norte-americano que visa retaliar as ações de grupos terroristas ultra-avançados da Marvel, sendo a I.M.A. (Idéias Mecânicas Avançadas) o seu alvo primário. Como integrantes, cinco robôs humanóides trabalhando à paisana. Como de praxe, os personagens e seus codinomes são bem... "diferentes":


Gothic Lolita, ou "Ninfeta Gótica"... a que eu mais gosto. Devido ao seu smartware chamado Hulksmashitude (algo mais ou menos como "AtitudeHulksmaga"... idéia maluca do Warren) ela é tão forte quanto a Mulher-Hulk. Em contrapartida, o seu grito de guerra é dizer "mal-me-quer-bem-me-quer" repetidamente enquanto destrói criaturas gigantescas na base da porrada (outra idéia maluca)... Bem sisuda, ela é o lado introspectivo e sarcástico do grupo.

Hollowpoint Ninja... O "Ninja Ponta-Oca" é o cara da artilharia pesada, das infiltrações soturnas e das "técnicas avançadas de persuasão". É conhecedor profundo de qualquer tipo de armamento e estratégia de combate. Além disso, é muito ágil, rápido e extremamente habilidoso em lutas corporais. Fala pouco e de forma objetiva. É um ninja oras.



Hah... essa é Social Butterfly, a "Borboleta Social". É a gracinha simpática do grupo, e carinhosa até quando está ardendo em chamas. Seu poder só podia ter vindo da mente esquizóide de Adam Warren. Ela é capaz de controlar a vontade das pessoas através de expressões faciais, linguagem corporal, voz com sinais infrasônicos, produção artificial de feromônios (putz), campo indutor de manipulação cerebral, e "zilhões de outras maneiras de bagunçar a mente humana". É "Social" para os íntimos.

Cornfed. "Cansei de Cereais"...? Não duvidaria. Cornfed é o arranjador e despachante da equipe. Resolve os problemas de logística e eventuais falhas operacionais nas missões. Tem uma visão bem singular e irônica do propósito do grupo e de sua própria existência robótica. É uma espécie de Silent Bob artificial. Cornfed é gente-boa.



Stem Cell ("Célula-Tronco", huahuaheheuh), representa os olhos e a percepção desnorteada do leitor durante a ação ininterrupta. Ela acaba de ser construída e teve a memória bloqueada devido à uma pane em seu filtro neural - pretexto esperto para não deixar o leitor sozinho em sua confusão. Ela é uma espécie de central-monstro de dados especializada em engenharia tecnológica. Seu smartware reconhece e duplica qualquer construto já concebido pelo homem. Pode inclusive redesenhar esses mecanismos em versões mais avançadas. A idéia estranha da vez é a sua capacidade de reproduzir alguns equipamentos no estômago - na verdade uma usina de substâncias químicas manipuladas por nano-robôs programados para esse objetivo. Daí a visão linda dela vomitando pequenas baterias atômicas, pentes de metralhadoras, válvulas e por aí vai. Pobre menina.


E falando em nano-tecnologia, uma particularidade dos autômatos de Livewires é a sua conduta de reciclagem de equipamentos. A pele artificial, por exemplo, é feita com uma trama de exo-redes reaproveitáveis e rica em componentes nanotech codificados para qualquer smartware habilitado na equipe. Eles literalmente comem partes sintéticas dos robôs destruídos para conhecer todas as experiências e absorver as informações contidas neles. Em outras palavras, eles são adeptos da prática do canibalismo, e em um contexto igual ao da crença de certas tribos...


Adam Warren é doido. E Livewires é extremamente divertido.

Confira aqui uma divertida entrevista que o autor deu ao Newsarama - essa aqui também é ótima, de dois anos depois.


X-MEN: AGE OF APOCALYPSE - 10th ANNIVERSARY
Final



Sem muito hype, chega ao fim a extensão da extorsiva A Era do Apocalypse, mega-saga que obrigou os x-fãs a gastarem rios de dinheiro em meados dos anos 90. Três coisas: 1. extensão, porque essa mini-série em 6 partes não teve "cara" de continuação. Acho que o nome da saga original é imponente demais pra essa história que visou apenas aparar algumas pontas soltas e, claro, arrecadar um cashzinho de leve; 2. extorsiva, pois EdA se espalhou por todas as revistas mutunas da época. Quem queria entender alguma coisa tinha de comprar quase tudo; 3. A aliteração extensão/extorsiva foi sem querer.

O fato é que, se encarada sem muita expectativa, essa mini até que tem seus picos de qualidade e algumas boas sacadas. Principalmente na última edição. A história se passa 1 ano após a morte do vilânico Apocalypse, e o planeta está em franca reconstrução. Liderados por Magneto, os X-Men agora são a polícia do mundo contra os espólios terroristas remanescentes da antiga tirania. Essas poucas células inimigas são derrotadas até com uma certa facilidade pelos X-Men. E detalhe... agora eles raramente fazem prisioneiros. Uma nova ordem mundial se estabelece e Magneto aparece muito bem na foto. O crédito extra se deve todo à sua vitória pessoal sobre Apocalypse e ao fato de ter impedido o bombardeio nuclear em massa no fim da saga original. O problema - e que já foi detectado por aqueles que leram a saga - é que Magneto apenas matou Apocalypse. Quem salvou a Terra do ataque nuclear foi Jean Grey, não ele.

Esse segredinho obscuro elevou a moral de Magneto nos círculos políticos e na opinião pública, que passou a encará-lo como um líder da Humanidade. Além dele, o único que sabe disso é Nathaniel Essex, o tétrico Sr. Sinistro, até então dado como morto. Obviamente que a gente logo espera dele uma chantagem das boas. Mas o mistério só aumenta quando Sinistro reaparece para Magneto e simplesmente o obriga a esquecê-lo e a jamais tentar encontrá-lo. O que dá a entender que o vilão também guarda seus segredinhos sujos a sete chaves.


Se no início da mini-série o traço do Chris Bachalo estava bem mangazão, nas duas últimas edições ele partiu de vez para o estilo nipônico de HQs. Particularmente, muito me agrada o trampo do Bachalo. Quanto mais ele estiliza o seus desenhos, melhor. E pra cada narigão que ele desenha, existem umas três pinups interessantes pra compensar.

Como já comentei certa vez, o roteiro de Akira Yoshida não faz feio com o pouco que tem. Mesmo sem tentar (ou poder) desvirtuar a mitologia estabelecida pela obra original, ele conseguiu criar algumas situações inusitadas (como a relação entre Wolverine e X-23, sua suposta filha) e outras que acabaram se revelando bons achados (como o tal segredo que o Sr. Sinistro tanto esconde - se quiser conhecer esse spoiler, clique aqui).

Por outro lado, algumas cenas que ameaçavam se tornar viradas brilhantes e inesperadas na narrativa - como a pausa no combate final para uma instigante conversa entre Magneto e Sinistro sobre a validade de suas motivações - acabaram se limitando a uma mera introdução pra famosa pancadaria-resolve-tudo. Personagens marcantes (e importantes) de outrora, como Dentes-de-Sabre e Blink, embora vivos, foram apenas citados. E a conclusão, pra lá de aberta, sugere uma futura mini comemorativa. De quê agora... 11 anos?

No final das contas, X-Men: Age Of Apocalypse - 10th Anniversary é um passatempo interessante e pode, no mínimo, ser encarado como um caça-níqueis de luxo. Mas considerando a propagação do papel-jornal nas HQs publicadas por aqui, o custo-benefício desse níquel fica bem inflacionado.

Decide aí quando chegar. :)


dogg, ouvindo muito rock australiano. Na faixa... o álbum True to the Tone, dos maroleiros do GANGgajang.