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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Isso é a vida real? Isso é apenas fantasia?


Quando o assunto é "filme sobre bandas", uma penca de produções marcantes me vêm à mente: o anárquico Isto É Spinal Tap (This Is the Spinal Tap, Rob Reiner, 1984), o indie Pé na Estrada (Bandwagon, John Schultz, 1996), o nostálgico Quase Famosos (Almost Famous, Cameron Crowe, 2000), o memorável Escola de Rock (School of Rock, Richard Linklater, 2003), o divertido telefilme A Era do Rock (Pop Rocks, Ron Lagomarsino, 2004) e até o besteirol Os Cabeças-de-Vento (Airheads, Michael Lehmann, 1994), entre alguns outros. Todos, sem exceção, sobre grupos fictícios.

Nessa área, provavelmente o mais honesto band movie já feito seja The Commitments - Loucos pela Fama (1991), de Alan Parker, sobre uma banda que, além de nunca ter existido, quebrou o pau e terminou antes mesmo de almejar qualquer coisa. Justo.

Daí fica fácil ver o grande problema de uma biopic sobre uma banda real: condensar em duas horas a natureza caótica, instável e quase sempre contraditória desse bicho muito doido. Pior, formatar isso numa narrativa cinematográfica palatável para zilhões de espectadores sem distorcer (muito) a realidade. Quem chegou mais perto foi o doidivanas Oliver Stone, no controverso The Doors (1991) encaçapando em catarses e montagens a porralouquice lisérgica das portas da percepção - ainda lembro de sair do cinema trocando as pernas - mas não sem quebrar alguns ovos no processo.

Com essa perspectiva, o que Bohemian Rhapsody (2018) faz com a história factual do Queen é um festival internacional do omelete.

Não é à toa que críticos mais austeros e jornalistas musicais se enfureceram com a produção. É realmente uma das cinebiografias menos acuradas da paróquia. Acontece de tudo: histórias radicalmente alteradas ou simplesmente inventadas, personagem-chave que nunca existiu, distorções cronológicas inacreditáveis, omissões graves e por aí vai. Uma parte dá pra entender e perdoar. Outra parte dá só pra entender. E outra parte não dá pra perdoar.

A bagunça veio do berço. A produção já estava bastante problemática com a escalação de Sacha Baron Cohen em 2010, que saiu três anos depois - e até hoje ainda fala um monte. Em seguida, a demissão do diretor Bryan Singer no final de 2017, após completados 2 terços do longa, e a contratação às pressas de Dexter Fletcher, do vindouro Rocketman, a cinebio de Elton John. E como se não bastasse, a marcação cerrada (e errada) das rainhas remanescentes Brian May e Roger Taylor nos rumos do filme.

Com tudo isso, o resultado final de Bohemian Rhapsody chega a ser surpreendente. Motivo: o próprio Queen. Seu "tipo de mágica", sua essência, está lá, impregnando cada frame do longa.


As deliciosas cenas de experimentações/criações musicais emulando zeitgeits e gêneros diversos com intros visuais em toda a sua glória retrô (uma bonita sacada da pós). As personificações fidelíssimas de Gwilym Lee, verdadeiro clone do May, de Ben Hardy como Taylor (e que também daria um perfeito Lars Ulrich saído de uma auditoria contra o Napster) e de Joe Mazzello como o reservado baixista John Deacon.

Além, claro, do indefectível Rami Malek como Farrokh Bulsara, o inesquecível Freddie Mercury - a razão disso tudo aí e a voz de trovão que pôs de joelhos todas as gerações de meados da década de 1970 até há poucos anos... antes de smartphones e redes sociais se tornarem pandemia e saírem emburrecendo geral - mas pela reação efusiva do público jovem presente na sala, esta guerra não está perdida. Ainda.

Da parte das distorcidas que "dá pra entender e perdoar", fico com o cameo de Mike Myers como o pragmático executivo da EMI Ray Foster - o tal personagem-chave que nunca existiu. Seu papel é simbólico, óbvio e absolutamente necessário para a fluidez do filme.

Não é preciso ser um gênio pra presumir que a insistência da banda em fazer de "Bohemian Rhapsody" sua música de trabalho certamente tirou o sono dos executivos da gravadora à época. Ao invés de jogar dezenas de yuppies engravatados em cena, o filme espertamente se concentra numa só entidade. Boa estratégia que cobre os efeitos dramáticos ao mesmo tempo em que sintetiza a velha treta "Rock and Roll vs. Establishment" de tempos mais românticos.

Mais do que isso, faz justiça com Myers e sua inestimável contribuição pessoal na trajetória do hit - que voltou às paradas americanas em 1992 graças a uma sensacional cena sua em Quanto Mais Idiota Melhor (Wayne's World, Penelope Spheeris). Para tanto, o ator enfrentou circunstâncias muito similares às da própria banda no lançamento do clássico. Pode se dizer que ali foi fechado um ciclo.

O famoso milagre de Hollywood, quem diria, às vezes acontece.


Sobre apenas "entender", leia-se: o-caos-cronólogico-provocado-pela-escolha-do-clímax - a histórica apresentação do Queen no Live Aid em 1985. Por razões dramáticas, o filme não só descontextualiza os bastidores do show, como faz uma ponte descabida com a hora mais sombria da vida de Freddie.

E o mais grave: evitando negligenciar a apoteótica passagem do Queen pelo Rock in Rio naquele mesmo ano, o filme credita à Cidade Maravilhosa o show da banda no estádio do Morumbi (SP) quatro anos antes, em março de 1981 - que também foi importante por ter sido o maior público registrado até então em show de uma única banda, mas que ainda está longe do impacto que o evento dos Medina teve na cultura pop mundial.

Essa parte foi imperdoável.

Mas funcionando como uma estranha constante, em Bohemian Rhapsody os fins quase sempre justificam os meios. São tocantes a cena em que Freddie é reconhecido por uma paciente na saída de uma clínica e o momento em que ele se abre para os companheiros de banda. A reconstituição milimétrica da apresentação no Live Aid em quase a sua totalidade é de tirar o fôlego na tela grande. Mereceu mesmo a honra de encerrar esta grande noite na ópera (-rock).

Após o filme, é inevitável um Queen fever, por dias a fio. E vindo de alguém que cultiva essa febrezinha há uns bons 33 anos...


Antes da sessão fiz um pré-aquecimento para saudar a Rainha como se deve.

Primeiro, com a imensa comoção no show do grupo na São Paulo de 1981... Não dá pra deixar de destacar a arrepiante cumplicidade do público em "Love of My Life", homenageada e (bem) elaborada no filme, ainda que dentro de uma bizarra digressão de tempo e espaço.


Depois, nada melhor que uma viajada em Queen Rock Montreal, em show registrado no fim de 1981. Mercury, May, Taylor e Deacon em seu auge técnico e lírico, numa de suas últimas apresentações sem uso de efeitos e músicos de apoio. Só o básico em direção à genialidade.

Simplesmente magnífico.


Claro que não podia deixar de faltar o icônico show do Rock in Rio. Era janeiro de 1985 e testemunhávamos o 1º mega-evento pop de um Brasil ainda provinciano e afundado nas trevas do atraso. Aquele novo e excitante mundo, já bem conhecido lá fora, estava começando a chegar aqui em alto e bom som - ou quase.

Não é exagero afirmar que Freddie Mercury e o Queen foram os garotos-propaganda daquele nosso iniciozinho de era.


Pra finalizar, o antológico show do Queen no Live Aid. Evento beneficente gigantesco e polêmico por si só, merecia um longa-metragem temático à parte. Melhor ainda: uma série padrão HBO e juridicamente blindada.

Recém-saída do Rock in Rio e exaurida pela extensa turnê mundial do álbum The Works, a banda subiu ao palco e lutou a boa luta por uma causa justa. Mesmo em condições físicas adversas e num contexto bem diferente do que estava acostumada, com 20 minutos disponíveis, prensada entre Dire Straits e David Bowie e enfileirando hits como se fossem os Ramones.

Mas, como uma perfeita reviravolta cinematográfica, o Queen veio, viu e venceu, visceral.


Não é só senso comum achar que o Queen roubou o show: sua apresentação foi realmente votada como a melhor performance rock de todos os tempos por insiders da indústria. Eu, que já a reassisti mais vezes do que o sensorial recomenda, não ouso discordar.

God save thanks for the Queen!

sábado, 17 de agosto de 2013

O homem que não tinha tudo


Sempre achei meio complicado comentar qualquer filme do Superman. Sou da 2ª geração de guris arrebatados pelo saudoso Christopher Reeve em sua personificação do herói. Meu caso, por sinal, é perdido: até hoje sou fascinado pela quadrilogia inteira, mesmo com a metade dela sendo muito ruim e toda ela muito envelhecida. O que nunca foi problema pra mim. Revejo aqueles filmes como alguém que relê um bom gibi da Era de Prata. Fora isso, tenho a forte sensação, não apenas nostálgica, de que aquela (ingênua) mensagem de respeito, caráter, esperança e altruísmo jamais será igualada. Ou mesmo almejada. Os tempos são outros. Mas pelo próprio bem do personagem, a necessidade de se aventurar nesse mundo atual cinzento com matiz verde-blockbuster é prioridade.

Em 2004, quando a Warner contratou Bryan Singer para dirigir o novo filme do Superman, houve uma celeuma natural entre os fanboys, ávidos por um herói atualizado em discurso, estética e, principalmente, ação, ah, a ação. Poucos pareciam tão aptos para a tarefa quanto o sujeito que viabilizou os X-Men nas telonas. Para desespero do público, Singer se deixou seduzir novamente pela magia temporã de Richard Donner e fez da produção um tributo aos dois superfilmes que, de um jeito ou de outro, levaram a sua assinatura. Apesar de alguns poucos terem se reconectado uma vez mais àquele espírito e secretamente agradecido ao Singer por isso (arram), todos concordaram que foi uma chance desperdiçada de repaginar o herói para uma dinâmica moderna e assim seguir em frente com a mitologia.

A possibilidade de ver o Superman do cinema enfrentando ameaças da sua ordem de grandeza - entre as numerosas opções de sua galeria de vilões - voltou a ser longínqua e onírica, quase improvável. Parecíamos fadados a reprises de Neo vs. Agente Smith e devaneios à base de Dragonball Z. Porém, com a ajudinha indireta de um colega de capa, uma nova chance não tardou.

O Homem de Aço (Man of Steel, 2013) veio para assumir essa responsabilidade e, com a direção nada sutil de Zack Snyder, fez o que parecia impossível, possível. Felizmente, meus temores se revelaram infundados. O filme não só apresenta o personagem para o século 21, como responde sem firulas velhas trivias nerd sobre sua contraparte cinematográfica. Por exemplo, qual o estrago que um ser como ele poderia fazer numa metrópole - ou Metrópolis - retratada da forma mais realista possível para uma superprodução hollywoodiana. Nada muito reflexivo ou existencialista, mas a pegada principal não era essa.

Ainda que David S. Goyer tenha acumulado pontos via Batman, seu roteiro, baseado na premissa concebida com o normalmente cerebral Christopher Nolan, se rende com frequência ao fan service. O que, em teoria, não é diferente do praticado no cinemão pop estadunidense pelos Bays e Emmerichs da vida, não fosse por um detalhe primordial: é um filme do Superman, a.k.a Clark Kent, rapaz do Kansas criado por pais adotivos com um grande senso moral e uma visão humanista do mundo. Eventualmente, isso entra em conflito com o perfil blockbuster da história e também mostra que O Homem de Aço herdou mais da trilogia quiróptera de Nolan do que um mercado comercialmente favorável.


O começo do filme é punk puro. Vemos os turbulentos dias finais de Krypton, outrora uma grandiosa civilização interplanetária, agora decadente e varrida por uma tentativa de golpe liderada pelo renegado General Zod (Michael Shannon). Completando o worst case scenario, o núcleo do planeta entrou em colapso e está na iminência de explodir, impossibilitando assim qualquer chance de sobrevida, exceto uma: o codex genético no qual estão armazenadas as linhagens de toda a raça kryptoniana. Não por acaso, é o objeto de desejo máximo de Zod, que planeja erguer uma nova Krypton sob seu comando, aplicando seus próprios parâmetros de eugenia.

Como uma última grande conquista do Krypton way of life, Zod e seus seguidores - entre eles a formidável operativa Faora-Ul (Antje Traue) - são derrotados, presos e enviados à Zona Fantasma. Tudo graças à intervenção do líder cientista Jor-El (Russell Crowe), que frustra os planos do militar ao mesmo tempo em que envia seu famoso filho recém-nascido à Terra para escapar do destino de Krypton. Adotado pelo casal Jonathan (Kevin Costner) e Martha Kent (Diane Lane), Clark, a.k.a Kal-El (Henry Cavill), atravessa a vida escolar deslocado e solitário, até que um dia sai pelo mundo em busca de suas raízes. Pelo menos, até ser rastreado pela repórter investigativa Lois Lane (Amy Adams). Assim, nasce uma mitologia moderna - que logo é posta à prova quando Zod e seus camaradas aportam na Terra com intenções nada diplomáticas.

Snyder deixa claro que o objetivo é reformar o universo do Superman desde as bases mais profundas. Krypton nunca foi visto assim fora dos quadrinhos. O que era um planeta asséptico e estéril em sua concepção prévia, virou uma esfera terrígena cheia de vida, não fazendo feio nem perto de Pandora, embora nitidamente debilitada pela falência de seus recursos naturais. O estilo da arquitetura traz a impressão de estarmos vendo alguma splash page do saudoso Moebius ganhando vida. Sendo apenas uma introdução, pouco é revelado sobre a cultura e o contexto social. Percebe-se o contraste de uma sociedade avançada para os padrões humanos, mas não tanto a ponto de abrir mão de trabalho animal ou de superar dogmas arcaicos. Um toque bastante mundano por parte do roteiro. E sobretudo, eficiente: ao mesmo tempo explica por que Krypton abandonou a expansão para outros planetas e suas respectivas terraformações (ou seriam kryptoformações?) e por que não iniciou um êxodo pelo espaço para salvar seu povo da extinção.

Esse aspecto também ajuda a compor a inesperada tridimensionalidade do personagem Zod.


Diferente do oficial aristocrata eternizado por Terence Stamp, o Zod de Michael Shannon é um nacionalista, um soldado comprometido com a missão da sua vida. Portanto, nada de "kneel before Zod". Do levante antigovernista em seu planeta natal até suas ações genocidas na Terra, seu intento é um só: a salvação da sua raça, não importa o custo. E pensando bem... importaria? Se qualquer um faria o mesmo em seu lugar ou se Krypton já teve sua chance é uma questão ética que sustenta uma boa discussão. O fato é que resumí-lo como vilão com uma raison d'être tão autêntica já não fica tão simples assim. A cena em que Zod, desesperado, apela para que a esposa de Jor-El, Lara (Ayelet Zurer), não lance a nave com o codex (e seu filho) destaca ainda mais a ambiguidade da situação.

Mais pra frente, o filme acaba cedendo ao tomar partido na cena da bad trip do Superman, onde ele descobre os planos de Zod para os nativos da Terra, mas até ali o saldo conceitual era muito positivo. É mais do que se poderia esperar de um filme-pipoca. E não para por aí.

A cinebiografia do Clark pré-Superman ainda é escassa em detalhes, mas ganhou no filme uma profundidade inédita até então. Cair na estrada como um benfeitor anônimo, ao velho estilo "David Banner", se revelou um recurso ainda eficiente. Foi uma boa estratégia pra ficar fora do radar e, ao mesmo tempo, antenado com o mundo à sua volta, atrás de qualquer sinal de anormalidade que possa ter alguma conexão com a sua origem - com direito a uma certeira inserção de "Seasons", do Chris Cornell. Cavill convence como bom-moço mezzo decidido mezzo inexperiente. Conseguiu não apenas caracterizar o Superman em formação, como também guiar o espectador pela trama.

A única ressalva vai para a quantidade pífia de linhas à sua disposição. Mesmo transmitindo serenidade no papel, Cavill foi um tanto amordaçado pelo script, sugerindo um certo pé atrás do diretor com seu ator - quase reeditando a tática de Bryan Singer com o então novato Brandon Routh, no Super 2006.

Bobagem. É fácil ver a competência dele, especialmente na cena breve, mas marcante, que dividiu com Kevin Costner. Que, por sinal, foi uma excelente escolha para o pai adotivo do escoteirão. Com sua bagagem de veterano e de ex-#1 de Hollywood, Costner passa toda a confiabilidade e afetuosidade que se espera do papel. Mas, ironicamente, veio do personagem dele o primeiro sinal de que havia algo de errado no ar.

Na verdade, "sinal" é pouco... eu diria mais um direto de direta, onde Jonathan mostra que não é um caipira do Kansas e sim dos Ozarks:

"Clark, you have keep this side of yourself a secret."
- "What was I supposed to do, just let them die?"
"Maybe."

E conclui:

"There's more at stake here than just our lives and the lives of those around us."

Grande Júpiter.

Ou ele projetava um Clark sociopata e tirânico para o futuro ou foi substituído por um Jonathan Bizarro com as melhores (ou "piores") intenções. Logo ele, recém-saído da boa caracterização de John Schneider na série Smallville. Aconselhar Clark a não salvar a vida de inocentes - crianças ainda - para esconder o que fosse nunca fez parte de seu perfil, seja em qual versão ou mídia. Jonathan seria expulso do Hall dos Mentores das HQs na hora, pelo Ben Parker em pessoa, que entoaria sua mais célebre frase com a voz de James Earl Jones pra ele nunca mais esquecer.

Desnecessário chafurdar a fundo nesse absurdo, mas vamos considerar que essa é sua natureza no filme, de alguém preocupado e temeroso pelo futuro do filho, como qualquer pai seria. Dadas as circunstâncias, faltou um "pouquinho" mais de fé no garoto ali. Especialmente num garoto invencível e invulnerável que literalmente foi um presente dos céus. Ou seria tudo uma alusão ao homem comum de hoje, mais amargo, pragmático e menos afeito à solidariedade e amor ao próximo, valores esses massacrados diariamente nas manchetes policiais? Se foi, faltou combinar.

De quebra, Jonathan ainda sai de cena vitimado pela própria lógica, de forma ainda mais melancólica, mesmo que pontuada pela soberba atuação de Costner. Nem todos os memes disponíveis na web fariam jus a esse tremendo fail do roteiro de Goyer, mas, como consolo, foi fichinha perto do que estaria por vir.


Verdade seja dita, nenhum filme baseado em quadrinhos de super-heróis teve sequências de ação como O Homem de Aço. É o mais próximo de um vale-tudo entre superseres que o cinema produziu até hoje. Não deixa de impressionar a evolução na área desde X-Men, há exatos 13 anos atrás - e que agora fica parecendo até um filme do Roger Corman. Isso graças à mão pesada e vertiginosa de Zack Snyder, muito bem captada pela equipe de 2ª unidade, que, segundo me disseram, são os criativos e os operários por trás do espetáculo. E por incrível que pareça, sem uso compulsivo de câmera lenta, o crack de Snyder desde muito tempo.

Pelo contrário...


Ao ilustrar a supervelocidade dos kryptonianos em tempo (sur)real, o diretor dá a dimensão exata do poder e da ameaça que eles representam - aspecto conduzido com perfeição pela assustadora Faora. Que não é a misândrica radical dos quadrinhos, mas também é objetivista, sem remorsos e, aparentemente, ainda mestra em Horu-Kanu (o Krav Maga de Krypton). São dela as melhores brigas do filme, que passa como um rolo compressor por cima do exército e do azulão. Antje Traue, do bacanudo Pandorum, funciona tão bem no papel que quase chega a apagar da tela um gorila kryptoniano de 4 metros que comparece no campo de batalha.

Seu visual também é um deleite: a beleza e o olhar gélido da atriz alemã caíram como uma luva na indumentária futurista e meio dark - pessoalmente, um déjà vu e tanto. Entra tranquila no clube de coadjuvantes sinistros que roubam a cena com cotação recorde: 5 Darth Mauls de 5.

Paradoxalmente, é em meio a esses acertos que surge a pior faceta de O Homem de Aço. Dando plena e furiosa vazão aos subtextos proferidos pelo cajun Jonathan no 1º ato do filme, o que se vê na reta final é uma sinfonia da destruição executada no último volume. Até aí tudo bem, a Metrópolis dos quadrinhos é varrida do mapa quase toda quinzena e finalmente temos a tecnologia para simular isso num filme; o problema é quando cruza a fronteira da negligência, atropelando nada menos que a índole do escoteirão. Sua luta contra Faora em Smallville já era um prenúncio do megadeath iminente: além de salvar um ou outro militar (por fins práticos, buscando gerar confiança?), o herói pouco faz em relação aos civis residentes e trabalhadores no local.

No máximo, aconselha um grupelho de coitados a se trancarem nos estabelecimentos - os mesmos que ele e Faora moem durante o quebra, sem preocupação aparente com quem está lá, sejam mulheres, idosos, crianças, pandas, coalas, o que for. Mas a coisa desanda mesmo quando Superman e Zod fazem Metrópolis de octógono.


A tensa sequência em que Perry White (Laurence Fishburne) e mais um sujeito tentam retirar uma colega dos escombros é, talvez, a mais reveladora de O Homem de Aço. Na hora, lembrei de uma cena similar e a mais emblemática de Superman - O Retorno: Lois, seu filho e seu marido contemplando a morte certa presos num barco afundando. Singer estica a virada sadicamente até o limite, arrematando com um gancho que sintetiza, sem que nenhuma palavra seja dita, a essência do Superman. Ou, pelo menos, daquele o qual estávamos acostumados. No novo filme, a coisa é bem diferente. Com uma máquina do Juízo Final bombando a poucos metros dali e com seus esforços se mostrando em vão, em dado momento White decide entregar os pontos e permanecer ao lado da amiga até o fim inevitável. Naquele momento, eles só tem um ao outro e nenhuma esperança. Ninguém veio. Ninguém virá. Você tem um homem de aço na sua cidade, mas está por sua conta. Sem essa de superamigo.

Agora imagine quantas dessas microssituações dramáticas se deram entre os escombros de Metrópolis enquanto dois deuses trovejavam no céu e derrubavam mais prédios? Dante Alighieri manda lembranças.

Longe de querer um caos ordenado que se auto-justifica a cada 5 segundos. É óbvio que um evento dessa magnitude faria cadáveres brotarem do chão. Acontece todo tempo nas histórias do herói, ainda que implicitamente, mas sempre administrado por uma atitude protecionista em relação aos frágeis e mortais terrestres. Não de forma que interrompa o fluxo da ação ou da narrativa, mas em breves cenas sugerindo que ele fez o que pôde antes de se dedicar à pancadaria em definitivo - é o padrão desde sempre, nas HQs, nos longas animados e, adivinha, nos filmes com o Reeve. Haviam opções para mover o confronto para outro lugar, como no espaço, onde ele até tentou (só que, infelizmente, sempre caíam nos mesmos lugares... magia do Caos, for sure). O oceano era logo ali. Desertos, cânions e o pólo ártico não eram nem na esquina pra eles.

Se foi inexperiência, compro até certo ponto. Mas fica complicado quando o único civil que Superman se digna a salvar é exatamente a Lois - três vezes durante o filme, sendo a última delas um deus ex machina que faria corar até o T. Rex do final de Jurassic Park. Se isso tudo fosse uma análise comportamental sobre ele, como eu deveria interpretar?

E por incrível que pareça, nem menção posterior há aos prejuízos astronômicos e às prováveis milhares de vítimas das ações dos kryptonianos (todos eles). Algo que poderia muito bem ser resolvido de uma forma sutil, emocionante e respeitosa sem gastar tanto tempo ou baixar uma nuvem deprê no contexto PG-13.

O Homem de Aço se compromete com o aspecto humanista e sociológico da situação, mas não segura o rojão. E olha que não sou de nenhum Comitê dos Direitos Humanos dos Seres Vivos Fictícios. Sou fã de cinema-destruição. Rio muito sempre que o Lobo lembra como destruiu seu planeta natal. Darth Vader explodiu Alderaan e tenho um Vaderzinho de chumbo na minha mesa. Meu personagem favorito dos quadrinhos é Galactus. Nenhum deles tenta ser o que não é - ou mais do que é.

Diante disso, ficaria feliz em não ter mais nada a questionar, porém, a vida não é fácil pra quem detesta fazer coro com rebanho moralista. E calhou disso acontecer justamente na cena mais polêmica do filme.


Spoiler?

De um lado, uma linda família caucasiana recém-saída das filmagens de um comercial de margarina. De outro, Superman aplicando um mata leão em Zod, que diz em alto e bom som que vai flambar todo mundo porque Kal-El não tem cojones de aço pra impedi-lo. Além de recorrer a uma imagética vexaminosa de tão apelativa e maniqueísta, a edificante solução encontrada pelo roteiro de Goyer não poderia ser mais populista em sua visão mais primária e obtusa da Justiça, eliminando qualquer fagulha de inspiração e idealização que poderia advir do Superman. Ufa. Como bem disse Brainiac em saga recente, é uma decepção ver um filho de Krypton reduzido a um bruto.

Sério que ele não conseguiu pensar em nada, mesmo com Zod dominado numa super-gravata? O Super mesmo foi nocauteado por Faora e o gigante em dado momento, então isso era possível na lógica do filme. Ele poderia ter apertado mais até o vilão perder os sentidos. Ou, sei lá, socado sua cabeça até conseguir. Depois poderia tê-lo levado até a nave exploradora e buscado intel para contê-lo (radiação do sol vermelho, simulação de atmosfera kryptoniana, etc). Provavelmente até acharia por lá um daqueles pen-drives kryptonianos com o Jor-El backupeado, pronto para auxiliá-lo a despachar novamente o general para a Zona Fantasma. Ou qualquer coisa.

Mas preferiram colocar o Superman matando no primeiro filme da sua muito aguardada reabilitação cinematográfica. Pior, se submetendo ao joguinho de manipulação do vilão, descendo assim ao seu nível. Em algum lugar de uma galáxia distante, Luke Skywalker dá um facepalm.

Ironicamente, soou como um upgrade da infame cena "América para os americanos" do Superman II original. Isso, mais o fato do mundo fora dos EUA ser retratado no filme como uma terra de ninguém terceiro-mundista, constitui uma clara mensagem pra quem se atrever a pisar no quintal gringo. Slavoj Žižek aproveitaria até a raspa desse tacho. Sem medo de soar purista, filme de Super-Homem não é lugar para pregações reacionárias. Não dá pra corroborar com um Superman que age como alguém sem superpoderes, sem perspicácia e sem opções, rendido pela máxima popular do "bandido bom é bandido morto" - com certeza existe mais de um equivalente republicano-redneck disso aí.

O desenlace do final foi igualmente atordoante, no mau sentido, com Clark indo trabalhar no Planeta Diário. É exigir demais da suspensão da descrença. Dá a impressão que Goyer já havia perdido completamente o controle e apressou a conclusão o mais rápido possível para evitar mais danos, tal qual um piloto de airbus que descarta o combustível em pleno ar, certo de que o pouso será de nariz.


O lado positivo disso tudo é que Henry Cavill se sobressai ileso aos carrinhos criminosos do roteiro com uma atuação digna e segura, até mesmo em sua reação após o "inevitável". O que, sem dúvida, foi essencial para a boa química de Clark e sua mãe adotiva, Martha - uma ótima Diane Lane com maquiagem envelhecedora pra chocar os trintões. E eu ainda nem terminei de suspirar por ela em Ruas de Fogo...

"Knock, knock" - "Who's there?"
- "It's your lucky day..."
Só elogios para a encantadora Amy Adams, que, mesmo sendo jogada de lá pra cá de forma pouco criteriosa, faz uma Lois sexy, atrevida, sagaz, no tom certo de humor - e aparentemente velocista nível mach 10, já que faz o eixão meio-oeste/costa leste norte-americana em tempo recorde.

Foi bem sacada a escalação de Richard Schiff para o papel do Prof. Emil Hamilton, personagem pouco conhecido do público em geral, mas frequente colaborador do herói nas HQs e nas séries animadas. Igualmente para a participação do grande Christopher Meloni como o coronel extrassacudo que chama Faora na chincha não uma, mas duas vezes. Já Russell Crowe apenas não compromete, embora tenha ficado um tanto galhofeiro e fanfarrão nas cenas do Jor-El holográfico. E desceu quadrado o cacete que ele, um cientista, deu em Zod e mais uns capangas no início do filme, mas deixa baixo.

A edição meio truncada e corrida, à Nolan, também não funcionou a contento. Apesar de turbinar a dinâmica, suprime momentos potencialmente emocionais como a cena em que Jonathan revela a cápsula para Clark - numa notável atuação do garoto Dylan Sprayberry, por sinal. E a tão alardeada estreia do "universo compartilhado" da DC nos cinemas foi tímida: limitou-se a um logo-Lex aqui e um satélite Wayne acolá. Pouco pra quem tem a pretensão de reeditar a campanha bem-sucedida da Marvel Studios, ainda mais considerando que o UDC sempre foi mais integrado que a concorrência. Em contrapartida, a justa homenagem ao Christopher Reeve foi arrepiante.


A cena que fecha o filme é evocativa e belíssima. Clark bem menino, brincando no quintal de casa com seu cachorro, em meio aos varais e roupas estendidas. É universal. E ao mesmo tempo, não podia ser mais íntimo. Talvez seja aí que resida a verdadeira força de O Homem de Aço, perdida entre o filme que há muito queríamos ver, o filme que nos foi dado e o espírito e o coração do velho Superman.

Ps: o Luwig fez um fantástico texto sobre o filme com referências e especulações a granel.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Amargo regresso


Enfim, a cena inédita de Superman - O Retorno passada em Krypton. Não era bem o que eu esperava, mas é sombria, melancólica e tão bonita quanto ameaçadora. Merecia abrir o filme.

Na hora, a sequência me lembrou da história "Alucinação", publicada aqui na revista Super Powers #16 (fevereiro/1990). Escrita por John Byrne e desenhada por Mike Mignola, o conto era uma pequena pérola que mostrava o Azulão retornando ao seu lugar de origem e se deparando com um Krypton intacto. Ou quase.


O que se segue, nas palavras do Clark recém-saído de uma bad trip delirante, é "uma lição sobre a natureza humana e sobre abuso de poder". Lição que Bryan Singer demonstrou que já conhecia muito bem, quando preferiu homenagear a essência ao invés dos punhos.

domingo, 24 de abril de 2005

MAIS UM! MAIS UM!


Acho que estamos testemunhando o nascer de uma nova era na história da Publicidade. É incrível... parece que foi ontem que Steven Spielberg malocou os dinos ultra-realistas de Jurassic Park até o dia de sua estréia nos cinemas. Até George Lucas e seu último Star Wars entraram na dança. Pelos atuais padrões, segredo já não é mais a alma do negócio e sim a super-exposição em seu aspecto mais instigante. É justamente isso o que nos gritam os marketeiros responsáveis pela divulgação de Sin City, Quarteto Fantástico e, principalmente, Batman Begins. No caso desse último, não que eu esteja reclamando. Tudo o que foi liberado - incluindo aí fotos oficiais, de externas de produção, teaser-trailer, pôsteres, trailers, spots para TV e Superbowl - é de um extremo bom gosto e só me deixaram ainda mais atraído pelo filme. Ou seja... sou uma vítima da mais nova tendência publicitária de Hollywood. Virei um mero número positivo naquele grande quadro de estatísticas, gostando ou não.

Mas eu sou suspeito, pois sou fã do personagem. Quando Batman for embora, quero ver como vai ficar esse carnaval de spoilers em forma de propaganda.

Logo abaixo, um seqüência com os pôsteres divulgados até agora. Um mais lindo que o outro. Clique nas imagens para ampliar.



A propósito, o lançamento da trilha sonora de Batman Begins, composta por James Newton Howard (A Vila) e pelo honorável Hans Zimmer, será num dia curioso: meu aniversário. :P


O KRYPTONIANO DA MÁFIA


Vinnie e Clark... separados na maternidade

The World Finest! Falei do Bruce, tinha de falar do Clark. Antes de mais nada... não é que o Brandon Routh é mesmo a cara do Vinnie Terranova? Pra quem não lembra, Vinnie foi o protagonista da ótima série O Homem da Máfia (Wiseguy, 1987-1990), e era interpretado pelo ator Ken Whal. Aliás, essa lembrança nem foi minha, foi do Castrezana - pra fazer um link desse nível, só ele mesmo. Mafiosos do mundo, tremei... vocês têm um kryptoniano infiltrado.

Mas voltando ao assunto... logo após os shots de Routh caracterizado como o repórter Clark Kent, a semana ganhou outro super-susto com a primeira imagem do ator usando o uniforme do Superman. Estava lá, bem entre o Ratzinger e o Lula liberando asilo político para aquele ladrãozinho equatoriano. Acho que ninguém esperava por essa imagem tão cedo. Pelo que li/ouvi por aí, as opiniões são hilariamente divergentes. Hilário, porque se trata de um uniforme simplista ao extremo, com linhas e cores bem minimalistas, e mesmo assim, virou pauta para discussões acirradas. A verdade é que o uniforme do Super está com um design mais rebuscado que aquele utilizado nos filmes anteriores. Chega a lembrar o traje de suas primeiras aventuras na Action Comics e daquele seriado em p&b dos anos 40. Se o "S" no peito fosse menos estilizado então... seria back-to-the-basics total.

Na minha opinião, não ficou necessariamente bom ou ruim (isso não mesmo), apenas diferente e um tanto intrigante. Mas que é uma boa contradição lá isso é, visto que o diretor Bryan Singer disse que o conceito da produção será uma continuidade dos 2 primeiros filmes. Então, não seria melhor se o visual do uniforme fosse mais "moderno" ou ao menos similar aquele que imortalizou Christopher Reeve?

De qualquer forma, já pipocam pela web versões photoshopísticas do uniforme oficial. Algumas realmente muito boas e até... hã, melhores, eu diria. Como essa aí logo abaixo.

Clique na imagem para vê-la ampliada e na íntegra.


Superman antes e Superman depois... do Photoshop

...mal aê Singer. Libera um trailer bacanão aí pra eu poder nivelar a parada. :)


dogg, tomando café forte e sem açúcar, ao som de "Garotos", do Leoni... bela letra com um violão chupado de "More Than Words", do Extreme

segunda-feira, 18 de outubro de 2004

ÁGUIAS, MORCEGOS, GOTHIC ROCK E SELEÇÃO NATURAL


Primeiro superboato forte desde a rescisão de McG: Brandon Routh, é o atual novo Clark. Gostei não. Mas essa é apenas a velha primeira impressão, aquela mesma que me enganou tantas vezes.

Jovem demais, falta maturidade, presença física, aura benevolente, semblante heróico e corajoso, olhar que transmita confiança e amizade. Em outras palavras, alguém que seja ao menos a metade do que Christopher Reeve foi. Michael O'Hearn, o Clark de World's Finest, do Sandy Collora, seria um sujeito muito mais próximo da concepção ideal. E olha que o único "defeito" dele é moleza de corrigir: só tinha de perder um pouco de massa muscular.

Por outro lado, eu sempre fui a favor de convocações de ilustres desconhecidos para papéis de personagens emblemáticos da cultura pop (sejam de HQs ou não). Isso funciona que é uma beleza, desde Hugh Jackman e Bruce Thomas (dos comerciais da OnStar e do piloto do seriado Birds of Prey - o melhor Batman que já vi), até Clark Barthram (dos curtas de Sandy Collora - o 2º melhor) e Ray Park (Darth Maul, Groxo e futuro Punho de Ferro).

E só o fato do Bryan Singer - supostamente - ter dado o sinal verde pro rapaz, já denota uma certa credibilidade. Ele pirou quando viu o teste de vídeo de "um certo candidato", o que reforça a boataria. Bem, se for verdade mesmo, ou o garoto vai ficar excelente, ou veremos a primeira grande roubada do ex-x-diretor.

Falando em Singer e em testes de vídeo... X-Men 3. Os chefões da Fox limitaram a escolha do novo x-diretor à apenas 3 nomes, sendo que dois desses já trabalharam na casa. Logo em seguida, em entrevista para o site IESB, o produtor Avi Arad confirmou que Joss Whedon é mesmo um forte indicado para o cargo.


Agora, o porquê dessa foto aí cima? Este é Glenn Danzig, vocalista da banda Danzig, e um dos maiores ícones underground do rock americano. Com um passado memorável à frente dos cultuados Misfits e Samhain, Danzig sempre foi associado à uma certa atmosfera dark cinematográfica. De fato, ele já andou enveredando por algumas produções.

Lá pelos idos de 93/94, quando surgiram os primeiros boatos sobre um live-action dos mutantes, a ser dirigido por James Cameron (o tempo é um troço que eu vou te contar...), ele foi o primeiro a ser cotado para o papel de Wolverine, antes mesmo de Dougray Scott. Como o filme demorou horrores, ele partiu pra outra e acabou fazendo uma pequena - mas impressionante - participação em Anjos Rebeldes 2 (God's Army 2 ou Prophecy II/1998), no papel do anjo Samuel.

Ficou ótimo, pode conferir.


Em entrevista à Rock Brigade (na última edição, #219), Danzig revelou que, na época do 1º X-Men, ele esteve em algumas reuniões com a produção e conversou bastante com Bryan Singer. Infelizmente, a grade de filmagem cancelaria toda a tour de Satan's Child, seu álbum recém-lançado na ocasião. Uma pena, ele seria um Logan bem menos "bonzinho" que Hugh Jackman.


Mas a adiada incursão do cara pela 7ª arte ainda não caiu totalmente por terra. Seguindo o exemplo do maluco Rob Zombie (A Casa dos 1000 Cadáveres/2003), ele vai produzir e dirigir um filme - de terror, é claro. Ge Rouge contará a história de um ataque de zumbis em Nova Orleans, no início do século 20. Promissor...

A propósito, navegando pelo site do cara... que belo material de divulgação!


Clique nas imagens pra ver bem, bem de perto...


Ps.: essa semana será promíscua no que diz respeito à freqüência de posts... E na faixa, The System Has Failed, novo do Dave Mustain... digo, Megadeth, em fase de pré-julgamento. :P

domingo, 20 de junho de 2004

CAPITALISMO SELVAGEM ORGULHOSAMENTE APRESENTA:

X-BRAHMA vs SUPER SCHIN


O superfilme deve ser a primeira produção de Hollywood a oferecer um espetáculo antes mesmo de se tornar realidade. Desde 1994 que rumores fortes dão conta de um novo filme do Clark. Não me espantaria se um dia fizessem um filme baseado só nessas idas e vindas. Após mais um longo "arco" dessa novela chamada "Pré-Produção do Filme do Superman" (o envolvimento do roteirista J.J.Abrams e do diretor McG – a entidade maléfica JJG), mais uma saga se iniciou essa semana.

''Como todos já sabem, Bryan Singer agora é o novo técnico do Flamen... digo, o novo diretor do superfime. E a regra é clara®: entrou novo diretor, a estrutura inteira muda. Como se houvesse um upgrade na Matrix. Tim Burton, por exemplo, logo que chegou para comandar a superprodução, não se furtou em limpar o traseiro com o roteiro do Kevin Smith.

Aliás, cabe aí uma análise comparativa-precognitiva entre a fase Burton e a nova administração Singer.

''Burton sempre foi considerado o homem de Hollywood para assuntos dark. Ou seja, apesar de sua inegável veia bizarra e autoral, ele sempre conseguiu vender bem o seu peixe. Era um diretor que, com uma ou outra exceção (o excelente O Estranho Mundo de Jack), sempre foi querido na tesouraria dos estúdios. E na época de sua escalação para o superfilme, ele estava particularmente bem cotado, pois estava sendo planejada uma volta sua em grande estilo, após o fracasso de Marte Ataca! (de 96). Não aconteceu, pois houveram discordâncias entre ele e a távola quadrada da Warner, a respeito da nova concepção do Clark. Seu "grande retorno" acabou sendo adiado para 99, com o filme A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (muito sugestivo).

Flagrantemente, nota-se que a classe executiva falou mais alto aí, e não foi com um vagabundo qualquer não. Esse é um obstáculo claro que Singer terá de transpor. Se antes havia "pouca gente" pra ajudar (no 1º X-Men), agora tem "gente demais", e "gente demais" sempre atrapalha. É como dia de faxina no Asilo Arkham: um verdadeiro inferno.

Afirmo isso baseado nos precedentes abertos pela própria Warner na pré-produção do Super. E foi uma lista imensa... Caíram: Kevin Smith, Tim Burton, Nicolas Cage, Wesley Strick, Jack Nicholson (!), Tim Allen (!!), Courteney Cox, Sandra Bullock, Linda Fiorentino, Kevin Spacey, Chris Rock, Dan Gilroy, Martin Campbell, Michael Bay, Simon West, Bill Wisher, Paul Attanasio, John Cusack (!), David Duchovny (!!), Brett Ratner, Cameron Diaz, Jennifer Lopez, Catherine Zeta-Jones, Brendan Fraser (!), Anthony Hopkins, Josh Hartnett, Tom Welling, Ashton Kutcher, Matthew Bomer, Paul Walker, Natalie Portman (!), Ben Savage, Selma Blair, Martin Henderson, Beyoncé Knowles (!!), Johnny Depp, Shia LaBeouf, J.J.Abrams, McG e Bryan Sin… ooopa, esse ainda não...

Todos eles foram, durante algum tempo, os roteiristas, diretores, Clarks, Loises (...!), Jimmies, Jor-Els e Lexes oficiais do superfilme, e chegaram a negociar com os executivos da Time Warner (imagino um almoço em algum restaurante de Beverly Hills, com direito à copeira dando mole) – alguns chegaram mesmo a assinar seu nome de batismo nas linhas pontilhadas. Nem vou me referir às zilhares de equipes de produção, aos técnicos, às licitações de firmas terceirizadas, e nem aos Clarks que nunca negaram sua origem boateira (Denzel Whashington, Jim Caviezel, e muitos etcs).

E também vamos fazer de conta que nunca houve um projeto de filme-crossover com o Clark e o Bruce, com direção de Wolfgang Petersen, e que chegou às vias de pré-produção, só para ser cancelado logo depois.

O superfilme só encontra paralelo em sua enrolação com o "novo" disco do Guns N'Roses (que soltou até um Best Of pra bancar a estadia de Axl no estúdio).

Bryan Singer ainda tem de lidar com o "fator Zeca Pagodinho" que lhe acometeu. O Taz realmente chutou o traseiro do Wolverine, ou ainda dá pra conciliar os dois? Conseguirá o diretor resistir às investidas mortais de impiedoso Warner Executioner? Ainda é cedo pra afirmar. Vamos esperar pelo próximo capítulo da supernovela.

Eu desejaria boa sorte para o Singer, mas, pensando bem, acho mesmo que ele está é morrendo de rir.




QUANDO ÉRAMOS REIS


Aproveitando o encontro desses dois furacões (e não estou me referindo às duas frentes frias que estão me congelando nesse exato momento), aqui vai uma revelação: a melhor revista que eu já li na vida chama-se Super-Homem contra O Incrível Homem-Aranha – A Batalha do Século. É isso aí. Perdoe-me quem achava que era O Cavaleiro das Trevas, Watchmen, A Liga Extraordinária, V de Vingança, Sin City, O Reino do Amanhã, Marvels, ou alguma HQ obscura dos anos 40 que só eu conhecia.

Ali, na inocência e no maniqueísmo do universo pré-Crise e pré-Guerras Secretas, foi forjada a história em quadrinhos perfeita - o que não é sinônimo de "clássico". Clássico tem a natureza (e a pretensão) de ser "único", a obra máxima da visão particular de um autor num determinado momento. HQs perfeitas retratam o espírito de uma geração inteira da Nona Arte, e foram concebidas outras vezes em momentos diversos, em histórias de Astérix, O Príncipe Valente, Conan, Homem-Aranha (notadamente em O Menino Que Colecionava Homem-Aranha), Dick Tracy, Fantasma, e por aí vai. São histórias simplistas e carregadas de arquétipos que, por essa característica, acabam exercendo uma forte empatia com o leitor. Isso é um conceito situado anos-luz das HQs pós-Image e pós-Jim Lee.

SH vs SM já é bem velhinho (foi lançada em 1976 e editada no Brasil em 1980, pela EBAL), mas ainda hoje mantém o mesmo vigor narrativo. Pra quem ainda não entendeu o porquê dessa minha admiração toda, talvez o fato de que essa foi a minha revista explique alguma coisa. Aprendi a ler com quatro anos, através da Incrível Hulk #4 (inadvertidamente, um golpe de mestre da minha mãe), e ganhei essa revista pouco depois. Por algum milagre do destino, ela resistiu às agruras de ser um objeto pertencente à um moleque atentado e destruidor (eu). Lembro que ainda a tive até uns 10 anos, depois disso, só Uatu pra responder. De um modo ou de outro, fez parte da minha vida. Mesmo que fosse uma HQ ruim (e não é mesmo), me marcaria. Quando viro as suas páginas hoje, eu vejo muito mais do que letras, desenhos e cores. Vejo trechos da minha vida na época, como se a revista fosse uma câmera ligada permanentemente, apontada pra mim. Eu viajo, literalmente.


Essa cena hoje seria encarada como "anti-americana"

Aliás, é engraçado ver determinadas cenas hoje. Logo de cara, um robô gigantesco atravessa vários edifícios de Metrópolis. Impensável nesses dias marcados pelo 11/9. Se fosse uma HQ do Mark Millar, p.ex., a história faria questão de explicitar que 13 bilhões de pessoas morreram soterradas nos escombros. Outra coisa interessante é o "contra" presente no título, claramente uma estratrégia de marketing (na época, eu era moleque e não tava nem aê, achei que era porrada pra valer...). A seqüência da "luta" é impagável... a conclusão da mesma então...


O Aranha aproveitando seus 15 segundos de supremacia...

Os desenhos, de Ross Andru, são primorosos e anatomicamente perfeitos (nada de bíceps maiores que a cabeça por aqui). Chegam a fazer bem pra vista, de tão bons. Já Gerry Conway conferiu um clima altamente bem-humorado no roteiro, que aliás retrata muito bem a personalidade de cada personagem. Os encontros e diálogos entre figuras clássicas como Lois Lane (na época, Miriam), Mary Jane, J.J.Jameson, Peter e Clark são de chorar de tão bem-sacados. Acertadamente, o Super e o Cabeça de Teia convivem em um mesmo universo (graças à Deus – eu simplesmente odeio esse negócio de "universos paralelos" nas HQs), e nota-se que não existem tantas diferenças assim, afinal.


Lex Luthor e Doc Ock são os vilões da vez

Atualmente, o potencial de um bom crossover não existe mais, perdeu-se entre uma capa do Rob Liefeld e uma história do Todd McFarlane. Foi-se o tempo em que um encontro entre dois personagens de diferentes editoras tinha aquele elemento mágico, quase irreal. Hoje, todo mundo se encontra com todo mundo, caem na porrada, arrancam litros de sangue um do outro, fazem poses de alterofilista em pleno campeonato, mas e daí? Não emociona, não causa admiração, não nos deixa cúmplices daquela aventura. Talvez seja até melhor assim, afinal, fanboy você sabe... é um bicho ciumento. Vamos deixar os moleques pensarem que a nova saga dos W.I.L.D.Cats ou da Witchblade vai ser o máximo...


Clark e Peter ainda se encontrariam anos depois, em uma boa aventura contra o Parasita e o Dr. Destino, mas o charme nem se compara ao do 1º.

Scans By: Veio de Krypton, numa nave que caiu no quintal do desenvolvedor do DC++.
Tradução: Tradução...? - Não tive coragem de mexer nessa pérola irretocável, mesmo porquê, o texto original em inglês é tão simples que parece transparente. Mais fácil de se entender do que se fosse português.

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