Mostrar mensagens com a etiqueta maria bethania. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta maria bethania. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

TANTO MAR...



Edição Original em LP Philips 6349 146
(Brasil, 1975)


Este é, na minha opinião, e sem sombra de dúvida, o melhor album ao vivo da música brasileira. De sempre! Mas... tem um pequeno defeito: a faixa nº 10. Quando o disco foi editado, em 1975, vivia-se em Portugal a euforia da Revolução de Abril. Como sempre solidário, Chico Buarque quis homenagear esse tempo de liberdade e compôs uma das suas melhores e mais emblemáticas canções:

“Tanto Mar”

Sei que estás em festa, pá
fico contente
e enquanto estou ausente
guarda um cravo para mim.
Eu queria estar na festa, pá
com a tua gente
e colher pessoalmente
uma flor do teu jardim.
Sei que há léguas a nos separar
tanto mar, tanto mar
sei também que é preciso, pá
navegar, navegar.
Lá faz primavera, pá
cá estou doente
manda urgentemente
algum cheirinho de alecrim.

A canção foi incluída (e naturalmente cantada) no show ao vivo. Mas a censura brasileira da altura proibiu a sua divulgação e apenas foi autorizada a sua inclusão no album como tema instrumental. É claro que em Portugal a versão original cantada foi a que apareceu editada, tornando-se rapidamente um dos maiores êxitos da época. Dois anos depois, já com a revolução dos cravos em “banho-maria”, Chico alterou, compreensivelmente, a letra e a nova versão, intitulada “Tanto Mar II” viu a luz do dia no album “Chico Buarque”, editado em 1978:

Foi bonita a festa, pá
fiquei contente
'inda guardo renitente
um velho cravo para mim.
Já murcharam tua festa, pá
mas, certamente
esqueceram uma semente
nalgum canto de jardim.
Sei que há leguas a nos separar
tanto mar, tanto mar
sei também como é preciso, pá
navegar, navegar.
Canta a Primavera, pá
cá estou carente
manda novamente
algum cheirinho de alecrim.

Estranhamente, porém, mesmo com o avançar dos anos e a modificação das mentalidades esse “erro” nunca foi corrigido: as sucessivas edições do album em CD continuaram a trazer sempre a versão instrumental. Mesmo em compilações editadas (quer genéricas quer do próprio Chico Buarque) o tema original nunca mais apareceu, o que o tornou num item raro de coleccionadores. Para mais uma vez lembrar que a liberdade é algo de muito valioso e único nas vidas de todos nós (e a que normalmente só se dá o devido valor quando ela não existe) Rato Records foi recuperar essa primeira versão ao vinil original para presentear assim todos os seus irmãos brasileiros.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...