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domingo, 24 de setembro de 2017

sábado, 10 de junho de 2017

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

GILBER BÉCAUD: "Dimanche à Orly"


Original released on EP La Voix de Son Maitre EGF633
(FRANCE, 1963)


Dedicado ao Hugo Santos, de quem se transcreve
o excelente texto seguinte:

Os aviões estavam guardados para os domingos de Verão, quando o futebol estava no chamado defeso e não havia jogos. A vida do meu avô, a minha também, regulava-se por haver, ou não, jogos no Estádio da Luz. Na Praça do Chile (Lisboa), apanhávamos aqueles autocarros verdes, de dois andares, para a Portela e ali ficávamos a ver os aviões. O aeroporto não era o que hoje é e, mais uns anos, pelo andar da carruagem, nada será, e o movimento de aviões era diminuto. No edifício havia uma esplanada, com grandes chapéus-de-sol, que se via cá de baixo, do gradeamento que limitava a pista. Adivinhavam-se mulheres com vestidos vaporosos às ramagens, homens de fato e gravata, a beberem o seu chá, o seu café, a sua limonada ou o seu “whisky”, pensa ele.

Cá em baixo, famílias em grupo passeavam-se à espera de ver os aviões subir ao céu ou dele descer e havia mulheres a vender, em cestos de palha trançada, com uma asa ao meio, em cartuchinhos de papel, tremoços, amendoins, também colares de pinhões, alfarroba, paladares. Por tudo isto – e não só – haveria um dia de passar a gostar, terna e nostalgicamente, de uma canção do Gilbert Bécaud: “Dimanche à Orly”. Ainda hoje, quando a ouve, é do avô e dos domingos da Portela que se lembra, e, não raro, uma lágrima atrevida, furtiva lágrima, intenta brotar. Pelos idos de 1969 viu um anúncio de jornal a pedir pilotos para a TAP. O anúncio dizia: “Há homens que não suportam estar colados ao chão, esses serão os nossos pilotos. Oferecemos-lhe dezenas de céus. E dezenas de terras. Oferecemos-lhe um viver cheio de à-vontade dentro da responsabilidade. Sem e com experiência de voo venha para piloto da TAP".

Aquele chamamento de quem não suporta estar colado ao chão, sem e com experiência, fez-lhe desejar ir para piloto da TAP. Os olhos azuis tinha, as habilitações académicas exigidas é que não. Passados anos conheceu quem tivesse ido para piloto da TAP por causa da feliz frase de “marketing” daquele anúncio. Era, então, a TAP um exemplo de companhia aérea. Hoje é a javardice que se sabe. Lembra-se também de uma velha canção de Milton Nascimento de saudação à Panair do Brasil, assim como se lembra de, na Portela, ver esses aviões da Panair. Agora chama-se Varig.

E aquela briga e aquela fome de bola
E aquele tango e aquela dama da noite
E aquela mancha e a fala oculta
Que no fundo do quintal morreu
Morri a cada dia dos dias que eu vivi
Cerveja que tomo hoje é apenas em memória
Dos tempos da Panair
A primeira Coca- Cola foi me lembro bem agora
Nas asas da Panair
A maior das maravilhas foi voando sobre o mundo
Nas asas da Panair


Não foi para piloto da TAP, mas mais tarde haveria de trabalhar numa agência de navegação e foram tempos felizes: barcos, escadas de portaló, marinheiros, gruas, cabos grossos esticados até aos cabeços da muralha, azáfama de estivadores, gruas, aquela dança serena do barco com as águas e, sempre, aquele ruído de motor que mantém o barco vivo e se transforma num qualquer apelo. Agora teve um problema: andou às voltas e às voltas à procura do EP do Gilbert Bécaud, a cantar “Dimanche a Orly”, e não encontrou. A memória traz-lhe a brisa longínqua que, provavelmente, um dos seus primeiros amores terá ficado com o disco. Fez bem. Nunca teve grande simpatia pela propriedade privada.


A l'escalier 6, bloc 21,
J'habite un très chouette appartement
Que mon père, si tout marche bien,
Aura payé en moins de vingt ans.
On a le confort au maximum,
Un ascenseur et un' sall' de bain.
On a la télé, le téléphone
Et la vue sur Paris, au lointain.
Le dimanche, ma mère fait du rangement
Pendant que mon père, à la télé,
Regarde les sports religieusement
Et moi j'en profit' pour m'en aller.

Je m'en vais l' dimanche à Orly.
Sur l'aéroport, on voit s'envoler
Des avions pour tous les pays.
Pour l'après-midi... J'ai de quoi rêver.
Je me sens des fourmis dans les idées
Quand je rentre chez moi la nuit tombée.

A sept heures vingt-cinq, tous les matins,
Nicole et moi, on prend le métro.
Comme on dort encore, on n'se dit rien
Et chacun s'en va vers ses travaux.
Quand le soir je retrouve mon lit,
J'entends les Bœings chanter là-haut.

Je les aime, mes oiseaux de nuit,
Et j'irai les retrouver bientôt.
Oui j'irai dimanche à Orly.
Sur l'aéroport, on voit s'envoler
Des avions pour tous les pays.
Pour toute une vie... Y a de quoi rêver.
Un jour, de là-haut, le bloc vingt et un
Ne sera qu'un tout petit point.

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