No dia 15 de Março de 1969 estreava-se em Paris o filme "LA VOIE LACTÉE / A VIA LÁCTEA" de Luis Buñuel, com Paul Frankeur, Laurent Terzieff, Alain Cuny, Bernard Verley, Michel Piccoli, Pierre Clementi e Delphine Seyrig. «Interessam-me as heresias como me interessam todos os inconformismos do espírito humano, seja na religião, na cultura ou na política», declarou o autor a propósito deste seu filme, que acompanha a viagem de dois peregrinos a caminho de Santiago de Compostela. É uma viagem no espaço que se desdobra no tempo, o que lhes permite percorrer os grandes dogmas que pontuaram a história do catolicismo. Encontram um padre fugido de um asilo psiquiátrico, um chefe de mesa estudioso de teologia, um duelo de esgrima entre um jesuíta e um jansenista, etc. E assistem às Bodas de Canã, à cura falhada de dois cegos por Jesus Cristo, à Virgem Maria a dizer ao filho que se barbeie, etc. Todo o filme é apresentado como uma colagem perversa: colagem na acepção que este termo sempre teve para os surrealistas e perversa porque todo o cinema de Buñuel é perverso. Neste caso particular o filme seria a primeira parte de uma trilogia, seguido depois por “Le Charme Discret de la Bourgeoisie” (1972) e “Le Fantôme de la Liberté” (1974). A estreia em Portugal apenas ocorreria 10 anos depois, a 6 de Fevereiro de 1979, no Quarteto.