
Talvez a voz mais emblemática da América Latina. Rebelde, forte e genuína, levou uma vida de excessos, sofrida, que quase perdeu, mas a vitória alcançada no final foi gloriosa! - «Salí de los infernos, pero lo hice cantando». Nascida em 1919, a 17 de Abril, em San Joaquín de Flores, Costa Rica, viu a sua infância manchada pela doença e pelo divórcio dos seus pais, sendo deixada ao cuidado dos tios. Saíu aos 14 anos do seu país, sózinha, incompreendida, e identificou-se com o México. Ali desempenhou várias funções, mas foi com a voz e a atitude que surpreendeu, chamando a atenção com o tema "Macorina". Destemida, as suas músicas seriam normalmente cantadas por homens e falavam de desejo pelas mulheres. Vestia roupa masculina, fumava e carregava sempre uma arma. Era conhecida pelo casaco vermelho que adorava envergar. Passeava com Agustín Lara, compositor e poeta mexicano, musa e amiga de Juan Rulfo, escritor mexicano. Vivia com os pintores Diego Rivera e Frida Kahlo e bebia grandes doses de tequila. As melodias iam surgindo… "Somos", "Luz de Luna", "Las simples cosas", "Toda una Vida" … a preciosa "Llorona".
O alcoolismo privou-a da música durante 12 anos e quase lhe roubava a vida: «Estrenaba un coche el viernes y el lunes ya no tenía nada, me emborrachaba y me iba a cantar por las calles. Yo tomaba tequila, todo me lo tomé, por eso no quedó nada allá». Pois foi no início dos anos 90 que fez o seu regresso!... A cantar! Foi por esta altura, que o editor Manuel Arroyo a leva para Espanha e o êxito é imenso. Chavela conquista. Para ela Espanha é um país que a torna sua amiga, abrindo-lhe os braços e a sua juventude. O reconhecimento e as alegrias fluem. O realizador espanhol Pedro Almodóvar descobre nela uma amiga, uma musa: «Não acredito que haja neste mundo um palco suficientemente grande para ela.»

Chavela Vargas só falou da sua homossexualidade aos 81 anos na autobiografia “Y si quieres saber de mi passado”. Numa entrevista à televisão columbiana, declarou que era lésbica e reconheceu Frida Kahlo como o grande amor da sua vida. Em 2000, o Conselho de Ministros espanhol concede-lhe a Gran Cruz de Isabel la Católica. “La Vargas” actua em palcos importantes como o Olympia de Paris, Carnegie Hall e o Palácio de Belas Artes no México, tendo sido homenageada pelo Governo da cidade do México, nos seus 90 anos. Chavela Vargas teve as suas aparições em filmes como "Frida" de Julie Taymor, a cantar os clássicos "La Llorona" e "Paloma Negra". Também aparece em "Babel" de Alejandro González Iñárritu a cantar "Tú me acostumbraste". Morre a 5 de Agosto de 2012.
Foram mais de 40 discos gravados e quase 1000 concertos. Uma vida cheia para esta mulher de carácter rebelde e contestador. Autêntica. A sua maneira de cantar tão sensível, mas ao mesmo tempo profunda e assertiva, transporta-nos para um mundo de dor, onde sentimos o seu “riacho de esquecimento alagado” de “lembranças afogadas” e muito amor. Um mundo totalmente diferente e especial, recriado na voz desta mulher inspiradora. O seu legado: «Soy Chavela Vargas, tengo 90 años y estoy viva; viva de tanto amor y de disfrutar todo lo que me ha sucedido»