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segunda-feira, 26 de abril de 2021

A "Ópera do Malandro" de CHICO BUARQUE

Edição original em LP Duplo Philips 6349 400/401
(BRASIL, 1979)

Quando os diretores de teatro Cláudio Botelho e Charles Moeller revelaram o principal motivo que os levou a encenar em 2003 a primeira montagem de "Ópera do Malandro" no século 21, ambos foram taxativos: «Chegamos à "Ópera do Malandro" pela paixão. Quem ouviu aquele famoso LP duplo lançado em 1979 ficou fissurado naquilo, nunca esqueceu», afirmavam em coro, constatando estar ali «o Chico do teatro na sua absoluta madureza». O disco é considerado a melhor lembrança da recriação que o compositor e cantor carioca fez das peças "A Ópera dos Três Vinténs" (1928) dos alemães Bertolt Brecht e Kurt Weill, e da "Ópera dos Mendigos" (1728) do inglês John Gay, com música do alemão Johann Pepusch. Muitas das canções compostas para a peça brasileira acabaram entrando no rol das obras-primas de Chico Buarque de Hollanda, como "O Meu Amor", "Folhetim", "Geni e o Zepelim", "Homenagem ao Malandro" e "O Malandro". Ou ainda "Canção Desnaturada", de grande densidade trágica.

O nascimento da ideia

A possibilidade de Chico Buarque escrever sua adaptação para a peça de Brecht e Weill surgiu numa conversa com Ruy Guerra, cineasta moçambicano radicado no Brasil. No entanto, o plano só começaria a se tornar realidade anos depois, quando o diretor teatral Luiz Antônio Martinez Corrêa procurou Chico Buarque, sugerindo que os dois montassem a peça juntos. Corrêa já havia feito a tradução da ópera de John Gay, que serviu também de ponto de partida para Brecht e Weill escreverem "A Ópera dos Três Vinténs". A "Ópera do Malandro" estreou no Teatro Ginástico no Rio de Janeiro em agosto de 1978, e do elenco faziam parte atores de grande prestígio como Ary Fontoura, Marieta Severo, Maria Alice Vergueiro e Otávio Augusto, numa montagem que foi grande sucesso de bilheteria. Para levar o musical aos palcos, Chico Buarque e Corrêa precisaram enfrentar inúmeros desafios, que iam da pressão dos patrocinadores da peça, que apressaram o andamento dos preparativos para a estreia, até os problemas que Chico teria com a censura.

Canções inesquecíveis

A trilha sonora do musical só seria lançada um ano após a estreia por vontade do próprio Chico, que evitou que o disco saísse antes da montagem para que as músicas não ficassem banalizadas e esvaziassem o musical. O compositor chegou a pensar em gravar o disco duplo com alguns dos atores interpretando as canções, mas a Philips (hoje Universal), sua gravadora na época, preferiu optar por cantores profissionais já conhecidos do grande público. O resultado foi um álbum com gravações de João Nogueira, Gal Costa, Moreira da Silva, Marlene, Alcione e Francis Hime. Além deles, participaram também os grupos MPB-4, A Cor do Som, e Frenéticas, bem como as cantoras Nara Leão e Zizi Possi. Multicromática, a musicalidade de Chico estava à flor da pele, passando por diversos gêneros musicais brasileiros e latino-americanos como choro, xaxado, bolero, samba, marcha carnavalesca, mambo, tango, e chegando até o rock e o charleston norte-americanos. Ou seja, tudo aquilo que levou o crítico musical Tárik de Souza a perceber no autor de "Apesar de Você" um habilidoso criador, que não se deixa escravizar pela estética tradicionalista: «Musicalmente liberado para incursionar em todos os ritmos e gêneros, Chico tornou-se, paradoxalmente, um incendiário tropicalista». Arturo Gouveia, professor de Literatura Brasileira e doutor em Letras pela USP, endossa a visão de Tárik em seu ensaio "A Malandragem Estrutural", publicado no livro "Chico Buarque do Brasil", da Editora Garamond e Edições Biblioteca Nacional: «A "Ópera do Malandro" irmana-se com muitas das ambições vanguardísticas da primeira metade do século 20. Embora Chico Buarque não se declare vanguardista ou não demonstre, em suas concepções, qualquer afinidade eletiva com esses movimentos de ruptura, há vínculos inegáveis que podem até escapar da consciência imediata da autoria».

Chico e os alemães

Pouco antes de encarar a tarefa de adaptar as peças alemã e inglesa para a realidade carioca, Chico Buarque já havia se lançado numa bem-sucedida versão de "Os Saltimbancos", original dos irmãos alemães Jacob e Wilhelm Grimm, um trabalho realizado em parceria com o italiano Sérgio Bardotti e o argentino Luis Enríquez Bacalov. A história contada na "Ópera do Malandro" se passa durante a Segunda Guerra Mundial, quando Getúlio Vargas era presidente do Brasil. O epicentro é o bairro boêmio da Lapa. Chico optou por inserir a "Ópera dos Três Vinténs" na década de 1940 como estratégia para fugir da censura. «Até Brecht tomou suas cautelas e localizou sua ópera no início do século. John Gay ainda colocou no palco o ministro da Justiça de sua época, 1728. Mas hoje isso não é possível. Fatalmente seriam identificados os policiais corruptos com os que todos conhecem. Os problemas que surgiriam não deixariam a peça ser encenada», afirmou Chico à imprensa na época do lançamento da peça.


Bertolt Brecht, o mito

Quando Chico Buarque escreveu a "Ópera do Malandro", ele já vinha de experiências muito intensas com o teatro. Primeiro ao compor em 1967 (um ano após o estouro com "A Banda") a trilha de "Morte e Vida Severina", sobre poema de João Cabral de Mello Neto. Depois viriam "Roda Viva", peça que provocou sua prisão e posterior autoexílio em Roma, "Calabar", que foi proibida pelos militares, e "Gota d'Água" (escrita com Paulo Pontes). Nos anos 1960, Bertolt Brecht era uma das maiores referências dos principais autores e grupos teatrais brasileiros. De Augusto Boal a Oduvaldo Vianna Filho, de José Celso Martinez Corrêa a Plínio Marcos, passando por Gianfrancesco Guarnieri e muitos outros, as peças de Brecht eram sinônimo de engajamento político e de pesquisa por novas formas de dramaturgia. Sua teoria do distanciamento crítico, baseada na ideia de que uma peça teatral não deveria transportar o espectador para um mundo fictício, e sim despertá-lo para a realidade reflexiva, inspirou grupos como o Arena, o Oficina, o Opinião e posteriormente o Ornitorrinco a criar aquele que é para muitos o melhor momento da história do teatro brasileiro.
Felipe Tadeu

terça-feira, 10 de julho de 2018

O Grande Encontro: ALCEU, ELBA e GERALDO





O “Grande Encontro” foi, na sua origem, um álbum conjunto dos cantores Alceu Valença, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho, lançado em 1996 e gravado ao vivo em Julho desse mesmo ano no Canecão, no Rio de Janeiro. Este álbum foi o primeiro trabalho de uma trilogia, que contaria com mais dois álbuns (um de estúdio no ano seguinte, e mais um ao vivo em 2000, ambos sem a participação de Alceu Valença). A quarta edição desse encontro histórico da Música Popular Brasileira, aparece agora para celebrar os 20 anos de existência do projecto. Em Outubro de 2016, três deles voltam a se unir mais uma vez: a paraibana Elba Ramalho e os pernambucanos Geraldo Azevedo e Alceu Valença. Mesclando um repertório de clássicos da MPB, música nordestina e sucessos dos três artistas, este projeto é a junção de tudo o que houve de melhor das três edições anteriores. E traz ainda três faixas inéditas para enriquecer ainda mais o repertório e um cenário deslumbrante.

Depois do recente sucesso no Brasil, o “Grande Encontro” chega finalmente a Portugal (espectáculo único - 30€ - a 12 de Julho de 2018, no Coliseu de Lisboa), mais de 20 anos depois da sua edição original. A combinação das suas diferentes sonoridades promete esbanjar energia e criar uma atmosfera de festa, onde poderemos encontrar os artistas juntos em palco, grandes duetos e momentos a solo. A oportunidade perfeita de ver um dos maiores espectáculos de música brasileira no mundo. O “Grande Encontro” já foi tocado para mais de um milhão de pessoas na Passagem de Ano em Copacabana no Rio de Janeiro e foi dos concertos mais aplaudidos pela crítica e público no Rock In Rio, onde esgotaram o recinto do Palco Sunset. Aqui ficam 5 clips desse memorável espectáculo:

sábado, 21 de abril de 2018

O 2º Grande Encontro

Edição original em CD BMG 7432152840-2
(BRASIL, Novembro 1997)

Depois do sucesso do álbum "O Grande Encontro" (1996), que também contou com Alceu Valença, foi lançado um novo álbum, desta vez gravado em estúdio e sem a participação de Alceu, que preferiu continuar com sua carreira solo. Chegou-se a cogitar a participação do cantor Fagner para o lugar de Valença, porém, a ideia foi abortada.

As Canções:
01. Disparada (Geraldo Vandré / Théo de Barros)
02. O Princípio do Prazer (Geraldo Azevedo)
03. Banquete de Signos (Zé Ramalho)
04. Miragens (Geraldo Azevedo / Zé Ramalho)
05. Pedras e Moças (Geraldo Azevedo / Zé Ramalho)
06. Canta Coração (Geraldo Azevedo / Carlos Fernando)
07. Eternas Ondas (Zé Ramalho)
08. Bicho de Sete Cabeças II (Geraldo Azevedo / Zé Ramalho / Renato Rocha)
09. O Autor da Natureza (Zé Vicente da Paraíba / Passarinho do Norte / Bráulio Tavares)
10. Saga da Asa Branca (Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira / Zé Dantas)
11. Canção da Despedida (Geraldo Azevedo / Geraldo Vandré)
12. Ai Que Saudade d'Ocê (Vital Farias)

O 1º Grande Encontro

Edição original em CD BMG 7432141787-2
(BRASIL, Outubro 1996)

As Canções:

1. Sabiá (Luiz Gonzaga / Zé Dantas) – Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho e Zé Ramalho
2. Coração bobo (Alceu Valença) – Alceu Valença e Zé Ramalho
3. Jacarepaguá Blues (Zé Ramalho) – Alceu Valença
4. Pelas Ruas Que Andei (Alceu Valença / Vicente Barreto) – Alceu Valença
5. Talismã (Alceu Valença / Geraldo Azevedo) – Geraldo Azevedo e Alceu Valença
6. O Ciúme (Caetano Veloso) – Geraldo Azevedo
7. Dia Branco (Geraldo Azevedo / Renato Rocha) – Elba Ramalho
8. O Amanhã é Distante (Tomorrow Is a Long Time) (Bob Dylan / versão de Geraldo Azevedo e Babaum) – Zé Ramalho e Geraldo Azevedo
9. Admirável Gado Novo (Zé Ramalho) – Zé Ramalho
10. Trem das Sete (Raul Seixas) – Zé Ramalho
11. Chão de Giz (Zé Ramalho) – Elba Ramalho e Zé Ramalho
12. Veja (Margarida) (Vital Farias) – Elba Ramalho
13. A Prosa Impúrpura do Caicó (Chico César) – Elba Ramalho
14. Tesoura do Desejo (Alceu Valença) – Alceu Valença e Elba Ramalho
15. Chorando e Cantando (Geraldo Azevedo / Fausto Nilo) – Elba Ramalho e Geraldo Azevedo
16. Banho de Cheiro / Frevo Mulher (Carlos Fernando / Zé Ramalho) – Elba Ramalho / Alceu Valença, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho

Ficha técnica

O Show:
Iluminação: Cia da Luz
Design de Luz: Juarez Farinon
Operador Intelabeam: Jarbas Godard
Sonorização: Mac Áudio
Operador de Monitor: Sérgio Felipe
Operador de P.A.: Paulo Evangelista
Roadie: Josimo Feitosa e Carlos Santos (Bigode)
Cenógrafo: Lula Martins
Assistente de Produção: Ana Costa (Fatinha), Maria Dantas (Bia), Francisco Herculano (Ney), Pedro Leal e Ubirajara Dornelles
Produção Executiva: Alexandre Valentim
Realização: Acauã Produtora, Geração Produtora, Jerimum Produções e Tropicana Produções

O Disco:
Produzido por: Paulo Rafael
Direção Artística: Sérgio De Carvalho
Engenheiro de Gravação: Carlos B. Ronconi
Mixagem e Edição: Discover
Engenheiro: Fábio Henrique e Guilherme Reis
Assistente: Rodrigo e Alexandre Ribeiro
Masterizado por: Ricardo Garcia (Magic Master)
Capa: Luiz Stein
Fotos: Lívio Campos
Assistente de Arte: Daniel De Souza

terça-feira, 29 de novembro de 2016

ELBA RAMALHO - OS PRIMEIROS ALBUNS

Edição original em LP Epic 235.027
(BRASIL, 1979)


Normalmente escrevo sobre apenas um disco em cada post aqui em meu blog. Mas neste caso não há outra saída. Meu coração ainda não decidiu de qual dos dois discos sobre os quais quero falar ele gosta mais. Quantas lembranças em cada um. Quantas tempestades de emoções. Quantos trovões sacudindo a alma. Mas tudo bem, cabem os dois em meu coração . E são eles "Ave de Prata" e "Capim do Vale". Primeiro e segundo trabalhos de Elba respectivamente. São parecidos no som e nas lembranças. O mesmo mandacarú rasgando a carne, o mesmo carcará voando alto sob o sol. Após ouvir todo o disco "Ave de Prata", fica a certeza: este disco era necessário, essa cantora tinha de existir. "Canta Coração", um recado de Geraldo Azevedo e Carlos Fernando, traz um sentimento morno ao coração. Uma guitarra que acredito ser de Robertinho do Recife ( me corrijam por favor se estiver enganado), faz meu "alegre coração triste como um camelo" chorar a ausencia da namorada. Primeiro disco, primeira música, primeiro impacto. Chico Buarque não poderia escolher alguem melhor para cantar "Não Sonho Mais". Eu é que vivo sonhando com aqueles bons tempos. A sanfona lembra que o forró é bom, mesmo moderno. Não vou ficar aqui dizendo que antigamente se fazia discos com um time de primeiríssima linha de músicos, é só pesquisar a ficha técnica e confirmar.


Zabumba, sanfona, triângulo e Elba Ramalho. "Eu sonhei contigo e cai da cama...diz que me ama e eu não sonho mais". Veja se não dá vontade de ver a lua nascer em uma cidadezinha do interior ao ouvir "Veio d´Agua". A voz de Elba causou estranheza naqueles anos efervescentes. Alguns diziam que ela gritava. Este meio que baião "Razão de Paz" deve ter ajudado neste engano. A voz forte e cristalina é alta e cortante. Eu adorei já na primeira palavra. Uma coisa a aprender com este disco e principalmente nesta faixa chamada "Baile de Máscaras", é o uso de elementos modernos perfeitamente casados com o tradicional. E esta música apesar de não ser nenhum hit, ou alguma obra prima, tem uma estrutura gostosa de ouvir, simples, franca e direta. "Filho das Índias" foge um pouco do clima, mas não estraga o disco. Mas a faixa título, "Ave de Prata", esta sim é responsável pela emoção principal  que traduz o disco. Tinha de ser de Zé Ramalho. Violões e bordões e cavaquinhos e o lamento na voz de Elba. Bastava isto mas logo após temos Kukukaya - o jogo da asa da bruxa. "São quatro jogadores nesta mesa, frente a frente para jogar", eia, eia o jogo sujo da vida. E meu amor onde andava nestes tempos? Kukukaya eu quero voce aqui, presta atenção em mim. Ainda temos outras coisas...ouça o disco.


Edição original em LP Epic 235.048
(BRASIL, 1980)


Uma cascavel armando o bote e balançando o maracá. A segunda investida, o mesmo som perfeito, ainda o nordeste queimando sob o céu azul sem sol dentro do "Caldeirão dos Mitos". Forró, um fole de oito baixos no sertão. Quem já se apaixonou sabe o "Nó Cego" que dá no peito. Essa canção tem algo de maracatú no sacolejo da voz de Elba somado a um som de cítara. Eitcha nóis. Pés de Milho, andarilhos como nossos filhos. Um naipe de cordas emoldura com elegância clássica a melodia andarilha desta canção. Pura emoção. Depois vem um revisitação de "Légua Tirana" de Luiz Gonzaga (sua benção) e Humberto Teixeira. Quem teve a felicidade de ouvir mestre Lua cantar esta música, sabe da responsabilidade desta moça recem-chegada ao mundo do estrelato da mpb. "Porto da Saudade" tem todos os elementos nordestinos, desde a letra, até o triângulo marcando sempre e até o fim da canção. O auge da reverência ao nordeste está na interpretação visceral de "O Violeiro" de Elomar. Só Elba e uma viola ponteada. "Amor, forria, viola, nunca dinheiro. Viola, forria, amor, dinheiro não". Como disse antes, tem mais coisa no disco. Ouçam estes discos...eles são muito bons. (in OuçaEsteDisco)



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