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quinta-feira, julho 23, 2020

"Eu, Amália" — dia 23 [3/3]

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Fado, História d'uma Cantadeira (1947), de Perdigão Queiroga, pode servir de exemplo do academismo de que, nas décadas de 60/70, os autores do Cinema Novo viriam a demarcar-se. Sem dúvida. Mas importa também não ceder a essa banal história de "contrastes" que, hoje em dia, domina a percepção mediática de todas as componentes da história de Portugal, do cinema à política (com execpção do futebol, sempre glorioso, universal e obrigatoriamente redentor). De facto, há todo um imaginário popular que não pode ser dissociado de filmes como Fado, História d'uma Cantadeira e, muito em particular, desse essencial cognome de Amália: cantadeira. O trabalho do documentário Eu, Amália envolve também uma pedagógica revalorização de tal classificação — popular, sem ser populista; universal, sem se diluir no simbolismo pantanoso da world music. Nessas memórias cruzadas, Os Amantes do Tejo (1954), produção francesa dirigida por Henri Verneuil, com Amália "no seu próprio papel", é outra referência esclarecedora — eis o trailer original.


— Documentário de Nuno Galopim e Miguel Pimenta
— Produção: Inovação RTP
— RTP1: dia 23, 21h00.

quarta-feira, julho 22, 2020

"Eu, Amália" — dia 23 [2/3]

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A relação com o público é um jogo de ambivalências: Amália transporta uma verdade única, obstinada e individual, resistindo mesmo a ser rotulada como emissária de uma "mensagem" colectiva; ao mesmo tempo, essa verdade é relativa, por certo pelo seu individualismo, mas também pela consciência das diferenças, evidentes ou pressentidas, daqueles que estão ali à sua frente, na plateia. Envolvendo um imenso e fascinante trabalho de recuperação de materiais de arquivo, Eu, Amália integra muitos documentos da dimensão internacional de Amália, incluindo preciosidades como imagens de um concerto abrilhantado por um grupo de folclore em frente da Torre Eiffel ou uma apresentação em francês, em Knokke le Zoute, Bélgica — como contraponto, ouça-se o fado Aquela Rua, no Café Luso, em 1955 (a mais antiga gravação ao vivo de Amália).


— Documentário de Nuno Galopim e Miguel Pimenta
— Produção: Inovação RTP
— RTP1: dia 23, 21h00.

terça-feira, julho 21, 2020

"Eu, Amália" — dia 23 [1/3]

A imagem de marca. O ícone. A história. A mitologia. A história também como história da mitologia. O documentário de Nuno Galopim e Miguel Pimenta consegue essa proeza, de uma só vez didáctica e espectacular, de nos devolver Amália como uma entidade — mais exactamente: uma pessoa — cuja identidade se vai tecendo a partir de um metódico cruzamento das suas imagens e do imaginário artístico que nelas se enraiza. Com gravidade e humor. Nesse sentido, Eu, Amália é também uma narrativa que nos convoca para a redescoberta do fado como coisa primitiva — não o fado das consagrações mais ou menos oficiais ou do world market, mas esse acontecimento singular que começa numa voz que sente todas as palavras que canta.

— Documentário de Nuno Galopim e Miguel Pimenta
— Produção: Inovação RTP
— RTP1: dia 23, 21h00.

domingo, julho 19, 2020

"Eu, Amália" — RTP, dia 23

Para (re)descobrir Amália na primeira pessoa — depois da abordagem dos universos de José Mário Branco, Carlos do Carmo ou Marco Paulo, entre outros, Eu, Amália é mais um trabalho do Nuno, de autoria partilhada com Miguel Pimenta, revisitando imagens e sons de arquivo, refazendo as narrativas do nosso património musical e cultural. Para ver na RTP, no dia em que Amália nasceu.

— Documentário de Nuno Galopim e Miguel Pimenta
— Produção: Inovação RTP
— RTP1: dia 23, 21h00.

quarta-feira, julho 01, 2020

Amália, 100 anos

[Museu do Fado]
Amália Rodrigues nasceu no dia 1 de Julho de 1920 — faz hoje 100 anos. A pluralidade e riqueza da sua herança envolve-nos numa fascinante duplicidade: ela encarna uma ideia de canto em que a palavra povo continua a soar como coisa verdadeira, ao mesmo tempo que a sua identidade se tece através do individualismo radical da voz, do ser e do estar. Apenas uma memória breve para este dia: o fado Medo (Reinaldo Ferreira/Alain Oulman) do álbum Segredo (1997), em registo do canal oficial do YouTube.

domingo, abril 05, 2020

Cuca Roseta canta "Lágrima"

Neste ano do centenário de Amália Rodrigues — nasceu a 23 de Julho de 1920, faleceu a 6 de Outubro de 1999 —, Cuca Roseta vai lançar um álbum de homenagem, Amália por Cuca Roseta. Dele se conhece, para já, a versão de Lágrima, fado com letra da própria Amália Rodrigues e música de Carlos Gonçalves: foi tema-título do seu álbum lançado em 1983. Cuca Roseta é acompanhada ao piano por Ruben Alves, sendo o video realizado por José Rato.

Cheia de penas, cheia de penas me deito
E com mais penas, com mais penas me levanto
No meu peito, já me ficou no meu peito
Este jeito, o jeito de te querer tanto

Desespero, tenho por meu desespero
Dentro de mim, dentro de mim o castigo
Não te quero, eu digo que não te quero
E de noite, de noite sonho contigo

Se considero que um dia hei-de morrer
No desespero que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile, estendo o meu xaile no chão
Estendo o meu xaile e deixo-me adormecer

Se eu soubesse, se eu soubesse que morrendo
Tu me havias, tu me havias de chorar
Por uma lágrima, por uma lágrima tua
Que alegria me deixaria matar

Uma lágrima, por uma lágrima tua
Que alegria me deixaria matar

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Reedições:
Amália Rodrigues, Com Que Voz


Amália Rodrigues
“Com Que Voz”
Valentim de Carvalho / iPlay
5 / 5

Não se deve começar um texto pelo fim. Mas desta vez vai ser mesmo assim, lançando desde já o remate que diz que estamos perante aquela que é talvez a melhor reedição alguma vez feita entre nós, lançando um modelo que, sendo difícil que se venha a definir como paradigma de um novo modo de encarar a memória da música portuguesa, deixa contudo sugestões em favor de uma atitude que reconhece que reeditar um disco que fez história (e que ainda a pode ajudar a contar) não é sinónimo de restaurar o som, capa linda e ponto final. Com Que Voz é a obra-prima de Amália em disco… Bom, na verdade Amália tem outros discos que podem disputar este estatuto ex-aequo (passando pelo ‘Busto’ de 1962 ou o igualmente marcante Fado Português, de 1965)… Mas em Com Que Voz encontramos não apenas Amália numa forma vocal de absoluta excelência como um alinhamento de magníficas composições de Alain Oulman para poemas de Manuel Alegre, Alexandre O’Neill, David Mourão-Ferreira, Ary dos Santos, Pedro Homem de Mello, Cecília Meireles e António de Sousa, aos quais se junta o que dá título ao disco, atribuído a Luís de Camões. O “disco perfeito”, como justamente o descreve o depoimento de Hugo Ribeiro (que gravou o disco) no booklet que acompanha esta reedição. O booklet é mesmo um dos valores acrescentados deste reencontro com Com Que Voz, juntando em 88 páginas uma série de textos que recordam o disco, os protagonistas e o contexto de tempo em que nasce. Os poemas. E uma mão cheia de belíssimas fotos da época… Os outros dois trunfos da reedição são a remasterização do som e um CD extra no qual se juntam, sobretudo, versões inéditas, entre as quais uma espantosa leitura com orquestra de Havemos de Ir a Viana (sob direcção de Jorge Costa Pinto), uma Formiga Bossa Nova mais jazzy (com o Conjunto de Thilo Krassman) ou uma série de temas a quatro guitarras. Venham então mais reedições deste calibre. As dos discos de Amália que já chegaram ao CD. E as dos que ainda só vivem na memória do vinil.

segunda-feira, outubro 19, 2009

Doc Lisboa: Dia 5

O DocLisboa apresenta hoje, em segunda exibição, o filme Com Que Voz, de Nicholas Oulman. Passa no Cinema Londres, pelas 23.00. Aqui fica um texto biográfico sobre Alain Oulman, publicado no DN Gente de dia 17 de Outubro com o título ‘Músico, editor e resistente.

Nasceu no Dafundo, em 1928, filho de uma família com negócios com sede em Lisboa mas projecção além das fronteiras. Cedo manifestou um interesse pelos livros e pela música. Não era contudo esse o rumo que o pai lhe destinara, sobretudo depois de ter perdido um filho na Guerra. Alain Oulman acabou por contribuir activamente na gestão dos negócios da família. Mas hoje é essencialmente reconhecido pela obra que deixou na música, na edição livreira, igualmente importante sendo a memória de uma postura de confronto com o regime salazarista da qual chegou a resultar uma ordem de extradição.
Alain Oulman começou por estudar Engenharia Química (e Música) na Suíça. Em Paris, pouco depois, chegou a compor para Yves Montand. Em Nova Iorque, já em inícios dos anos 50, conheceu alguns dos nomes que faziam de Greenwich Village um centro de agitação musical. A intervenção do pai devolveu-o todavia a Lisboa.
O artista não seria contudo abafado pelo dia-a-dia nos negócios. Em 1960 conhece Amália e com ela colabora num álbum que mudaria para sempre o rumo da sua carreira (e do próprio fado). Recordamo-lo hoje como Busto, e na altura dividiu opiniões. Mais complexos que o habitual, os fados eram inclusivamente descritos pelos músicos que acompanhavam Amália como "óperas"... Mas fizeram a diferença.
Nos anos 60 desenvolveu também importante papel no teatro em Lisboa. Mas em 1965 a PIDE descobre que cedera uma casa a para reuniões clandestinas da FAP (Frente de Acção Popular). Foi detido. E depois conduzido sob escolta até ao Aeroporto de Lisboa e expulso de Portugal.
Instala-se em Londres com a mulher, e ali nasce o seu primeiro filho. A diplomacia francesa consegue um perdão. E de regresso a Portugal grava com Amália Com Que Voz (1970), outro dos momentos maiores da sua obra conjunta. Mas acaba por se fixar definitivamente em Paris, trabalhando com o editor na Calmann-Levy, em que publica, entre outros, Patricia Highsmith, Amos Oz e o histórico Portugal Baillonné, de Mário Soares.
Alain Oulman morreu subitamente em 1990, com apenas 61 anos. Um documentário realizado pelo seu próprio filho, exibido esta semana no Doc Lisboa, leva agora a sua vida e obra ao grande ecrã.

Outras sessões:
Além do documentário sobre Alain Oulman, o DocLisboa passa hoje vários outros filmes, entre os quais o auto-biográfico The Time That Remains, de Elia Suleiman (o mesmo de Intervenção Divina), que é exibido no Grande Auditório da Culturgest, pelas 21.00.
Calendário da sessões de hoje: aqui

quarta-feira, outubro 07, 2009

A arte de Amália

Chama-se 'Coração Independente' e, até 31 de Janeiro de 2010, divide entre espaços do piso inferior do Museu Colecção Berardo e o Museu da Electricidade (a cerca de 1300 metros num percurso que se faz bem a pé). A exposição junta um conjunto de percursos sobre a vida e obra de Amália Rodrigues, uma mostra de objectos pessoais e ainda uma série de olhares contemporâneos sobre a sua figura, música e seus significados. A entrada é gratuita (em ambos os pólos da exposição).



O núcleo da exposição no Museu Colecção Berardo abre com uma sequência de salas que juntam imagens em vídeo de actuações marcantes, capas de discos, recortes de imprensa, programas de concertos, folhas de produção de álbuns, alguns retratos pintados, o mítico “busto” e fotografias, muitas fotografias. Estas representam talvez o acervo mais impressionante reunido nesta exposição, não apenas recordando imagens icónicas mas a estas juntando fotos menos divulgadas e até mesmo o conteúdo de sessões das quais apenas um ou outro fotograma acabou por ter vida em papel. Estas primeiras salas justificam plenamente uma visita à exposição. A segunda sequência de salas promove um conjunto de intervenções de artistas contemporâneos com Amália, a sua imagem, figura, voz ou obra como pontos de partida. São vários os nomes com obras expostas, uns com propostas mais interessantes, outros nem por isso. Coração Independente, de Joana Vasconcelos, é, garantidamente, uma das mais interessantes entre as peças integradas na exposição.

O segundo pólo da exposição mora a 1300 metros do primeiro. O programa/planta da exposição sugere caminhos possíveis e guia o visitante até ao Museu da Electricidade. Aí, contudo, o que se vê sabe a pouco. É magnífica a sala com vestidos (casa um com a sua história) e jóias, adornada com capas ampliadas de alguns discos. Já na sala ao lado, além de mais fotos e três pontos com imagens em vídeo, apenas vemos de novo uma “magra” discografia que dá conta da variedade de épocas, formatos discográficos e registos gráficos, mas fica aquém do que deveria ser, aqui, uma arrumação mais completa (não necessariamente exaustiva), cronologicamente arrumada e devidamente contextualizada (e, porque não, com som por perto) dos discos que são parte importante da história que ali se evoca.