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quinta-feira, janeiro 08, 2015

Sound + Vision 10 anos
Memórias de arquivo (6)


Canções pop por Joana d'Arc
(29 de maio de 2007)

Está finalmente disponível no mercado, embora sem lançamento previsto para Portugal, a reedição do clássico Architecture & Morality, álbum de 1981 dos Orchestral Manouevers In The Dark. A banda, de Liverpool, representou uma das primeiras forças de primeira linha da primeira geração pop electrónica na Inglaterra de finais de 70. O seu single de estreia, Electricity (em 1979) foi o sexto editado pela Factory Records. Contudo, a carreira dos OMD (assim acabaram conhecidos) fez-se depois, essencialmente, na Dindisc, uma pequena editora sob distribuição da Virgin Records. Os seus dois primeiros álbuns, Orchestral Manouevers In The Dark e Organization, ambos editados em 1980, lançaram pistas e primeiros sinais de uma vida dupla, tranquilamente dividida entre gosto em criar hinos pop e a curiosidade pelas potencialidades das novas ferramentas ao serviço da música electrónica. E não houve álbuns tão capazes de expressar essa dupla vida como o magnífico Dazzle Ships, de 1983, e Architecture & Morality, de 1981, o disco que agora regressa aos escaparates em edição recheada de extras e justificou o reencontro da banda em palco, numa digressão, encetada há poucos dias, na qual estão a tocar este álbum, de fio a pavio.

O título do álbum encerra, por si só, um programa de intenções, como que querendo mostrar como se concilia o que aparentava ser inconciliável. O rigor matemático da electrónica e a sede de descoberta, aleatória, da criação artística. Menos sombrios que contemporâneos como os Cabaret Voltaire ou John Foxx, menos efusivos que os Human League (reinventados em versão 2.0 para Dare!), A Flock Of Seagulls ou Depeche Mode), menos “teatrais” que os Soft Cell ou Fad Gadget, os OMD pareciam viver numa terra de ninguém, não equidistante das linhas mestras da pop electrónica em erupção, mas orientados segundo um gosto peculiar que, no texto que acompanha a presente “collectors edition”, o jornalista Paul Morley descreve como o que poderia ser o futuro da Joy Division, “caso Love Will Tear Us Apart” tivesse sido o começo e não o fim”. O álbum destaca-se dos muitos que essa geração pop então apresentou, propondo uma sugestão temática em torno de um ciclo de canções com uma figura (e sua simbologia) como protagonista: Joana d’Arc. Um fascínio pela mulher, a sua história, a relação com a fé e religião, traduz-se numa visão que não é de reflexão histórica, mas de recontextualização da sua imagem e heranças num futuro sem data. E mesmo aí, mais que um retrato concreto, optam por uma visão impressionista que, da história, herda sobretudo sugestões de uma vida armadilhada por um sentido de dever ditado mais pela emoção que pela razão.

Este não é o álbum de pop electrónica “típico” do seu tempo, sobretudo numa banda que gozava já de uma certa visibilidade mainstream, tendo já colhido primeiros êxitos, em 1980, com Messages e Enola Gay e que conseguiu depois levar os três singles extraídos desteArchitecture & Morality (sucessivamente Souvenir, Joan of Arc e Maid Of Orleans, ao top five britânico). Canções e instrumentais texturalmente ricos em figuras nascidas de uma exaustiva exploração das potencialidades domellotron e técnicas de estúdio empregando o uso de fitas (muito em voga na música concreta e junto de bandas de rock progressivo nos anos 70) fazem um álbum que traduz o seu tempo. Mas que, como poucos da sua geração, sobrevivem quase 30 anos depois, da primeira à última faixa. O melhor dos OMD, antes da sedução definitiva pelos “prazeres” mainstream, que os tomaram depois de 1984.

O alinhamento que a nova edição propõe junta às canções do álbum original os lados B dos singles dele extraídos, bem como o single abortado Gravity Never Failed e dois outros temas em forma incompleta, depois transformados e incluídos no álbum seguinte (The Romance Of The Telescope e Of All The Things We’vre Made). Como extra surge ainda um DVD com os telediscos de Souvenir e Maid of Orleans, uma actuação no Top Of The Pops (na qual tocam, ao vivo, Joan Of Arc) e ainda a gravação de um concerto, de 1981, no Theatre Royal. A capa, de Peter Saville, surge na sua versão original, em amarelo.

quarta-feira, maio 01, 2013

Novas edições:
OMD, English Electric

OMD
'English Electric' 
100% Recordings 
3 / 5

Perante tantos regressos aos discos que resultaram em tremendos trambolhões (e os medíocres álbuns de "reunião" de bandas como os Bauhaus ou Cuture Club são apenas dois exemplos possíveis de um panorama onde outros do mesmo calibre não faltam), o reencontro da formação "clássica" dos Orchestral Manouevers in The Dark (OMD) com os discos em History Of Modern (2010) deu-nos uma das (poucas) exceções ao que parece ser uma regra. O disco, que surgiu depois de uma digressão de reunião, que devolveu as presenças de Andy McKluskey e Paul Humphries à linha da frente do palco, tomando então o alinhamento do cássico Architecture and Morality (álbum de 1981) como peça central dos concertos, mostrava uma mão cheia de canções que convocavam ecos de memórias na primeira pessoa, dos jogos entre as duas vozes à evidente expressão pop de uma admiração profunda pelas heranças de uns Kraftwerk renascendo, sem se esgotar num mapa de nostalgias, um nome que naturalmente reconhecemos como força maior da primeira geração da pop eletrónica. Agora, três anos depois, ei-los que voltam a dar um passo invulgarmente seguro (e digo invulgarmente em comparação ao padrão sobretudo feito de equívocos que costuma acompanhar estes renascimentos), apesentando em English Electric um herdeiro natural do magnífico Dazzle Ships e, sem espaço para dúvidas, o seu melhor disco desde Junk Culture (e já lá vão 29 anos!). Editado em 1983, sucedendo ao tremendamente popular (e musicalmente saboroso) Architecture & Morality, Dazzle Ships representou o momento formalmente mais arriscado e, ao mesmo tempo, artisticamente mais desafiante mas comercialmente mais desastroso da discografia do grupo nos anos 80. Ainda hoje a sua obra-prima, Dazzle Ships cruza uma pulsão experimental com uma mão-cheia de grandes canções feitas de uma pop que tanto sabia escutar as lições de uns Kraftwerk como procurar um sentido de luminosidade e humanidade bem distantes da agenda temática e formal mais frequente entre os fab four de Dusseldorf. Das investidas cénicas de Please Remain Seated ao apelo luminoso da pop de um Metroland ou Night cafe não esquecendo as colaborações preciosas do ex-Kraftwerk Karl Bartos e de Claudia Brücken (em tempos a vocalista dos Propaganda) em Kissing The Machine ou a busca de expressões atuais dos ecos diretos desse disco de 1983 em temas como The Future Will Be Silent ou Atomic Ranch, English Elecrtic mostra uma banda que sabe da carga histórica de uma linguagem que definiu há já mais de 30 anos, tecnicamente capaz de a gerir e adaptar a novas composições, mas ciente de que a linha da frente da invenção da pop eletrónica atual está fora do seu alcance (e por isso nem imagina sequer aventuras nesses comprimentos de onda). Não se espere aqui as visões de futuro que exalavam dos seus discos de inícios dos oitentas. Mas este é claramente o melhor disco que nos dão desde esses dias em que ajudaram a inventar tudo o que chegou depois.

sexta-feira, abril 05, 2013

De comboio, com os OMD

Os OMD regressam aos discos já na próxima semana, com English Electric, o seu novo álbum de originais. Este Metroland é o single de avanço e aqui fica no teledisco de animação (muito pouco estimulante, convenhamos) que o acompanha. Musicalmente parece também coisa de viagem no tempo aos dias de 1983/84...

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Um herdeiro de 'Dazzle Ships'?

Mais um regresso anunciado para 2013 é o dos OMD. Com novo álbum de originais apontado para edição em abril, deixam-nos com um inesperado aperitivo neste Atomic Ranch que nos faz lembrar o tom algo experimental do álbum Dazzle Ships, de 1983. Aqui fica o teledisco.

sábado, maio 07, 2011

OMD, 1991


Foi em Maio de 1991 que esta canção cruzou o éter revelando assim que os OMD tinham novo álbum. De toda a obra posterior a 1984 este é talvez o single que mais soube recuperar a alma “clássica” das canções da etapa que o grupo viveu em inícios dois oitentas. Aqui fica o teledisco que então acompanhou Sailing On The Seven Seas.

quinta-feira, setembro 23, 2010

Em conversa: OMD (4)


Continuamos a publicação de uma entrevista com Andy McCluskey, dos OMD, que serviu de base ao artigo “Hoje é cool sar a Orchestral Manouvres In The Dark”, publicada no DN a 9 de Setembro.

Imaginam um futuro para os OMD com mais discos?
Estamos muito felizes por ter tido a hipótese de fazer este disco. Nunca pensámos que faríamos um novo disco da mesma forma que há cinco anos não imaginaríamos que regressaríamos a um palco... Há 15 anos estávamos terrivelmente fora de moda. Foi na altura do brit pop, uma reinvenção dos anos 60... E nesses dias uma banda com sintetizadores estava fora de moda. Agora estamos na moda. É cool soar como os OMD. Eu parei em 1996 não porque quisesse parar, mas porque não sabia mais o que fazer. Sentia que estava como se estivesse a dar cabeçadas na parede. Foi bom fazer este disco e já temos ideias para um outro. O excitante é que nos sentimos como se tivessemos 19 anos de novo. Estamos a fazer este disco como os que fizemos quando tinhamos 19 anos. Ou seja, para nós! E não queremos saber o que os outros pensam. Queriamos apenas ter uma conversa connosco. Um pouco como acontecera com os nossos quatro primeiros álbuns. Ninguém nos podia dizer então o que fazer e não queriamos saber se se vendia ou não.

E o que mudou depois desses quatro primeiros álbuns?
Tomámos a consciência de que tinhamos um emprego, que havia contas para pagar, o Paul estava casado... E tinhamos de fazer discos que resultassem comercialmente. Consciente e inconscientemente estávamos mais a jogar pelo seguro.


Foi dificil escolher um single para ser o cartão de visita de History Of Modern?
Muito! Havia várias possibilidades, mas no fim demos a escolha aos programadores de rádio. O single [If You Want It] não quer dizer que aquela seja a melhor canção do álbum. Tem um papel a cumprir, sobretudo nesta altura em que não estamos no radar das pessoas. É para que se chege à rádio e assim se saiba que há um novo álbum de OMD. Que estamos vivos... Os fãs gostam do lado mais bizarro dos OMD. Mas o single não é uma bandeira! É apenas uma canção para ser tocada na rádio. É para as pessoas que não vão ao nosso site! Para que saibam que há um disco novo.

A canção Sister Mary Says tem 30 anos. Ou seja, entre novas composições encontramos ecos da vossa própria história.
Há apenas algumas canções antigas. O Sister Mary Says tem uma melodia de 1981 e uma letra de 1994... O Green, tem uma voz gravada há 16 anos... Mas a canção só funcionou quando o Paul lhe meteu as mãos e a reprogramou completamente. A maior parte do disco foi feito nos últimos anos.

quarta-feira, setembro 22, 2010

Em conversa: OMD (3)


Continuamos a publicação de uma entrevista com Andy McCluskey, dos OMD, que serviu de base ao artigo “Hoje é cool sar a Orchestral Manouvres In The Dark”, publicada no DN a 9 de Setembro.

No início da vossa carreira, e em poucos anos, passaram do som de Electrcity, claramente herdeiro dos Kraftwerk, para um som muito próprio, que atinge a definição em 1981 no álbum Architecture & Morality...
Queríamos fazer algo diferente. Não só diferente do que os outros estavam a fazer mas até de nós mesmos. No primeiro álbum fizemos uma espécie de synth pop teenager. No segundo havia um tom gótico algo inspirado pelos Joy Division (com algumas excepções). No terceiro disco tentámos mudar outra vez. Muitas destas mudanças tinham também a ver com os instrumentos. Tinhamos comprado um mellotron, estávamos a ouvir música coral religiosa... E tentámos fazer algo que saísse das nossas máquinas e sintetizadores mas que fosse muito humano. E, acima de tudo, emocional.

Esse álbum acabou, com o tempo, por se afirmar como uma referência da pop do seu tempo.
Foi muito emocionante. Estávamos a tentar fazer algo novo e assim foi. Em inicio de 1982, quando Maid of Orleans foi editado, estávamos no palco do Top Of The Pops... No programa podia haver uma presença de Cliff Richard, um vídeo de Elton John... Estavam lá os Roxy Music, de quem gostávamos muito quando tinham começado, mas que nos anos 80 eram um tanto aborrecidos... Tudo muito pop mainstream. E nós iamos tocar uma canção na qual os primeiros 40 segundos eram distorção, onde a melodia parecia um gato a estrangular uma gaita de foles escocesa...



E essa ideia de ir para lá do que era habitual na pop levou-os logo depois a Dazzle Ships. Foi um passo ousado…
Foi um passo genuinamente perigoso. Passámos de vendas na ordem dos 3 milhões em Architecture and Morality para 300 mil em Dazzle Ships. Perdemos 90% do nosso público!

E valeu a pena?
Artisticamente valeu a pena. Mas foram precisos 25 anos para que as pessoas começassem a falar do álbum como um disco esquecido. Como uma obra prima esquecida! Na altura foi um suicídio comercial e até na crítica. Foi arrazado. Quase ninguém gostou na crítica. Estávamos a tentar algo diferente e não sei como lá fomos parar... Mas pensava que ao tentar fazer algo diferente musicalmente ia ajudar mudar o mundo. Quando chegámos a Architecture and Morality vendemos milhões de discos e tivémos singles com êxito. Obviamente não mudámos o mundo... E um Andy McCluskey de 22 anos estava meio desiludido. Era como se as coisas não tivessem funcionado. Era mesmo uma parvoíce... Mas era como se os meus preconceitos todos tivessem caido no chão e eu tivesse de começar tudo outra vez. Então apareci com esta ideia de fazer um disco claramente político, sobre o mundo, a guerra fria e a violência... E ao pensar o álbum nem todas as ideias ganharam a forma de belas melodias. Podíamos ouvir os ossos das ideias... E o Paul Humphreys levou 25 anos para me perdoar por ter feito aquele disco.

A música em Dazzle Ships traduz, a certos momentos, relações possíveis com a música de alguns compositores minimalistas. Seguiram caminhos semelhantes na manipulação de fitas, usavam uma lógica de repetição de elementos... Conheciam o trabalho deles?
Porque não vinhamos de uma formação clássica, nunca tinhamos sido apresentados à música contemporânea mais experimental. Por essa altura conhecíamos um pouco o trabalho de Philip Glass e de Steve Reich. Mas aquelas repetições em ABC Auto Industry... O interessante foi que nunca fizemos as experiências apenas para estar a fazer uma música experimental... Quando se faz uma experiência tenta-se algo estranho, grava-se e deixa-se ficar. Ouve-se, reparamos no que se está a fazer, e depois de uma audição captámos a ideia... Mas nós tinhamos de construir algo. Uma canção, algo que tivesse a sua beleza. Algo que se pudesse ouvir várias vezes e que tivesse nascido dessas experiências.
(continua)

terça-feira, setembro 21, 2010

Novas edições:
OMD, History Of Modern



OMD
“History Of Modern”

100% / Edel
3 / 5

Regressar ou não regressar, eis a questão… Este é talvez o verbo que mais vezes hoje vemos ser conjugado por bandas que fizeram história noutros tempos (e muitas delas grandes discos) e que, valentes anos depois reencontram plateias (habitualmente dominadas por velhos admiradores) mais desejosos de reencontrar os êxitos antigos que dispostos a escutar novas canções. Nada de errado nas nostalgias (se bem que, convenhamos, vivê-las apenas para recordar não nos leva a lado nenhum senão ao passado). Nada de errado portanto nas reuniões, sendo certo que, nunca traduzindo a verdade do real tempo de vida da música que se evoca, muitas vezes têm gerado oportunidades de encontros (ler concertos ao vivo) que, no passado, nunca tinham sido possíveis. Os Bauhaus, por exemplo, assinaram notável digressão de reunião na histórica Resurrection Tour de 1998. Mas estragaram a depois a pintura ao regressar mais vezes, uma delas com um absolutamente inconsequente novo disco de originais. Na verdade têm sido demasiado frequentes os exemplos de bandas que não deveriam ter ido além das digressões greatest hits e resistido ao impulso de gravar novos discos. Que dizer então do regresso dos OMD? Reencontraram-se em 2007. Como tantos outros regressos, começaram pela estrada, recordando na íntegra o seu álbum histórico de 1981 Architecture and Morality e chegando mesmo a editar um registo em disco dessa digressão (o primeiro live album da discografia dos OMD). Só então decidiram o passo seguinte. E em History Of Modern, mesmo muito longe de nos apresentarem um disco ao nível dos seus melhores, revelam uma soma de argumentos entre as evocações das fundações da sua linguagem pop electrónica e alguns breves ensaios de novas ideias. Celebram os Kraftwerk em RFWK, recuperam uma melodia de 1981, nunca finalizada como canção, em Sister Mary Says. Ao mesmo tempo citam um clássico do gospel em Sometimes e experimentam novas dinâmicas ligadas às electrónicas dançáveis do presente em Pulse… Não nascerá aqui um êxito do calibre dos que em tempos nos deram, o disco revelando contudo um alinhamento nem melhor nem pior dos que foram lançando em álbum depois de Junk Culture (1984). O futuro que sonhavam há 30 anos é agora o presente. Mas é pouco provável que estas canções entusiasme outros senão os que os seguiram no passado.

Em conversa: OMD (2)


Continuamos a publicação de uma entrevista com Andy McCluskey, dos OMD, que serviu de base ao artigo “Hoje é cool sar a Orchestral Manouvres In The Dark”, publicada no DN a 9 de Setembro.

Recuemos a Liverpool, em finais dos anos 70. Quão diferentes eram os OMD das outras bandas que então ali surgiam?
Éramos os outsiders. Por várias razões. Por um lado vinhamos do lado errado do rio... (risos). Não viviamos nos bairros mais pobres de Liverpool, mas com as nossas mães na Wirral Peninsula, que é o lado chique do rio... Mas devíamos ser os rapazes mais pobres onde vivíamos... E obiviamente, éramos diferentes porque tocávamos com sintetizadores em vez de guitarras. Éramos os outsiders que tocavam no Eric’s Club.

Tal como o fora o Cavern, na Liverpool dos sessentas, o Eric’s era, em finais de 70, um local influente?
Era o nosso catalisador. Senão houvesse o Eric’s não havia os OMD. Inventámos a banda para tocar nos concertos gratuitos das terças feiras. Pensámos que nos deixariam tocar à nossa maneira.

E como reagiram então as pessoas à diferença?
Havia aí umas 30 pessoas a ver-nos. A maioria eram amigos e família. E os aplausos eram quase nenhuns... Até os nossos amigos não entendiam o que estávamos a fazer. Estavam todos a ouvir bandas de rock progressivo, não acreditavam que o que estávamos a fazer tivesse qualquer interesse.



Entre 1978 e 79 algo a acontecer no Reino Unido, observando-se pelo país fora o surgimento pontual de bandas de música electrónica. Por Sheffield, por Londres... A chegar à rádio e com Gary Numan a atingir o nº 1 com Are Friends Electric? O que fez a diferença?
O que é interessante é que não havia um movimento. E por isso não houve um clic! O Paul [Humphries, dos OMD] teve longas conversas com o Phil Oakey [dos Human League] sobre isto... Em 1978 os Human League ficaram tão surpreendidos ao descobrir os OMD como nós ficámos ao descobri-los a eles. Surpreendidos e nada felizes! (risos) Acho que todos estávamos a trabalhar nas nossas bolhas. Envoltos no que pensávamos que era um vácuo... Estávamos todos a ouvir discos de importação alemães, mas achávamos que seríamos as únicas pessoas em Inglaterra a ouvir aqueles discos. Ficámos surpreendidos quando ouvimos os Human leage, os Cabaret Voltaire. Mas quando ouvimos o Warm Leatherette, dos The Normal, no Eric’s, esse foi o momento em que o Paul e eu olhámos um para o outro pensámos: “há alguém em Inglaterra a fazer o que queríamos fazer!” Então decidimos sair da sala de arrumações da casa da mãe do Paul e subir ao palco...

E em dois anos tinham êxitos...
Sim, foi uma loucura. E ninguém ficou mais surpreendido que nós mesmos. Começámos na sala de arrumações da mãe do Paul, com o que era o pequeno hobbie de dois adolescentes sem dinheiro. Tinhamos uma guitarra baixo. E o Paul construia umas coisas que faziam barulhos, a que nem chamaria de sintetizadores (risos). E não tinhamos sequer teclado. Era um hobbie de sábado à tarde. E veja-se o que aconteceu. Escrevemos o Electricity quando tinhamos 16 anos.
(continua)

segunda-feira, setembro 20, 2010

Em conversa: OMD (1)


Iniciamos hoje a publicação de uma entrevista com Andy McCluskey, dos OMD, que serviu de base ao artigo “Hoje é cool sar a Orchestral Manoeuvres in the Dark”, publicada no DN a 9 de Setembro.

Já se tinham juntando há algum tempo, mas apenas para levar a palco velhas canções. O que os levou a querer fazer, tantos anos depois, um novo álbum?
Uma coisa é aparecermos num palco, a tocar as canções antigas, e toda a gente diz que gosta das velhas canções e blá blá blá... E está tudo feliz. Outra coisa é quando nos atrevemos a fazer um disco novo, que muita gente pode não querer ouvir. Frequentemente porque esses discos costumam ser terríveis. Há muita gente, de quem até sou amigo, que não deveria ter feito novos discos. E porquê? Porque não tinham nada interessante para dizer. Estávamos muito nervosos. E prometemos a nós mesmos que só faríamos um disco se achássemos que seria forte e se sentíssemos que tinhamos algo a dizer como Orchestral Manoeuvres in the Dark.

Teriam gravado o novo álbum History Of Modern sem antes passar pelos palcos?
Foi o primeiro passo. E era o passo mais fácil. Assim como o foi fazer a edição comemorativa do aniversário de Architecture and Morality, recordando a toda a gente os nossos dias mais icónicos... E as coisas de facto partiram daí...

As vossas heranças estão evidentes no som do novo álbum. Há, de resto, uma canção dedicada aos Kraftwerk...
Sem dúvida. Estávamos a pensar em tudo. O principio, o meio, o futuro... Porque começámos, se deveríamos fazer um disco... A grande questão era mesmo saber porque é que um grupo de tipos que estavam a tentar ser o furturo há 30 anos podem fazer numa era pós-modernista... O que é que velhos modernistas podem fazer na era do pós modernismo? O que podemos é na verdade falar de nós mesmos, o que sentimos. E era já chegada a altura de fazermos uma canção sobre os Kraftwerk.

E os Kraftwerk foram, de facto, uma banda determinante na vossa formação como músicos…
Foram os catalizadores. A 11 de Setembro de 1975 eu fui ao Liverpool Empire Theatre e sentei-me no lugar Q36. E o primeiro dia do resto da minha vida chegou quando vi os Kraftwerk a tocar ao vivo. Foi um momento de transformação. Tinha já ouvido o Autobahn na rádio. E adorava. Era uma grade canção mas soava a algo diferente. Tinha duas coisas que eu queria ouvir. Pertenci a uma geração, tal como sucedeu a algumas outras até agora, que usou a música para definir uma percepção da minha idenrtidade e personalidade. E quando vi os Kraftwerk em palco toda a gente tinha cabelos longos... E eles apareceram com cabelos curtos, fatos e gravatas, a tocar o que pareciam uma tabuleiros de chá electrónicos. E senti que aquilo era o meu futuro.


Foto promocional dos OMD em inícios dos anos 80

Viu a digressão recente dos Kraftwerk? Com a tecnologia para realizar, finalmente, um sonho antigo do grupo alemão?
Sim, vi... Mas às vezes não devemos desejar que certas coisas aconteçam. Vi-os no Velodrome, em Manchester. E quando falo “neles”, na verdade estou a falar de Ralf [Hutter] e três outros tipos que nem me interessa quem são. É estranho... Com a tecnologia, as imagens, os computadores, o Ralf está gradualmente a fazer com os Kraftwerk o que disse que ia fazer, que era tirar a humanidade e deixar as máquinas. O problema é que, ao tirarmos a humanidade, não deixamos nada aventureiro... Toda a gente falava que os Kraftwerk eram frios, electrónicos, robóticos. Não eram! Em comparação com uns Genesis ou uns Yes, eram talvez um pouco frios e robóticos e limpos. Mas sempre houve ali uma tensão, uma justaposição entre a humanidade e a beleza da melodia (ainda por cima com o Ralf a cantar) e a maquinaria que usavam para produizr as canções. É verdade que chorei quando eles tocaram o Radio Activity. Porque estava nostálgico. Mas quando tocaram o Aerodynamic ou o Vitamin... São apenas pedaços vazios de programação. Não está ali o elemento humano. São umas palavras e uns computadores.

É curioso verificar que, quando falamos com bandas míticas da história pós-punk de Manchester, muitos músicos evocam memórias de um concerto do Sex Pistols que se manifestou como um momento de revelação. Mas no seu caso refere um efeito semelhante num concerto, em Liverpool (onde vivia), com os Kraftwek...
Era a novidade. O que as pessoas diziam dos artistas de blues, na América, do facto de terem influenciado o rock’n’roll, que depois dominou o mundo... Bom, se virmos bem os Kraftwerk são a banda mais importante da música popular dos últimos 40 anos. Se ouvirmos a música de hoje vemos que tudo vai ter às electrónicas, aos computadores, às programações, às percussões eléctricas, seja na pop, na dança, no R&B, na house, no dub... A maioria da música que se faz é mais influenciada pelos Ktafwerk que pelo Howlin’ Wolf ou Muddy Waters.

(continua)

sábado, setembro 11, 2010

Orchestral Manoeuvres in the Dark, 1982


No mês que aguarda o lançamento do álbum de regresso dos OMD, continuamos a recuperar canções que fizeram a sua história. Em tempos já aqui tinhamos lembrado o teledisco que, em inícios de 1982 tinha acompanhado o lançamento de Maid Of Orleans, o terceiro single extraído do alinhamento do “clássico” Architecture & Morality. Hoje regressamos a essa mesma canção, porém através de imagens de uma actuação televisiva da época.


OMD
‘Maid Of Orleans’ (1982)

quinta-feira, setembro 09, 2010

O regresso


Os OMD estão de regresso, e têm novo álbum (o seu primeiro desde 1996) com lançamento previsto para dia 20 deste mês. O primeiro cartão de visita para History Of Modern é o single If You Want It, para o qual a banda rodou um teledisco. Aqui fica o som e a imagem dos novos OMD.

sábado, setembro 04, 2010

Orchestral Manouevers In The Dark, 1983


No mês que acolhe o regresso aos discos dos Orchestral Manouevers in the Dark (e para poupar espaço vamos usar as iniciais OMD, como até eles mesmos fazem), o Sound + Vision evoca alguns dos singles (e, claro, telediscos), que ajudaram a escrever a sua história. Banda fulcral entre a primeira geração da pop electrónica britânica, contemporâneos de nomes como os Human League, The Normal, Tubeway Army ou Cabaret Voltaire, os OMD eram os diferentes entre os diferentes na Liverpool pós-punk que então via nascer outras figuras que fariam história, dos Teardrop Explodes aos Wah!, passando pelos Echo & The Bunnymen ou Dead or Alive. Apenas acompanhados por instrumentos electrónicos (as excepções a dada altura apenas autorizadas a um baixo e bateria), os OMD partiam de uma admiração pelos Kraftwerk e outros visionários alemães e procuravam uma nova linguagem ao serviço da canção pop. Estrearam-se em disco em 1979 e em menos de dois anos eram não apenas um fenómeno de sucesso com dimensão internacional como tinham chegado ao patamar de um som distinto e caracteristicamente seu.

Começamos assim esta série de reencontros com a evocação aquele que em 1983 foi o segundo single extraído de Dazzle Ships, na altura um fracasso (nas vendas e também na leitura da crítica), hoje contudo reconhecido como um dos grandes momentos da pop electrónica dos oitentas. Aqui fica o teledisco de Telegraph.


OMD
‘Telegraph’ (1983)