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quinta-feira, agosto 28, 2025

Celebrando a herança televisiva de Ed Sullivan

Ed Sullivan com as Supremes: a televisão no seu melhor

Entre 1948 e 1971, Ed Sullivan foi uma figura nuclear da televisão dos EUA, acolhendo no seu programa muitos nomes da música negra. Através de uma exemplar recolha de materiais de arquivo, Ed Sullivan: Domingos de Excelência (Netflix) celebra os valores do seu trabalho — este texto foi publicado no Diário de Notícias (7 agosto).

Onde se realiza o programa de Stephen Colbert (The Late Show) que admiramos pelo seu sentido de espectáculo e também pela capacidade de desmontar os prós e contras da cena política dos EUA, incluindo, claro, as atribulações da era Donald Trump? As respectivas gravações são feitas no Teatro Ed Sullivan, sala lendária de Nova Iorque.
E porque é que, justamente, o nome de Ed Sullivan (1901-1974) ficou como uma referência mítica nos anais da televisão dos EUA? Por causa de um acontecimento excepcional que mudou a história da música e de toda a cultura popular. Ou seja: a 9 de fevereiro de 1964, o programa The Ed Sullivan Show (nesse mesmo teatro que era, então, o estúdio 50 da CBS) acolheu uma banda que era já um fenómeno na Europa, embora mal conhecida pelos americanos, de seu nome The Beatles!
Pois bem, se tais memórias nos bastam para resumir a herança televisiva de Ed Sullivan, é altura de parar para vermos Ed Sullivan: Domingos de Excelência, um dos melhores documentários actualmente nas plataformas de streaming (Netflix, neste caso). No original Sunday Best, trata-se do derradeiro trabalho de Sacha Jenkins, jornalista e produtor/realizador da televisão americana, falecido este ano, a 23 de maio, aos 53 anos, atingido por uma doença neurodegenerativa — o filme é dedicado à sua memória.
Não se trata, entenda-se, de dar a conhecer algo que estivesse escondido ou, de alguma maneira, contaminado por informações pouco fiáveis. A esse propósito, o cartaz de Ed Sullivan: Domingos de Excelência cita uma frase que vale a pena reproduzir: “Nos primeiros tempos da televisão, quando as regras ainda estavam a ser escritas, um homem atreveu-se a desafiá-las.” Que desafio foi esse? O de conceber o seu programa como uma plataforma aberta à música negra.
Convém lembrar que The Ed Sullivan Show existiu ao longo de 24 temporadas, entre 20 de junho de 1948 e 28 de março de 1971, com um total de 1068 episódios. Assim, o programa foi emitido num período de muitas convulsões sociais e políticas, desde a luta pela igualdade de direitos civis, com líderes como Martin Luther King, até ao envolvimento militar dos EUA no Vietname, passando pelos anos de esperança e tragédia da presidência de John F. Kennedy.
Ao longo desses anos, muito antes da chegada dos Beatles aos EUA, Ed Sullivan franqueou as portas (ou melhor, os ecrãs) a nomes como Ray Charles, James Brown, Ike & Tina Turner, Harry Belafonte, Nina Simone, Stevie Wonder (na sua primeira parição em televisão, contava 13 anos! > video), os Jackson Five ou The Supremes. Sem esquecer, claro, momentos igualmente lendários como a estreia de Elvis Presley no programa, a 9 de setembro de 1956. Dito de outro modo: a abertura de Ed Sullivan à música afro-americana (não poucas vezes resistindo às pressões dos poderes mais conservadores, em particular durante as perseguições do “maccartismo”) decorria, afinal, de uma notável disponibilidade para acolher os ventos de transformação cultural que a América e o mundo estavam a viver.
Os resultados do documentário são tanto mais admiráveis quanto a quantidade e a diversidade de materiais de arquivo é, de facto, fascinante — além de exemplar em termos jornalísticos.
Este não é um trabalho que se limite a acumular esses materiais, “ligando-os” por uma voz off banalmente descritiva, desatenta às especificidades das imagens e dos sons. Nesta perspectiva, Ed Sullivan: Domingos de Excelência envolve também uma invulgar lição de montagem. Com frequência, as performances no estúdio surgem em paralelo com acontecimentos sociais que esclarecem os laços entre “entertainment” e política. Ou como disse o próprio Ed Sullivan: “Estas actuações, sempre fantásticas, tornam-se melhores na televisão porque, ao contrário de um grande teatro, todos têm lugar na primeira fila.”

sábado, março 08, 2025

Elogio dos álbuns... contra os singles
— Rick Beato

Será que o Spotify matou o álbum? — entenda-se: o álbum como peça fundamental e duradoura, artística e comercial, da vida da música e dos músicos; não a aceleração de produção e consumo de singles que, melhores ou piores, existem como "diversões" breves e efémeras, para usar e deitar fora...
Quem o pergunta é Rick Beato, numa magnífica análise em que se cruzam as questões criativas com os modos de consumo das canções, desembocando no futuro, aliás, nos futuros (pensemos plural) que o presente pode conter ou, de algum modo, começar a edificar.
Escutemos a sua exposição e, por fim, lembremos, com o devido espanto, uma das referências citadas por Beato: o álbum Revolver (1966), dos Beatles, e essa obra-prima dentro de uma obra-prima que é a canção Tomorrow Never Knows.
 


quarta-feira, fevereiro 26, 2025

Na América de Beyoncé

O imaginário texano revisto por Beyoncé

A recente consagração do álbum Cowboy Carter nos Grammys leva-nos a redescobrir um certo imaginário americano — este texto foi publicado no Diário de Notícias (7 fevereiro).

Ao receber o Grammy de Álbum do Ano, por Cowboy Carter, Beyoncé dedicou a distinção a Miss Martell: “Espero que continuemos a fazer força para seguir em frente, abrindo portas.” Referia-se ela a Linda Martell, actualmente com 83 anos, cuja voz surge em dois temas do álbum. Num deles, Spaghettii, Martell pergunta: “Os géneros são um pequeno conceito divertido, não são?” [video] A questão está longe de ser banalmente pitoresca. Desde logo porque a inscrição de Cowboy Carter num género, a música country, tem tanto de linear, por causa das referências tradicionais que convoca, como de inadequado, já que estamos perante um álbum inequivocamente “by Beyoncé”.


Tendo em conta que Cowboy Carter também arrebatou o Grammy de melhor álbum country, as contas baralham-se, obrigando-nos a não cedermos na catalogação de qualquer produção artística como mera ilustração de um cânone pré-estabelecido. Afinal de contas, a saudação de Beyoncé remete para um evento muito concreto: em agosto de 1969, Linda Martell foi a primeira cantora afro-americana a participar no lendário programa de rádio Grand Ole Opry [video], em Nashville, Tennessee, verdadeiro templo artístico da country (criado em 1925, já ultrapassou as 5 mil edições).


A concepção de Cowboy Carter como um espaço de muitos cruzamentos temáticos e simbólicos tem outro sinal inequívoco na integração da canção Blackbird, tema dos Beatles do chamado “Álbum Branco”, publicado em 1968. Assinada pela dupla Lennon/McCartney, é uma daquelas composições cuja autoria pertence apenas a um deles, Paul McCartney. A canção nasceu associada a uma referência muito concreta (que, aliás, o próprio McCartney já explicitou em várias intervenções públicas): nela se evoca o chamado “Little Rock Nine”, grupo de nove estudantes afro-americanos (rapazes e raparigas) impedidos de entrar no liceu de Little Rock, Arkansas, a 4 de setembro de 1957 — a proibição foi ordenada por Orval Faubus, Governador do Arkansas, vindo a ser anulada pelo Presidente Dwight D. Eisenhower.


Há na elaboração de Cowboy Carter a lógica de um requiem. O que, bem entendido, está presente desde a canção de abertura, Ameriican Requiem — sem esquecer que a duplicação (“ii”) que encontramos em vários títulos do alinhamento decorre do facto de este ser o Act II: Cowboy Carter, dois anos passados sobre o lançamento de Renaissance, ou melhor, Act I: Renaissance. O arco simbólico desemboca no tema final, Amen, em que Beyoncé propõe uma “oração pelo que aconteceu”, já que “seremos nós a purificar os pecados dos nossos Pais”. Ou ainda: “As suas velhas ideias serão enterradas aqui.” [video]


Todo o trabalho iconográfico do álbum propõe um jogo de variações sobre as imagens tradicionalmente associadas às performances públicas da música country e, mais do que isso, a um imaginário dos “cowboys” intimamente ligado a múltiplas imagens da história de cinema e televisão. Da responsabilidade do fotógrafo Blair Caldwell, o portfolio de Cowboy Carter tem a sua imagem emblemática na capa do álbum, com Beyoncé a cavalo, com uma bandeira dos EUA, recriando o típico arranjo de abertura dos rodeos no estado do Texas (Caldwell é texano, tendo nascido na cidade de Tyler, em 1994).
Beyoncé, fotografada por Blair Caldwell

Dir-se-á que, globalmente, Cowboy Carter cumpre essa tarefa “ideológica” de revisitar o imaginário country, cruzando-o com as referências da cultura afro-americana que permaneciam secundarizadas ou mesmo omitidas. Assim é, sem dúvida, mas seria errado ceder ao simplismo do politicamente correcto para encerrar Beyoncé numa “mensagem” estereotipada. Nada disso pode ser dissociado de uma sensualidade das formas, das imagens e dos sons que se exprime na textura das canções. Escute-se, por exemplo, o tema Levii’s Jeans [video], interpretado com Post Malone — "Boy, I'll let you be my Levi's jeans".
 

terça-feira, julho 02, 2024

SOUND + VISION Magazine
— Os Beatles no cinema [13 julho]

Foi há 60 anos: A Hard Day's Night, uma realização de Richard Lester, provava que a música dos quatro de Liverpool se dava bem com os artifícios da Sétima Arte — recordamos o filme, evocando também as proezas dos Beatles (e mais alguns outros) no cinema.

* FNAC Chiado — 13 julho, 17h00.

sábado, dezembro 09, 2023

SOUND + VISION Magazine
— Beatles, FNAC Chiado [hoje, 9 dez.]

A data foi alterada, mas o tema mantém-se: Now and Then, a "última canção dos Beatles" é o ponto de partida para revisitarmos a herança do quarteto de Liverpool, redescobrindo memórias visuais e sonoras.

>>> FNAC Chiado, 9 de dezembro (17h00).

sexta-feira, novembro 24, 2023

Os Beatles cantados por outros...

Eis uma sugestiva e oportuna edição: We Can Work It Out, uma colectânea de canções dos Beatles recriadas por outras vozes (e instrumentos...). Não um gesto nostálgico do nosso presente, antes uma memória plural do que aconteceu no tempo de glória do quarteto de Liverpool — o subtítulo é, aliás, Covers of The Beatles 1962-1966. De Petula Clark a Count Basie, mas também recordando nomes muito menos conhecidos, as variações são deliciosas. Aqui fica uma versão instrumental: I Feel Fine, por The Ventures.

sexta-feira, novembro 10, 2023

SOUND + VISION Magazine
— Beatles, FNAC Chiado [dia 18]

Alterámos os planos para a nossa próxima sessão na FNAC. De facto, tendo em conta a actualidade das imagens e dos sons, decidimos mudar o tema inicialmente anunciado (que, naturalmente, fica sempre em agenda...).
Assim, no dia 18, às 17h00, estaremos na FNAC Chiado para celebrarmos A Última Canção dos Beatles — será preciso escutar Now and Then... e um pouco mais.

sábado, novembro 04, 2023

Now and Then, o teledisco

E aí está o teledisco de Now and Then, a última canção dos Beatles. Dito de outro modo: a última vez em que ainda foi possível construir uma canção com a colaboração de John, Paul, George e Ringo — Peter Jackson realizou. Em baixo, o video que esclarece como tudo aconteceu.
 


quinta-feira, novembro 02, 2023

A última canção dos Beatles

Do país difuso da memória, a herança dos sons superou as agruras do tempo e a última canção dos Beatles aí está — para já, para ouvirmos a beleza do seu legado, com a voz ausente, aliás, presente de John Lennon.

terça-feira, janeiro 10, 2023

A felicidade segundo Billie Eilish

Billie Eilish, personagem do nosso tempo acelerado

Que significa dizer “eu” perante uma câmara de filmar? Afinal, que sabemos (ou não sabemos) da nossa identidade? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (25 dezembro).

Sinais do tempo… Mapas de uma civilização… Porque é que o facto de fazermos pose ou falarmos directamente para uma câmara (do nosso telemóvel, por exemplo) passou a ser encarado — e, mais do que isso, infinitamente multiplicado — como um automático bilhete de identidade para consumo dos outros? E porque é que consideramos “natural” essa compulsão de nos expormos ao olhar dos outros? Afinal de contas, no Instagram, no momento em que escrevo este texto, fazendo uma pesquisa com a referência #selfie, podemos encontrar mais de 450 milhões de imagens…
Billie Eilish, nascida em Los Angeles a 18 de dezembro de 2001, por certo um dos maiores (e, a meu ver, mais fascinantes) talentos da actual música popular, tem sido protagonista regular de um desses exercícios de exposição individual. Assim, desde 2017, sempre no dia 18 de outubro, a Vanity Fair entrevista-a, colocando-lhe uma série de perguntas sobre a vida pessoal e profissional. As respostas de cada novo ano dão origem a um video (o mais recente dura 21 minutos, está disponível no site da revista e também no YouTube) pontuado por diversos paralelismos com as respostas, e respectivas imagens, de anos anteriores.
Duas perguntas servem para lançar a última gravação: primeiro, qual a idade de Billie Eilish, suscitando um painel de seis imagens em que começamos por vê-la e ouvi-la dizer que tem 15 anos (em 2017) até à entrevista mais recente, com 20 anos (faltavam dois meses para celebrar 21); depois, qual o número dos seus seguidores no Instagram — de 257 mil no primeiro registo até mais de 106 milhões na actualidade (entretanto, já passou os 107 milhões).


Escusado será dizer que não estamos perante uma derivação audiovisual do “estilo” pueril, muitas vezes tristemente anedótico, de muitas selfies. Para lá da sofisticação da apresentação e montagem do video, a inteligência de Billie Eilish faz com que as respostas, mesmo às perguntas mais banais (“O que comeu hoje? Como está decorado o seu quarto?”), surjam tocadas por um misto de gravidade e humor.
Deparamos com uma genuína performance. Entenda-se: no sentido mais literal (e, precisamente, mais genuíno) que a palavra “performance” pode envolver. Billie Eilish tem óbvia consciência do dispositivo teatral, ou teatralizado, através do qual comunica connosco, ao mesmo tempo entregando-se a tal dispositivo com a disponibilidade de quem procura um auto-retrato estável.
Ou talvez não. A certa altura, nas imagens de 2019 fala-nos da “manutenção da minha felicidade” como algo que “já não sentia há muitos anos”… O que nos garante que, ainda antes de completar 18 anos, ela se via (e representava para nós) como alguém a perseguir uma felicidade que lhe tem escapado durante “muitos anos”. Assim mesmo: “muitos anos”…
Seria fácil considerar que esta aceleração dos modos de viver (e pensar o viver) reflecte uma qualquer crise da juventude. Acontece que ser jovem e chamar-se Billie Eilish é uma excepção absoluta que não pode confundir-se com a existência dos milhões que a seguem e vivem no mais radical anonimato. Rotular Billie Eilish como mero símbolo “juvenil” seria mesmo ceder ao mais obsceno paternalismo mediático, supondo que há uma fronteira nítida e, mais do que isso, intransponível, entre o seu modo de ser e a identidade de alguém (seja quem for) de qualquer outra geração.
Nesse passado muito próximo, a crise que Billie Eilish diz ter atravessado condensava-se numa frase eloquente: “Não sei se me sinto ligada a mim própria.” Um ano mais tarde, já com um novo ponto de vista, reconhece que andava a “fingir ser Billie Eilish”. E ainda: “Sentia-me como uma paródia de mim própria.”
Esta é, afinal, a cantora/compositora que editou dois álbuns cujos títulos vale a pena traduzir: “Quando todos adormecemos, vamos para onde?” (2019) e “Mais feliz do que nunca” (2021). O primeiro assombrado por uma inequívoca pulsão de morte — ouça-se a canção Bury a Friend e veja-se o respectivo teledisco; o segundo numa missão de resgate da ideia de felicidade.
A certa altura, surge um segmento “tradicional”, quase sempre deprimente, deste tipo de videos: responder a algumas perguntas de fãs… Billie Eilish sabe ser directa e sintética, não alimentando patéticas ilusões de intimidade. Quando lhe perguntam se já fumou erva e se quer ter filhos, responde da forma mais austera, sucessivamente: “não” e “sim”. Sem esquecer que há pelo menos uma resposta que desmancha qualquer possível barreira geracional — a pergunta é: “Qual a sua banda preferida?”; a resposta: “Os Beatles”.

segunda-feira, dezembro 12, 2022

Os Beatles por Brad Mehldau

Your Mother Should Know, a canção dos Beatles incluída no álbum Magical Mistery Tour (1967), serve de título ao novo álbum de Brad Mehldau, com lançamento agendado para 10 de fevereiro de 2023. Mais precisamente: Your Mother Should Know: Brad Mehldau Plays The Beatles. Para já, temos Mehldau a falar sobre o lugar dos Beatles na história do seu gosto e da sua prática musical, no final oferecendo-nos a sua versão da canção — uma breve e fascinante lição de escuta.

sexta-feira, dezembro 09, 2022

Here, There and Everywhere, 2022

A reedição de Revolver (1966) continua a ser pretexto para uma actualização do "visual" da algumas das suas canções — aí está, em animação deliciosamente pop, Here, There and Everywhere, uma criação do estúdio britânico Trunk.

quarta-feira, novembro 02, 2022

Beatles, 1966
— a arte do sono

Momento fundamental, de viragem (se é que a palavra não perdeu valor), na prodigiosa evolução dos Beatles ao longo da década de 60, aí está a muito aguardada reedição do álbum Revolver (1966). Com uma prenda preciosa: um teledisco de I'm Only Sleeping, percorrendo os enigmas do sono, entre pintura a óleo e recriação digital, com assinatura de Em Cooper — em baixo, o trailer da nova edição.



segunda-feira, outubro 31, 2022

Finneas no estúdios de Abbey Road

Um ano depois do aparecimento de Optimist, o seu álbum de estreia, Finneas relança-o numa edição DeLuxe. Para lá de algumas novas versões das canções originais, e também de uma cover de The Fool On The Hill dos Beatles, a edição propõe-se também divulgar a acção da Earth/Percent, entidade apostada em canalizar os apoios da indústria da música a diversas organizações que trabalham no sentido de as comunidades fazerem frente às urgências climatérias. Como complemento, temos um novo registo do espantoso tema The Kids Are All Dying, agora com Finneas ao piano em gravação nos estúdios de Abbey Road.

segunda-feira, março 07, 2022

Quatro Beatles e dois polícias

Londres, 30 de janeiro de 1969:
protagonistas de um "concerto no telhado"

Rever os Beatles numa sala IMAX é qualquer coisa de arrebatador: são memórias transfiguradas e enriquecidas pela tecnologia — este texto, motivado pelas sessões especiais de The Beatles: Get Back - The Rooftop Concert, foi publicado no Diário de Notícias (13 fevereiro).

Como responder às convulsões do mercado cinematográfico, em especial como defender as salas face aos modos de consumo caseiro que todos praticamos? Eis uma interrogação comercial e cultural. Aliás, vale a pena evitar a boa consciência política que fala de “cultura” como se fosse uma abstração neutra gerada por um qualquer paraíso prometido. A saber: qualquer factor comercial envolve sempre componentes e escolhas culturais.
Alguns pequenos grandes acontecimentos permitem-nos perceber as limitações — e, nessa medida, também as potencialidades — do nosso pensamento comercial da cultura (e, por isso mesmo, do pensamento cultural do comércio). Falo de The Beatles: Get Back - The Rooftop Concert, filme de Peter Jackson programado em salas IMAX (Lisboa, Cascais, Matosinhos) apenas durante três dias [11, 12 e 13 fevereiro] — um espectáculo arrebatador, realmente diferente!
Como se prova, a imponência da imagem (e do som) do IMAX não tem que ser um exclusivo das aventuras de super-heróis que vão desbaratando as potencialidades do formato — filmar aos trambolhões, como se se estivesse a usar um telemóvel, é um disparate visual e narrativo que, para mais na grandeza de um ecrã IMAX, faz com que, não poucas vezes, o espectador só tenha para ver uns riscos a passar no ecrã acompanhados por uma banda sonora ensurdecedora.
Que fez, então, Peter Jackson? Pois bem, criou uma derivação tão breve quanto fascinante (dura 65 minutos) da sua mini-série The Beatles: Get Back (Disney+). O objectivo é revisitar um episódio lendário na história dos Beatles, precisamente esse “concerto no telhado” que o subtítulo refere — foi a 30 de janeiro de 1969, no topo do edifício da editora Apple, em Londres, incluindo várias canções do alinhamento de Let it Be (1970), derradeiro álbum de estúdio do quarteto de Liverpool.
As dimensões físicas do ecrã não são o único elemento definidor das potencialidades figurativas do IMAX. Em boa verdade, nem sequer se podem considerar uma novidade, já que os antigos ecrãs de 70 mm (quem se lembra do velho Monumental, no Saldanha, em Lisboa, tristemente deitado abaixo em 1984?) eram tão grandes ou maiores — sem esquecer que há técnicos que consideram que a definição das imagens de 70 mm continua a ser superior às das câmaras IMAX. Peter Jackson compreendeu que o formato lhe permitia revisitar o concerto dos Beatles num novo território visual — o ecrã IMAX, precisamente — que, por assim dizer, apela a novas variantes narrativas, nomeadamente, em alguns momentos, através da coexistência (na mesma imagem) de registos obtidos em simultâneo.
A esse propósito, importa recordar que os materiais utilizados por Peter Jackson, não apenas neste filme, mas em toda a mini-série, são as “sobras” (mais de 50 horas!) do filme Let it Be (1970), de Michael Lindsay-Hogg, sobre as sessões de gravação do álbum, na altura lançado entre nós com o subtítulo, não muito feliz, de Improviso. Inéditos, e muito curiosos, são os momentos do início do filme em que acompanhamos o realizador e os seus técnicos a colocarem as câmaras para registar o evento — são imagens tanto mais sugestivas quanto, como uma legenda recorda no final, o concerto ficaria para a história como a derradeira performance ao vivo dos Beatles.
Apesar do frio de Londres (6 graus!), a performance é exuberante, a ponto de o registo de três das canções interpretadas — I’ve Got a Feeling, One After 909 e Dig a Pony — ter sido considerado melhor que as respectivas gravações de estúdio, acabando por integrar o alinhamento do álbum. Alguns detalhes que agora emergem, por vezes “multiplicados” pela sábia montagem das várias imagens que preenchem o ecrã, são deliciosos: Lennon a queixar-se da dificuldade de tocar a sua guitarra, de tal modo o frio lhe paralisa os dedos; o olhar gélido e indecifrável de Yoko Ono; a toalha com que Ringo cobre um dos tambores da bateria, etc. De qualquer modo, os protagonistas mais inesperados são os dois simpáticos e surpresos polícias que, cordialmente, visitam as instalações da Apple, dando conta que receberam algumas dezenas de queixas por causa do barulho…
The Beatles: Get Back - The Rooftop Concert resulta, assim, uma tocante memória transfigurada pelos recursos de uma moderna tecnologia, além do mais corrigindo a ideia segundo a qual o filme de Michael Lindsay-Hogg não passava do registo fúnebre de uma despedida. Como ele disse em recente entrevista ao Variety (10 dezembro 2021): “Let it Be não era um filme sobre uma separação. Terminámo-lo muito antes de as coisas se complicarem. É um filme alegre, do tempo em que eles se sentiam felizes por estarem a tocar num telhado.”

terça-feira, dezembro 07, 2021

Let it Be
ou a banda que desapareceu

Cartaz publicitário de 1970

Na base da série de Peter Jackson sobre os Beatles estão as imagens recolhidas para um belo documentário, Let it Be, assinado por Michael Lindsay-Hogg — este texto foi publicado no Diário de Notícias (26 novembro).

Em Portugal, na distribuição cinematográfica, existe uma longa e sugestiva tradição de títulos mais ou menos bizarros, “adaptando” de forma delirante os originais. Afinal de contas, a estreia cinematográfica dos Beatles, A Hard Day’s Night (1964), sob a direcção de Richard Lester, chegou às salas como Os Quatro Cabeleiras do Após-Calipso (foi mesmo esse o artigo definido utilizado: “os” e não “as” quatro cabeleiras).
Let it Be (1970), o filme de Michael Lindsay-Hogg cujos “excedentes” (perto de 60 horas de imagens…) servem de base à série Get Back, de Peter Jackson, é um dos casos mais curiosos dessa saga de títulos de bem disposta criatividade. Assim, o documentário sobre as sessões daquele que seria o derradeiro álbum da banda foi lançado no mercado português como… Improviso.


Em boa verdade, na altura da estreia, não creio que a questão do título português tivesse suscitado a nossa atenção, muito menos alterado a percepção do filme: tendo em conta que o álbum homónimo já estava nas lojas, o filme era “apenas” a confirmação amarga e doce de que a saga dos quatro de Liverpool tinha chegado ao fim.
Ainda assim, há que reconhecer que, com o passar das décadas, a palavra “improviso”, apesar de redutora, adquiriu um valor sintomático. Ali estavam quatro rapazes entregues a uma deriva criativa algo angustiada mas, apesar disso (ou por causa disso mesmo), susceptível de gerar uma espantosa colecção de canções — entre as menos divulgadas, ouça-se, por exemplo, For You Blue, da autoria de George Harrison.


O filme de Lindsay-Hogg resultou, afinal, de uma série de sobressaltos que, não definindo exactamente um esquema criativo de improvisação, obrigou a várias adaptações mais ou menos dramáticas. Tratava-se, na origem, de gravar e filmar um conjunto de canções em estúdio, de alguma maneira reencontrando o espírito “ao vivo” que, em qualquer caso, os Beatles tinham abandonado (depois da digressão americana de 1966).
Diversos incidentes, incluindo o momento em que Harrison ameaçou deixar a banda, foram contaminando o frágil projecto, e tanto mais quanto os lendários estúdios Twickenham não seriam, à partida, o ambiente mais acolhedor para a “invenção” de um álbum (as gravações continuaram no edifício da editora Apple, onde seria filmado o lendário “concerto no telhado”). Resumindo: “sobraram” as muitas horas que agora podemos descobrir (Let it Be, o filme, dura apenas 80 minutos).
O novaiorquino Lindsay-Hogg (actualmente com 81 anos) acabaria por se tornar um especialista em registar performances musicais, quase sempre para televisão. Aliás, cerca de um ano antes, tinha já realizado The Rolling Stones Rock and Roll Circus (cujo registo permaneceu inédito até 1996). Para todos os efeitos, e apesar de ter desaparecido de circulação, Let it Be/Improviso é uma invulgar proeza documental, conduzida por um olhar que, na presença da música, sabe observar as nuances dos músicos, suas palavras e silêncios. Ironicamente, na cerimónia dos Oscars referentes a 1970, realizada a 15 de abril de 1971, o filme valeu aos Beatles (que já não existiam) a estatueta dourada referente a melhor canção (Let it Be) — na ausência dos quatro, o prémio foi recebido por Quincy Jones.

segunda-feira, novembro 22, 2021

Beatles na FNAC
— memória da sessão SOUND + VISION


Na nossa sessão de sábado, 20 de novembro, na FNAC Chiado, a série Get Back, de Peter Jackson (a partir do dia 25, na Disney+), serviu de pretexto para uma revisitação dos Beatles, em particular do período final da banda, com as edições de Abbey Road (1969) e Let it Be (1970) — eis algumas das imagens que integraram o nosso encontro, lembrando, desde já, a próxima sessão:

Sessão SOUND + VISION
Regressando a West Side Story
FNAC Chiado / 18 dezembro, 18h00

>>> O "concerto do telhado", em Londres, na sede da Apple Corps (30 janeiro 1969).


>>> What Is Life, de George Harrison (teledisco de 2014).


>>> Mother, de John Lennon (teledisco de 2003).
 

sábado, novembro 20, 2021

* Beatles 2021
— SOUND + VISION na FNAC [hoje]

A edição de novembro do magazine Sound+Vision tem como tema central o regresso dos Beatles. Regresso? Mas algumas vez eles desapareceram?... A série Get Back, de Peter Jackson, serve de mote — memórias e actualidades, canções, cinema e televisão. Local e horário:

* BEATLES 2021
FNAC Chiado
20 de novembro, 18h30

domingo, outubro 17, 2021

SOUND + VISION na FNAC
— James Bond & etc.

Sábado, dia 16, ao fim da tarde, estivemos na FNAC/Chiado: Bond, James Bond foi o tema central — não apenas o recente 007: Sem Tempo para Morrer, mas algumas memórias, filmes e canções de uma saga que começou em 1962, com Dr. No/Agente Secreto 007. E também outras marcas cinematográficas da vida e morte dos espiões. Aqui ficam algumas imagens e sons dessa sessão, lembrando a próxima:

SOUND+VISION Magazine
O regresso dos Beatles
FNAC/Chiado, 20 novembro 2021 (18h30)

>>> Goldfinger (1964), Shirley Bassey.
 

>>> A View to a Kill (1985), Duran Duran.
 

>>> The Conversation/O Vigilante (1974), Francis Ford Coppola.

terça-feira, maio 18, 2021

"Ram", 50 anos

Foram tempos de conflitos vários entre os elementos dos Beatles — que já não existiam, entenda-se. Dito de outro modo: faz agora 50 anos que Paul McCartney lançou Ram, o seu segundo álbum a solo (a 17 de maio de 1971 no Reino Unido, alguns dias mais tarde nos EUA). Co-assinado com Linda McCartney, a sua colecção de contrastes reflecte um espírito genuinamente experimental, movido por uma sensibilidade intransigentemente poética.
Três momentos, para celebrar um verdadeiro clássico: Monkberry Moon Delight, Heart of the Country e Another Day (single também de 1971, autónomo, que seria incluído como bónus na reedição de 1993).