Nova Iorque, Nova Iorque, imagens e sons, cinema e música, imaginário e imaginação, história e mitologia — tudo isso está no especial da Antena 3 assinado pelo Nuno: chama-se "Da noite para o dia", contando com participações de Isilda Sanches, Rui Miguel Abreu e do autor deste post. Em tom de complemento audiovisual (escutando, está explicado...), atrevo-me a acrescentar um objecto, novaiorquino, hélas!, que poderia ter como subtítulo: 'À procura da perfeição'.
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sexta-feira, outubro 16, 2020
sexta-feira, dezembro 12, 2014
Novas edições:
Vários artistas
"Master Mix: Red Hot + Arthur Russell"
Yep Rock / Popstock
(4 / 5)
Tendo recuperado o dinamismo (e melhores ideias) com o volume “indie” de 2009 Dark Was The Night, a Red + Hot Organization – que desde há quase 25 anos cria campanhas de luta contra a sida artavés da música – lançou este ano dois novos discos. Num deles juntou figuras como Max Richter, Daniel Hope ou as Amina para reinventar (ou re-compor) peças de Johann Sebastian Bach. Neste novo volume, volta a aplicar esse mesmo principio, o de ter um músico como protagonista e cujo trabalho é entregue a novas visões e que, no passado, permitiu já abordagens às obras de figuras como Cole Porter, George Gershwin, Duke Ellington ou Fela Kuti. De novo há o nome na berlinda: Arthur Russell (figura que, tal como Fela Kuti, foi um entre os muitos que a doença fez desaparecer demasiado cedo). Visionário quase invisível no seu tempo e cujo reconhecimento maior só chegou postumamente – o primeiro dos discos póstumos surgiu em meados dos anos 90 na Point Music, aquela que era então a editora coordenada por Philip Glass – Arthur Russell era uma “voz” multifacetada cuja obra percorreu caminhos tão distintos quanto os da música disco, o dub, a folk e até mesmo as vanguardas experimentais. Claramente integrado na vibrante cena “alternativa” que habitava Nova Iorque nos anos 70, Arthur Russell deixou um vasto corpo de gravações que, sobretudo depois de uma antologia editada pela Soul Jazz em 2003, ganhou nova atenção (e sucessivas edições, inclusivamente de material inédito). A (saudável) dispersão da sua composição em várias frentes está agora devidamente representada num cartaz de nomes que tanto recuperam a relação de Arthur Russel com a música de dança como exploram a sua alma folkie, ao mesmo tempo havendo ainda frestas de atenção para com a faceta mais vanguardista do seu trabalho. Através de contribuições brilhantes de figuras como Sufjan Stevens, Devendra Banhart, Richard Reed Parry (num coletivo que junta as contribuições de Little Scream, Sam Amidon, Colin Stetson e Sarah Neufeld), Rubblebucket & Nitemoves ou Phosphorescent surge em Master Mix: Red Hot + Arthur Russell um dos mais apetitosos menus gourmet em travo indie que 2014 nos deu a escutar. Por outro lado Robyn, Hot Chip, Blood Orange ou os Scissor Sisters asseguram a luminosidade que, apesar de um certo travo de melancolia (inerente à voz de Arthur Russell e certamente ao facto de o violoncelo ter sido o seu instrumento primordial), podemos encontrar entre o legado mais dançável que o homenageado nos deixou. No fim, e ao lado de peças como Red Hot + Blue ou Dark Was The Night nasce aqui um dos melhores títulos da (já extensa) história em disco da Red + Hot Organization.
segunda-feira, outubro 27, 2014
Para ler: entrevista com Arthur Russell em 1987
Uma peça de arquivo! Uma entrevista com Arthur Russell feita em 1987, na qual o músico - que esta semana é homenageado num novo volume da série Red + Hot - afirma que a comédia é uma elevada forma de arte.
Podem ler aqui a entrevista.
Podem ler aqui a entrevista.
sexta-feira, outubro 17, 2014
Para ouvir: 'Red Hot + Arthur Russell'
Podem já escutar, através do site da NPR (a estação pública de rádio norte-americana) o álbum novo da Red + Hot Organization.
Trata-se de Master Mix: Red Hot + Arthur Russell um disco de homenagem a Arthur Russell, que de resto aqui fomos noticiando e do qual já demos a escutar algumas versões. O álbum pode agora ser escutado na íntegra.
Podem ouvir o disco aqui.
Trata-se de Master Mix: Red Hot + Arthur Russell um disco de homenagem a Arthur Russell, que de resto aqui fomos noticiando e do qual já demos a escutar algumas versões. O álbum pode agora ser escutado na íntegra.
Podem ouvir o disco aqui.
quinta-feira, julho 31, 2014
Para ouvir: Sufjan Stevens canta Arthur Russell
A contribuição de Sufjan Stevens para o disco de homenagem a Arthur Russell que a Red + Hot Organization lança em outubro é o magnífico A Little Lost, tema originalmente apresentado no álbum Another Thought, que teve lançamento já póstumo através de uma etiqueta que então era regida por Philip Glass.
Podem ouvir aqui a versão.
Podem ouvir aqui a versão.
quarta-feira, julho 16, 2014
Novo álbum da Red + Hot Organization
é um tributo a Arthur Russell
O próximo lançamento em disco da Red + Hot Organization (com edição a 21 de outubro) é Master Mix: Red Hot + Arthur Russell, um disco de tributo ao músico norte-americano e junta assim este visionário que fez obra entre os espaços do disco e da demanda de expressões pessoais de heranças da música contemporânea a figuras como Cole Porter, George Gershwin ou Fela Kuti, homenageados em outros discos desta série.
Tal como os volumes anteriores da série, este novo álbum vai recolher fundos para campanhas de luta contra o vírus VIH.
O alinhamento completo é este:
Jose Gonzalez – “This Is How We Walk On The Moon”
Lonnie Holley – “Soon-To-Be Innocent Fun (Interlude)”
Robyn – “Tell You (Today)”
Hot Chip – “Go Bang”
Sufjan Stevens – “A Little Lost”
Lonnie Holley – “In The Light Of The Miracle (Interlude)”
Richard Reed Parry, Little Scream, Sam Amidon, Colin Stetson & Sarah Neufeld – “Keeping Up”
Liam Finn, Ernie Brooks + Peter Zummo – “This Love Is Crying”
Rubblebucket + Nitemoves – “Eli”
The Revival Hour – “Hiding Your Present from You”
Sam Amidon – “Lucky Cloud"
Devendra Banhart – “Losing My Taste For The Night Life”
Phosphorescent – “You Can Make Me Feel Bad”
Blood Orange – “Is It All Over My Face & Tower Of Meaning”
Scissor Sisters – “That’s Us/Wild Combination”
VEGA INTL. – “Arm Around You”
Oh Mercy – “Planted A Thought”
Lonnie Holley – “Hop On Down (Interlude)”
Cults – “Being It”
Richard Reed Parry – “Just A Blip”
Glen Hansard – “I Couldn’t Say It To Your Face”
Thao & The Get Down Stay Down – “Nobody Wants A Lonely Heart”
The Autumn Defense – “Oh Fernanda Why”
Alexis Taylor – “Our Last Night Together”
Lonnie Holley – “The Deer In The Forest (Interlude)”
Redding Hunter – “Close My Eyes”
Podem ver aqui um vídeo com os Hot Chip, entre as sessões de gravação e entrevistas, onde falam da sua colaboração, ao som de uma versão de Go Bang, um dos mais importantes momentos da discografia de Arthur Russell.
sexta-feira, dezembro 21, 2012
Os melhores filmes de 2012 (N.G.)
Continuando a fazer o balanço de 2012 (e num blogue que gosta de listas), hoje visitamos o espaço do cinema.
Para arrumar ideias, resolvi separar este ano os filmes que vi em sala (ou seja, que tiveram estreia comercial entre nós) dos muitos outros que vi em festivais (cá e lá fora). Como novidade junto ainda uma tabela de bandas sonoras, representando todas elas casos com lançamento em disco (o que deixa de fora as belíssimas contribuições de Mihaly Vig em O Cavalo de Turim e Kylie Minogue e Neil Hannon em Holy Motors).
Estreados em sala
É linda a vida, comenta a personagem que Emmanuelle Riva numa cena de Amor, de Michael Haneke, na qual folheia um velho álbum de fotografias onde o presente confronta o passado perante um futuro que a assombra. É apenas um dos muitos instantes profundamente humanos de um filme onde o pouco faz muitos, o simples explora o complexo e o olhar depurado à essência mostra tudo e que, tendo dado ao realizador a sua segunda Palma de Ouro em Cannes, chegou às nossas salas já nas últimas semanas do ano. Fecha assim um ano onde devemos destacar num mesmo plano dos acontecimentos maiores uma outra visão do fim, meticulosamente coreografada e magnificamente fotografada (e uma vez mais contando com a preciosa contribuição da música de Mihaly Vig) naquele que deverá ter sido o derradeiro filme de Béla Tarr e ainda um olhar desencantado do panorama do ensino, do papel do professor e da escola, em O Substituto, que brilha pela realização de Tony Kaye e a interpretação de um soberbo Adrien Brody. O ano trouxe-nos ainda um ponto de vista diferente (o dos criados) sobre a revolução francesa por Benoît Jacquot, a confirmação da relação ímpar entre Jeff Nichols e Michael Shanon (com importante contribuição de Jessica Chastain) em Procurem Abrigo e novo exemplo de um saber na exploração das relações familiares por Hirokazu Koreeda. O lugar e o tempo, como moldura para uma história na Anatólia pelo olhar de Ceylan, a desafiante composição de jogos de máscaras (e cinefilia) de Léos Carax em Holy Motors, o incompreendido e tão injustamente sovado olhar coletivo (centrado numa vivência pessoal) do 11 de setembro segundo Daldry e a Rússia do nosso tempo em mais um espantoso filme de Zvyaginstsev completam um quadro de dez escolhas que, fosse alargado (mas um top 10 é um top 10) poderia abarcar filmes como Deste Lado da Ressurreição de Joaquim Sapinho e o mais belo filme de Oliveira nos últimos anos (O Gebo e a Sombra) e o internacionalmente muito elogiado Tabu de Miguel Gomes, assim como experiências recentes de Steven Soderbergh, Steve McQueen, Steven Chobovsky (e é raro um escritor tratar tão bem do seu próprio livro como vimos em As Vantagens de Ser Invisível, o filme mais ignorado este ano pela imprensa portuguesa), o regresso de Tim Burton ao seu melhor (em Frankenweenie) ou o documentário sobre o último concerto dos LCD Soundsytem. Note-se ainda que, com Sam Mendes, 007 teve em Skyfall um dos seus melhores filmes de sempre. Já em O Hobbit, Peter Jackson tropeçou como nenhum momento da trilogia O Senhor dos Anéis poderia ter imaginado...
PS. O filme É Na Terra Não É Na Lua, de Gonçalo Tocha, integrou a minha lista de 2011, pelo que não se repete nesta, apesar de ter sido uma das melhores estreias do ano.
1. Amor, de Michael Haneke
2. O Cavalo de Turim, de Béla Tarr
3. O Substituto, de Tony Kaye
4. Adeus, Minha Rainha, de Benoît Jacquot
5. Procurem Abrigo, de Jeff Nichols
6. O Meu Maior Desejo, de Hirokazu Koreeda
7. Era Uma Vez Na Anatólia, de Nuri Bilge Ceylan
8. Holy Motors, de Léos Carax
9. Extremamente Alto e Incrivelmente Perto, de Stephen Daldry
10. Elena, de Andrei Zvyaginstsev
Estreados entre festivais
Vale-nos a cada vez mais bem recheada oferta de festivais para ver o que não chega às salas em sessões comerciais. O melhor que o ano nos deu nesse departamento chegou na noite de abertura do DocLisboa e, como outros títulos deste lista (mas poucos...), chegará a salas em 2013. Trata-se de A Última Vez Que Vi Macau, filme co-assinado por João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, uma das duplas mais ativas do ano (o primeiro tendo ainda estreado as curtas Manhã de Santo António e O Corpo de Afonso, o segundo O Que Arde Cura, filme sobre o qual, por nele ter colaborado, naturalmente me abstenho de me pronunciar em público). Partindo de um projeto de documentário, A Última Vez Que Vi Macau mostra-nos como são ténues as fronteiras que o podem separar da ficção, bastando que o olhar nos conduza e, nele, faça nascer uma narrativa. Uma experiência única e arrebatadora, terá estreia nacional (e noutros mercados) em inícios do novo ano. Da colheita festivaleira destaco ainda o épico pop de Xavier Dolan em Lawrence Anyways, um dos mais interessantes olhares que o cinema alguma vez deu a uma personagem transgénero, magnificamente interpretada por Melvil Poupaud. A estes títulos somam-se experiências inesquecíveis como Keep The Lights On de Ira Sachs, vencedor do Queer Lisboa 16 e parte do top 10 do ano nos Cahiers du Cinema, o filme de Mathew Akers sobre a exposição de Marina Abramovic no MoMA, um olhar sobre a morte a história de um condenado, visto por Herzog ou uma visão (partilhada inclusivamente pela participação de um dos realizadores) de uma escola de dança na Índia. E juntem-se quatro ficções que não caberiam nada mal num programa de estreias, do retrato da culpa no confronto entre as aparências e vida sexual paralela de um sul africano em Beauty, uma história sobre os efeitos do bullying em Despues de Lucia, um espantoso jogo narrativo construído em torno da escrita em Dans La Maison ou a história de um homem que, quase de três décadas depois, não se libertou da vivência hedonista dos seus anos 80, em Avalon (sim, o título da canção dos Roxy Music).
1. A Última Vez Que Vi Macau, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata
2. Lawrence Anyways, de Xavier Dolan
3. Keep The Lights On, de Ira Sachs
4. Marina Abramovic - The Artist is Present, de Mathew Akers
5. Into The Abyss, de Werner Herzog
6. La table Aux Chiens, de Cédric Martinelli e Julien Touati
7. Despues de Lucia, de Michel Franco
8. Beauty, de Oliver Hermanus
9. Dans La Maison, de François Ozon
10. Avalon, de Axek Pétersen
Bandas sonoras
Ao ser convidado a assinar, mensalmente, um espaço sobre bandas sonoras na revista Metropolis, estive mais atento que em muitos anos a este importante espaço discográfico profundamente ligado ao cinema. A lista que apresento é um top 10 dos melhores discos com música para cinema, não uma tabela da melhor música que o cinema viveu em 2012 (que nem todas as bandas sonoras foram editadas). A mais interessante das bandas sonoras do ano serviu em pleno as imagens e as personagens de Vergonha, de Steve McQueen, com particular brilho não apenas nas composições originais de Harry Escort, mas nos complementos escolhidos entre gravações de John Coltrane, Glenn Golud, Chic, Blondie ou Tom Tom Club. Igualmente soberba é a coleção de canções de Arthur Russell com que Ira Sachs valoriza os espaços de Keep The Lights On (sublinhando a identidade nova iorquina das vivências que retrata). E merece ainda nota maior a colaboração entre Howard Shore e os Metric na composição da música para o mais recente filme de David Cronenberg. Composições de Michael Brook, Alexandre Desplat, Nick Urata, Danny Elfman e David Wingo e uma invulgar colaboração entre um pianista e um cineasta, como vemos em Amor, de Haneke, que conta com uma contribuição de Alexadre Tharaud que não se limita ao plano do áudio completam uma lista de dez momentos que, depois de vistos no ecrã, podemos continuar a ouvir.
1. Shame, de Hary Escott + outros (Sony)
2. Keep The Lights On, de Arthur Russell (Audika Records)
3. Cosmopolis, de Howard Shore + Metric (Howe Records)
4. The Perks Of Being a Wallflower, de Michael Brook (Lions Gate Records)
5. Amour, de Alexandre Tharaud (EMI)
6. Moonrise Kingdom, de Alexandre Desplat + outros (Commercial Marketing)
7. Ruby Sparks, de Nick Urata (Milan)
8. Frankenweenie, de Danny Elfman (EMI Catalogue)
9. Extremly Loud And Incredibly Close, de Alexandre Desplat (Water Tower Music)
10. Take Shelter, de David Wingo (Grove Hill)
Para arrumar ideias, resolvi separar este ano os filmes que vi em sala (ou seja, que tiveram estreia comercial entre nós) dos muitos outros que vi em festivais (cá e lá fora). Como novidade junto ainda uma tabela de bandas sonoras, representando todas elas casos com lançamento em disco (o que deixa de fora as belíssimas contribuições de Mihaly Vig em O Cavalo de Turim e Kylie Minogue e Neil Hannon em Holy Motors).
Estreados em sala
É linda a vida, comenta a personagem que Emmanuelle Riva numa cena de Amor, de Michael Haneke, na qual folheia um velho álbum de fotografias onde o presente confronta o passado perante um futuro que a assombra. É apenas um dos muitos instantes profundamente humanos de um filme onde o pouco faz muitos, o simples explora o complexo e o olhar depurado à essência mostra tudo e que, tendo dado ao realizador a sua segunda Palma de Ouro em Cannes, chegou às nossas salas já nas últimas semanas do ano. Fecha assim um ano onde devemos destacar num mesmo plano dos acontecimentos maiores uma outra visão do fim, meticulosamente coreografada e magnificamente fotografada (e uma vez mais contando com a preciosa contribuição da música de Mihaly Vig) naquele que deverá ter sido o derradeiro filme de Béla Tarr e ainda um olhar desencantado do panorama do ensino, do papel do professor e da escola, em O Substituto, que brilha pela realização de Tony Kaye e a interpretação de um soberbo Adrien Brody. O ano trouxe-nos ainda um ponto de vista diferente (o dos criados) sobre a revolução francesa por Benoît Jacquot, a confirmação da relação ímpar entre Jeff Nichols e Michael Shanon (com importante contribuição de Jessica Chastain) em Procurem Abrigo e novo exemplo de um saber na exploração das relações familiares por Hirokazu Koreeda. O lugar e o tempo, como moldura para uma história na Anatólia pelo olhar de Ceylan, a desafiante composição de jogos de máscaras (e cinefilia) de Léos Carax em Holy Motors, o incompreendido e tão injustamente sovado olhar coletivo (centrado numa vivência pessoal) do 11 de setembro segundo Daldry e a Rússia do nosso tempo em mais um espantoso filme de Zvyaginstsev completam um quadro de dez escolhas que, fosse alargado (mas um top 10 é um top 10) poderia abarcar filmes como Deste Lado da Ressurreição de Joaquim Sapinho e o mais belo filme de Oliveira nos últimos anos (O Gebo e a Sombra) e o internacionalmente muito elogiado Tabu de Miguel Gomes, assim como experiências recentes de Steven Soderbergh, Steve McQueen, Steven Chobovsky (e é raro um escritor tratar tão bem do seu próprio livro como vimos em As Vantagens de Ser Invisível, o filme mais ignorado este ano pela imprensa portuguesa), o regresso de Tim Burton ao seu melhor (em Frankenweenie) ou o documentário sobre o último concerto dos LCD Soundsytem. Note-se ainda que, com Sam Mendes, 007 teve em Skyfall um dos seus melhores filmes de sempre. Já em O Hobbit, Peter Jackson tropeçou como nenhum momento da trilogia O Senhor dos Anéis poderia ter imaginado...
PS. O filme É Na Terra Não É Na Lua, de Gonçalo Tocha, integrou a minha lista de 2011, pelo que não se repete nesta, apesar de ter sido uma das melhores estreias do ano.
1. Amor, de Michael Haneke
2. O Cavalo de Turim, de Béla Tarr
3. O Substituto, de Tony Kaye
4. Adeus, Minha Rainha, de Benoît Jacquot
5. Procurem Abrigo, de Jeff Nichols
6. O Meu Maior Desejo, de Hirokazu Koreeda
7. Era Uma Vez Na Anatólia, de Nuri Bilge Ceylan
8. Holy Motors, de Léos Carax
9. Extremamente Alto e Incrivelmente Perto, de Stephen Daldry
10. Elena, de Andrei Zvyaginstsev
Estreados entre festivais
Vale-nos a cada vez mais bem recheada oferta de festivais para ver o que não chega às salas em sessões comerciais. O melhor que o ano nos deu nesse departamento chegou na noite de abertura do DocLisboa e, como outros títulos deste lista (mas poucos...), chegará a salas em 2013. Trata-se de A Última Vez Que Vi Macau, filme co-assinado por João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, uma das duplas mais ativas do ano (o primeiro tendo ainda estreado as curtas Manhã de Santo António e O Corpo de Afonso, o segundo O Que Arde Cura, filme sobre o qual, por nele ter colaborado, naturalmente me abstenho de me pronunciar em público). Partindo de um projeto de documentário, A Última Vez Que Vi Macau mostra-nos como são ténues as fronteiras que o podem separar da ficção, bastando que o olhar nos conduza e, nele, faça nascer uma narrativa. Uma experiência única e arrebatadora, terá estreia nacional (e noutros mercados) em inícios do novo ano. Da colheita festivaleira destaco ainda o épico pop de Xavier Dolan em Lawrence Anyways, um dos mais interessantes olhares que o cinema alguma vez deu a uma personagem transgénero, magnificamente interpretada por Melvil Poupaud. A estes títulos somam-se experiências inesquecíveis como Keep The Lights On de Ira Sachs, vencedor do Queer Lisboa 16 e parte do top 10 do ano nos Cahiers du Cinema, o filme de Mathew Akers sobre a exposição de Marina Abramovic no MoMA, um olhar sobre a morte a história de um condenado, visto por Herzog ou uma visão (partilhada inclusivamente pela participação de um dos realizadores) de uma escola de dança na Índia. E juntem-se quatro ficções que não caberiam nada mal num programa de estreias, do retrato da culpa no confronto entre as aparências e vida sexual paralela de um sul africano em Beauty, uma história sobre os efeitos do bullying em Despues de Lucia, um espantoso jogo narrativo construído em torno da escrita em Dans La Maison ou a história de um homem que, quase de três décadas depois, não se libertou da vivência hedonista dos seus anos 80, em Avalon (sim, o título da canção dos Roxy Music).
1. A Última Vez Que Vi Macau, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata
2. Lawrence Anyways, de Xavier Dolan
3. Keep The Lights On, de Ira Sachs
4. Marina Abramovic - The Artist is Present, de Mathew Akers
5. Into The Abyss, de Werner Herzog
6. La table Aux Chiens, de Cédric Martinelli e Julien Touati
7. Despues de Lucia, de Michel Franco
8. Beauty, de Oliver Hermanus
9. Dans La Maison, de François Ozon
10. Avalon, de Axek Pétersen
Bandas sonoras
Ao ser convidado a assinar, mensalmente, um espaço sobre bandas sonoras na revista Metropolis, estive mais atento que em muitos anos a este importante espaço discográfico profundamente ligado ao cinema. A lista que apresento é um top 10 dos melhores discos com música para cinema, não uma tabela da melhor música que o cinema viveu em 2012 (que nem todas as bandas sonoras foram editadas). A mais interessante das bandas sonoras do ano serviu em pleno as imagens e as personagens de Vergonha, de Steve McQueen, com particular brilho não apenas nas composições originais de Harry Escort, mas nos complementos escolhidos entre gravações de John Coltrane, Glenn Golud, Chic, Blondie ou Tom Tom Club. Igualmente soberba é a coleção de canções de Arthur Russell com que Ira Sachs valoriza os espaços de Keep The Lights On (sublinhando a identidade nova iorquina das vivências que retrata). E merece ainda nota maior a colaboração entre Howard Shore e os Metric na composição da música para o mais recente filme de David Cronenberg. Composições de Michael Brook, Alexandre Desplat, Nick Urata, Danny Elfman e David Wingo e uma invulgar colaboração entre um pianista e um cineasta, como vemos em Amor, de Haneke, que conta com uma contribuição de Alexadre Tharaud que não se limita ao plano do áudio completam uma lista de dez momentos que, depois de vistos no ecrã, podemos continuar a ouvir.
1. Shame, de Hary Escott + outros (Sony)
2. Keep The Lights On, de Arthur Russell (Audika Records)
3. Cosmopolis, de Howard Shore + Metric (Howe Records)
4. The Perks Of Being a Wallflower, de Michael Brook (Lions Gate Records)
5. Amour, de Alexandre Tharaud (EMI)
6. Moonrise Kingdom, de Alexandre Desplat + outros (Commercial Marketing)
7. Ruby Sparks, de Nick Urata (Milan)
8. Frankenweenie, de Danny Elfman (EMI Catalogue)
9. Extremly Loud And Incredibly Close, de Alexandre Desplat (Water Tower Music)
10. Take Shelter, de David Wingo (Grove Hill)
sábado, dezembro 01, 2012
Novas edições:
Arthur Russell, Keep The Lights On O.S.T.
Arthur Russell
“Keep The Lights On”
Audika Records
4 / 5
O filme estreou em Sundance este ano, ganhou o Teddy Award na Berlinale e integrou a competição de longas metragens da edição deste ano do festival Queer Lisboa. Realizado por Ira Sachs, Keep The Lights On acompanha o relacionamento disfuncional de dois homens na Nova Iorque dos nossos dias. Espaço assim partilhado com o que Arthur Rusell tomou como central à sua vida e criação, representando a sua música uma das mais marcantes expressões de uma capacidade entre a cultura de vanguarda e a música popular que caracterizou importante terreno da vida musical nova-iorquina nos anos 70 e 80. A banda sonora de Keep The Lights On – disponível apenas em lançamento digital – junta as canções e temas instrumentais que ouvimos no filme (onde não se ouve outra música senão a de Arthur Russell). Escolhida pelo realizador, em conjunto com o antigo companheiro de Arthur Russel e pelo autor do documentário Wild Combination: A Portrait of Arthur Russell, a música de Keep The Lights On colhe gravações sobretudo entre os álbuns World of Echo e Love Is Overtaking Me. Entre espaços de evidente flirt com a pop e caminhos mais experimentais, não só se serve magnificamente um filme como, agora, se serve um eventual cartão de visita para a descoberta do músico.
Este texto foi originalmente publicado na edição de outubro da revista 'Metropolis'
quinta-feira, agosto 30, 2012
Um filme ao som de Arthur Russell
A música de Arthur Russel está a dar que falar em 2012. Além do tributo que vem a caminho, e onde colaboram nomes que vão de Nico Muhly, Robyn, Hot Chip ou Devendra Banhart aos Scissor Sisters, uma banda sonora essencialmente feita das suas canções promete ser um dos acontecimentos musicais do ano cinematográfico. Estreado em Sundance em janeiro e apresentado depois na Berlinale, o filme de Ira Sachs Keep The Lights On inclui temas de Arthur Russell como Close My Eyes, Soon To Be Innocent Fun ou Your Motion Says. A banda sonora, escolhida pelo realizador, em colaboração com Tom Lee (que viveu com o músico), Matt Wolf (autor de um documentário sobre Arthur Russell) e o responsável da Audika Records, a editora que assegura o seu lançamento, a 4 de setembro, para já apenas em formato digital.
sexta-feira, agosto 10, 2012
Red + Hot + Arthur Russell
Três anos depois do marcante Dark Was The Night, a Red + Hot Organization anuncia mais um volume da série de discos que, desde o célebre Red, Hot + Blue, de 1990, tem recolhido fundos para campanhas de luta contra a sida. Em associação com a Pitchfork, a Red + Hot regressa ao formato do álbum-tributo, recordando desta vez a música de Arthur Russell, músico que soube caminhar simultaneamente entre os espaços das vanguardas e da música de dança e que representa a alma alerta aos desafios que animava a cultura downtown nova iorquina dos anos 70 que viu emergir figuras como Philip Glass, Steve Reich, Laurie Anderson e mais tarde o movimento no wave.
Segundo a Pitchfork, que assina a curadoria do projeto, estão desde já previstas as participações de nomes como os de Robyn, Hot Chip, Devendra Banhart, Nico Muhly, Owen Pallett , Will Sheff (vocalista dos Okkervil River), Laurel Halo, Cut Copy , Twin Shadow, Washed Out, José González, Scissor Sisters, Sam Amidon, Ólöf Arnalds, Sandro Perri, Thao with the Get Down Stay Down, Dan Boeckner (dos Handsome Furs) ou Javelin. Ainda não foi indicada data para o lançamento do disco.
O financiamento do projeto será feito através do Kickstarter. Podem aceder aqui e, eventualmente, contribuir.
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