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segunda-feira, fevereiro 07, 2022

Tori Amos — concerto na NPR

Três canções: Baker Baker, do álbum Under the Pink (1994); Ocean to Ocean e 29 Years, ambas de Ocean to Ocean (lançado em outubro de 2021): Tori Amos protagonizou mais um Tiny Desk (Home) Concert, na NPR — 15 minutos de depurada intimidade, pudor e partilha.

quinta-feira, dezembro 22, 2016

A emancipação de uma voz


A reedição da obra de Tori Amos em edições com som remasterizado e acompanhadas por extras tem agora um novo episódio. Há cerca de um ano os álbums Little Earthquakes (1992) e Under The Pink (1994) lançavam este formato para uma revisão de carreira que agora chega a Boys For Pele (1996), o disco que traduz as consequências de uma rutura e de vivências que desencadeariam em si reações que acabaram por determinar o curso dos acontecimentos daí em diante. O fim do relacionamento (pessoal e profissional) com aquele com quem tinha trabalhado a produção desses dois álbuns terá sido o primeiro elemento em jogo de uma série de acontecimentos entre a vida privada e artística que abriram alas à vontade de criar um álbum ainda mais focado em questões identitárias. Se havia já um questionar das relações com o feminino em temáticas diversas (nomeadamente as da religião), Boys For Pele, que chama ao título o nome de uma deusa havaiana, acentua mais ainda a ideia de criar um ciclo de canções que promovem um olhar ainda mais focado em questões de género. Se nas palavras as questões são abordadas de forma incisiva, no som há aqui uma vontade de explorar quer a abrasividade de formas menos polidas quer uma paleta de timbres e soluções instrumentais mais alargadas a outros horizontes, notando-se a presença evidente de um cravo, uma harpa, metais ou o recurso a coros.

A composição, tal como os arranjos, aposta em ousadias maiores, levando a voz de Tori Amos para fora das zonas de conforto anteriores, mostrando o alinhamento o retrato do enfrentar de um desafio que termina com final (artisticamente) feliz. Em suma, Boys For Pele abre novas possibilidades, que tanto a compositora como a cantora levam a bom termo, num trabalho que passa a tomar em mãos, daí em diante passando a ser ela mesma a escultora da sua obra desde o imaginar da primeira nota e palavra ao fechar da mistura de uma gravação.

Boys For Pele é um disco longo, surgindo na nova edição todo o conteúdo original do alinhamento (com 18 temas) no CD1. O CD 2 integra, por sua vez, temas originalmente editados nos lados B dos singles deste período e junta outros extras mais, alguns deles canções originalmente gravadas durante as mesmas sessões, mas que por diversas razões acabaram fora do alinhamento quer do álbum, quer dos singles. São disso exemplo Walk To Dublin (que entretanto surgiria mais tarde em outros lançamentos) ou To The Fair Motormaids of Japan, que aqui vê finalmente a luz do dia. Não falta também a versão remisturada de Professional Widow, que levou ainda mais longe as ousadias desta etapa na obra de Tori Amos.

sábado, novembro 19, 2016

Tori Amos ou a guerra da intimidade

Boys for Pele (1996), terceiro álbum de estúdio de Tori Amos, faz vinte anos e tem direito a edição especial — oportunidade para descobrir ou redescobrir uma belíssima colecção de canções capazes de transformar a noção de intimidade em belicismo poético. Aqui fica a memória de Talula.

sexta-feira, agosto 15, 2014

"Creep" (Radiohead) por Tori Amos

Como se escreve no site Consequence of Sound, já que os Radiohead há vários anos não incluem Creep nos seus concertos, ao menos que o faça... Tori Amos! O resultado aí está, em registo amador (com várias câmaras) de um concerto em Nova Iorque — ou como a fidelidade ao original não exclui, antes reforça, a singularidade de quem canta.

quinta-feira, agosto 14, 2014

Para ler: Tori Amos regressa aos palcos

A cantora, que este ano editou um novo álbum de estúdio, acaba de regressar à estrada, tendo já passado pelo palco do Beacon Theatre, em Nova Iorque. E as opiniões são claramente favoráveis...

Podem ler aqui crítica no Guardian.
E aqui uma reportagem, com entrevista, no New York Observer.

PS. Se a digressão com orquestra era coisa cara de trazer a estes lados, não estará agora na hora de a convidar a tocar por aqui?...

terça-feira, julho 29, 2014

Meio ano pop/rock arrumado em duas listas

Aos seis meses vividos de 2014 fazem-se contas aos discos. E esta semana, nos Discos Voadores, apresentei listas de dez álbuns e dez canções (departamento pop/rock e periferias) que juntam o que de melhor escutei por aí. Aqui ficam, agora devidamente arrumadas.

10 ÁLBUNS

1 Beck – Morning Phase
2 St Vincent – St Vincent
3 Owen Pallett – In Conflict
4 Neneh Cherry – Blank Project
5 Damon Albarn – Everyday Robots
6 Brian Eno + Karl Hyde – Someday World
7 The Notwist – Close To The Glass
8 Dean Wareham – Dean Wareham
9 Tori Amos – Unrepentant Geraldines
10 Teleman – Breakfast

10 CANÇÕES

1 St Vincent – Prince Johnny
2 Owen Pallett – Fong For Five & Six
3 Teleman – Steam Train Girl
4 Beck Wave
5 Alexis Turner – Closer To The Elderly
6 Fujyia & Myiagi – Flaws
7 CEO – Wonderland
8 Trust – Are We Arc?
9 Dean Wareham – The Dancer Disappears
10 Angel Olsen – Hi-Five


E UMA CANÇÃO PARA O VERÃO...
Silva (ft. Fernanda Takai) – Okinawa

quarta-feira, maio 21, 2014

Novas edições:
Tori Amos, Unrepentant Grealdines

Tori Amos
"Unrepentant Geraldines"
Deutsche Grammophon / Universal
4 / 5

Revelada na alvorada dos anos 90 com Little Earthquakes (1991), a norte-americana Tori Amos deu há perto de três anos um passo importante na evolução da sua carreira ao assinar pela editora Deutsche Grammophon, casa sobretudo reconhecida pelo seu trabalho nos vários domínios (e tempos) da música erudita. E depois de um álbum que celebrava heranças de compositores como Chopin, Debussy ou Satie (Night of The Hunter, editado em 2011) e de um outro no qual recriava canções de duas décadas de discos em novos arranjos orquestrais (Gold Dust, de 2012), eis que regressa agora à alma central da sua obra, apresentando em Unrepentant Geraldines um novo disco de estúdio feito de temas originais.

Unrepentant Geraldines surge depois de finalmente estreado o musical The Light Princess, composto pela própria Tori Amos e que, em 2015, terá edição em disco com o elenco que assegurou a sua vida em palco. Mas o mais importante estímulo que conduziu Tori Amos a estas canções foi o aprofundar da sua relação com as artes visuais. Um esboço de Daniel Maclise, uma fotografia de Diane Arbus ou uma ilustração de Dante Gabriel Rossetti inspiraram respetivamente canções como Unrepentant Geraldines, America ou Maids of Elfen-Mere.

Tori Amos faz contudo questão de sublinhar a importância que teve a sua relativamente recente descoberta de Paul Cézanne, que está na origem do tema 16 Shades of Blue. "Sei que levei tempo a chegar" a Cézanne, confessa na entrevista que podemos ver no DVD que acompanha o disco. "Há anos que me davam livros sobre o seu trabalho, mas eu não chegava lá... Só apanhamos as coisas quando estamos prontos para as compreender", reconhece, confessando que só recentemente conseguiu finalmente "escutar" a pintura de Cézanne. Leu então tudo o que encontrou sobre o pintor e a sua obra. E deixou-se maravilhar pela forma como "saía para a natureza", e como nela conseguia ver o corpo de uma mulher.

Muito estimulado por imagens, este disco é um álbum que, mesmo que musicalmente assente sobre a já "clássica" linha central da obra de Tori Amos, é um reflexo do nosso tempo. Na entrevista que acompanha a versão especial do álbum, Tori Amos explica que tanto juntou aqui uma forma de contar histórias ao jeito de um Johnny Cash como reflete sobre questões do presente, das esferas da política às da segurança (sendo bem evidente a sua preocupação sobre as revelações recentes sobre atos de espionagem e escutas em grande escala).

America, que abre o alinhamento, traduz uma relação consciente e crítica com a sua identidade americana. "Quando entro num lugar e me escutam o sotaque já têm uma ideia de mim, como se todos os americanos fossem iguais", comenta na mesma entrevista. Tori Amos explica que há ideias feitas, por vezes "por causa de um político" e defende que os americanos deviam pensar melhor a sua terra "e como tem sido usada" e que, por isso, os mais novos devem procurar saber que papel se espera para esta mesma América no futuro.

PS. Este texto foi originalmente publicado na edição de 19 de maio do DN com o título "Tori Amos regressa com disco inspirado pelas artes visuais"

quinta-feira, dezembro 20, 2012

Os melhores discos de 2012 (N.G.)

É uma tradição que o Sound + Vision respeita anualmente. E a partir de hoje as listas dos melhores do ano vão surgir por aqui. Começamos pelos discos que mais marcaram um ano de muitas (e boas) edições discográficas. E os melhores são...

Depois da promessa sugerida no impressionante Learning, em 2012 Mike Hardeas confirmou em Put Your Back N2 It a visão e a personalidade de um autor que se encontrou a si mesmo num espaço pleno de verdade e personalidade. Sem perder as características, temas e demandas, a voz criativa do seu projeto Perfect Genius avançou e, para lá das fronteiras lo-fi, encontrou outra nitidez, fazendo deste seu segundo álbum o “grande” acontecimento discográfico pop/rock (e cercanias) do ano. Um ano que mostrou, sobretudo, interessantes casos de cruzamentos de linguagens, em discos que, aos poucos, definem o início do século XXI como um tempo de diálogos e cruzamentos. Vejam-se os casos de Gold Dust, onde Tori Amos revisita com um a orquestra as canções de 20 anos de discos e nelas encontra novos pontos de vista. Ou Rework onde, sob curadoria de Beck, uma série de músicos (de Amon Tobin a Johann Johansson) procuram olhares pessoais sobre momentos marcantes da obra de Philip Glass. Ou ainda Dr. Dee, onde Damon Albarn (depois da experiência de Monkey: Journey To The West), regressa ao espaço da ópera contemporânea, desta vez assinando aqui o seu primeiro disco a solo. Do balanço do ano destaque-se ainda a proeminência de Frank Ocean e Miguel, novas vozes que definitivamente se afirmam no espaço do R&B, também aqui em franco diálogo com outras referências (em ambos morando aquele olhar transversal que fez a diferença para Prince nos anos 80). De 2012 ficam ainda as memórias do melhor álbum dos Pet Shop Boys desde os dias de Behaviour, a “estreia” (sim, porque já tinha editado antes sob outro nome) de Lana del Rey – que criou uma “estrela” nos moldes dos tempos dos ícones de outrora -, das melhores electrónicas que ouvimos ao longo do ano em Fin de John Talabot e o belíssimo regresso (agora a solo) do ex-Blue Nile Paul Buchanan. A história discográfica do melhor do ano podia ainda juntar nomes como os de Patti Smith, St. Etienne, Andrew Bird, David Byrne com St Vincent, Brian Eno, Ombre, Grizzly Bear, Lemonade, Jack White, Beach House, Leonard Cohen ou Matthew Dear. Mas um Top 10 é um Top 10 e, assim sendo, aqui fica...

1. Perfume Genius, ‘Put Your Back N2 It’ (Matador Records)
2. Tori Amos, ‘Gold Dust’ (Deutsche Grammophon)
3. Pet Shop Boys, ‘Elysium’ (Parlophone)
4. Philip Glass, ‘Rework’ (Orange Mountain Music)
5. Frank Ocean, ‘Channel Orange’ (Def Jam)
6. Miguel, ‘Kaleidoscope Dream’ (Epic Records)
7. Lana del Rey, ‘Born To Die’ (Universal)
8. Damon Albarn, ‘Dr Dee’ (EMI Music)
9. John Talabot, ‘Fin’ (Permanent Vacation)
10. Paul Buchanan, ‘Mid Air’ (Essential Newsroom)

Nacional

Tirando o álbum da Sétima Legião, que é uma antologia de ‘memórias’, é curioso reparar que o melhor do ano editorial português ficou por conta de editoras independentes, acentuando uma tendência que se vem a acentuar nos anos mais recentes. Do panorama destaca-se claramente a estreia em álbum de Moullinex, um dos rostos centrais do catálogo da editora Discotexas, com um disco onde promove um franco (e compensador) diálogo entre a música de dança e o formato da canção, num espaço onde o presente sabe escutar ecos e grandes lições do disco sound, da soul, do funk e da pop. Sem dúvida, a grande surpresa do ano. A memória, além das canções da Sétima Legião (que viram a sua obra ser editada em formato remasterizado, mas ainda sem o tratamento arquivístico que justificava), mora ainda na abordagem de B Fachada, Minta e João Correia ao alinhamento do clássico Os Sobreviventes de Sérgio Godinho. O aprumar da visão de Norberto Lobo (cada vez mais um nome maior no panorama local), o encontro dos The Gift com o piano como voz maior na composição e os diálogos entre a raiz e a modernidade, em sede açoriana, pelo projeto O Experimentar são ainda notas maiores num ano onde convém ainda reter as propostas de DJ Ride, Gaiteiros de Lisboa e o coletivo Orelha Negra.(*)

1. Moullinex, ‘Flora’ (Discotexas)
2. Sétima Legião, ‘Memória’ (EMI Music)
3. B Fachada + Minta + João Correia ‘Os Sobreviventes’ (Mbari)
4. Norberto Lobo, ‘Mel Azul’ (Mbari)
5. The Gift, ‘Primavera’ (La Folie)
6. O Experimentar, ‘Sagrado e Profano’ (O Experimentar)
7. DJ Ride, ‘Life in Loops’ (Optimus Discos)8. Orelha Negra, ‘Orelha Negra’ (VC)
9. B Fachada, ‘Criôlo’ (Mbari)
10. Gaiteiros de Lisboa, 'Avis Rara' (D'Euridice)

Clássica

25 anos depois da sua estreia, a ópera Nixon In China regressou este ano aos palcos e, numa espantosa produção do Met, confirmou essa obra de John Adams como uma das peças maiores da história deste espaço de criação musical (dela falaremos na tabela dos melhores DVD e Blu-ray do ano). Mas de John Adams o ano recorda mais que apenas essa nova vida para a sua obra-prima. E o igualmente fundamental Harmonielehre, de quem havia uma gravação dos anos 80 dirigida por Edo de Waart, conheceu nova gravação, pela mesma San Francisco Symphony, numa direção de Michael Tison Thomas que se destacou claramente como o mais vibrante instante musical do ano discográfico nos domínios da música clássica. Do ano editorial destaca-se ainda a estreia em disco de Out Of Nowhere e Nyx, de Esa Pekka Salonen, parecendo cada vez mais certo que, se perdemos um maestro tão presente em palcos e gravações, passámos a contar com mais um valor maior no panorama da composição do século XXI. Tudo isto num mesmo ano em que Max Richer mostrou como uma editora (neste caso, a Deutsche Grammophon) pode ser também catalisadora de novas visões, ao propor um olhar diferente pelas Quatro Estações de Vivaldi no mais recente volume da série Re-Composed. Em tempo de assinalar os seus 75 anos, Philip Glass estreou duas sinfonias, tendo editado uma gravação da sua empolgante “nona” logo no início do ano. O melhor de 2012 passou ainda por obras para piano de Debussy por Alexei Lubimov e pela abordagem aos concertos para piano de Shostakovich por Menlikov. Simon Rattle gravou uma arrebatadora visão “completa” da nona de Bruckner e Gardiner completou o ciclo de gravações da obra orquestral de Brahms com um belíssimo Ein Deutsches Requiem. Notas ainda para Wagner’s Dream, editado ainda em vida de Jonathan Harvey e o inteligente programa, ao estilo de um recital, de Adès e Isserlis para, de obras de outros compositores, chegar aos Lieux Retrouvèes do primeiro.

1. John Adams, ‘Harmonielehre’ M. Tilson Thomas / San Francisco Symphony (SFS Media)
2. Esa Pekka Salonnen, ‘Out of Nowhere’ Salonen / Finnish Radio Symphony Orchestra (Deutsche Grammophone)
3. Claude Debussy, ‘Preludes’ – Alexei Lubimov (ECM)
4. Max Richter, ‘Recomposed – Vivaldi Four Seasons’, Daniel Hope
5. Philip Glass, ‘Symphony N. 9’ – Bruckner Orchester Linz
6. Anton Bruckner, Symphony N. 9’ – Simon Rattle / Berliner Philharmoniker
7. Thomas Adès ‘Lieux Retrouvées’ – T. Adès + S. Isserlis (Hyperion)
8. Johannes Brahms, ‘Ein Deutsches Requiem’ – J Eliot Gardiner / Orch Revolutionarie et Romantique
9. Dmitri Shostakovich, ‘Piano Concertos’ A. Menlikov / Mahler Chamber Orchestra, dir. Teodor Currentzis (Harmonia Mundi)
10. Jonathan Harvey, ‘Wagner’s Dream’ dir. Martyn Brabbis (Cypress)

(*) Uma lista originalmente publicada incluía o disco a solo de Manuel Fúria, que na verdade só será publicado em 2013.

domingo, dezembro 02, 2012

A arte de re-compor (parte 1)


Uma das mais estimulantes séries de lançamentos discográficos do nosso tempo está a mostrar de forma bem clara que a velha noção de frontera entre géneros musicais está tão derrubada como o Muro de Berlim. Este texto é parte de um artigo publicado na edição de 24 de novembro de 2012 do suplemento Q. do com o título ‘Quando a música do pasado ajuda a inventar a música do futuro.

A evolução da música está inevitavelmente ligada à história dos instrumentos e, desde que há gravações, à tecnologia associada à captação e manipulação dos sons. O aparecimento do piano no século XVIII, a expansão da orquestra sinfónica no século XIX ou o aparecimento de instrumentos eletrónicos no século XX abriram espaço a novos sons e até mesmo a novas formas musicais. Na história recente da música popular tem sido particularmente visível a forma como a sucessiva entrada em cena de novos instrumentos e novas tecnologias tem assegurado os saltos evolutivos. A guitarra elétrica determinou os caminhos do rock’n’roll nos anos 50 e a “eletrificação” da música folk em meados dos anos 60. O surgimento de gravadores multi-pistas fez do próprio estúdio uma ferramenta ao serviço da criação musical em finais dos anos 60 (com nomes como os Beatles ou Beach Boys a dar-nos primeiras expressões das novas potencialidades da tecnologia ao serviço da música), amplificando então a complexidade dos arranjos das canções. Já nos anos 70, a proliferação dos sintetizadores lançou as bases para uma nova pop eletrónica e, mais adiante, com a chegada de sequenciadores, caixas de ritmos e samplers, os espaços da house, do techno e de outras expressões daí decorrentes. Ainda em finais dos anos 70, a descoberta de que o gira-discos podia ser ele mesmo uma fonte de som à disposição do músico permitiu estruturar uma nova lógica de construção musical da qual nasceria o hip hop... E a história não acaba aqui...

Apesar de muitas destas formas e tecnologias terem uma maior penetração nos espaços da música popular, a verdade é que a música erudita do nosso tempo tem apreendido e integrado ideias, formas e sons. Ouvimos eletrónicas, segundo formas habitualmente presentes na atual música de dança, em Ayre, um recente ciclo de canções do compositor argentino Osvaldo Golijov. O norte-americano Nico Muhly, um dos mais ativos compositores do século XXI (com obra repartida entre a música erudita e a popular) conhece e domina estas tecnologias e formas. O mexicano Murcof cruzou épocas e linguagens musicais ao juntar texturas eletrónicas a ecos da memória de Lully e outros compositores da época em The Versailles Sessions. E o inglês Ambrose Field criou outra ponte ainda mais distante, juntando peças vocais do compositor medieval Guillaume Dufay a eletrónicas do presente em Being Dufay, um dos discos recentes que mais desafiou a velha noção de fronteira entre a música clássica e as formas musicais de um presente onde as antigas nomenclaturas vão sendo cada vez mais difíceis de aplicar.

Esta ideia da saudável transgressão face ao que antes pareciam fronteiras claras entre géneros está a ser assimilada pela Deutsche Grammophon (DG). Uma das mais célebres das editoras discográficas com catálogo essencialmente centrado na edição de música clássica, a DG lançou em 1995 o álbum de Todd Levin DeLuxe, que desafiava todas as catalogações. Pelo seu catálogo encontramos nomes como os de Sting e, mais recentemente, Tori Amos, figuras com obra reconhecida nos domínios da canção popular. Mas se há discos onde a DG vinca essa vontade de romper cânones e, assim, ajudar a inventar a música do nosso tempo (e, quem sabe, a do futuro), eles são os que têm sido lançados pela série a que chamou Re-Composed.

quinta-feira, novembro 08, 2012

Tori Amos, 1994

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O título do single de apresentação do segundo álbum de Tori Amos veio de uma ideia que surgiu ao ler uma caixa de cereais que dizia que as meninas “passa-de-uva” eram mais difíceis de encontrar que as “meninas corn-flake”... Tori abre Cornflake Girl  a dizer que nunca foi uma menina corn-flake, mas usa depois esta imagem para refletir ainda sobre o que lera no romance Possessing the Secret of Joy, de Alice Walker. O single teve capas e telediscos distintos nos EUA e Europa.

Podem ver aqui o teledisco americano.
E aqui o teledisco europeu.

A capa que abre o post é a da versão americana.

terça-feira, novembro 06, 2012

Tori Amos, 1998


Hoje recuamos até 1998 para recordar aquele que foi então o single de apresentação de From The Choirgirl Hotel, o quarto álbum de originais de Tori Amos. Spark, como a própria cantora explicou, surgiu pouco depois dela mesmo ter sofrido um aborto espontâneo. A canção foi na altura acompanhada por um teledisco criado por James Brown.

segunda-feira, novembro 05, 2012

Tori Amos, 1991


Numa altura em que se assinalam os 20 anos de vida discográfica de Tori Amos (celebração da qual o álbum Gold Dust é a mais evidente expressão) o Sound + Vision vai evocar alguns momentos da sua obra, recordando telediscos e canções que fizeram estas duas décadas de discos. E começamos hoje a recordar aquele que foi o segundo single extraído do seu álbum de estreia a solo, Little Earthquakes. Originalmente lançado em novembro de 1991 no Reino Unido e lançado em abril de 92 nos EUA, Silent All These Years teve ainda nova edição em agosto do mesmo ano, novamente no Reino Unido. Liricamente inspirada por um momento em que lia A Pequena Sereia de Hans Christian Andersen a uma sobrinha, a canção foi composta num período de busca de uma voz própria após a separação da banda onde militara. Este single foi o seu primeiro a ser acompanhado por um teledisco.

Podem revisitar aqui o teledisco que então acompanhou Silent All These Years.

quinta-feira, novembro 01, 2012

A cantora... e o dragão

Tori Amos é um dos nomes maiores da música popular dos últimos 20 anos. Em 2011 encetou uma ligação com a Deutsche Grammophon pela qual já editou dois álbuns. 20 anos depois da sua estreia a solo, enfrenta em ‘Gold Dust’ o corpo de uma orquestra. E agora prepara a estreia de um musical para o Royal National Theatre. Este texto é uma versão acrescentada de um artigo (que parte de uma entrevista com a cantora) publicado na edição de 29 de outubro do DN com o título ‘Para Tori Amos chegou a hora de montar o dragão’.

Para quem conheceu o piano como principal parceiro durante anos a fio, cantar frente a uma orquestra é, para Tori Amos, como “montar um dragão”. A cantora, que este mês protagonizou uma digressão seguindo as sugestões das sonoridades despertas pelos dois álbuns que já editou pela Deutsche Grammophon, vincou ao DN o jogo de comparações. A orquestra, diz-nos “é o dragão e o maestro o seu domador”. E a cantora?... “Bom, se conseguir andar lá em cima, equilibrando-se nos seus saltos altos, tudo correrá bem”...

Tori Amos gosta de usar imagens nas palavras com que fala de si e da sua música. Mas é direta quando reconhece que os álbuns que editou antes de 2011 “não se ajustariam à editora” que, sabemos, é uma referência reconhecida nos espaços da música clássica. A sua ligação à editora, que originou além do novo álbum de versões orquestrais Gold Dust um outro disco, Night of Hunters, no ano passado, começou com o desafio para criar variações de obras de compositores da tradição clássica ocidental que esse disco de 2011 nos mostrou. “Inicialmente fiquei intimidada com a ideia de fazer essas variações”, confessa. Mas enfrentou os medos. “Estudei, tentei ouvir muita música clássica, contando com a ajuda de um musicólogo”, diz, referindo-se a John Philip Shenale, um velho colaborador (que aqui, como no novo Gold Dust, assinou os arranjos). O novo disco surgiu mais de um feliz acaso. Tori Amos preparava versões com orquestra para um outro desafio (o de um concerto), quando da editora chegou a sugestão para que se gravasse o que estava a acontecer, o álbum surgindo do entusiasmo e confiança entretanto gerados.

'Gold Dust' (2012)
Ao reencontrar canções que compôs ao longo de 20 anos Tori Amos pode constar que é uma voz invulgarmente inspirada como intérprete e compositora. “Tenho musas”, diz-nos. “Musas que me guiam”... Mas reconhece que muita da sua inspiração vem de uma forma atenta de ver o mundo, de comunicar, e até mesmo de falar sobre a sua própria obra. “Pode acontecer estar num aeroporto e, de uma conversa ou de algo que acontece, surgir uma experiência, que se pode relacionar com uma canção... E uma ideia pode daí desenvolver-se rumo a uma nova composição”, explica. A cantora acredita que, na verdade, a canção “já existe” em si. “Tenho apenas de a caçar”, descreve usando nova imagem. A “caça” é que pode por vezes ser um jogo “frustrante” sobretudo quando apresenta primeiras formas ao marido, com quem trabalha há anos, e este lhe responde que “ainda não está lá...” E isso, deixa bem claro “às vezes é difícil de ouvir”.

A dele é, como entendemos pelas palavras de Tori Amos, uma opinião que tem em conta. Tori Amos vê as canções “como uma porta para a nossa vida pessoal”, mas curiosamente o seu marido “não se envolve no significado das canções”. Tori tenta “manter os detalhes como coisa privada” e, tal como ao marido, deixa que “as pessoas presumam sobre o que é que as canções falam”. Para si as canções “têm depois a sua própria vida”, tanto que aceita que as pessoas que as escutam “têm uma relação com essas mesmas canções” e não com a cantora.

Dá até como exemplo a canção Mary Jane, que em 2009 gravou no álbum Abnormally Attracted to Sin. “É uma canção sobre um sobrinho meu, e ele ficou orgulhoso do facto de ter escrito a canção. Mas não é, como houve quem dissesse, uma canção sobre o facto dele ter saído com uma tal Mary Jane, porque é na verdade sobre fumar erva”... Tori Amos esclarece que por vezes muda os nomes das pessoas de quem fala ou que a levaram às canções. E assim garante também uma vida própria a essas personagens que canta.

Gosta contudo de ouvir o que os outros dizem e interpretam sobre o que canta. “Por vezes as pessoas vêm ter comigo e revelam-me perspetivas que nunca tinham visto e que podem até mesmo conduzir-me a outra canção”, como de resto aconteceu ao escutar (e a descobrir) novos pontos de vista nas novas versões das velhas canções que agora gravou em Gold Dust. “A interpretação abre perspetivas e leva a uma canção nova... É como se fosse um sistema solar”, com tudo devidamente arrumado e em sucessivos ciclos, sugere.

'Night of Hunters' (2011)
E depois de dois discos orquestrais poderemos esperar um futuro álbum mais na linha de discos anteriores, no catálogo que agora a acolhe?... Tori não parece preocupada. Os concertos com orquestra foram gravados para possível edição em 2013, revela. “Esses são os planos para o próximo ano” sublinha, alertando para o facto de as versões de concerto serem “diferentes das do álbum”. A cantora diz-nos que tem uma boa relação com os profissionais da Deutsche Grammophon com quem hoje trabalha. “Estão muito abertos às minhas ideias”, confirma. E o seu próximo projeto, “que não será clássico”, será um musical para o Royal National Thatre, The Light Princess, baseado num conto de George McDonald e no qual trabalha há cinco anos. “Estudei todos os musicais que pudesse agarrar”, confessa a cantora que gosta igualmente de conversar com músicos de gerações mais novas com os quais diz que tem sempre muito para aprender. E, acrescenta: “tanto a ligação à editora como o projeto do Royal National Theatre mudaram a minha música”, diz. “Tudo está ligado”.

Entre os seus projetos em mãos neste momento está o desenvolvimento de uma etiqueta discográfica que, explica-nos está entregue a um “think tank” que Tori Amos diz ter consigo a trabalhar neste momento, e que envolve figuras como a sua filha ou Neil Gaiman. “Tenho de me focar no meu trabalho e não me deixar distrair”, confessa. “Tenho de me manter como música e com os pés no chão”. Mas este projeto de ter uma pequena editora entusiasma-a. Ali pretende lançar artistas “que possam não se ajustar às assinaturas das grandes editoras no momento”. Uma “avenida para desenvolver novos artistas, com tempo, sem pressa”, como ela mesma descreve. “Como uma corrida de tartarugas”. Também ela correu como uma, até trazer a sua carreira ao patamar presente. “Mas com o tempo, a tartaruga transformou-se numa senhora lagarto”, conclui.

terça-feira, outubro 09, 2012

Novas edições:
Tori Amos, Gold Dust


Tori Amos
"Gold Dust"
Deutsche Grammophon / Universal
5 / 5

Há cerca de um ano Tori Amos estreava-se no catálogo da Deutsche Grammophon com Night of Hunters, um disco no qual visitava obras da tradição clássica ocidental, dessas memórias da música de compositores como Bach, Chopin, Debussy ou Satie, partindo ( na forma de variações) para criar um ciclo que, assim, abarcava 400 anos de vivências e referências. Reforçando a sua presença neste catálogo essencialmente focado na música clássica, estabelece agora em Gold Dust uma ideia diferente. Mantém o trabalho com a orquestra (sem nunca abandonar o piano), mas desta vez estamos apenas perante composições de sua autoria. O alinhamento revisita a sua discografia, colhendo canções que recuam até aos dias de Little Earthquakes, transformando-as depois segundo os novos arranjos propostos pelo canadiano John Philip Shenale (na verdade, o mesmo parceiro de tantos arranjos já revelados em gravações de muitos outros discos seus). Apesar de ser sonho antigo da cantora, foi preciso um convite para que Gold Dust ganhasse forma. Tudo começou quando a Metropole Orchestra a convidou para participar num concerto seu, inicialmente com uma canção. Tori Amos pensou então numa caixa de memórias, mas feita de sons. Desafiou o velho colaborador John Philip Shenale e começaram, juntos, a “desenhar ideias específicas” para a orquestra. Durante os ensaios com a orquestra deu por si a fazer descobertas entre canções que ela mesma escrevera. E da editora chegou depois a sugestão de gravar o que estava a acontecer. Entraram em cena mais canções, rumando cantora e orquestra à Holanda, onde de uma série de sessões em estúdio emergiu este disco.  Em tempos, Tori Amos questionava-se se manteria a mesma intimidade com as canções, tocando- as entre 50 músicos. Gold Dust responde-lhe agora. Mantém sim. E com resultados magníficos, dos diálogos das canções com a orquestra – onde se cruzam referências sinfonistas e do universo do musical – nascendo um dos seus melhores discos de sempre.

Este texto é uma versão editada de um outro que foi originalmente publicado na edição de 3 de outubro do DN com o título 'Vinte anos de canções revisitados com orquestra'

quarta-feira, outubro 03, 2012

Por Nova Iorque, com Tori Amos

É certamente um dos grandes acontecimentos discográficos do ano, a edição de Gold Dust, o álbum que celebra os 20 anos de carreira em nome própria de Tori Amos com um ciclo de canções revisitadas com orquestra. E como cartão de visita neste Flavor, com teledisco que podemos ver no DVD na edição especial do álbum.