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sábado, setembro 20, 2014

Em busca da música do século XXI (1)


Este texto é um excerto de um artigo sobre cinco compositores do nosso tempo originalmente publicado no suplemento Q do Diário de Notícias com o título 'Para descobrir a música do século XXI'.

As fronteiras que em tempos poderiam existir entre os espaços da música clássica e dos universos pop/rock começaram a conhecer grandes rombos em parcerias que juntavam visões de ambos os lados do que, para alguns, podia ser um muro. Mais que as visões de revisitação de Bach ou Debussy pelas electrónicas de, respetivamente, Wendy Carlos e Isao Tomita, ou as experiências de convivência da música dos Deep Purple com a presença de uma orquestra sinfónica, houve diálogos mais profundos estabelecidos quando Pierre Boulez gravou um disco com Frank Zappa, quando Philip Glass criou ciclos de canções com Suzanne Vega, David Byrne ou Leonard Cohen ou quando John Tavener compôs uma peça vocal expressamente pensada para a voz de Björk. Em todos os casos houve sempre em cena pelo menos dois nomes, uns com historial feito em terreno pop/rock, outros em espaços da música erudita. O novo século nasce contudo com uma nova geração de compositores para quem as noções de barreiras não existem, com casos até de figuras com carreira na pop (como Damon Albarn, os The Knife ou Rufus Wainwright a aventurar-se no espaço da ópera). Não é inédita a atitude, e basta recordarmos como Gershwin integrou o jazz ou Bernstein o fez com a música da Broadway e outras formas populares americanas, para termos a noção de que fazer música sem barreiras não é uma invenção do século XXI. O que é talvez do século XXI é a tomada de consciência de que esta pode mesmo ser uma ética a definir uma nova forma mais frequente de estar na música. De resto, em entrevista recente ao DN, o compositor Max Richter descrevia mesmo a música do século XXI como sendo aquela em que “a tendência dominante é a ideia das tradições musicais se interpenetrarem e das fronteiras ficaram difusas”. 

Max Richter é um bom exemplo de uma atitude que passa também por outros compositores que, aos poucos, estão a definir o que é, afinal, a música do século XXI. Se a ele juntarmos os nomes de Richard Reed Parry (que integra os Arcade Fire), Johnny Greenwood (dos Radiohead), Bryce Dessner (dos The National) ou Nico Muhly, encontramos uma mão-cheia de figuras que, já com peças editadas em disco, revelam uma obra em que heranças e experiências na pop se cruzam com instrumentos, grupos e formas da clássica. Para lá dos cânones, uma nova música nasce por ali...

(continua)

PS. A imagem que ilustra este post é um momento da ópera 'Tomorrow in a Year' dos The Knife

sexta-feira, agosto 22, 2014

The Knife anunciam separação


A dupla The Knife, sem dúvida uma das forças maiores da música neste início de século, anunciou que colocará um ponto final na sua atividade mal termine a digressão que está ainda na estrada (e tem último concerto em novembro, na Islândia).

Formados em 1999 lançaram uma série de discos que exploraram tanto o trabalho de composição com eletrónicas como redefiniram a forma de entender a música como força política. O mais recente disco, Shaking The Habitual, merecerá mesmo ser um dia recordado como um dos exemplos mais claros de expressão de ideias políticas através da música.

Além de debaterem a distribuição da riqueza e o acesso igual a oportunidades, o disco tem particular importância também no expressar de todo um quadro de ideias e olhares sobre questões de género que, nas entrevistas concedidas, o grupo explorou com clareza e seriedade.

Convém não esquecer também que, através dos The Knife, tivemos um dos casos mais importantes de incursão de figuras nascidas nos espaços da "música popular" pelo território da ópera, sendo Tomorrow In A Year um importante esforço pioneiro num processo de diálogo entre formas musicais que sublinha a rara visão dos dois irmãos Karin e Olof.

Dele sabe-se já que continuará a trabalhar com Houwaida Hedfi. Dela - que numa pausa dos The Knife editou um disco sob a designação Fever Ray - ficamos à espera de notícias.

Podem recordar aqui uma entrevista com os dois irmãos, realizada por alturas do álbum Shaking The Habitual:
Parte 1
Parte 2

sábado, julho 26, 2014

Música para um homem do futuro


Esta semana os Pet Shop Boys apresentaram no Royal Albert Hall uma biografia musical de Alan Turing, integrada na programação dos Proms. Este texto é uma versão alargada de um artigo publicado na edição de 25 de julho do DN.

Uma biografia musical com a figura de Alan Turing como protagonista apresentada esta semana representou um dos momentos altos da programação dos Proms, série de concertos que anualmente ocupam uma etapa da programação de verão de concertos de música clássica Londres (tendo o Royal Albert Hall como o seu principal palco). Com o título A Man From The Future, o musical tem como autores os Pet Shop Boys e assinala mais um momento de cruzamento de experiências entre formas habitualmente mais habitadas pela música clássica com figuras com carreira sobretudo feita nos domínios da música popular, juntando-se assim a óperas recentes de nomes como os The Knife, Damon Albarn (a solo ou com Jamie Hewlett), Herbert ou Rufus Wainwright.

Célebre por ter decifrado códigos encriptados dos alemães durante a II Guerra Mundial, o matemático Alan Turing (1912-1954) ficou também na história como vítima de um tempo em que a homossexualidade era criminalizada no Reino Unido, tendo sido sujeito a castração química como alternativa à prisão na sequência de um processo judicial que o acusou de indecência em 1952. Gordon Brown concedeu-lhe um pedido póstumo de desculpa em 2009, ao que se seguiu, já em finais de 2013, um perdão assinado por Isabel II.

Os Pet Shop Boys, que ao longo da sua carreira criaram já dois musicais, uma banda sonora alternativa para o filme mudo Couraçado Potemkin de Sergei Eisenstein e assinaram a música de um bailado, tomaram consciência da história de Turing nos anos 80, através da peça de teatro Breaking the Code. O interesse foi reativado em 2011 por um documentário televisivo, que os levou à biografia Alan Turing: The Enigma, de Andrew Hodges.

The Man From The Future, que se apresenta como uma biografia musical em oito partes para orquestra, electrónicas, coro e narrador, nasceu de uma colaboração com este seu biógrafo, que contactaram e que colaborou na escrita do libreto. O perdão real para Turing levou-os a reescrever o final da obra, refletindo o final da peça (sob um aparato musical épico) que Turing foi uma exceção e que há ainda muitos outros condenados, alguns ainda vivos, à espera de igual pedido de desculpa.

A BBC (que programa e transmite os Proms) resolveu incluir este trabalho dos Pet Shop Boys como um dos Late Night Proms deste ano, sendo que não é a primeira vez que há músicos vindos de terrenos pop/rock a surgir no programa (essa estreia coube, em 1970, aos Soft Machine – estando documentada em álbum ao vivo editado em 1988). Além do musical sobre Turing, o ‘Prom’ dos Pet Shop Boys juntou ainda quatro canções suas (Vocal, Love is a Catastrophe, Later Tonight e Rent) em arranjos orquestrais de Angelo Badalamenti, na voz de Chrissie Hynde e a interpretação da abertura de Performance, o espetáculo que levaram em digressão em 1991.

Alan Turing
Se mediaticamente Alan Turing é lembrado por ter decifrar códigos durante a II Guerra Mundial – facto que parece estar no centro das atenções de The Imitation Game filme de Morton Tyldum e protagonizado por Benedict Cumberbatch que terá estreia em outubro no festival de Londres - o trabalho deste matemático britânico na verdade teve uma importância profunda na teoria da computação e inteligência artificial. O seu trabalho na descodificação de códigos dos alemães valeu de Churchill um elogio que nele apontou um dos mais importantes contributos individuais para a vitória aliada. Depois da guerra desenvolveu importante trabalho científico no National Physical Laboratory, tomando depois um lugar na Universidade de Manchester. Menos de dois anos depois do julgamento que o obrigou a uma castração química (sob acusação de homossexualidade), Turing morreu em 1954, com apenas 41 anos (por envenenamento com cianeto), não sendo unânime que se tenha tratado de um suicídio. Desde 1966 é anualmente entregue o Turing Prize para assinalar contribuições técnicas e teóricas na ciência da computação.


Quando a música lembra homens da ciência

A biografia musical de Alan Turing apresentada esta semana em Londres pelos Pet Shop Boys é mais um exemplo de atenção de peças musicais que tomam figuras da ciência e o seu trabalho como inspiração. Aqui ficam mais alguns exemplos:

Philip Glass. Einstein on The Beach é um dos exemplos de obras do compositor norte-americano que tomam uma figura da ciência por protagonista. Estreada em 1976 esta ópera é uma referencia na história da música do século XX. Mais recentemente Glass dedicou também óperas a figuras como Johannes Kepler e Galileu Galilei. Respetivamente ligadas a estes dois últimos, as óperas Kepler e Galileu Galilei foram já editadas em disco (Kepler tendo conhecido também lançamento em DVD).

John Adams. À exceção de A Flowering Tree, as óperas já apresentadas por John Adams têm focado factos e figuras reais do século XX, como a visita de Nixon à China em 1972 ou o assalto ao navio Achille Lauro na década de 80. Em Dr. Atomic (estreada em 2005) evocou a figura de Oppenheimer numa narrativa que tinha por cenário a base de El Alamo na véspera do primeiro teste nuclear.

The Knife. A dupla sueca The Knife iniciou a sua carreira na pop electrónica. No seu álbum mais recente apresentaram uma faceta ativista focada em questões como a identidade de género ou a divisão mais justa da riqueza. Em Tomorrow In a Year (2010) experimentaram o espaço da ópera tendo então focado a vida e o pensamento de Darwin.

Kraftwerk. A música pop já passou muitas vezes por figuras da ciência. Einstein, por exemplo, foi abordado pelos Landscape em Einstein a Go Go e os Big Audio Dinamyte em E=mc2. Em Radioactivity (1975), tema-título do álbum que sucedeu ao historicamente marcante Autobahn, os Kraftwerk citam as figuras de Pierre e Marie Curie.

sexta-feira, julho 25, 2014

Três meses, três discos (singles)


Muitos singles ganharam vida no segundo trimestre de 2014. A escolher três as opções apontam assim ao magnífico Song For Five & Six, de Owen Pallett, que se apresentou há algumas semanas como cartão de visita para a chegada do álbum In Conflict. As escolhas do que de melhor ouvimos em formato de single neste trimestre passam ainda por Flaws, também um aperitivo, mas para o novo álbum dos Fujyia & Myiagi. E ainda por Cristina, a canção que anunciou a 45 rotações a chegada do álbum de estreia dos Teleman.

Além de muitos outros singles de muitos outros álbuns, vale a pena assinalar ainda, entre a produção extra-álbum deste trimestre a chegada de um EP cantado em italiano por Rósin Murphy, o flirt retro de Herbert em Part 6 e ainda um EP de remisturas dos suecos The Knife.

segunda-feira, junho 23, 2014

Novas edições:
The Knife, Shaken Up Versions

The Knife
“Shaken Up Versions”
Brille Records
4 / 5

A ideia da apresentação de uma coleção de versões na forma de álbum costuma estar habitualmente associada a um labor com a estrutura rítmica na medula das atenções e, sob a experiência (ler “saber”) de DJs , resultar de um repensar das composições tendo a pista de dança como destino mais certo... As Shaken Up Versions dos The Knife não nascem neste segmento do “pensamento” discográfico. O disco, que surge perto de um ano depois do lançamento do monumental Shaking The Habitual, resulta na verdade das experiências de palco que os The Knife levaram em digressão depois do lançamento do álbum (que entre nós teve apresentação na edição do ano passado do Festival de Paredes de Coura, da atuação tendo nascido a mais díspar coleção de opiniões, o que é, no mínimo, muito bom). Os oito temas que aqui são apresentados provém do alinhamento dos quatro álbuns de originais do grupo (desde o mais remoto Bird, de 2001, a três momentos do disco de 2013) e mostram-se segundo os processos de reflexão sobre as suas formas originais que nasceram com vista à sua expressão em palco. O minimalismo anguloso que caracterizou a essência da alma politicamente pungente de Shaken The Habitual dita o clima, mas não define uma ditadura de formas que reduza as cinco canções extraídas de álbuns anteriores a bitola que se mostre como denominador comum. Há, antes, sinais de busca de possíveis caminhos na atualização de ideias e formas e, tal como no álbum de 2013, uma procura evidente de liberdade acima das regras que muitas vezes definem as lógicas da canção pop. As transformações são mais evidentes nos temas dos álbuns The Knife e Deep Cuts (se bem que a pulsão house que transforma Pass This On quase afoga o episódio feito de contrastes e tempero a calypso que fazia brilhar a versão original). Mas é nos dois temas resgatados a Silent Shout – a canção-título e We Share Our Mother’s Health – que se revelam os instantes mais interessantes do alinhamento deste novo disco.

sexta-feira, junho 06, 2014

Ver + ouvir:
Europa Europa + The Knife,
För alla namn vi inte får använda



Não se trata exatamente de uma nova canção como as demais dos The Knife. É um tema com música dos The Knife e surge em Europa Europa, um 'cabaret' político sobre as políticas de (e)migração na Europa pelo grupo Ful.

quarta-feira, maio 21, 2014

Ver + ouvir:
The Knife, Without You My Life Would Be Boring



Mais um teledisco para uma canção do sublime Shaking The Habitual de 2013, em nova versão. Poucas obras em vídeo têm a consistência da que, sob uma lógica temática bem sólida e clara, tem acompanhado este mais recente álbum do duo sueco.

segunda-feira, dezembro 23, 2013

Os melhores discos de 2013 (N. G.)



Juntar num mesmo disco um manifesto político e uma perspetiva musical que olha em frente, desafiando (em vez da mais habitual cenografia voz e guitarra tantas vezes usada quando se pretende debater causas). Foi o que fizeram os suecos The Knife. Sucessor de Silent Shout (2006) e nascido na sequência de uma experiência nos palcos da ópera com Tomorrow In A Year, o álbum Shaking The Habitual mostrou por um lado uma alma interventiva com vontade de discutir questões de género, de igualdade de oportunidades ou de uma mais justa distribuição de riqueza (juntando mesmo uma BD para levar o debate a um patamar artístico e político ainda mais completo) e, por outro, uma abordagem à composição com vontade de olhar adiante na utilização das electrónicas, experimentando mesmo uma certa aspereza e angulosidades num quadro de ideias que faz deste um dos discos mais visionários do nosso tempo. A vontade de procurar novos caminhos habita também o álbum Matangi de M.I.A.. O reencontro de Nick Cave com os Bad Seeds deu-lhe o seu melhor disco de sempre. O regresso de David Bowie foi um dos casos maiores do ano. Os diálogos de John Grant com as electrónicas confirmaram as promessas do álbum de estreia a solo. E, com nova alma (ler ânimo) os Arcade Fire voltaram a ser entusiasmantes. Breve retrato de um ano que teve discos dos These New Puritans, James Blake, Kanye West e Disclosure (reativando ecos da deep house) entre os seus melhores. Além destes dez títulos o melhor de 2013 no departamento pop/rock e periferias passa ainda por discos de nomes como Mark Eitzel, Darkside, Pet Shop Boys, Julianna Barwick, Alela Diane, Major Lazer, Justin Timberlake, Julian Cope, Vampire Weekend e Elvis Costello com os The Roots.

1. The Knife, Shaking The Habitual (Rabid)
2. M.I.A., Matangi (Interscope)
3. Nick Cave & The Bad Seeds, Push The Sky Away (Bad Seeds, Ltd.)
4. John Grant, Pale Green Ghosts (Bella Union)
5. David Bowie, The Next Day (ISO Records)
6. Arcade Fire, Reflektor (Merge)
7. These New Purtitans, Field of Reeds (Infectious Music)
8. James Blake, Overgrown (Polydor)
9. Kanye West, Yeezus (Roc-A-Fella)
10. Disclosure, Settle (Island)


Canção do ano


A 8 de janeiro o mundo acordava com uma nova canção de David Bowie, a sua primeira nova canção em dez anos. Com uma carga de memórias, transportando-nos para os dias em que viveu em Berlim, Where Are We Now foi o cartão de visita perfeito para o álbum que chegaria dois meses depois. Outra das grandes surpresas do ano chegou com David Sylvian, que editou em formato de single (num vinil de dez polegadas e lançamento digital) o tema Do You Know Me Now?, onde retomou as linhas mais clássicas de composição que lhe deram em Secrets Of The Beehive (1987) a sua obra-prima em disco. Entre as grandes canções do ano está John Grant e também Nick Cave, com Jubilee Street, o momento maio do alinhamento do álbum que lançou logo no início do ano. Ecos do psicadelismo dos sessentas iluminam San Francisco, o tema que anunciou a chegada do segundo álbum dos Foxygen. E em Love Is A Bourgeois Construct reencontramos o charme e a perspicácia do melhor da obra dos Pet Shop Boys num tema que usa elementos de uma composição de Michael Nyman que, por sua vez, cita Henry Purcell. Entre os melhores do ano estão ainda temas do projeto Major Lazer (com a voz de Ezra Koenig, dos Vampire Weekend), da dupla alemã Coma, de uma colaboração de Blixa Bargeld com Teho Teardo e uma outra de Elvis Costello com os The Roots. Arcade Fire, Franz Ferdinand, CocoRosie, El Perro del Mar, Seoul ou o regresso dos Pixies contam-se ainda entre os momentos melhores de 2013.

1. David Bowie, Where Are We Now? (Iso)
2. David Sylvian, Do You Know Me Now? (Samadhi Sound)
3. John Grant, GMF (Bella Union)
4. Nick Cave & The Bad Seeds, Jubilee Street (Bad Seeds Ltd.)
5. Foxygen, San Francisco (Jagjaguwar)
6. Pet Shop Boys, Love Is a Bourgeois Construct (X2)
7. Major Lazer, Jessica (Secretly Canadian)
8. Coma, Les Dilletantes (Kompakt)
9. Blixa Bargeld + Teho Teardo, Mi Scusi (Specula Records)
10. Elvis Costello + The Roots, Cinco Minutos Con Vos (Blue Note)


Arquivo / reedições


Os cinco álbuns que Scott Walker editou entre 1967 e 1970, entre os quais encontramos nove versões sublimes de canções de Jacques Brel, surgiram este ano reunidos numa caixa. Não trazia temas extra, mas o som remasterizado e um booklet com um completo ensaio que serve de exemplo ao que deve ser o trabalho de escrita para servir uma reedição. Entre os muitos discos que, ao longo do ano, reativaram registos de arquivo contam-se novas incursões pelos catálogos de nomes como os de Nick Drake ou The Velvet Underground. Houve edições expandidas de importantes títulos de nomes como os House of Love, Postal Service, Teardrop Explodes, Tears For Fears ou Electronic. Dos Beatles continuam a chegar surpresas: primeiro na forma de um segundo volume de sessões na BBC, depois através de uma coleção de gravações ainda inéditas de 1963, lançadas para já apenas em suporte digital.

1. Scott Walker, Scott – The Collection 1967 – 1970 (Mercury)
2. Nick Drake, Tuckbox (Island)
3. The House Of Love, The House Of Love – 3CD Deluxe Edition (Cherry Red)
4. Postal Service, Give It Up – 10th Anniversary Edition (Sub Pop)
5. The Beatles, Beatles Bootlegs 1963 (Apple Records)
6. The Velvet Underground, White Light White Heat – Super Deluxe (Verve)
7. Teardrop Explodes, Wilder – Deluxe Edition (Mercury)
8. Tears For Fears, The Hurting – CD + DVD Box Set (Mercury)
9. Electronic, ElectronicSpecial Edition (EMI)
10. The Beatles, The Beatles At The BBC – Vol 2 (Apple Records)


Clássica


Between Two Waves não corresponde à primeira edição em disco de obras do compositor contemporâneo russo Victor Kissine, mas representou o primeiro momento de protagonismo maior da sua obra até ao momento, numa ediçãoo pela ECM que contou com a contribuição de Gidon Kremer e dos músicos da sua Kremerata Baltica. Transportando ecos de memórias de juventude (da cidade de São Petesburgo – então Leninegrado – onde viveu e das águas do rio Neva em particular) o disco representou mais um exemplo claro de uma atenção sábia de Manfred Eicher (e da sua ECM) pelo espaço musical que nasce de filhos da antiga URSS. O ano “clássico” vincou a presença de John Adams entre os nomes de referência da sua geração junto das programações das orquestras e de quem as edita. Trouxe belíssimas gravações de obras recentes de John Corrigliano, Philip Glass e Dutilleux. Juntou novas abordagens de grande nível a Poulenc, Shostakovich (com a integral de Petrenko a caminho de se completar) ou Stravinsky (no ano do centenário d’A Sagração da Primavera). A Deutsche Grammophon juntou as suas gravações de obras de Henze numa só caixa. E Daniel Hope celebrou a música do nosso tempo no mais interessante dos seus discos temáticos. 

1. Victor Kissine, Between Two Waves (ECM)
2. John Adams – P. Oundjian / Royal Scottish Nat. Orch., Harmonielehre + Doctor Atomic Symphony (Chandos)
3. John Corrigliano – D.A. Miller / Albany Symphony, Conjurer (Naxos)
4. Francis Poulenc - P. Jaarvi / Orch. de Paris, Stabat Mater (Deutsche Grammophon)
5. Hans W. Henze, The Complete Deutsche Grammophon Recordings (Deutsche Grammophon)
6. Pierre Dutilleux, B Hanningan + A. Kartunen / Orch. Phil. De Radio France, Correspondences (Deutsche Grammophon)
7. Dmitri Shostakovich – V. Petrenko / Royal Liverpool S. Orch, Symphony 4 (Naxos)
8. Daniel Hope, Spheres (Deutsche Grammophon)
9. Philip Glass, Visitors (Orange Mountain Music)
10. Igor Stravinsky - S. Rattle / Berliner Phil., Le Sacre du Printemps (EMI Classics)

PS. A produção nacional surgirá numa lista a publicar ainda esta semana. Esta é a lista "definitiva" (se é que isso existe) deste ano. A que apresentei na Radar já tem umas semanas e entretanto foi ligeiramente alterada. 

quinta-feira, dezembro 19, 2013

As canções de 2013:
The Knife, A Tooth For An Eye



Não houve este ano um álbum como Shaking The Habitual dos suecos The Knife. É certo que é um verdadeiro monumento musical e político que vale como um todo. Mas algumas das suas canções podem ser destacadas individualmente. Esta foi uma das poucas que chegaram a receber um teledisco (atento às mesmas demandas temáticas que o álbum seguia).

segunda-feira, dezembro 16, 2013

As figuras de 2013: The Knife


Os irmãos Karin e Olof regressaram este ano aos discos como The Knife, criando o sucessor do belíssimo Silent Shout, que tinham editado em 2006. Em Shaking The Habitual apresentaram uma visão diferente de uma música que saber ser coisa política, lançado questões como a igualdade de género, a igualdade de oportunidades ou a distribuição mais equitativa da riqueza mundial. O álbum é assim a materialização de um corpo de interesses que refletem uma maneira de estar no mundo e faz assim do disco uma criação com voz política. A isto podemos acrescentar a abordagem musical angulosa, áspera e desafiante. E uma expressão de todas estas ideias em palco que este ano passou por nós em Paredes de Coura.

Podem ler aqui a crítica ao álbum Shaking The Habitual
E podem ler a parte 1 e a parte 2 de uma entrevista deste ano com o grupo-

quinta-feira, setembro 19, 2013

Falemos então de género

Os The Knife deram o tema Full of Fire a Planningtorock (com quem tinham trabalhado já na ópera Tomorrow In A Year). O resultado deste diálogo surge no tema que agora se apresenta sob o título Let's Talk About Gender Baby, Let's Talk About You and Me. Aqui fica o teledisco.

quinta-feira, setembro 12, 2013

Em conversa: The Knife (2)

Completamos hoje a publicação da versão integral de uma entrevista com Karin e Olof Dreijer dos The Knife, que serviu de base a um artigo publicado no DN. 

No vosso trabalho sempre houve uma reflexão sobre as imagens pensadas para server uma música, e mais que nunca com ‘Shaking The Habitual’... Tanto nas fotos promocionais como nos espectáculos. Uma teórica disse um dia 'we're always in drag'. Inspirou-vos este conceito? 
K - Foi a Judith Butler quem disse isso. As suas ideias sobre artes performativas explicam tudo. A noção de que estamos sempre a interpretar. Estamos a interpretar o género... Jogamos com esta ideia.
O – Estas teorias ajudaram-nos a compreender as coisas, e a viver. E a saber que é uma escolha. Posso escolher como me vestir, como andar e como falar. Apesar de isso estar condicionado por outras coisas no nosso background social. Isso é muito uma peresença no espectáculo que fazemos. Olhamos para a body language e a maneira como estamos em palco e como isso pode ser interpretado [performed é a palavra que usa] em vez de pormos apenas uma percuca e escolhermos uma roupa que pertence a outro género que não o que temos biologicamente. Pensamos sobre isso.

Sobre o concerto. O que apresentaram na Shaking The Habitual Tour descontrói a ideia do 'concerto' tradicional... 
O – Muita da teoria queer ajuda-nos a ter uma visão queer do género mas também do próprio espectáculo em si mesmo. Penso como tornar queer o contexto e o cenário. Para dizer algo que tenha uma mensagenm sobre género é bom penesar no modo em que o fazemos. Estes assuntos estão assim no meio da música. Há algo muito presente na indústria musical quando perguntamos porque as plateias dos concertos têm 15 a 20 por cento de mulheres… E a resposta mais comum é que não pensam em género, mas na boa música. Na qualidade da música. Ou no que é comercialmente lucrativo. Depois creio que se torna importante ver as qualidades artísticas do que fazemos e de como é que isso se tornou socialmente construtivo ao longo do tempo, questionando assim tudo isto. As coisas tornam-as assim mais interessantes, porque se questiona o que é que é mais autêntico. As nossas estratégias podem passar então a ser pegar em coisas que as pessoas digam que pareçam ser de mau gosto ou não normativas no contexto da música (como por exemplo tirar influências da Broadway, do vaudeville, cabaret, o teatro físico, a pantomima). Coisas às quais as pessoas reagem logo com um “não”

Preocupa-vos a demanda por uma noção de autenticidade?
O - Não sei se sei o que é autêntico. E não sei se já consegui alguma maneira de usar essa palavra num contexto correto. Geralmente acredito mais em solidariedade no mundo. Mas creio que a palavra autêntico não é usada de modo a fazer a pessoa que tem menos poder possa passar a ter ainda menos poder.

Foi importante o trabalho na ópera ‘Tomorrow in a Year’ como porta para chegar a ‘Shaking the Habitual’? Ou seja, enquanto a busca de uma música, uma expressão de criação que envolve também uma busca performativa, para no fundo explorer e desenvolver um tema?
O – Creio que nos inspirou a trabalhar de forma mais conceptual. Foi interessante poder começar por ler e depois fazer música a partir dessas teorias. Mas deu-nos oportunidade para lermos coisas de áreas que nos interessam. Eu não estava muito interessado na geologia ou na biologia... Mas foi bom ler Darwin. E foi bom trabalhar com Mount Sims e Planningtorock.
K – Falámos muito sobre a ideia do progresso através dos tempos. Sobre escalas do tempo. Sobre evolução e de como as coisas mudam ao longo de milhares de anos. Isso é muito interessante. E compreendi que nada é constante. Tudo é evolução, tudo é desenvolvimento. E isso acaba por nos dar força e coragem neste trabalho que fazemos, nestas lutas feministas e socialistas. As coisas estão sempre a mudar em relação ao tempo. Precisamos de novas abordagens. Não podemos ficar aborrecidos neste trabalho se acompanhamos o que está a acontecer, porque está sempre a mudar.

O vosso trabalho em vídeo, a presença da música em filmes, sugere que possa haver aí um interesse pelo cinema ainda por explorar…
K – Eu tenho num grande interesse pelo cinema. E talvez, se viver o suficiente, gostaria de trabalhar em cinema também.

quarta-feira, setembro 11, 2013

Em conversa: The Knife (1)

Iniciamos a publicação da versão integral de uma entrevista com Karin e Olof Deeijer dos The Knife, que serviu de base a um artigo publicado no DN.  

Igualdade de género, distribuição equitativa da riqueza, um ambiente mais limpo, idênticas oportunidades para todos os cidadãos do mundo... O mundo está preparado para fazer das ideias que apresentam em 'Shaking The Habitual' uma realidade? 
Olof – Será que alguma vez vamos alcançar a igualdade de género? Temos de dizer que sim... Mas não sei como responder. Mas as pessoas tendem a esquecer que a luta por uma sociedade sem classes, não racista, com igualdade de género e não homofóbica não é uma coisa linear que evolua sempre num só sentido. Na verdade há avanços e recuos. Em algumas situações já se esteve melhor. Mas é importante continuar a lutar. Porque podemos obter direitos que perdemos num ano seguinte se, por exemplo, tivermos um governo de direita. Na Suécia desmantelámos o sistema de saúde nos últimos dez anos...

Um disco pode-nos fazer parar para pensar sobre estas questões concretas? 
O - É muito bom se fizer isso.  

Sentem falta de uma voz política em muita da música pop dos nossos dias? 
Karin – Há um grande problema na música de hoje. Está mais comercializada. Está mais ligara a interesses comercias. Muitos artistas têm patrocinadores, muitos colaboram com empresas. E isso mata a curiosidade na música. Faz com que os artistas deixem de achar que têm de ter responsabilidades. Falo da responsabilidade em usar liberdade de se poder falar sobre certos assuntos. A música está mais comercializada. E isso tem muito a ver com o facto das pessoas terem deixado de pagar pela música. Pagam antes às companhias de telecomunicações. As pessoas pagam os telefones e as companhias de comunicações, de certa maneira, criam a música. Gerem os festivais, editam a música, disponibilizam a música. Parece que a música tem de estar alinhada com os interesses das empresas de comunicação. E essa situação é muito estranha. As pessoas ficam até a pensar eu bom que é ter a música á borla, de não ter de pagar por ela. Mas não terão nova música.
O – Pagamos com o tempo que passamos a ver anúncios  

E podem os músicos viver fora desse circuito? A independência é possível? Independência artística e económica, entenda-se...
O – falamos a partir de uma situação muito privilegiada, porque podemos viver do que fazemos como músicos. Somos bastante conhecidos, por isso as salas e recintos onde tocamos são muito grandes e podemos receber dinheiro suficiente e assim ter uma existência autónoma. Mas por estarmos ativos num ambiente mainstream temos de lidar com a presença do capital, se patrocinadores... É uma luta diária tentar limitar a presença de patrocinadores nos palcos nos festivais, para que o público possa ver o espectáculo sem a presença de interesses comerciais. É difícil ser completamente autónomo.  

Muita desta industria é dominada pela presença do homem. Mas tentam também aí intervir... 
O – Este mundo mainstream e comercial é muito heterormativo e dominado pelos homens. Os festivais são diferentes entre si, mas não são um lugar seguro para toda a gente. Falo de pessoas queer. Dependendo do mood do dia sinto que é bom estarmos ali a fazer um espectáculo queer. Noutros dias pergunto a mim mesmo o que estamos ali a fazer, perante pessoas a rir. E não vamos mudar as opiniões daqueles tipos. Sei, pela nossa equipa técnica, que costumamos ter boas reacções por parte das equipas locais, que gostam de trabalhar connosco. Talvez haja aí uma mudança a começar a acontecer.  

A BD que juntam ao álbum fez com que os artigos publicados sobre o disco discutissem não apenas a música mas também os assuntos abordados. Fazem com que os media falem dos assuntos e as pessoas leiam...
K – Esperamos que sim...
O – É como temos trabalhado nos últimos anos. Convidamos pessoas de outros campos, mesmo fora da música, que também se interesses pelas temáticas queer, feministas e pelo socialismo. Liv Stromquist é a autora que criou aquelas discussões sobre finanças, economia, na BD.  

Como se interessaram por estes assuntos? 
K – Creio que foi aos poucos. Crescemos com um pai que tinha uma visão socialista e comunista das coisas. Daí começámos a pensar em questões de igualdade entre o homem e a mulher. Interessei-me depois pelo feminismo. Para mim começar este projeto foi uma maneira de combinar, de ler mais teorias sobre estes assuntos e combina-las com a música. Foi a melhor combinação que me ocorreu. O Olof teve a estudar gender studies na universidade. Pegámos na sua bibliografia e comecei também a ler. Foi muito bom encontrar teorias por detrás destas ideias. Foi bom poder estruturar essas ideias.

sexta-feira, julho 05, 2013

E agora ao vivo....

Mais um teledisco para mais um tema de Shaking The Habitual, dos The Knife. Desta vez com Raging Lung (para já apenas mostrando um excerto do tema), que aqui surge em imagens captadas ao vivo no Hangaren Subtopia em Estocolmo e sob realização do coletivo Sorklubben.

terça-feira, maio 14, 2013

Imagens de concerto dos The Knife na Pitchfork

Foto: Erez Avissar
A Pitchfork apresentou uma seleção de imagens de um concerto da presente digressão dos suecos The Knife. O concerto teve lugar no Columbiahalle e as fotos que ali podemos encontrar são assinadas por Erez Avissar. Podem vê-las não apenas na notícia que o site publica, mas também numa galeria disponível no slideshow à parte e na própria página de Facebook da Pitchfork.

Podem ver aqui a notícia.
E aqui têm acesso ao slideshow.

terça-feira, abril 23, 2013

Uma animação (em fundo rosa)

Esta é já a terceira canção do alinhamento de Shaking The Habitual, dos The Knife, a conhecer imagens concebidas para a acompanhar. Eis A Cherry On Top. Podermos chamar-lhe teledisco? Talvez sim. Trata-se de uma animação minimalista, assinada por Martin Falck.

quarta-feira, abril 10, 2013

A "narrativa" segundo os The Knife

Pode um discurso promocional ser expressão natural de uma obra de arte? O filme de 13 minutos que os suecos The Knife propõem para apresentar o seu novo álbum Shaking The Habitual é um belíssimo exemplo de uma ideia de cinema de "propaganda" ao serviço da música. E podemos usar a expressão "propaganda" numa série de sentidos, da leitura mais imediata que decorre da vontade de dar a conhecer um produto (é um álbum, e certamente um dos melhores que o ano nos vai dar), à que reconhecemos numa tradição antiga da sétima arte sempre que uma ideologia as imagens para criar as suas "narrativas"... Olof e Karin vestem aqui duas das suas máscaras para nos dar a conhecer não só as ideias que presidiram à criação da sua música como todo o ideário político que faz deste disco um verdadeiro manifesto pela abolição da riqueza global. O filme foi realizado por Marit Östberg, que recentemente dirigiu o teledisco do tema Full of Fire, o primeiro single que nos foi dado a conhecer do alinhamento deste novo álbum.

segunda-feira, abril 08, 2013

Novas edições:
The Knife, Shaking The Habitual

The Knife 
“Shaking The Habitual” 
Rabid / Popstock 
5 / 5 

Feitas as contas reparamos que passaram quase sete anos desde que os The Knife lançaram (o sublime) Silent Shout e, com ele, uma das mais importantes contribuições da década dos noughties para a história da canção servida por ferramentas electrónicas. Pelo caminho, e além de lançarem o registo ao vivo Silent Shout: A Visual Experience (ainda em 2006), Karin Dreijer Andsersson editou um álbum pelo projeto Fever Ray, o irmão Olof Dreijer tirou um curso em estudos de género na Universidade de Estocolmo e, juntos, apresentaram em 2010, a ópera Tomorrow In a Year. Parte destas experiências refletem-se agora na construção de um álbum que, apesar de cruzar afinidades pontuais com qualquer destes momentos, na verdade olha adiante e propõe um dos mais radicais (mas consistentes) ensaios sobre a forma da canção que temos escutado nos últimos tempos, afirmando-se Shaking The Habitual como um potencial candidato a, num futuro próximo ser, precisamente pelo seu não alinhamento por correntes em voga ou modas, um importante retrato, distinto e pessoal, dos ecos dos tempos que vivemos. Se tematicamente neste disco que pede o título emprestado a Foucault as canções traduzem uma focagem de interesses nas questões da identidade de género, do nosso comportamento como sociedade e no ambientalismo, musicalmente o silêncio de seis anos dos The Knife acaba rompido por algo que é todavia mais que um mero compromisso entre a escrita de canções (levada a tão distinto patamar em Silent Shout) e a criação de acontecimentos de mais intensa carga cénica que havíamos encontrado na ópera Tomorrow In a Year (e resta, sublinhe-se, conhecer a concretização visual, ao vivo desta música para termos noção total das sua ambição artística). Shaking The Habitual é, na verdade, uma experiência que reside nos antípodas do melodismo pop tão bem explorado e moldado às características plásticas da voz de Karin e às visões de sonoridade de Olof entre Deep Cuts e Silent Shout. Assim como segue um caminho distante da ordenação mais plácida de elementos que nos faziam evocar a figura de Darwin em Tomorrow In A Year. A música, intensa, angulosa e por vezes mesmo aparentemente desconfortável (sensação que a progressiva habituação resolve), transcende o espaço das electrónicas para acolher também outras fontes de som, nomeadamente percussões, num registo desafiante que pode ter relativo paralelo na forma como a obra recente de Scott Walker tem promovido a integração de outras fontes de acontecimentos sonoros no seu corpo musical. A escrita procura depois romper os espartilhos normativos da pop, ensaiando deambulações mais longas, a construção de ambientes e espaços instrumentais. A Tooth For An Eye ou Full of Fire (que chega a citrar o clássico Let’s talk About Sex das Salt’N’Pepa para lançar a agenda temática “let’s talk about gender”) são acontecimentos ásperos, estranhos, inicialmente talvez mesmo incómodos, mas afinal profundamente sedutores. Escutemos depois o gélido Old Dreams Wanting To Be Realized, que parte das periferias do silêncio para dele fazer emergir, ao cabo de 19 minutos, uma inquietante sensação de desorientação (como se fosse impossível materializar e arrumar os sonhos de que se fala). Como contraste encontramos em Whithout You My Life Would Be Boring e, sobretudo, em Wrap Your Arms Around Me os ecos da genética pop do passado recente do grupo. A pulsão experimental que por vezes cativa alguns dos mais visionários (e musicalmente dotados) dos nomes nascidos em terreno popular conhece aqui mais um notável episódio. A sua história é antiga, passando pelas desafiantes experimentações sónicas que os Beatles tatearam no clássico Sgt. Peppers (não sendo de admirar até a representação de Stockhausen na “galeria” de imagens da capa do disco), pela colaboração de Frank Zappa com Pierre Boulez (em Boulez Conducts Zappa: The Perfect Stranger), pelas deambulações mais recentes de Scott Walker, os dois primeiros ciclos de canções de Owen Pallett (ainda enquanto Final Fantasy) ou algumas das fugas para lá da pop da islandesa Björk (e não foi por acaso que John Tavener compôs uma peça vocal para a sua voz). Mais que em Tomorrow In A Year, uma experiência áudio-visual que era desde logo apresentada como uma ópera (e é uma das mais interessantes expressões contemporâneas desse grande universo musical), Shaking The Habitual propõe um novo olhar sobre a canção, a sonoridade, num quadro temático consistente. Não é pêra doce. Pede tempo e dedicação. Pode não ser uma meta (e ser ainda parte de um caminho). Poucos discos olham para o presente sob esta capacidade de refletir sobre o que existe (nos temas) e projetar caminhos a seguir (nas formas). No fim aponta a novos horizontes e faz-nos acreditar que esta viagem pode valer a pena... Pela minha parte, embarquei. Até porque, de vez em quanto, é preciso embarcar em algo que faça “abanar” o habitual.

segunda-feira, março 11, 2013

No ginásio, com os The Knife

O regresso aos discos dos The Knife representará certamente um dos acontecimentos maiores de 2013. E aos poucos estamos a descobrir o que o álbum nos propõe. Agora é a vez de descobrir A Tooth For An Eye, tema para o qual foi rodado um teledisco, com realização assinada por Roxy Farhat e Kakan Hermansson.

segunda-feira, janeiro 28, 2013

O regresso dos The Knife

A dupla sueca The Knife regressa aos discos este ano com aquele que será, finalmente, o sucessor do muito aclamado Silent Shout. Para já, como cartão de visita para um triplo-álbum com perto de 100 minutos de música, apresentam este Full of Fire, acompanhado por um teledisco criado por Marit Ostberg.