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domingo, dezembro 01, 2024

Roxy Music, 50 anos depois

[Eveline Grunwald e Constanze Karoli fotografadas por Eric Boman]

Há nos Roxy Music uma perene ambiguidade, algures entre a lógica programática de uma música de sofisticada ordenação e o pressentimento de uma primitiva desordem libidinal — a primeira sublinhando o seu classicismo, a segunda sinalizando uma rebeldia perversamente aristocrática.
Exemplo maior será o álbum Country Life (o título tem logo qualquer coisa de paródica sugestão civilizacional), lançado há 50 anos — celebremos o aniversário escutando (e lendo) Triptych.
 
[Eveline Grunwald e Constanze Karoli fotografadas por Eric Boman]

segunda-feira, maio 05, 2014

Novas edições:
Roxy Music, Showing Out

Roxy Music
“Showing Out”
Easy Action
4 / 5

A edição de gravações de arquivo de gravações feitas começa a ganhar hábitos de rotina. E se há bem poucas semanas vimos chegar a disco o registo de um concerto que Patti Smith deu sob a atenção dos microfones de uma estação de rádio em meados dos anos 70, agora é a vez de ver a luz do dia a memória de uma noite da digressão que assinalou o regresso à atividade dos Roxy Music (após breve pausa) em finais dos anos 70. Animados pela descoberta de novos horizontes (que a versátil paleta instrumental do grupo soube valorizar), os Roxy Music tinham apresentado em Manifesto (editado em março de 1979) uma visão pop nova e desafiante, distante dos tons do glam rock de outros tempos e pontualmente atenta à presença do disco, e mais que nunca sob uma evidente liderança de Bryan Ferry. O álbum (que surgira após um hiato de quatro anos durante o qual os músicos se tinham concentrado em projetos a solo) devolveu o grupo também à estrada. E o concerto que agora surge em disco sob a designação Showing Out teve lugar durante a digressão que acompanhou o lançamento do álbum, captado em concreto numa noite em Oakland, a gravação surgindo originalmente destinada a uma emissão de rádio. O alinhamento destaca a presença das novas canções, mas junta o que então eram já os “clássicos” dos primeiros anos de vida do grupo, não faltando aqui os “inevitáveis” Ladytron, Love Is The Drug, A Song For Europe, Do The Strand ou Re-Make, Re-Model. Aqui encontramos uma banda reanimada pela reinvenção do rumo da sua sonoridade, um Bryan Ferry em pico de forma e um lote de canções que não deixam dúvidas sobre o facto de esta ter sido uma das bandas com mais vincada personalidade entre as muitas que surgiram nos anos 70.

sábado, fevereiro 09, 2013

O jazz segundo Bryan Ferry

Surpresa? Não exactamente: afinal de contas, se nada mais soubéssemos de Bryan Ferry & Roxy Music, não nos custaria acreditar que a sua idade de ouro teria acontecido algures entre os dois conflitos mundiais, na agitação dos roaring twenties... Pois bem, tomando a sua própria mitologia à letra, Ferry constituiu uma nova banda, contando com a colaboração preciosa dos arranjos do pianista Colin Good. E o resultado aí está: The Bryan Ferry Orchestra toca The Jazz Age. Que é como quem diz: uma série de temas emblemáticos do património do cantor e dos Roxy Music (Avalon, Slave to Love, Virginia Plain, etc.), em ambiente sonoro de Big Band — para ouvir no site da NPR.
Aqui em baixo, um video promocional de The Jazz Age. Para recordar, mais em baixo, está o teledisco de Slave to Love (1985), assinado por Jean-Baptiste Mondino.



sexta-feira, novembro 23, 2012

Novas edições:
Roxy Music,
The Complete Studio Recordings


Roxy Music 
“The Complete Studio Recordings” 
EMI Music 
5 / 5

Entre as forças maiores nascidas do panorama pop/rock dos anos 70 os Roxy Music moram junto das que conseguiram ser, ao mesmo tempo artística e comercialmente consequentes, vários sendo os episódios da sua carreira que geraram importante descendência. Surgiram em clima glam rock, mas tal como David Bowie, os seus horizontes cruzavam outras linguagens e ambições, a vivência art school de alguns dos seus elementos tendo condicionado os desejos de não fechar a música no plano das formas existentes, um sentido de demanda plástica cedo lançando desafios que os discos tão bem registaram. Podemos delimitar quatro grandes etapas na obra dos Roxy Music. Uma primeira, entre 1972 e 73, durante a qual Brian Eno integrou a formação da banda, imprimindo uma visão de saudável inquietude que soube aliar a tecnologia disponível à busca de novas formas para entender a construção dos ambientes e das canções. Desavenças no plano empresarial ditaram o afastamento de Brian Eno, deixando a Bryan Ferry a condução clara dos destinos da banda, uma segunda etapa de procura de caminhos pós-glam desenhando-se então entre 1974 e 76. O grupo separou-se então, voltando a reunir em 1978 sob nova orientação, partilhando inicialmente algum interesse pela assimilação de elementos escutados no disco, depois afinando progressivamente um sentido de elegância e sofisticação que culminaria no álbum Avalon, de 1982. A quarta etapa é a que o grupo vive desde o reencontro em 2001, ocasionalmente reunindo-se para concertos, o sonho de um eventual novo álbum de originais parecendo cada vez menos uma possibilidade. A caixa editada neste 2012 que assinala os 40 anos sobre o início da vida da banda recorda a integral da sua obra em estúdio e, por isso, encerra as memórias gravadas entre 1972 e 82 que recordam as suas três primeiras fases de vida (a quarta, apesar de ter gerado gravações de palco, não foi ainda criativamente consequente ao ponto de nos dar temas inéditos). Cronologicamente arrumados, apresentados em miniaturizações dos álbuns originais, os álbuns contam-nos uma história que parte ao som do visionário Roxy Music (1972) e do seu sucessor natural For Your Pleasure (1973). Avança pela memória de álbuns que aferiram em volta da personalidade de Ferry uma visão pop mais clacissista e sofisticada entre Stranded (1973), Country Life (1974) e Siren (1975), assinala o reencontro com o intrigante, mas novamente desafiante Manifesto (1979) e arruma o atingir de uma linguagem mais polida em Flesh + Blood (1980) e Avalon (1982). Deixando de lado os registos ao vivo Viva! (1976) e The High Road (EP de 1983), como de resto o próprio título da caixa o sugeria (afinal, é uma integral de estúdio!), esta edição completa a história com um CD duplo onde recolhe os temas editados entre os lados A e B dos singles e máxi-singles que o grupo editou entre Virginia Plain (1972) e Take A Chance With Me (1982). Falta-lhe um bom texto histórico. Mas convenhamos que o livro Unknown Pleasures, de Paul Stump (editado em 1988), já deu conta desse mesmo recado.

sábado, novembro 10, 2012

O primeiro single

Discografia Roxy Music - 2
'Virginia Plain' (single) 1972

Contra a lógica mais habitual que primeiro apresenta o cartão de visita a 45 rotações e só depois o álbum, os Roxy Music optaram por uma estratégia diferente. Estrearam-se com um álbum em junho e só depois colocaram em cena um single, que na verdade originalmente nem constava do alinhamento álbum (surgindo mais tarde em algumas prensagens). Virginia Plain aproximava, mais que nas faixas do álbum de estreia, uma visão pop da pulsão experimental que fazia a alma da música do grupo. E destacava a presença dos sintetizadores de Brian Eno. Deu-lhes o seu primeiro êxito e tornou-se num clássico de referencia tanto para a história da banda como para a memória do glam rock.

Podem recordar aqui uma apresentação televisiva, na época.

sábado, setembro 29, 2012

Um ícone dos anos 70

Discografia Roxy Music - 1 
'Roxy Music' (album), 1972

Iniciamos hoje novo perscurso por uma discografia integral, revisitando desta vez a obra dos Roxy Music, que se estrearam em disco há precisamente 40 anos com um álbum ao qual chamaram, muito simplesmente, Roxy Music. Num ano em que Bowie lançava Ziggy Stardust e os T-Rex viviam já os efeitos mediáticos do álbum Eletric Warrior editado no ano anterior, os Roxy Music revelavam ser uma das mais sofisticadas e visionárias propostas do glam rock, género ao qual o grupo surge assim associado. Cruzando linhas características da música popular com ideias experimentais – a presença das eletrónicas de Brian Eno sendo aqui uma presença determinante – o álbum de estreia dos Roxy Music vive sobretudo encantado por citações cinematográficas, entre as letras e ambientes surgindo referências a filmes como Casablanca, de Michael Curtiz, ou Breve Encontro, de David Lean. Imediatamente abraçado pela crítica, e sem um single para o acompanhar (a edição original do LP, em junho de 1972, não incluia Virginia Plain, que nessa altura nem sequer estava gravada), Roxy Music fez-se um inesperado caso de successo, o tempo elegendo-o como um clássico maior da música dos anos 70. A sua memória projeta-se em inúmeras criações posteriores. A banda sonora de Velvet Goldmine (de Todd Haynes), por exemplo, revisita e reinventa algumas das suas canções. David Bowie mais tarde recriou If There Is Something, com os Tin Machine. E os Ladytron devem o seu nome à canção com o mesmo título que descobrimos no alinhamento do disco. A capa, que usa uma foto da modelo Kari-Ann Muller, tirada por Karl Stoecker, não só se tornou num ícone pop como definiu um paradigma pelo qual responderia a grande parte das posteriores capas de discos dos Roxy Music.

domingo, setembro 02, 2012

Nos 40 anos de Ziggy Stardust (4)

Continuamos a publicação de um texto que assinala os 40 anos da edição de 'The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders' de David Bowie e que procura verificar que impacte teve o disco no panorama social e artístico do seu tempo. O artigo foi originalmente publicado a 30 de junho de 2012 no suplemento Q. do DN com o título 'Como um 'alien' mudou Bowie e ajudou a transformar a sociedade.

Para ser uma estrela temos de nos comportar como se o fossemos de verdade. Esta era a ideia defendida por Tony DeFries, o manager de Bowie e rosto da MainMan. E é com Ziggy que se manifesta. A dada altura chegou a haver pessoas contratadas pelo management para assegurar que as portas estariam abertas a Bowie onde quer que fosse. “Tinha guarda costas e viajava por todo o lado numa limousine. As fotografias eram controladas e havia planos para reduzir o acesso da imprensa a David Bowie. Tudo isto numa altura em que, para a maioria do mercado dos compradores de discos,  Bowie era um ninguém”. (36) Mas com um disco que ajudaria este teatro a transformar um sonho num mito. Mas que chegaria a iludir o próprio Bowie, a ponto de a dada altura quase terem desaparecido as fronteiras entre ele mesmo e o Ziggy que encarnava em disco e no palco. “Ele transformou-se mesmo naquela personagem, mas até lhe foi um processo natural, porque ele transformou-se mesmo numa estrela”, comenta Ken Scott ao DN. É por isso difícil distinguir “o que era Ziggy e o que era o David”. Embora, naturalmente, “ambos fossem ambos o David”. Eram “aspetos diferentes da sua personalidade”.

Mas Bowie não estava só. E se Marc Bolan antecipara em 1971 algumas das ideias e imagens com afinidades com o que Ziggy depois representaria, em 1972 a estreia dos Roxy Music somava aos dois fundadores do glam rock uma outra importante peça num jogo que definiria um dos grandes focos de invenção musical (em esfera pop) dos anos 70.

Nicholas Pegg vê como sendo um “erro comum” a tantas outras escolas criativas o assumir de que o glam rock seria “uma espécie de movimento”. Se havia um objetivo constante, diz, “era o da diversificação da cultura e o desmantelar de lealdades tribais”. Bowie explica no livro de Pegg que tanto ele e outros pioneiros do glam, como os Roxy Music, tentaram “alargar o vocabulário do rock”. E continua: Estávamos a tentar incluir aspetos visuais na nossa música, que partiam das belas artes e de interesses pelo cinema e pelo teatro. No meu caso introduzi elementos dada e uma enorme quantidade de elementos da cultura japonesa. Creio que nos tomámos por exploradores vanguardistas, os representantes de uma forma embrionária de pós-modernismo. O outro tipo de glam rock era diretamente emprestado da tradição rock, as roupas estranhas e tudo mais. Para ser honesto, creio que éramos muito elitistas. Não posso falar pelos Roxy Music, mas eu era um grande snob. Acredito que havia esses dois tipos de glam, um alto e outro situado mais abaixo. Penso que estávamos mais na primeira categoria” (37)

Em Glam! Bowie, Bolan and The Glitter Revolution, de Barney Hoskins (livro com prefácio do realizador Todd Haynes, o autor de Velvet Goldmine) lembra que o glam rock chegou “numa altura em que a pop gritava por uma nova vaga musical, um alvoroço adolescente para rivalizar aquele com o que os irmãos e primos mais velhos tinham sido abençoados e que tinha desaparecido” (38). Mas mais que os fenómenos pop que o antecederam, o glam rock dominou o Reino Unido [chegando depois a outras paragens] de um modo que era “simultaneamente inocente e moralmente subversivo”. Barney Hoskins sublinha que “questionou noções de verdade e de autenticidade, especialmente nas áreas da sexualidade. Turvou as divisões entre straights e queers, convidando rapazes e raparigas a experimentar imagens e papéis numa utopia sem género feita de eyeliner e botas com plataformas (39)

O debate divide apenas a visão sobre quem teria sido o grande arquiteto da ideia. Para Mick Rock, “Se David Bowie era o Jesus Cristo do glam, Marc Bolan era o seu S. João Batista” (40) Nicholas Pegg justifica que “não pode ser ignorado que Marc Bolan tomou o passo decisivo para lá do folk rock acústico para uma pop elétrica e garrida e com brilhantina um ano antes de Bowie”. Mas, acrescenta que também não nos podemos esquecer, que o fez com a ajuda de um Tony Visconti pós-The Man Who Sold The World. Pegg lembra ainda que o próprio Visconti terá defendido que Bolan e Bowie semearam juntos o movimento.

O certo é que, como defende Ken Scott, Ziggy Stardust tornou-se uma referência. “Mas depois vêm o Pin Ups e Aladdin Sane, que fazem um ciclo”. O produtor lembra que, criado no auge da fama do fenómeno Ziggy, o disco de versões que ganharia forma em Pin Ups “foi um álbm estranho”. E surgiu “quando tudo começou a desmoronar em volta da primeira personagem do David: o Ziggy”. Ken Scott recorda que eram “uma boa equipa, mas estava a desmoronar-se”. Tinham “já trabalhado o suficiente” e precisavam de mudança. “E a mudança começou a chegar com o Pin Ups, que, não sendo má, não foi a mais agradável das minhas experiências de trabalho com o David. Há depois faixas de que até gosto mais no Aladdin Sane, mas como álbum o Ziggy funciona melhor. Leva-nos numa viagem”. Mesmo assim o co-produtor desse álbum mítico não entende como se transformou num ícone da história da música popular. “Não sei porque estamos a falar deste disco 40 anos depois e não dos Roxy Music ou dos T-Rex. Resultou!”, reconhece.

Ziggy Stardust vai ficar na história como “a melhor e mais sucinta das criações de Bowie”, clama o autor de Strange Fascination, que reconhece, e com razão, que o seu melhor trabalho pode ser encontrado noutros álbuns e que, até mesmo em palco Ziggy foi depois ultrapassado por feitos de digressões subsequentes. “Mas em nenhuma outra altura Bowie foi tão fácil de cantarolar como no início dos anos 70 e o interesse dos media continua a focar obstinadamente esta etapa pop melódica de Bowie”. (42) Como toda a melhor pop, como descreve ainda o mesmo autor, “o trabalho de Bowie transformou o mundano e tornou difusas as fronteiras entre as experiências vividas e as visões ficcionadas de si mesmas. Foi esta crise, esta experiência extremamente inteligente sobre o que podíamos entender como realidade ou ficção” (43), que levou depois Bowie a patamares ainda mais altos nos anos seguintes e dele faria, mais que um ícone de uma época, uma referência maior na história da cultura popular.

36 - in The Complete David Bowie (Reynolds & Hearn, edição revista em 2004), pág 273
37 – ibidem
38 – Ver Glam! Bowie, Bolan and the Giltter Rock Revolution, de Barney Hoskins (Faber and Faber, 1998), pág 5
39 – ibidem, pág 6
40 - in The Complete David Bowie (Reynolds & Hearn, edição revista em 2004), pág 278
41 - in The Complete David Bowie (Reynolds & Hearn, edição revista em 2004), pág 274
42 - in Strange Fascination, de David Buckley ( Virgin Books, 1999), pág 113
43 – ibidem, pág 118

domingo, junho 17, 2012

Álbum dos Roxy Music faz 40 anos


Os Roxy Music editaram o seu primeiro álbum há precisamente 40 anos. Chamou-se simplesmente Roxy Music e, numa formação que somava então o esforço criativo de Bryan Ferry e Brian Eno entre os demais elementos do grupo, traduz uma visão que parte das linguagens pop/rock e de um interesse plástico por outras formas para criar um conjunto de canções que fez a diferença e que ajudaria a definir os paradigmas de referência não apenas do glam rock, mas de uma certa atitude art rock que aqui tem uma das suas obras maiores.

A propósito dos 40 anos de Roxy Music escrevi um texto no DN que podem ler aqui.

sexta-feira, janeiro 27, 2012

Nos 40 anos dos Roxy Music


Os 40 anos dos Roxy Music vão ser assinalados de várias formas ao longo de 2012. Uma das primeiras ações será a edição de uma integral da sua obra numa caixa que juntará 8 CD (os álbuns de originais, todos com extras) e quatro DVDs. Os DVDs não correspondem a arquivos vídeo, mas a versões de alta definição do som dos oito álbuns. Com o título Roxy Music: The Complete Studio Recordings 1972-1982, a caixa tem edição marcada para 2 de Abril.

Podem ver aqui o alinhamento completo desta caixa.