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terça-feira, fevereiro 07, 2023

A vida depois da morte do cinema

A Árvore da Vida (2011), ou a condição humana do cinema

O cinema está a morrer, ferido por muitas formas de mercantilismo? Talvez, mas os filmes sobrevivem — este texto foi publicado no Diário de Notícias (22 janeiro).

Que aconteceu no cinema ao longo da segunda década do século XXI? Continuando a sua tradição de organizar as memórias cinéfilas por décadas, a editora Taschen lançou recentemente o volume 100 Movies of the 2010s. A série de livros, sempre com coordenação de Jürgen Müller, chega, assim, ao décimo título, completando o balanço de cem anos de filmes a partir dos anos 20 do século passado (a publicação não seguiu a ordem cronológica, tendo começado, em 2001, com o volume dedicado aos anos 90).
Como acontece face a qualquer lista, é sempre possível fazer um inventário dos títulos que faltam — entenda-se: dos títulos que “alguém” entende que faltam, na certeza de que esse “alguém” não possui a razão de uma lei inquestionável. Por mim, então, atrevo-me a perguntar como é possível compreender as dinâmicas dos anos evocados (2011-2020) sem citar, pelo menos, um filme de Jean-Luc Godard, a começar pela prodigiosa experiência com o 3D que é Adeus à Linguagem. Ou que sentido faz evocar “modernices” pretensiosas como A Lagosta, de Yorgos Lantimos, ao mesmo tempo que verificamos que entre os ausentes estão autores da dimensão de Pedro Costa, Pablo Larraín ou Steven Spielberg?
Enfim, não deitemos fora a cinefilia com a água das listas e sublinhemos o essencial: 100 Movies of the 2010s é um guia estimulante para reavaliarmos a pluralidade de um tempo de produção em que, dos criadores aos espectadores, conscientemente ou não, todos fomos (e continuamos a ser) protagonistas de uma avalanche de mudanças.
A conjuntura pode resumir-se através da dicotomia, tão dramática quanto sugestiva, que todos passámos a conhecer. A saber: a coexistência, nem sempre pacífica, entre o circuito tradicional das salas e as alternativas de consumo caseiro — a década ficou marcada, precisamente, pelas convulsões dessa coexistência.
Assim se escreve numa breve, mas muito concisa, apresentação: “Mesmo antes de os habituais intervalos entre o lançamento nas salas e posteriores formas de distribuição se terem tornado ainda mais pequenos, os filmes viram-se muitas vezes reduzidos à condição de mero “conteúdo”, para serem vistos através de um click em ecrãs coloridos.” Daí a angustiada interrogação: “Será que tudo o que resta do cinema é o culto da celebridade, os blockbusters e os efeitos visuais fabricados por computador?”
Apesar de tudo isso (ou através disso tudo), a resposta é negativa. Entenda-se: o que resta do cinema possui a energia positiva inerente a qualquer crise artística, mesmo quando, como é o caso, contaminada por muitos valores predominantemente industriais e comerciais. Se quisermos adoptar a ironia de uma célebre frase de Godard, cada um de nós pode mesmo dizer: “Aguardo a morte do cinema com optimismo.” Sem esquecer que, também no cinema e nas suas histórias, não há axiomas mágicos nem definitivos — a frase, convém lembrar, pertence a uma resposta dada a um inquérito sobre o futuro do cinema francês, organizado pelos Cahiers du Cinéma em… 1965.
Os filmes resistem. Eis a certeza que não podemos nem devemos banalizar, mesmo quando reconhecemos que, face à nossa fraqueza educacional, as gerações mais novas foram (e continuam a ser) massacradas pela ideologia de um marketing transnacional que reduz a percepção do cinema a uma acumulação pueril de proezas técnicas. Mais do que isso: o cinema é frequentemente apresentado — e, por consequência, vivido — como uma coleção mais ou menos espectacular de “eventos” sustentados por gigantescas promoções, não uma paisagem de narrativas. O que, bem entendido, define uma concepção mercantil das artes que afecta muito mais do que o cinema — grande questão política (e para os protagonistas da cena política).
Aquilo que resiste nos filmes começa (ou acaba) por ser um insubstituível princípio ético: o valor humano das narrativas, ou seja, o valor narrativo das personagens. O exemplo está na capa de 100 Movies of the 2010s: aí encontramos a imagem manipulada, mas belíssima, de Joaquin Phoenix no filme Joker (2019), de Todd Phillips — demasiado humanos, actor e personagem transcendem as fronteiras do próprio factor humano, afirmando-se como entidades que só existem no cinema, pelo cinema, através do cinema.
Afinal de contas, por aqui passam títulos tão especiais como A Árvore da Vida (2011), de Terrence Malick, Amor (2012), de Michael Haneke, Chama-me pelo Teu Nome (2017), de Luca Guadagnino, Linha Fantasma (2017), de Paul Thomas Anderson, ou Mank (2020), de David Fincher. Através do génio de tais filmes, diluem-se as fronteiras geográficas e as diferenças entre os respectivos modos de difusão.
Sem esquecer Era uma vez em Hollywood (2019), de Quentin Tarantino, filme que, no prefácio, Jürgen Müller e Philipp Bühler elegem como símbolo das certezas e ambiguidades de uma década em que o cinema, mais do que nunca, se viu compelido a reavaliar os seus modos de ser e viver, talvez morrer. Vale a pena citá-los: “A verdade do cinema é artificial. Tem que ser criada. E ainda assim, se aceitarmos a motivação paradoxal que determina o filme, então o cinema acaba por estabelecer uma conexão íntima com as nossas vidas porque as nossas vidas já são um filme.”

sábado, janeiro 11, 2020

10 filmes que marcaram a década [9]


[ A Rede Social ] [ A Árvore da Vida ] [ Adeus à Linguagem ] [ Cavalo Dinheiro ] [ Silêncio ] [ Paraíso ]
[ Jackie ] [ O Outro Lado do Vento ]


HAPPY END (2018), de Michael Haneke


A família tradicional e o fascínio dos telemóveis: eis duas componentes sociais cuja conjugação, de acordo com muitas formas de publicidade, define a nossa utopia de felicidade. Sob o olhar relutante de Michael Haneke, nada é tão simples, quanto mais não seja porque aceitamos viver em muitas formas de “comunicação” que dispensam os valores mais básicos da nossa condição humana. Poucos filmes souberam, como este, expor as tragédias que brotam da banalidade do quotidiano.

sábado, janeiro 19, 2019

História(s) de violência

O tema da violência ao longo da história do cinema é pretexto para um ciclo no Espaço Nimas (até 29 Janeiro): de clássicos como Scarface, o Homem da Cicatriz ou O Silêncio dos Inocentes até raridades como Cães Danados — este texto foi publicado no Diário de Notícias (17 Janeiro).

Convenhamos que não será possível fazer uma história das formas de representação da violência em cinema através de oito filmes... Seja como for, o ciclo “Uma história da violência (no cinema)”, além de ser apresentado com um subtítulo prudente (“alguns exemplos”), possui a virtude de contrariar o consumo passivo, automático e “pipoqueiro”. E se é verdade que os ciclos temáticos estão a regressar a alguns sectores da exibição cinematográfica, tanto melhor!
Os filmes a passar no Espaço Nimas (sempre às 18h15) são suficientemente díspares para que evitemos qualquer generalização temática, descritiva ou interpretativa. O mais recente da selecção — O Capitão (2017), de Robert Schwentke — lembra-nos mesmo que não há uma definição absoluta, muito menos determinista, da violência: afinal de contas, Schwentke filma um soldado alemão que, no final da guerra, se transfigura (violentamente) porque começa a usar uma farda de... capitão.
Alguns títulos transportam o rótulo mítico de “clássicos”, até porque se inscreveram no imaginário popular como exercícios de confronto com as manifestações mais radicais, porventura mais irracionais, da violência. São eles: Massacre no Texas (1974), de Tobe Hooper, O Silêncio dos Inocentes (1991), de Jonathan Demme, e Cães Danados (1992), de Quentin Tarantino.


No centro do ciclo surge Saló ou os 120 Dias de Sodoma (1975), título final de Pier Paolo Pasolini, deslocando a obra do Marquês de Sade para o contexto da República de Salò, na zona controlada pelos fascistas nos anos finais da Segunda Guerra Mundial. Filme difícil de enfrentar e compreender (falo por mim, antes do mais), trata-se de um dos exemplos mais elaborados, e também mais perturbantes, da capacidade do cinema nos fazer sentir como o exercício do poder envolve sempre alguma forma de hierarquização dos corpos — a sua herança política e pedagógica permanece essencial.
A produção mais antiga a apresentar é Scarface, o Homem da Cicatriz (1932), com Paul Muni sob a direcção de Howard Hawks, por certo um dos momentos mais emblemáticos na história dos gangsters em cinema. Há ainda Brincadeiras Perigosas (1997), de Michael Haneke, autor cuja obra é toda ela um conjunto de variações sobre o(s) desejo(s) de violência, sobrando o momento mais insólito: Cães de Palha (1971), de Sam Peckinpah.
Porquê insólito? Porque, infelizmente, o nome de Peckinpah quase foi rasurado da actualidade cinematográfica — nos canais de televisão, por exemplo, os seus filmes são presença rara. Encenando o sofrimento de um casal (Dustin Hoffman/Susan George) assediado por um bando de malfeitores na sua casa de campo, Cães de Palha talvez não seja um dos melhores filmes de Peckinpah. Não possui, pelo menos, o requinte formal de Os Pistoleiros da Noite (1962) ou A Quadrilha Selvagem (1969). Ainda assim, pode ser uma excelente via de entrada no universo de um dos autores que, ao longo das décadas de 60/70, mais longe levou a releitura crítica do imaginário (bélico) dos EUA — também ele merece um ciclo.

* * * * *
PROGRAMA

17 JAN
FUNNY GAMES / BRINCADEIRAS PERIGOSAS, Michael Haneke (1997)
18 JAN
RESERVOIR DOGS / CÃES DANADOS, Quentin Tarantino (1992)
21 JAN
DER HAUPTMAN / O CAPITÃO, Robert Schwentke (2017)
22 JAN
SALÓ OU OS 120 DIAS DE SODOMA, Pier Paolo Pasolini (1975)
24 JAN
SCARFACE, O HOMEM DA CICATRIZ, Howard Hawks (1932)
25 JAN
THE TEXAS CHAIN SAW MASSACRE / MASSACRE NO TEXAS, Tobe Hooper (1974)
28 JAN
STRAW DOGS / CÃES DE PALHA, Sam Peckinpah (1971)
29 JAN
THE SILENCE OF THE LAMBS / O SILÊNCIO DOS INOCENTES, Jonathan Demme (1991)
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NIMAS / Diariamente às 18h15 / Bilhetes: 6€ / Classificação: M/18

domingo, janeiro 06, 2019

10 filmes de 2018 [8]


* HAPPY END, de Michael Haneke (Áustria)

Chama-se Eve (notável interpretação de Fantine Harduin, uma das grandes actrizes do ano). No seu olhar firme, e também na fragilidade da sua pose, podemos ler, não a clássica revolta juvenil contra os adultos, mas algo de incomparavelmente mais perturbante: o triunfo de uma indiferença que os adultos não contrariam, antes criam, integram e exponenciam. Localizado no norte de França, perto do imenso campo de refugiados que ficou conhecido como "Selva", este é um drama familiar que Haneke expõe como uma paisagem de metódica decomposição das relações humanas. Impressionante pelo seu valor demonstrativo, realmente social, fica também para a história como um filme capaz de dar conta da destruição da compaixão através dos telemóveis — não é metáfora.

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BLACKKKLANSMAN - O INFILTRADO
GIRL
GEADA
NO CORAÇÃO DA ESCURIDÃO
ROMA
TULLY
CUSTÓDIA PARTILHADA

segunda-feira, fevereiro 12, 2018

"Caça às bruxas" [citação]

>>> [na sequência do movimento #MeToo] (...) qualquer agressão sexual e toda a violência — seja contra mulheres ou homens — devem ser condenadas e punidas. Mas a caça às bruxas devia ter acabado na Idade Média.

MICHAEL HANEKE
entrevista ao jornal austríaco Kurier

terça-feira, maio 30, 2017

Cannes + Haneke + silêncio

HAPPY END
O prodigioso filme de Michael Haneke ficou fora do palmarés de Cannes: vale a pena reflectir sobre tal ausência para além das questões de "gosto" — este texto foi publicado no Diário de Notícias (29 Maio), com o título 'Silêncio sobre Haneke'.

A ausência nas listas de prémios de Cannes do filme de Michael Haneke, Happy End, é um sintoma sobre o qual vale a pena reflectir. Tanto mais que tal ausência foi acompanhada pelo escasso entusiasmo da maior parte da crítica internacional. Não é fácil falar do assunto, quanto mais não seja porque a histeria “social” reinante tenderá a proclamar que o crítico que “gosta” apenas quer impor a sua visão aos que “não gostam”...
Seja como for, vale a pena lembrar que diversos filmes reflectiram as dores de uma Europa ferida pelo terrorismo. Sem esquecer que as notícias nos fazem saber também que a relação mórbida com a violência (no limite: a passagem ao acto) constitui um elemento poderoso na vida imaginária de alguns jovens. O assunto é delicado, aconselhando-nos a evitar qualquer tipificação imediata ou generalização moralista — em boa verdade, é um assunto em relação ao qual muitos de nós se sentirão hesitantes e perplexos, incapazes de articular um discurso seguro (eu, pelo menos, sinto-me assim).
O que me move nestas breves linhas é apenas o facto de esse ser, justamente, um dos temas fulcrais do filme de Haneke. A personagem da filha de 12 anos (interpretada pela admirável Fantine Harduin), para além da desarmante nitidez com que vive a sua pulsação suicida, é também protagonista de uma das mais generalizadas doenças sociais do nosso tempo. A saber: a redução do outro (familiar ou não) à condição de imagem. Numa cena que, a meu ver, entrará nos grandes momentos simbólicos da história do cinema, observamo-lo mesmo a harmonizar (?) o culto cego da imagem com a mais gélida indiferença pela morte. Não é preciso “gostar” de Haneke para pensar estas questões. Em todo o caso, reduzi-lo ao silêncio não será a mais brilhante solução jornalística e humana.

terça-feira, maio 16, 2017

CANNES: Haneke x 3?

Não é uma questão estatística. Muito menos um recorde futebolístico para suscitar a gritaria de massas ululantes. Mas é um facto objectivo: Michael Haneke pode tornar-se o primeiro cineasta a conquistar três Palmas de Ouro do Festival de Cannes. Na 70ª edição do certame (17-28 Maio), ele apresenta Happy End, com Isabelle Huppert, Tobey Jones, Matthieu Kassovitz e Jean-Louis Trintignant, tendo já arrebatado duas vezes o prémio principal: em 2009 e 2012, respectivamente com O Laço Branco e Amor. Em cena, desta vez, está uma família que vive na zona de Calais, próximo do enorme campo de refugiados que ficou conhecido como a "selva"...

[ SOUND + VISION / METROPOLIS ]

quinta-feira, maio 16, 2013

Michael Haneke e os espectadores

No dia 9 de Maio, Michael Haneke foi galardoado com o Prémio Príncipe das Astúrias (Artes), uma das mais prestigiadas distinções culturais atribuídas em Espanha — este texto foi publicado no Diário de Notícias (10 Maio), com o título 'À procura de novos espectadores'.

É sempre delicado encarar um prémio artístico, seja ele qual for, como justificação para grandes generalizações “sociais”. A expressão artística, sendo genuína, distingue-se precisamente pela capacidade de perturbar e dividir. E não será o prestigiado Prémio Príncipe das Astúrias que irá transformar a obra de Michael Haneke em coisa universal, susceptível de comover os programadores de televisão, a ponto de os fazer trocar a mediocridade de reality shows e afins pela perturbação de filmes como Amor, O Laço Branco ou A Pianista...
Ainda assim, importa sublinhar o facto de a obra de Haneke, para além da filigrana dos seus temas e personagens, se distinguir também por um discreto reconhecimento de todos os espectadores que têm visto os seus filmes. Não, não estou a falar da obscenidade dos “consensos” deduzidos das audiências televisivas. Não se trata de ceder à demagogia que, todos os dias, tenta fazer passar a ideia de que os valores e as incidências do consumo de imagens (e sons) se podem quantificar de forma neutra e inquestionável. Trata-se, isso sim, de lembrar que quem arriscar entrar no universo intimista do cinema de Haneke nunca sai com indiferença. Os seus filmes possuem a capacidade rara de nos devolver ao mais radical da nossa identidade. A saber: as tensões e contradições da dimensão humana, impossíveis de compreender (ou apenas de descrever) através da exaltação da “felicidade” que comanda o patético imaginário dos “famosos”.
Esperemos, por isso, que esta distinção aumente as audiências do trabalho de Haneke. Na certeza de que alguns dos que, agora, o vão descobrir não aceitarão que o seu cinema recuse a generalizada infantilização das formas dominantes de ficção e espectáculo. Ser espectador nunca foi simples.

quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Mozart, segundo Michael Haneke

Fotos: Javier del Real / Teatro Real
Poucas semanas depois de ali ter sido apresentada, em estreia mundial, a ópera The Perfect American, de Philip Glass, o Teatro Real de Madrid acolheu esta semana a estreia de um Cosi Fan Tutte, de Mozart, com encenação de Michael Haneke. O realizador não esteve presente na noite de estreia, uma vez que coincidiu com a 85ª cerimónia de entrega dos Óscares, para a qual o seu filme Amour partia com cinco nomeações - Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento Original, Melhor Atriz (Emmanuelle Riva) e Melhor Filme Estrangeiro - e da qual saiu premiado como Melhor Filme Estrangeiro. Haneke enviou por isso uma carta aos espectadores do Teatro Real, pedindo desculpa e justificando a ausência.

As três imagens que apresentamos neste post correspondem a momentos da enceneção de Haneke para a ópera de Mozart que estará no Teatro Real de Madrid até dia 17 de março.

quarta-feira, fevereiro 20, 2013

Sound + Vision Magazine
hoje às 18.30 na Fnac Chiado


Hoje o Sound + Vision regressa ao espaço da Fnac Chiado para falar dos livros, dos discos e dos filmes que fazem a atualidade. Em mês de entrega de Óscares faremos um foco especial não apenas nas nomeações que aguardam prémios mas entre ligações com a história das estatuetas douradas anualmente atribuídas em Hollywood. Pela edição de hoje passam ainda sons daquele que brevemente será o novo álbum de James Blake e pelo novo disco de Nick Cave, gravado com os Bad Seeds.

sexta-feira, janeiro 11, 2013

Oscares: os nomeados... e os outros

Pois... “É aquela altura do ano outra vez”, como tão bem o diz o Eurico de Barros na coluna que hoje assina no DN. Chegaram as nomeações dos Oscares e, a dias dos Globos de Ouro e a meio da temporada das distinções das dezenas de associações de críticos e das várias ligas, guildas e “ajuntamentos” profissionais, lá se fazem as notícias somando números, favoritismos e por aí adiante. Poucas semanas depois das listas dos melhores do ano surgem assim outras listas, nem sempre de melhores, mas daqueles de quem se vai falar por conta de uma gala que, ao contrário do que os Grammys gostariam de fazer com os discos, de facto vende globalmente bilhetes nas salas de cinema pelas salas de todo o mundo.

Feitas as contas aos nomeados para os Oscares em 2013 eis que surge Lincoln, de Steven Spielberg na frente. Um filme falado, que nos coloca nos bastidores da votação de uma emenda à constituição americana que deixou o presidente na história pelo facto de ter sido ele o rosto da abolição da escravatura nos EUA. Um filme com ressonâncias evidentes entre aquele e o nosso tempo, particularmente num momento em que um afro-americano ocupa agora a Casa Branca e se prepara para tomar posse para um segundo mandato. Às 12 nomeações de Lincoln seguem-se, na aritmética dourada dos Oscares os 11 que recolheu A Vida de Pi, adaptação garrida de Ang Lee do livro homónimo de Yann Martel. Com oito surge Guia Para Um Final Feliz, recentemente estreado entre nós. E, com sete, uma visão chuva de estrelas de Les Miserables e o bem interessante Argo, de Ben Affleck, outro dos grandes filmes políticos do ano.

Mas ao contrário do que tem sido a norma nos últimos anos (e 2012 foi um pasto desértico e entediante de nomeações e vitórias já esperadas), as nomeações para este ano trouxeram surpresas. Uma delas na forma das cinco nomeações para Amor, de Michael Hanecke (Filme, Realizador, Argumento Original, Atriz e Filme em Língua Estrangeira), que para ser coisa mesmo justa deveria ainda ter somado uma sexta para melhor ator. A outra na expressão algo inesperada (mas justíssima) de Beasts of The Southern Wild, de Benh Zeitlin, uma das mais claras evidências do potencial da “escola” Sundance, que soma quatro merecidas nomeações (Filme, Realizador, Argumento Adaptado e Atriz, aqui fazendo da pequena Quvenzhané Wallis a mais jovem de sempre nesta categoria). Falta aqui a nomeação de Zeiltin para banda sonora, que co-assina com Dan Romer. Houve já quem notasse a reduzida representação de O Mestre, de Paul Thomas Anderson ou Django Libertado de Quentin Tarantino. Mais gritante sendo ainda a ausência de Kathryn Bigelow entre os cinco realizadores nomeados com 00.30 Hora Negra (quase certa sendo contudo a vitória de Jessica Chastain como melhor atriz). E, com Skyfall, Adele deverá levar o primeiro Oscar para a já longa e ilustre galeria de Bond Songs. Mas, aqui, será que ninguém escutou a magnífica canção que Neil Hannon escreveu para Kylie Minogue em Holy Motors?

Nem vale a pena fazer o deve e haver dos que ficaram de fora. Muitos dos grandes filmes que vimos em 2012 não passam por aqui (alguns já estavam de fora do intervalo de tempo e deviam ter surgido já no ano passado). Muito so bom cinema (elegível para este ano) que iremos ver não passa por aqui. Mas ninguém esperaria que passasse... Agora, é esperar pela madrugada do costume...

Podem ver aqui a lista completa das nomeações.

sexta-feira, dezembro 21, 2012

Os melhores filmes de 2012 (N.G.)

Continuando a fazer o balanço de 2012 (e num blogue que gosta de listas), hoje visitamos o espaço do cinema.

Para arrumar ideias, resolvi separar este ano os filmes que vi em sala (ou seja, que tiveram estreia comercial entre nós) dos muitos outros que vi em festivais (cá e lá fora). Como novidade junto ainda uma tabela de bandas sonoras, representando todas elas casos com lançamento em disco (o que deixa de fora as belíssimas contribuições de Mihaly Vig em O Cavalo de Turim e Kylie Minogue e Neil Hannon em Holy Motors).


Estreados em sala

É linda a vida, comenta a personagem que Emmanuelle Riva numa cena de Amor, de Michael Haneke, na qual folheia um velho álbum de fotografias onde o presente confronta o passado perante um futuro que a assombra. É apenas um dos muitos instantes profundamente humanos de um filme onde o pouco faz muitos, o simples explora o complexo e o olhar depurado à essência mostra tudo e que, tendo dado ao realizador a sua segunda Palma de Ouro em Cannes, chegou às nossas salas já nas últimas semanas do ano. Fecha assim um ano onde devemos destacar num mesmo plano dos acontecimentos maiores uma outra visão do fim, meticulosamente coreografada e magnificamente fotografada (e uma vez mais contando com a preciosa contribuição da música de Mihaly Vig) naquele que deverá ter sido o derradeiro filme de Béla Tarr e ainda um olhar desencantado do panorama do ensino, do papel do professor e da escola, em O Substituto, que brilha pela realização de Tony Kaye e a interpretação de um soberbo Adrien Brody. O ano trouxe-nos ainda um ponto de vista diferente (o dos criados) sobre a revolução francesa por Benoît Jacquot, a confirmação da relação ímpar entre Jeff Nichols e Michael Shanon (com importante contribuição de Jessica Chastain) em Procurem Abrigo e novo exemplo de um saber na exploração das relações familiares por Hirokazu Koreeda. O lugar e o tempo, como moldura para uma história na Anatólia pelo olhar de Ceylan, a desafiante composição de jogos de máscaras (e cinefilia) de Léos Carax em Holy Motors, o incompreendido e tão injustamente sovado olhar coletivo (centrado numa vivência pessoal) do 11 de setembro segundo Daldry e a Rússia do nosso tempo em mais um espantoso filme de Zvyaginstsev completam um quadro de dez escolhas que, fosse alargado (mas um top 10 é um top 10) poderia abarcar filmes como Deste Lado da Ressurreição de Joaquim Sapinho e o mais belo filme de Oliveira nos últimos anos (O Gebo e a Sombra) e o internacionalmente muito elogiado Tabu de Miguel Gomes, assim como experiências recentes de Steven Soderbergh, Steve McQueen, Steven Chobovsky (e é raro um escritor tratar tão bem do seu próprio livro como vimos em As Vantagens de Ser Invisível, o filme mais ignorado este ano pela imprensa portuguesa), o regresso de Tim Burton ao seu melhor (em Frankenweenie) ou o documentário sobre o último concerto dos LCD Soundsytem. Note-se ainda que, com Sam Mendes, 007 teve em Skyfall um dos seus melhores filmes de sempre. Já em O Hobbit, Peter Jackson tropeçou como nenhum momento da trilogia O Senhor dos Anéis poderia ter imaginado...

PS. O filme É Na Terra Não É Na Lua, de Gonçalo Tocha, integrou a minha lista de 2011, pelo que não se repete nesta, apesar de ter sido uma das melhores estreias do ano.

1. Amor, de Michael Haneke
2. O Cavalo de Turim, de Béla Tarr
3. O Substituto, de Tony Kaye
4. Adeus, Minha Rainha, de Benoît Jacquot
5. Procurem Abrigo, de Jeff Nichols
6. O Meu Maior Desejo, de Hirokazu Koreeda
7. Era Uma Vez Na Anatólia, de Nuri Bilge Ceylan
8. Holy Motors, de Léos Carax
9. Extremamente Alto e Incrivelmente Perto, de Stephen Daldry
10. Elena, de Andrei Zvyaginstsev



Estreados entre festivais


Vale-nos a cada vez mais bem recheada oferta de festivais para ver o que não chega às salas em sessões comerciais. O melhor que o ano nos deu nesse departamento chegou na noite de abertura do DocLisboa e, como outros títulos deste lista (mas poucos...), chegará a salas em 2013. Trata-se de A Última Vez Que Vi Macau, filme co-assinado por João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, uma das duplas mais ativas do ano (o primeiro tendo ainda estreado as curtas Manhã de Santo António e O Corpo de Afonso, o segundo O Que Arde Cura, filme sobre o qual, por nele ter colaborado, naturalmente me abstenho de me pronunciar em público). Partindo de um projeto de documentário, A Última Vez Que Vi Macau mostra-nos como são ténues as fronteiras que o podem separar da ficção, bastando que o olhar nos conduza e, nele, faça nascer uma narrativa. Uma experiência única e arrebatadora, terá estreia nacional (e noutros mercados) em inícios do novo ano. Da colheita festivaleira destaco ainda o épico pop de Xavier Dolan em Lawrence Anyways, um dos mais interessantes olhares que o cinema alguma vez deu a uma personagem transgénero, magnificamente interpretada por Melvil Poupaud. A estes títulos somam-se experiências inesquecíveis como Keep The Lights On de Ira Sachs, vencedor do Queer Lisboa 16 e parte do top 10 do ano nos Cahiers du Cinema, o filme de Mathew Akers sobre a exposição de Marina Abramovic no MoMA, um olhar sobre a morte a história de um condenado, visto por Herzog ou uma visão (partilhada inclusivamente pela participação de um dos realizadores) de uma escola de dança na Índia. E juntem-se quatro ficções que não caberiam nada mal num programa de estreias, do retrato da culpa no confronto entre as aparências e vida sexual paralela de um sul africano em Beauty, uma história sobre os efeitos do bullying em Despues de Lucia, um espantoso jogo narrativo construído em torno da escrita em Dans La Maison ou a história de um homem que, quase de três décadas depois, não se libertou da vivência hedonista dos seus anos 80, em Avalon (sim, o título da canção dos Roxy Music).

1. A Última Vez Que Vi Macau, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata
2. Lawrence Anyways, de Xavier Dolan
3. Keep The Lights On, de Ira Sachs
4. Marina Abramovic - The Artist is Present, de Mathew Akers
5. Into The Abyss, de Werner Herzog
6. La table Aux Chiens, de Cédric Martinelli e Julien Touati
7. Despues de Lucia, de Michel Franco
8. Beauty, de Oliver Hermanus
9. Dans La Maison, de François Ozon
10. Avalon, de Axek Pétersen


Bandas sonoras


Ao ser convidado a assinar, mensalmente, um espaço sobre bandas sonoras na revista Metropolis, estive mais atento que em muitos anos a este importante espaço discográfico profundamente ligado ao cinema. A lista que apresento é um top 10 dos melhores discos com música para cinema, não uma tabela da melhor música que o cinema viveu em 2012 (que nem todas as bandas sonoras foram editadas). A mais interessante das bandas sonoras do ano serviu em pleno as imagens e as personagens de Vergonha, de Steve McQueen, com particular brilho não apenas nas composições originais de Harry Escort, mas nos complementos escolhidos entre gravações de John Coltrane, Glenn Golud, Chic, Blondie ou Tom Tom Club. Igualmente soberba é a coleção de canções de Arthur Russell com que Ira Sachs valoriza os espaços de Keep The Lights On (sublinhando a identidade nova iorquina das vivências que retrata). E merece ainda nota maior a colaboração entre Howard Shore e os Metric na composição da música para o mais recente filme de David Cronenberg. Composições de Michael Brook, Alexandre Desplat, Nick Urata, Danny Elfman e David Wingo e uma invulgar colaboração entre um pianista e um cineasta, como vemos em Amor, de Haneke, que conta com uma contribuição de Alexadre Tharaud que não se limita ao plano do áudio completam uma lista de dez momentos que, depois de vistos no ecrã, podemos continuar a ouvir.

1. Shame, de Hary Escott + outros (Sony)
2. Keep The Lights On, de Arthur Russell (Audika Records)
3. Cosmopolis, de Howard Shore + Metric (Howe Records)
4. The Perks Of Being a Wallflower, de Michael Brook (Lions Gate Records)
5. Amour, de Alexandre Tharaud (EMI)
6. Moonrise Kingdom, de Alexandre Desplat + outros (Commercial Marketing)
7. Ruby Sparks, de Nick Urata (Milan)
8. Frankenweenie, de Danny Elfman (EMI Catalogue)
9. Extremly Loud And Incredibly Close, de Alexandre Desplat (Water Tower Music)
10. Take Shelter, de David Wingo (Grove Hill)

quinta-feira, maio 24, 2012

CANNES 2012: Haneke, Cronenberg, Resnais

Chegados à recta final da 65ª edição do Festival de Cannes, vale a pena sublinhar algo de muito simples: tem sido uma das melhores edições dos últimos anos, não apenas pelas qualidades das obras apresentadas, mas também pelo sentido simbólico, aglutinador, de vários momentos, incluindo a presença de Bernardo Bertolucci na sessão do seu belíssimo IO E TE (extra-concurso), ele que já não filmava desde 2003 (Os Sonhadores). Além do mais, o reforço da secção 'Cannes Classics' volta a provar que, pelo menos neste contexto, a memória do cinema é coisa séria e sistematicamente defendida.
Em registo necessariamente esquemático, aqui ficam alguns destaques do certame:

1: três grandes filmes (quatro, com o de Bertolucci), desses que nos devolvem o cinema como coisa íntima da nossa vida, parte integrante do que somos, vemos e pensamos:
- AMOUR, de Michael Haneke
- COSMOPOLIS, de David Cronenberg
- VOUS N'AVEZ ENCORE RIEN VU, de Alain Resnais
Este último, uma revisitação genial das ambivalências do teatro, poderá trazer a Resnais uma Palma de Ouro cujo simbolismo seria necessariamente especial, até porque ele é, nesse aspecto, um dos "esquecidos" da geração da Nova Vaga francesa.

2: uma generalizada resistência a todas as imposturas narrativas da televisão, através de filmes que discutem a prova de realidade que cada imagem (e som) envolve; nesta perspectiva, o destaque, também ele eminentemente simbólico, vai para REALITY, de Matteo Garrone, desmontando a lavagem de cérebros promovida pelo Big Brother televisivo. A não esquecer a aventura japonesa de Abbas Kiarostami que tem um título de uma canção clássica (interpretada por Ella Fitzgerald): LIKE SOMEONE IN LOVE.

3: um reforço da vocação realista do cinema moderno, através de filmes que apostam em lidar com situações que envolvem uma grande complexidade humana e política. Três exemplos:
- PARA ALÉM DAS COLINAS, de Cristian Mungiu
- DEPOIS DA BATALHA, de Yousry Nasrallah
- THE ANGELS' SHARE, de Ken Loach

4: um elogio para os não-alinhados, mesmo em tom menor, sempre à procura de derivações poéticas mais ou menos consistentes ou conseguidas:
- HOLY MOTORS, de Leos Carax
- MOONRISE KINGDOM, de Wes Anderson

5: um magnífico filme de género (thriller), vestido com roupagens de parábola política: KILLING THEM SOFTLY, de Andrew Dominik, com Brad Pitt.

6: uma desilusão, discreta na sua evidente competência profissional, mas amarga pelo simbolismo que arrasta (ao convocar Jack Kerouac): ON THE ROAD, de Walter Salles.

7: enfim, o contundente, angustiado e muito terno retrato da juventude, IO E TE, assinado por Bertolucci, com dois brilhantíssimos actores — Tea Falco e Jiacopo Olmo Antinori [foto] — que apenas deixa uma dúvida: porque é que um filme com esta intensidade não está na competição oficial?

sexta-feira, abril 20, 2012

Cannes 2012: Cronenberg e os outros

1. Que se esconde por detrás dos óculos de Robert Pattinson? Um enigma que se confunde com uma transparência perturbante: ao adaptar o romance Cosmopolis, de Don DeLillo, David Cronenberg não se limita a exponenciar a dimensão visionária de um livro que arrisca lidar com a obscenidade do poder do (nosso) dinheiro; ao mesmo tempo, ele faz um dos seus filmes mais pessoais, e mais radicais, desnudando a ilusão do prazer, quer dizer, o equívoco de todas as formas de gratificação.

2. Produzido por Paulo Branco, Cosmopolis é, antecipadamente, um dos acontecimentos centrais de Cannes/2012. E por muitas e frondosas razões, das quais vale a pena, desde já, enunciar duas:
a) - Cronenberg resgata a estrela "juvenil" de Twilight/Crepúsculo, dando-nos a ver um actor imenso que transcende modelos espectaculares ou padrões etários;
b) - Branco reafirma-se no coração vivo do cinema — e não tanto porque Cannes é o maior festival do mundo, mas sobretudo porque Cosmopolis se distingue como um gesto de uma nobreza cinematográfica que continua a resistir a todas as formatações televisivas.

3. Em boa verdade, Cosmopolis é "apenas" uma das propostas de um certame que se arrisca a ter uma das suas mais admiráveis edições dos últimos dez ou quinze anos (lembremos o espantoso ano de 1992 onde confluíram A Bela Impertinente, de Jacques Rivette, A Dupla Vida de Véronique, de Krzysztof Kieslowski, Brigada de Homicídios, de David Mamet, Malina, de Werner Schroeter, Van Gogh, de Maurice Pialat...). Em 2012, teremos, entre outros, Michael Haneke, Abbas Kiarostami, Alain Resnais... [dossier de imprensa].

terça-feira, janeiro 05, 2010

Michael Haneke: palavras cortantes

Michael Haneke não tem ilusões sobre a contemporaneidade dos filmes, a ponto de considerar que alguns dos mais modernos estão entre os... antigos — este texto foi publicado no Diário de Notícias (2 de Janeiro), com o título 'Haneke e a simplicidade'.

“Tal como disse Brecht, a simplicidade é a coisa mais difícil de conseguir. Toda a gente ambiciona fazer coisas com simplicidade e, ao mesmo tempo, impregná-las com a diversidade do mundo. Só os melhores conseguem. Kiarostami tem isso, tal como Bresson. Mas devo dizer que vejo poucos novos filmes; costumava ver mais, mas agora vejo sobretudo filmes mais antigos, em casa. Sinto-me mais compensado quando revejo Dreyer ou outros clássicos. Dizem-me mais sobre o mundo de hoje que os filmes de hoje!”
Palavras cortantes, sem dúvida. São de Michael Haneke e podem ler-se numa entrevista à revista Film Comment. Mesmo não partilhando tal cepticismo, há no seu discurso uma paixão pela memória que, mais do que nunca, importa valorizar. Afinal de contas, vivemos numa cultura (televisiva) em que a densidade do tempo deu lugar à irrisão efémera do fait divers. Convém ainda recordar que o mais recente filme de Haneke, O Laço Branco, ganhou em 2009 a Palma de Ouro de Cannes e os Prémios do Cinema Europeu. Por cá, estreia no dia 14.