Reencontro com os R.E.M.: agora disponível numa edição especial comemorativa dos seus 25 anos, New Adventures in Hi-Fi é um álbum que importa redescobrir, quanto mais não seja porque a sua gestação — em grande parte vivida durante a digressão do álbum anterior (Monster) — deixou uma imagem de atribulações mais ou menos penalizadoras. É uma imagem que importa corrigir... Eis E-Bow The Letter, com a participação de Patti Smith.
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domingo, novembro 07, 2021
segunda-feira, outubro 14, 2019
"Apocalypse Now" na FNAC
Agradecemos a presença dos que no domingo, dia 13, nos acompanharam na FNAC do Chiado para uma viagem motivada pelos 40 anos de Apocalypse Now e o respectivo restauro em 4K (domingo, dia 20, no CCB). Entre memórias cinematográficas e musicais, eis três dos videos que apresentámos.
SOUND + VISION Magazine
(próxima edição)
(próxima edição)
MILES DAVIS, JAZZ, POP & ETC.
FNAC / Chiado — 16 Novembro (18h30)
>>> Apocalypse Now (Satisfaction, Rolling Stones) + War, Bruce Springsteen + Orange Crush, R.E.M.
quarta-feira, dezembro 03, 2014
Discos: as edições desta semana
Há um verdadeiro festim de edições de discos ao vivo a chegar esta semana aos escaparates das novidades. Além dos álbuns de John Grant com a BBC Philharmonic Orchestra – Live In Concert – e de Björk – Biophilia – de que já aqui falámos nos dois últimos dias, foram lançados esta semana os discos Live In Dublin de Leonard Cohen (que inclui 3CD e um DVD), Winterland Night 1978 de Bruce Springsteen (triplo CD), The 1972 Broadcast dos Crosby Stills Nash & Young, Live In Orlando 1989 dos R.E.M., Through Yellow Curtains de Joni Mitchell (com gravações de finais dos anos 60), Chicago 1992 dos Pearl Jam, Twenty Thousand Roads de Emmylou Harris e Live at The Sands do Rat Pack.
O departamento das grandes antologias também vibra nesta altura do ano. E há edições em versões económicas e nem por isso e em todas as frentes. Os Wilco editam a caixa Alpha Mike Foxtroot: Rare Tracks 1994-2014 em caixa e, ao mesmo tempo, a versão compactada What’s Your 20?. A obra de Donna Summer é recuperada na caixa The CD Collection e em várias reedições avulsas. Há uma nova integral em álbum de Simon & Garfunkel sob o título The Complete Album Collection. Peter Hammil lança a caixa ...All That Might Have Been. De Serge Gainsbourg e Jane Birkin surge Jane + Serge 1973. Dos Blondie há uma caixa em vinil com os LPs do grupo.
Em formato ‘best of’ mais “clássico” há que ter atenção para com o Best Of (literalmente) dos The Czars, a banda onde em tempos militava John Grant.
Há ainda mais espaços para a memória no plano das reedições. Brian Eno lança versões expandidas de alguns dos seus álbuns dos anos 80: Nerve Net, Neroli, The Drop e The Shutov Assembly. E dos Pixies chega a muito esperada edição alargada do seu álbum de 1989: Doolittle 25, com lados B, sessões na rádio e maquetes, entre os extras.
Nos terrenos da música contemporânea há notar a chegada, via Naxos, de gravações de Beltane Fire de Peter Maxwell Davies e Airline Icarus de Brian Current, assim como uma interpretação, por Tom Winpenny (organista) de La Nativité du Seigneur, de Messiaen.
Entre novidades, mais algumas antologias e reedições, há ainda a assinalar:
Boris Blank - Electrified
Future Sound of London – Environments 2 (agora em vinil)
Klaus Schulze – Schulze Boot Vol 1 – Stars are Burning
Mark Kozelek – Sings Christmas Carols
Mogwai – Industry 3 Fitness Industry 1 EP
She + Him – Classics
quarta-feira, outubro 29, 2014
Singles dos R.E.M. reeditados numa caixa
Os R.E.M. continuam a trabalhar o seu arquivo. E agora anunciam para muito em breve a edição de uma caixa que recupera, com as capas originais, os seus singles em vinil editados entre 1983 e 1988, o que corresponde à etapa em que estiveram associados à IRS Records. Com o título conjunto 7IN-83-88, a caixa junta os alinhamento que se segue (via Pitchfork):
“Radio Free Europe” / “There She Goes Again”
“So. Central Rain (I’m Sorry)” / “King of the Road”
“(Don’t Go Back To) Rockville” / “Catapult” (live)
“Can’t Get There From Here” / “Bandwagon”
“Driver 8” / “Crazy”
“Wendell G” / “Crazy” + “Ages of You” / “Burning Down” [edição original no Reino Unido]
“Fall On Me” / “Rotary Ten”
“Superman” / “White Tornado”
“The One I Love” / “Maps and Legends” (live)
“It's The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine)” / “Last Date”
“Finest Worksong” / “Time After Time” (live) [edição original no Reino Unido]
“Radio Free Europe” / “There She Goes Again”
“So. Central Rain (I’m Sorry)” / “King of the Road”
“(Don’t Go Back To) Rockville” / “Catapult” (live)
“Can’t Get There From Here” / “Bandwagon”
“Driver 8” / “Crazy”
“Wendell G” / “Crazy” + “Ages of You” / “Burning Down” [edição original no Reino Unido]
“Fall On Me” / “Rotary Ten”
“Superman” / “White Tornado”
“The One I Love” / “Maps and Legends” (live)
“It's The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine)” / “Last Date”
“Finest Worksong” / “Time After Time” (live) [edição original no Reino Unido]
sexta-feira, setembro 12, 2014
Para ler: Michael Stipe escreve ensaio
sobre as imagens do 11 de setembro
| Douglas Copland , via Guardian |
O The Guardian publicou o texto. Podem ler aqui.
segunda-feira, maio 19, 2014
Novas edições:
R.E.M., Unplugged: The Complete 1991
and 2001 Sessions
R.E.M.
“Unplugged: The Complete 1991 and 2001 Sessions"
Rhino
4 / 5
O final do percurso criativo pata os R.E.M. chegou há três anos com o lançamento do álbum Collapse Into Now não representou o ponto final na construção da discografia daquele que foi um dos mais bem sucedidos e influentes entre os grupos que nasceram no panorama alternativo rock norte-americano dos oitentas. O lançamento de uma coleção dos temas gravados para os programas Unplugged da MTV activa assim uma nova etapa na história em disco do grupo, abrindo o baú dos arquivos com um título que em tudo merece figurar entre os melhores lançamentos da obra extra-estúdio dos R.E.M. Sob o título Unplugged: The Complete 1991 and 2001 Sessions aqui surgem reunidas as duas sessões que, com dez anos de distância entre si, representaram as visitas dos R.E.M. a esses palcos onde a corrente elétrica andou mais pelos projetores de iluminação e microfones que pela amplificação dos instrumentos. Originalmente lançado há algumas semanas numa versão em vinil expressamente criada para ter estreia na edição deste ano do Record Store Day, este disco (que oficialmente representa o terceiro título “live” do grupo) sublinha a afinidade com o registo acústico com a qual os R.E.M. viveram algumas etapas da sua carreira (nomeadamente entre os álbuns Out of Time e Automatic For The People), revelando outros temas de génese elétrica uma capacidade de sólida vida alternativa sem mesma intensidade das guitarras. O alinhamento é extenso, somando um total de 33 faixas (entre as duas sessões), 11 das quais acabaram por nunca ser exibidas nas emissões para as quais foram criadas. Com uma justificação temática, este registo de arquivo acrescenta de facto uma importante contribuição à discografia dos R.E.M.. E convenhamos que eram uma belíssima banda ao vivo!
PS. Este texto foi originalmente publicado no DN online
terça-feira, março 18, 2014
R.E.M., sem fios
Os R.E.M. vão editar em disco o registo das suas participações nos programas Unplugged da MTV. Unplugged: The Complete 1991 and 2001 Sessions , que surgirá num formato de álbum quádruplo em vinil, é um lançamento que chega no quadro das edições especiais da edição deste ano do Record Store Day. Os R.E.M. estiveram por duas vezes no programa da MTV. Em 1991 com o álbum Out of Time por perto e dez anos depois com as canções de Reveal na berlinda.Este lançamento surgirá também nos formatos de CD e digital.
sexta-feira, maio 24, 2013
Reedições:
R.E.M., Green
R.E.M.
“Green”
Rhino
4 / 5
Não é fácil ganhar dois desafios num mesmo dia. Os R.E.M. tentaram-no a 8 de novembro de 1988. Os cidadãos norte-americanos iam às urnas nesse dia para escolher o sucessor de Ronald Reagan na Casa Branca. As sondagens eram favoráveis ao candidato republicano George Bush (que havia sido o vice de Reagan), mas os quatro músicos, em particular o vocalista Michael Stipe, foram incansáveis no apelo ao voto no candidato democrata: Michael Dukakis. No mesmo dia Green chegava às lojas de discos nos EUA (no resto do mundo o lançamento tinha ocorrido na véspera). Era o seu sexto álbum de originais, um disco menos irado que o anterior Document (de 1986), mas igualmente político. Bush venceria a eleição com 53,4% dos votos e 426 (contra apenas 111) grandes eleitores no colégio eleitoral. Melhor sorte teve contudo o álbum. Não só foi a sua primeira múltipla-platina como, e sem que o grupo perdesse o respeito da crítica e a sua base de fãs primordial, abriu o caminho para que, entre os sucessores Out Of Time (1991) e Automatic For The People (1993), atingissem aquele raro patamar apenas habitado por bandas como sucesso maior à escala global.
Aos oito anos de vida (e cinco passados sobre o lançamento do mítico álbum Murmur que os colocou no mapa), os R.E.M. davam com Green um primeiro passo numa nova etapa. Depois do disco de 1986 e das antologias Dead Letter Office (1987) e Eponymous (1988), o grupo (que gravara para a independente I.R.S. desde os primeiros tempos) sentira a necessidade de procurar outra editora que lhes permitisse ir mais longe. Acertadas as condições com a Warner, partiram rumo à composição das novas canções com essa agenda de preocupações já arrumada. O próprio Stipe chegou mesmo a descrever este “salto” como “enorme, mesmo colossal” para os R.E.M. “como uma banda e como trabalho” e também como tudo o que eram “como amigos” (conforme o recorda From Chronic Town To Monster de D. Bowler e B. Dray).
Começaram por marcar 11 semanas de estúdio, um período que refletia já o investimento que a nova editora parecia disposta a fazer no disco (e na banda). Entre os ensaios e as sessões de gravação sentiram-se como quem começa algo de novo, daí as frequentes comparações que depois surgiriam entre Green e Murmur. Ao mesmo tempo procuravam reagir contra a memória do mais recente Document, tentando, em ano de eleições, fazer um disco igualmente político, mas menos agreste.
Se a agenda política era a que os mesmos quatro homens já defendiam (Stand, um dos singles, revelar-se ia um hino “verde” no sentido ecologista do termo), musicalmente o álbum revelava sinais evidentes de uma banda em tempo de mudança. Decidiram ensaiar a presença mais clara de instrumentação acústica (que aprofundariam pouco depois), aceitaram flirts com espaços mais próximos da folk. Mas tudo isto sem o acarretar de quaisquer indícios de perda de identidade.
Os velhos fãs gostaram. E novos públicos entraram em cena através da presença na rádio dos quatro singles extraídos do alinhamento e pelo sucesso da digressão que se seguiu, abrindo caminho a uma carreira de um álbum que globalmente atingira vendas na ordem dos quatro milhões. Três anos depois Out Of Time chegaria aos 18 milhões. Mas essa é outra história.
PS. Este texto foi originalmente publicado no DN
sexta-feira, outubro 12, 2012
Reedições:
R.E.M., Document
R.E.M.
“Document”
I.R.S. / EMI Music
4 / 5
“Document”
I.R.S. / EMI Music
4 / 5
Não é por acaso que o belíssimo texto de David Daley que acompanha a edição comemorativa dos 25 anos de Document (o quinto álbum dos R.E.M., o derradeiro para a I.R.S. Records e o primeiro a dar-lhes visibilidade já no limiar das atenções da cultura mainstream) começa por contextualizar politicamente a era em que o disco nasceu. Recorda “casos” da administração Reagan (não é segredo que os R.E.M. sempre afinaram ideias pelo campo democrata) e traça o cenário que explica porque a angulosidade da obra da banda não se limitou então à música, mas também às palavras (atentas, críticas, interventivas). O momento político e a materialização de um olhar capaz de o comentar não são os únicos argumentos que explicam o ponto de viragem que o álbum então imprimiu na história de vida da banda. O disco anterior – Life’s Rich Pageant (1986) – tinha já mostrado sinais de busca por uma mais precisa orientação das demandas dos R.E.M., Document confirmando um empenhamento coletivo, a quatro, no aprofundar dessa mesma busca de um caminho mais claramente definido, menos feito de tentativas, mais de reflexões e ideias cimentadas. A entrada em cena do produtor Scott Litt (que acompanharia todos os discos seguintes, até New Adventures in Hi Fi) é aqui elemento determinante, semeando ideias que colheriam, com resultados ainda mais visíveis (leia-se o sucesso mainstream à escala global) poucos anos depois, em Out of Time. É curioso verificar que, contudo, muita da adesão ao que de novo os R.E.M. traziam em Document não passou necessariamente pela compreensão a fundo do que na realidade falavam. Se Michael Stipe confessa que a dada altura sentia que poderia estar a cantar e dançar para a juventude da era Reagan, por outro o single cartão-de-visita The One I Love deu-lhes a primeira visita ao top 10 americano com uma canção tomada como sendo uma dedicatória quando, na verdade, e como o vocalista expressaria mais tarde, é antes um olhar violento sobre as relações entre pessoas. 25 anos depois, numa altura em que um hino como It’s The End of The World as We Know It parece ter leitura atual (e não falo das profecias dos maias, mas do aparente colapso de todo um sistema económico e político), Document regressa num packaging graficamente apelativo, trazendo ainda como extra a gravação de um concerto de setembro de 1987.
segunda-feira, outubro 31, 2011
Uma canção, uma banda... e uma actriz
A despedida foi anunciada há já algumas semanas, em meados de Setembro. Agora anuncia-se a chegada de um best of (Part Lies, Part Heart, Part Truth, Part Garbage: 1982- 2011, the definitive R.E.M., a editar dia 15 de Novembro) que revela o que serão os últimos inéditos dos R.E.M.. Um deles é este We All Go Back To Where We Belong, que tem direito a edição em single e que surge acompanhado por dois telediscos, um deles protagonizado por Kirsten Dunst.
domingo, outubro 23, 2011
De Athens para o mundo...
Este texto, assinalando o fim da carreira dos R.E.M., foi originalmente publicado na edição de 8 de Outubro do Q., do Diário de Notícias, com o título E Depois do Adeus.
Convenhamos que não foi a mais surpreendente das notícias. Em finais de Setembro o site oficial dos R.E.M. anunciava a separação do grupo. “Afastamo-nos com um sentido de gratidão, de finalidade, de espanto pelo que conquistámos”, escreviam na nota comum que ali publicavam. Michael Stipe, o vocalista, reflectia depois sobre aquilo a que chamava a “arte de estar numa festa”, lembrando que esta se manifesta pelo modo de como dela se sai. Peter Burke referia a amizade que, tantos anos depois, ainda os une. Mike Mills lançava uma questão em frente: “e a seguir?...”.
Foram 31 anos de vida conjunta, com discos editados a partir de 1981 (a estreia fazendo-se numa primeira versão de Radio Free Europe, que pouco depois seria transformado no primeiro “clássico” da banda). Mas desde cedo sob um clima de aclamação que, aos poucos, cresceu à sua volta, os levou para lá da sua cidade, do seu estado, deles fazendo mesmo uma das mais importantes forças da música popular norte-americana do nosso tempo, deixando uma obra que junta 15 álbuns de originais, uma multidão de singles, inúmeras memórias de concertos vividos frente a plateias das mais variadas latitudes e uma tão expressiva lista de canções tornadas êxito global entre as quais contamos temas como Man On The Moon, Losing My Religion, Stand, It’s The End Of The World As We Know It, The One I Love, Shiny Happy People ou Everybody Hurts. E basta evocar os títulos para que as escutemos de memória.
É verdade que estavam longe dos seus melhores dias. Nos últimos dez anos tinham mesmo lançado dois álbuns claramente menores. Foram eles Around The Sun (2004) e o mais recente Collapse Into Now (2011) onde pouco mais pareciam que corresponder a mínimos olímpicos. Reacenderam pontualmente entusiasmos quando, ao som de Accelerate (2008) pareciam reencontrar a intensidade primordial da electricidade dos seus discos dos anos 80. Mas na verdade, desde que se haviam desafiado a explorar (delicadamente) as electrónicas em Up (1998), há muito que não víamos na música dos R.E.M. nem o poder de encantamento nem a inquietude de outros tempos.
| Os R.E.M. por alturas da edição de 'Murmur' |
Nascidos nos primeitos tempos da era Regan, perante uma América entregue a um reencontro com valores conservadores, os R.E.M. cedo entenderam o verdadeiro poder da palavra. Esses dias, “que serviram de cenário à gravação de Murmur” representam “uma era em que o discurso político se expandiu do patamar da simples fala para uma forma de armamento”, recorda J. Niimi em Murmur (livro de 2005 da série 33 1/3 integralmente dedicado ao álbum de estreia dos R.E.M., editado em 1983) Em From Chronic Town To Murmur recorda-se o momento em que Michael Stipe sugeriu que “o que os R.E.M. podem oferecer é uma música que se pode dançar se se quiser dançar, que se pode ignorar ou usar como mobília, mas está ali também algo que se pode ouvir e levar alguém a dizer ‘isto é inteligente’ ou, pelo menos, ‘isto não é estúpido’. Não somos uma banda de mensagens mas há coisas na música e na maneira como nos apresentamos que, espero, as pessoas possam depois levar para casa consigo”.
A relação com o público também foi central no processo que destacou os R.E.M. das demais bandas da sua geração. Tendo evitado desde sempre quaisquer flirts com a ideia de fama fácil, não procurando um estatuto de celebridades puderam, como defendem Bowler e Dray, “manter uma liberdade no discurso, apresentando-se como defensores de um certo senso comum”. Note-se que nunca os vimos nas capas dos seus discos. “Porque nos interessava mais o que esrava lá dentro”, como justificou o baixista Mike Mills em entrevista ao DN publicada em 17 de Junho de 1999.
Mesmo assim, o sucesso e personalidade dos R.E.M. nunca seria o mesmo sem a presença, na proa, de um homem com a força vocal e o carisma de um Michael Stipe. Nem a sua carreira teria sido a que foi sem a sua capacidade em dominar a escrita de canções, reconhecendo o poder de uma melodia e a capacidade de ecantamento que pode nascer de um refrão inesquecível.
Como tantas outras bandas, os R.E.M. encontarram-se em clima universitário. Estávamos em 1980 e entre os músicos, que se foram conhecendo aos poucos, havia desde logo uma partilha de interesses pela música de referências como Patti Smith, os Television ou os Velvet Underground. Não levavam debaixo do braço uma agenda revolucionária (em termos musicais, entenda-se) e, 31 anos depois, reconhecemos que não contamos necessariamente com os seus discos na hora de identificar as grandes convulsões que abriram novas portas ou inventaram outros caminhos na história da música dos oitentas a esta parte. Porém a sua presença foi marcante. Pelo simples facto de, usando ferramentas comuns a tantas outras bandas e linguagens “clássicas” terem inscrito na histórias canções (e mesmo álbuns) sem os quais não completamos o retrato da banda sonora dos anos em que viveram. “Ao contrário dos Nirvana, cujo sucesso definiu uma era, os R.E.M. (e os seus primos transatlânticos U2) trabalharam o seu caminho até se transformaram em presenças familiares sem nunca desencadearem quaisquer alarmes revolucionários do tipo times-they-are-a-changing”, lia-se na entrada assinada por Ira Robbins na quinta edição do então célebre The Touser Press Guide to 90’s Rock (Fireside, 1997). odavia, em início de vida, os R.E.M. eram um nome em tudo relacionado com espaços de vivência “alternativa” no panorama rock norte-americano do início dos anos 80.
Em 1982 editam o EP Chronic Town, que alarga os focos de atenções além do universo em volta de Athens (que havia reagido aos sons de Radio Free Europe, um ano antes). Seguiu-se, em 1983, o álbum de estreia Murmur que confirma expectativas e deles faz um nome de referência de uma nova geração de bandas rock norte-americanas antecedendo, assim, nomes como os Pixies ou Throwing Muses , que em meados da década alargariam o foco das atenções a mais acontecimentos no panorama “alternativo” dos EUA. De disco para disco arrumadam ideias, aprumavam, formas, afinavam uma linguagem, contando com a personalidade vocal de Michael Stipe como uma das principais marcas de identidade do seu som. Mas não a única. Reckoning (1984), Fables Of The Reconstruction (1985), Lifes Rich Pageant (1986 e o seu primeiro disco de ‘platina’, conquistado no Canadá) e Document (1987) concluem uma primeira etapa, a cada ano o grupo solidificando e ampliando a sua base de admiradores. A assinatura pela multinacional Warner Brothers abre novas perspectivas, que os álbuns Green (1989) e Out Of Time (1991) vislumbram e Automatic For The People (1993) transforma em caso de popularidade global sem que, em algum momento, alguma verdade na sua música fosse comprometida. Segiu-se uma incursão mais eléctrica em Monster (1994), uma retirada para climas mais polidos em New Adventures In Hi-Fi (1996). E, depois do já referido Up, uma continuidade menos entusiasmada em Reveal (2001), Around The Sun e o recente Collapse Into Now, com pontual regresso a melhor forma em Accelerate. Separaram-se.
Dizem que não se reunem. Mas deixam um corpo de belas canções como poucas discografias o souberam fazer.
terça-feira, outubro 18, 2011
O último single dos R.E.M.
Cerca de um mês anos do lançamento do balanço e contas dos R.E.M. — a antologia Part Lies, Part Heart, Part Truth, Part Garbage 1982-2011 —, a banda deu a conhecer aquele que, para a história, ficará como o seu derradeiro single (a antologia incluirá ainda mais dois temas inéditos): é uma canção de decidido apaziguamento, We All Go Back to Where We Belong, que pode ser escutada no site da Rolling Stone.
quarta-feira, setembro 28, 2011
As escolhas no Sound + Vision Magazine
Teve ontem lugar mais uma sessão Sound + Vision Magazine na Fnac Chiado. De uma evocação da carreira dos R.E.M. (que há uma semana atrás anunciaram a sua separação) a um olhar sobre o filme Sangue do meu Sangue, de João Canijo, que estreia no circuito de salas no próximo dia 5, a sessão passou ainda pelo conjunto habitual de discos, DVDs e livros destacados pelos autores deste blogue. Aqui ficam as sugestões apresentadas:
Discos:
João Lopes
Return to the Dark Side of the Moon (Mojo - Outubro)
Hajime, André Carvalho
Devil's Dress, Susana Santos Silva
Return to the Dark Side of the Moon (Mojo - Outubro)
Hajime, André Carvalho
Devil's Dress, Susana Santos Silva
Nuno Galopim
The Rip Tide, de Beirut
Strange Mercy, de St Vincent
2ª Sinfonia de Mahler pela LPO, dir V. Jurowski
DVDs
JL
Pneu, de Quentin Dupieux
NG
Os Amores Imaginários, de Xavier Dolan
Mel, de Semih Kaplanoglu
Livros
JL
Francis Bacon - Lógica da Sensação, de Gilles Deleuze
Lettres à Hélène, Louis Althusser
Francis Bacon - Lógica da Sensação, de Gilles Deleuze
Lettres à Hélène, Louis Althusser
NG
Listen To This, de Alex Ross
A Queda de Berlim, 1945, de Antony Beevor
O Messias de Duna, de Frank Herbert
segunda-feira, setembro 26, 2011
E depois do fim?... Um 'best of'...
Os R.E.M., que ainda há menos de uma semana anunciavam a separação, têm já um novo besto f na calha. Com o título Part Lies, Part Heart, Part Truth, Part Garbage: 1982-2011, o disco (duplo) tem edição marcada para dia 15 de Novembro. E inclui três inéditos (A Month of Saturdays, We All Go Back to Where We Belong e Hallelujah) gravados já após o lançamento do álbum Collapse Into Now, editado há poucos meses.
CD 1: Gardening at Night, Radio Free Europe, Talk About the Passion, Sitting Still, So. Central Rain, (Don't Go Back to) Rockville, Driver, Life and How to Live It, Begin the Begin, Fall on Me, Finest Worksong, Its the End of the World as We Know it (and I Feel Fine), The One I Love, Stand, Pop Song 89, Get Up, Orange Crush, Losing My Religion, Country Feedback, Shiny Happy People.
CD 2: The Sidewinder Sleeps Tonite, Everybody Hurts, Man on the Moon, Nightswimming, Whats the Frequency, Kenneth?, New Test Leper, Electrolite, At My Most Beautiful, The Great Beyond, Imitation of Life, Bad Day, Leaving New York, Living Well Is the Best Revenge, Supernatural Superserious, Überlin, Oh My Heart, Alligator_Aviator_Autopilot_Antimatter, A Month of Saturdays, We All Go Back to Where We Belong, Hallelujah.
quinta-feira, setembro 22, 2011
R.E.M. (1980-2011)
| Anton Corbijn / Site oficial R.E.M. |
Chegou como uma surpresa... Mas na verdade a notícia não foi precisamente coisa... surpreendente. Ao cabo de 31 anos de actividade os R.E.M. anunciaram a separação no seu site oficial, com estas palavras:
To our Fans and Friends: As R.E.M., and as lifelong friends and co-conspirators, we have decided to call it a day as a band. We walk away with a great sense of gratitude, of finality, and of astonishment at all we have accomplished. To anyone who ever felt touched by our music, our deepest thanks for listening.
Junto a este texto oficial, cada um dos elementos dos R.E.M. acrescentou palavras suas. Michael Stipe fala sobre a “arte de estar numa festa”, explicando que se manifesta pela forma como se sabe quando dela se sai. Mike Mills recorda a última digressão, a criação da mais recente antologia e a gravação de Collapse Into Now e o momento em que perguntaram a si mesmos: “e a seguir?”... Peter Burke sublinha a amizade que ainda hoje une todos os que participaram nesta grande aventura.
Imagens de três singles entre os muitos títulos que fazem a longa e marcante história dos R.E.M. Dos dias em que ajudaram a criar uma noção de rock alternativo na América dos oitentas ao momento em que se transformaram num dos maiores fenómenos de vendas do mundo (sem nunca comprometer a essência de uma identidade) já nos noventas, esta é uma história sobretudo feita de grandes canções. Que ficam, muitas, na banda sonora fundamental do tempo em que nasceram.
segunda-feira, maio 02, 2011
Mais um filme para os R.E.M.
terça-feira, março 08, 2011
Novas edições:
R.E.M., Collapse Into Now
R.E.M.
“Collapse Into Now”
Warner
2 / 5
Devemos ter em conta uma questão de fundo antes mesmo de começar a ouvir o disco. Que mais podemos pedir a uma banda com 30 anos de vida e que se prepara para nos dar o seu 15º álbum de originais? Não muito mais, de facto, ao longo da sua carreira contando-se mais que uma mão cheia de discos e um valente lote de canções que asseguram já o seu lugar na história, não apenas do rock “independente” norte-americano mas do próprio panorama global da música popular da recta final do século XX. São raras, muito raras mesmo, as discografias de bandas que levam além dos primeiros anos de trabalho a capacidade de marcar o seu tempo com o mesmo fulgor com que, habitualmente, se desenham as estreias e imediatamente posteriores episódios de afirmação de uma linguagem. Os R.E.M. fizeram já mais que a sua conta, tendo, depois de fundamentais álbuns editados nos oitentas, revelado a capacidade em trilhar outras visões em discos lançados nos noventas, da demanda pela canção capaz de cruzar públicos nos dias de Out Of Time ou Automatic For The People ao desafio de novas formas no muito recomendável Up, em 1998... De então para cá assinalaram seguro momento de manutenção em Reveal, deram um tiro ao lado em Around The Sun e reencontraram o viço da música eléctrica que os viu nascer em Accelerate... Collapse Into Now chega três anos depois desse último passo... Mas, como em muitos dos discos lançados depois de Up, apresenta-nos uma nova colecção de canções onde os R.E.M. não fazem muito mais que seguir as heranças de si mesmos, reencontrando talvez um sentido de versatilidade dentro do alinhamento de um mesmo disco como podemos recordar nos dias de Out Of Time. Não falta uma lista de ilustres convidados, de Patti Smith ou Eddie Vedder a Joel Gibb (dos Hidden Cameras) ou Peaches... O que falta mesmo são melhores canções, raros sendo os momentos onde, como acontece em Überlin, o mais-do-mesmo soa, pelo menos, a alguns minutos de R.E.M. “clássico” de melhor inspiração. Collapse Into Now é, no fundo, como uma montra de uma loja com a qual temos antiga e boa relação, mas onde uma nova colecção, apesar da familiaridade, não gera já o mesmo entusiasmo. O que não quer dizer que não continuemos a visitá-la...
sábado, março 05, 2011
R.E.M.: um belo colapso
Três anos passados sobre Accelerate, está a chegar Collapse into Now, o 15º álbum de estúdio dos R.E.M.. No mínimo, um belo título. Mas mais, muito mais do que isso: um reencontro com coisas básicas e radicais, cruzando a crueza do som rock com um lirismo pop que parece ampliar todas as angústias até à mais paradoxal contemplação. Entre os convidados: Patti Smith e Eddie Vedder. Nas letras, coisas exuberantes como esta estrofe de Oh My Heart:
Storm didn't kill me
the government changed
hear the answer call
hear the song rearranged
hear the tress, the ghosts and the buildings sing
with the wisdom to reconcile this thing
Audição integral nas páginas da NPR, até ao dia 8.
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