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quinta-feira, setembro 28, 2023

Paul Verlaine lido por Patti Smith

Patti Smith publica esta foto no seu site, intitulando-a "Outono em Berlim". Serve de imagem para um post sobre a continuação das suas viagens, depois da morte de Cairo, a sua gata que viveu quase 22 anos.
Sempre marcada pela herança literária e moral da poesia de Paul Verlaine e Arthur Rimbaud, Patti Smith partilha connosco uma tradução de um poema de Verlaine, lido por ela própria — aqui fica também o original.

Chanson d'automne

Les sanglots longs
Des violons
De l’automne
Blessent mon coeur
D’une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l’heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure

Et je m’en vais
Au vent mauvais
Qui m’emporte
Deçà, delà,
Pareil à la
Feuille morte.

* * * * *

* Paul Verlaine e Arthur Rimbaud [ France Culture ].

domingo, agosto 03, 2014

Notas de viagem:
Um queque em Banguecoque

Fotos: NG
Uma ideia nova a partir de hoje no Sound + Vision. Histórias e imagens de viagens. E para começar a memória de uma tarde na capital tailandesa em que, ao lanche, foram servidos... queques. Sim, queques. 

O barco é, por vezes, a melhor solução para andar mais depressa em Banguecoque, naturalmente se os lugares de partida e destino estiverem à beira-rio. O rio Chao Phraya, que nasce no centro do país e passa por Ayutthaya (a antiga capital, à qual os portugueses chegaram há pouco mais de 500 anos como primeiros visitantes), define assim uma espécie de grande avenida de água ao longo da qual Banguecoque cresceu, nas suas margens morando hoje alguns dos mais célebres e concorridos hotéis do centro da capital tailandesa.
Naquela tarde rumava contudo um pouco mais a montante da zona onde se acotovelam os hotéis. Um pequeno cais, com um edifício de formas bem familiares para um europeu ali bem perto, indicavam que tínhamos chegado. Lá de dentro ouviam-se cânticos, também eles familiares na musicalidade, as diferenças (prestando atenção um pouco depois) morando nas palavras que o coro entoava.
O edifício era o de uma igreja – construída há 240 anos por um arquiteto italiano a mando de um padre português -, o centro da pequena comunidade de Santa Cruz que alberga cerca de 900 cristãos e almas de outras confissões perto do coração de uma cidade predominantemente budista. E naquela manhã celebrava-se ali um casamento. Ele, Kowit, um tailandês de 39 anos. Ela, Pham Ti, uma vietnamita cristã de 20. Portas abertas deixavam ver e ouvir o que se passava. O episódio seguinte adivinhava-se no adro da igreja, onde entre saquetas de chá e garrafas de refrigerantes havia bolos de mármore e de banana.
A pequena comunidade não está ali por obra do acaso, mas sim por via de um terreno cedido pelo rei tailandês quando a capital se instalou em Bangkok no século XVIII. A relação entre os dois povos remonta ao século XVI, tendo então assinado um acordo militar e uma autorização de residência e livre prática da sua religião. Com capital instalada em Banguecoque depois da guerra que destruiu Ayutthaya, o rei Taksin concedeu aos portugueses o terreno onde hoje está esta comunidade por ocasião de uma visita que ali fez em 1764.
Contornada de pequenas casas e pequenas ruas que dela irradiam (salvo na frente de rio onde há um cais), a igreja define o centro de uma comunidade onde há uma escola (com as palavras Santa Cruz bem evidentes sobre a porta) e as heranças portuguesas se materializam também numa pequena fábrica de bolos que encontramos nas suas traseiras.  
Queques... Um homem de ascendência portuguesa, com 48 anos, conta que o seu irmão chegou uma vez a ir a Lisboa, onde provou e comparou esses outros queques de que ouvira falar. Os de Banguecoque são uns descendentes, com um sabor mais açucarado (lembram as cavacas das Caldas) e uma textura que parece a do Pão de Ló. A maior originalidade são as passas de uva...

Comecei a entender porque os tailandeses que ia conhecendo falavam tantas vezes de doçaria quando se referiam aos portugueses. Tinham mencionado, com particular orgulho, de um outro descendente, os foi thong, nada mais senão descendentes diretos dos fios de ovos (que monges portugueses terão levado para aquelas latitudes há alguns séculos) e que, de diferente face aos que aqui conhecemos têm uma presença do jasmim no tempero. Mas essa história fica para um outro dia...


Na imagem que abre o posto vemos Santi, um dos líderes daquela comunidade na capital tailandesa, mostrando um dos queques que ali são diariamente produzidos. Nas três imagens mais abaixo vemos a Igreja de Santa Cruz, espreitamos o casamento que ali decorria e olhamos em volta para ver o bairro em redor da igreja.

sexta-feira, outubro 18, 2013

De regresso a Memphis


Hoje passamos por Memphis, cidade que em tempos remotos foi a capital do Egito. Fica alguns quilómetros a sul do Cairo, muito perto da necrópole de Saqqara. Estas imagens mostram parte das ruínas que podem ser visitadas.

quarta-feira, outubro 16, 2013

Num planalto, com vista sobre o Cairo


Continuamos no planalto de Giza, onde mora a mais famosa necrópole dos tempos do Império Antigo, dominada pelas três grandes pirâmides e a esfinge. Hoje desviamos os olhares dos monumentos para a cidade. Uma das melhores vistas sobre o Cairo parte precisamente deste planalto.

terça-feira, outubro 15, 2013

Entre pirâmides e uma esfinge

Hoje passamos pelo planalto de Giza, num dos limites da cidade do Cairo. É ali que mora a mais célebre necrópole do Antigo Egito, um conjunto dominado por três grandes pirâmides que datam dos tempos da IV dinastia, a elas juntando-se muitos outros túmulos mais pequenos e a grande esfinge.

segunda-feira, outubro 14, 2013

Numa pirâmide com degraus

A cerca de 30 quilómetros a sul do Cairo, junto do que era então Memphis, antiga capital do Egito, encontramos a necrópole de Saqqara. Dominada pela pirâmide de degraus que serviu de túmulo ao faraó Djoser (foi a primeira a ser construída), a necrópole ocupa uma área expressiva, juntando ao complexo funerário deste rei uma série de mastabas (outros túmulos) e ainda algumas outras pirâmides, muitas delas num estado considerável de ruína.

sexta-feira, outubro 04, 2013

Ainda pelas ruas de Cracóvia


Voltamos a caminhar entre as ruas de Cracóvia, hoje entre os espaços da cidade antiga, outrora fechada entre muralhas. Ali mergulha-se no tempo, aquelas paredes tendo sobrevivido à destruição que se abateu sobre muitas outras cidades polacas no final da II Guerra Mundial.

quarta-feira, outubro 02, 2013

Um castelo em Cracóvia

Três olhares hoje sobre o castelo Wawel, um edifício que na verdade representa várias etapas distintas de construção, e cujas estruturas mais antigas remontam ao século XIV. Residência real, o castelo foi edificado fora do centro da cidade, junto às margens do rio Vístula, numa zona elevada que acolheu habitações desde os tempos do Paleolítico. O facto de apresentar construções de etapas distintas atribui ao castelo uma variedade invulgar de formas, cruzando estilos arquitetónicos num conjunto que acaba por expressar uma personalidade muito peculiar.

terça-feira, outubro 01, 2013

Pelas ruas de Cracóvia

Fundada no ano 700 nas margens do rio Vístula, a cidade de Cracóvia, no Sul da Polónia, é uma das mais importantes capitais turísticas do país. Com um centro histórico registado em 1978 pela UNESCO, a cidade sobreviveu à II Guerra Mundial, pelo que, ao contrário de Varsóvia, onde a esmagadora parte dos seus edifícios “históricos” não são senão réplicas recentes dos originais, aqui a memória mora entre as paredes, estátuas e ruas...

sexta-feira, julho 19, 2013

Pelas ruas de Varsóvia

Ainda a caminhar pelas ruas da "cidade velha", toda ela reconstruída depois do final da II Guerra Mundial. As esculturas são também, todas elas, recentes. Embora algumas recuperando, tal como os edifícios, linhas com história.

quinta-feira, julho 18, 2013

Entre a pintura e a realidade

Caminhamos hoje por uma das artérias centrais da chamada “cidade velha” em Varsóvia. Une o velho palácio a uma zona mais moderna da cidade (onde se instalaram edifícios oficiais durante o regime comunista) e alberga essencialmente universidades e uma sucessão de lojas e restaurantes. A rua, como tantas da capital polaca, foi reconstruída depois da guerra e tudo o que ali vemos são edifícios posteriores a 1945, apesar de representarem formas de arquitetura antiga. A reconstrução desta rua foi possível graças a pinturas do século XVIII que a mostravam no seu esplendor de então.

Foram quadros como este, de Bernardo Bellotto (sobrinho de Canaletto), que permitiram a reconstrução desta zona da cidade de Varsóvia.

quarta-feira, julho 17, 2013

Nas ruas da "cidade velha"

Voltamos hoje a caminhar por entre as ruas da chamada “cidade velha” em Varsóvia. Velha na história e nas memórias que o traçado das ruas sugere. Até porque, arrazada em 1944, esta zona da cidade foi toda ela reconstruída. Os edifícios que vemos, apesae de evocarem memórias da arquitetura urbana do centro da Europa dos séculos XVIII e XIX, são contudo posteriores a 1945.

terça-feira, julho 16, 2013

Pelas ruas de Praga (a de Varsóvia)


Continuamos a caminhar pelas ruas do bairro Praga, na margem direita do Vístula, em Varsóvia. Hoje reparando em pequenos detalhes que se cruzam pela nossa frente numa caminhada sem rumo definido através de ruas que sobreviveram à II Guerra Mundial e pelas quais surgiram entretanto novas gerações de edifícios, pinturas murais e estátuas. A terceira imagem representa um conjunto num pequeno parque no centro do bairro, que celebra a tradição local dos músicos de rua.


É pelas ruas deste bairro que encontramos alguns dos edifícios mais antigos de Varsóvia. Mas a modernidade mora já também por ali.

segunda-feira, julho 15, 2013

Pelas ruas de Praga (mas em Varsóvia)...


Vamos caminhar entre ruas do bairro Praga, na margem direita do Vístula, em Varsóvia e que, como já aqui contamos, foi “poupado” à devastação que arrazou 80 por cento da cidade no momento da retirada dos alemães em 1944 porque ali estava, à espera, o exército vermelho. O bairro é por isso um dos raros espaços preservados da velha Varsóvia, aos edifícios da época tendo o tempo juntado depois outros construídos durante o regime comunista e até os mais recentes, posteriores a 1989. Estas imagens levam-nos por um dos muitos edifícios do bairro Praga onde a memória anterior a 1939 está ainda viva nas paredes.


Como em tantos outros bairros menos “favorecidos”, Praga viveu uma época de rendas baixas e marginalidade. E tal como no Village em Nova Iorque ou em algumas zonas de Berlim, ali começaram a chegar artistas e novos inquilinos (com mais ideias que recheio na carteira). Esta parede pintada é apenas uma entre as muitas expressões de uma nova vida que entretanto ali começou a brotar.

quinta-feira, julho 11, 2013

Painéis que guardam memórias


Na primavera de 1943, na etapa final da liquidação do gueto de Varsóvia, um conjunto de resistentes levantou-se em armas (nas que conseguira juntar) num gesto de luta que os alemães certamente não espertavam. O levantamento do gueto (que terminaria alguns dias depois com o total esvaziamento das ruas e habitações) é hoje evocado em vários pontos de Varsóvia. Um deles a praça onde agora está instalado o Museu da História dos Judeus Polacos e que corresponde a um dos lugares finais de luta e resistência nesse episódio final de vida do gueto. A memória desse momento de luta, bem como a de muitos que dali caminharam para as suas mortes é lembrada em dois painéis criados pouco depois do fim da guerra por Natan Rappaport.


A memória dos que resistiram e lutaram em 1943, assim como a dos muitos outros que ali morreram ou foram levados para campos (sobretudo o de Treblinka, a pouco menos de 100 quilómetros da cidade) foi lembrada neste que foi o primeiro monumento erigido depois do fim da guerra. Fotos da época mostram mesmo o Monumento aos Heróis do Gueto levantado entre uma vizinhança de edifícios em escombros. A estrutura em pedra que acolhe os dois painéis foi feita com lajes que tinham sido trazidas da Suécia para um outro monumento, a uma vitória alemã que não aconteceu. A histórica visita a Varsóvia, em 1970, de Willy Brandt, chanceler da Alemanha Ocidental, levou-o a passar frente a este monumento, junto do qual se ajoelhou num gesto interpretado como um pedido de perdão do povo alemão.

quarta-feira, julho 10, 2013

Vida que se conta onde houve um gueto

Fotos: N.G.

Abriu as portas em abril deste ano, mas para já apenas para quem quiser conhecer parte do edifício, visitar uma exposição temporária e a loja do museu. Em 2014 chega a exposição permanente. O Museu da História dos Judeus Polacos é já contudo uma das paragens mais obrigatórias em passagem por Varsóvia. Este texto foi originalmente publicado na edição de 6 de julho do DN com o título 'Revisitar a cultura judaica no centro de Varsóvia'.

Há memórias que convém não esquecer e a do Holocausto é uma delas. Mas Varsóvia, capital de um país que antes da II Guerra Mundial tinha entre a sua população um total de 3,5 milhões de judeus, dos quais apenas cerca de 300 mil terão sobrevivido, não quer fechar a memória da sua relação com este povo e a sua cultura aos anos de horror que levou milhões aos lugares de extermínio. E o novo Museu da História dos Judeus Polacos quer lembrar que há uma história por contar, que passa por mil anos de relacionamento de comunidades judaicas com esta zona da Europa e também pelo período do regime comunista que assistiu a novos episódios de antissemitismo.

Apesar de só abrir a sua exposição permanente na primavera de 2014, o edifício já tem portas abertas a quem quiser contemplar o magnífico projeto arquitetónico (dos finlandeses Rainer Mahlamäki e Ilmari Lahdelma), assistir a programas especiais e até visitar uma exposição temporária que recorda, com filmes de família, cenas de quotidiano nos anos 30, antes da invasão alemã.

Situado numa praça com ressonâncias históricas, numa zona que pertencia ao gueto, o edifício mora frente ao monumento em memória dos seus heróis e vítimas ali erigido pouco depois da guerra e junto à entrada do esgoto por onde fugiu um pequeno grupo de resistentes comandados por Marek Edelman, durante o motim de 1943 que antecedeu a liquidação final da população ali encurralada. “É um local muito simbólico”, reconhece Piotr Kossobuddzki, do departamento de comunicação.

“Este é um museu de celebração da vida e não apenas do Holocausto”, explica o mesmo responsável, chamando a atenção para o contraste entre a calma geométrica do exterior do edifício e a “explosão de formas” no interior, que simbolizam momentos de rutura na histórica dos judeus polacos. Surgido como ideia em 1995, o museu nasceu oficialmente em 2005 e neste momento há perto de cem especialistas a trabalhar na exposição permanente que visa “ir para lá dos estereótipos”. Mais que lembrar o campo de Treblinka (não muito longe da cidade, onde morreu a maioria dos habitantes do gueto) o museu quer lembrar, por exemplo, como, há alguns séculos, os donos das terras em volta da cidade deram a elementos da comunidade judaica o papel de gerir a sua economia, o que conduziu à sua instalação e expansão na região. “30 a 40 por cento da população de Varsóvia chegou a ser judaica”, lembra Piotr Kowalik, um dos muitos especialistas em história integrados na equipa do museu.

O museu pretende também celebrar toda uma cultura, e a gastronomia ashkenazi integrou mesmo alguns dos workshops que estão já em curso. Em curso está também a reconstrução de uma sinagoga de madeira da região de Lviv queimada na guerra, mas cujo regresso “à vida” aconteceu fruto de dois anos de trabalho por técnicos ligados ao museu. Será a primeira peça da exposição permanente, que conterá um modelo interativo de Cracóvia e do bairro judaico de Kazimierz, memórias de vagas de emigração no século XIX, o Holocausto ou as campanhas antissemitas de 1968 que conduziram a novo êxodo.

A meses de abrir as portas o museu vive em azáfama. Há visitas guiadas que revelam ediício e a sua utilização. O departamento de educação prepara programas de intercâmbio e um discurso com agentes turísticos que mostre que na Polónia “há mais a ver que campos de concentração e sinagogas”, diz Kossobudzki. Esperam 800 a um milhão de visitantes por ano. E chegar ainda mais longe com uma exposição itinerante e também um site que terá os materiais do museu digitalizados mas que quer receber memórias das mais variadas povoações polacas, desafiando aí as populações locais a dar a conhecer memórias das suas terras.