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sexta-feira, dezembro 27, 2013

Os melhores concertos de 2013 (N.G.)

Foto: Teatro M. Matos
Marc Almond
(Teatro Maria Matos, Lisboa)
Foi preciso esperar mais de 30 anos para vermos Marc Almond num palco português. Mas a espera foi compensada. E a noite de dia 20 de dezembro fez do Natal no Maria Matos um acontecimento emotivo de partilha de canções, onde não faltaram as referências a Jacques Brel nem mesmo aos Soft Cell.

Panda Bear
(Lux, Lisboa)
Era uma noite programada por ele mesmo. Mas ele era também o mais aguardado do cartaz, até porque ia apresentar apenas temas novos. Um trabalho de mais clara abordagem a ritmos mais pronunciados e, pelo caminho, uma nova canção (mais lenta) que é das melhores que alguma vez nos deu.

John Grant
(Cinema São Jorge, Lisboa)
O mais apelativo dos nomes do Mexefst, John Grant visitou Lisboa com o grupo (essencialmente islandês) com o qual dá corpo às canções de um soberbo segundo álbum – Pale Green Ghosts - que editou este ano. O encontro deixou claro que este é nome para nos voltar a visitar brevemente.

Justin Timberlake
(Rock in Rio, Rio de Janeiro)
Foi o grande concerto da edição deste ano do Rock In Rio e é já um nome certo no cartaz do festival que em 2014 vai assinalar os dez anos de presença em Lisboa. Sem aparato maior no palco, Timberlake centrou as atenções nas canções e nas suas capacidades como performer. E venceu o desafio.

Dead Can Dance
(Coliseu dos Recreios, Lisboa)
Poucas vezes os regressos e reuniões são matéria digna de entusiasmar mais que o departamento da nostalgia. Talvez tenha havido alguma ali, sim. Mas foi um serão de intensa vivência de uma linguagem que transporta ecos dos oitentas, mas que acolheu também os sons do álbum recentemente editado.


Clássica


The Perfect American, de Philip Glass
Cantores e Coro e Orquestra do Teatro Real, dir. Dennis Russel Davies
(Teatro Real, Madrid)
Uma das melhores óperas de Philip Glass, The Perfect American parte de um retrato de Walt Disney para refletir também sobre o mundo político e social do seu tempo (estabelecendo pontes com o nosso). Trabalho de orquestra e voz reflete procura de novos sentidos dramáticos e soberba encenação.

Candide, de Leonard Bernstein
Cantores, Orq. Sinfónica Portuguesa e Coro do T.N. São Carlos, dir. João Paulo Santos
(Largo S. Carlos, Lisboa)
A ópera saiu à rua. Foi numa noite quente, apresentando a Lisboa um dos mais brilhantes (e bem humorados) trabalhos de música dramática do século XX, na versão “definitiva” que o próprio Bernstein chegou a dirigir em finais dos anos 80. Largo cheio para um dos grandes momentos que a cidade viveu este ano.

Sinfonia Nº 7, de Sibelius
Mahler Jugendorchester, dir. Leo McFall
(Fund. Gulbenkian, Lisboa)
Já nos habituamos à visita anual da brilhante Mahler Jugendorchester ao Grande Auditório da Gulbenkian. Este ano, com o maestro LeoMcFall escutámos uma belíssima interpretação da Sinfonia Nº 7 de Sibelius (e com ela uma rara oportunidade para ouvir, ao vivo, a música deste grande sinfonista do séc. XX).

Diabelli Variations, de Beethoven
Uri Caine + Orq. Gulbenkian, dir. Joana Amaral
(Fund. Gulbenkian, Lisboa)
Depois de uma visita triunfal no ano passado, evocando Wagner e a sua relação com Veneza, Uri Caine regressou à Gulbenkian para nos propor uma abordagem livre e muito pessoal das Diabelli Variations, numa interpretação que contou com uma espantosa cumplicidade da Orquestra Gulbenkian.

Emilie, de Kaaija Saariaho
Barbara Hannigan + Orq. Gulbankian
(Fund. Gulbenkian, Lisboa)
Tal como ali vimos recentemente uma expressão de palco que transcende o modelo da versão de concerto, de um A Flowering Tree, de John Adams, este ano a finlandesa Saariaho levou à Gulbenkian Emilie, com uma pungente Barbara Hanningan e bela criação cénica de Vasco Araújo e André Teodósio.

quarta-feira, maio 29, 2013

Dead Can Dance, 2013
Breve retrato de uma noite em Lisboa

Foto: Facebook dos Dead Can Dance
Uma sala cheia. Um alinhamento que tomou o recente Anastasis como ponto de partida, mas soube encontrar vários momentos de reencontro com ecos de uma discografia notável (Host Of Seraphim, do álbum de 1988 The Serpent’s Egg, foi mesmo um dos momentos maiores da noite). Um Brendan Perry comunicativo, ora ensaiando gestos de dança, ora de bouzouki nas mãos. Uma Lisa Gerrard imponente, elegante vocalmente assombrosa, mais discreta mas marcante. Juntaram uma canção grega dos anos 30 que dá conta que o que socialmente vivemos hoje em dia não é novidade em solo europeu. Recordaram uma canção que Lisa gravou com os This Mortal Coil. E também o mítco Song To The Siren, de Tim Buckley (que conheceu a mais bela das suas versões precisamente com os This Mortal Coil). Entre teclados e percussões, entre os contastes que as vozes de Lisa e Brendan definem, numa música que transporta ecos de vários tempos e cruza lugares (sobretudo apontados a espaços do mundo mediterrânico) viveu-se uma noite inesquecível, vivida por um Coliseu dos Recreios esgotado, com plateia onde eram raros os sub-35. Não havia dess code, mas o negro conseguia a maioria (embora não absoluta) nas indumentárias de uma multidão que, visível e justificadamente satisfeita, saiu da sala após duas horas que valeram uma espera longa. Mas que compensou a demora.


Este texto que agora deixamos a seguir  é uma versão editada de um outro originalmente publicado na edição de 28 de maio do DN com o título ‘Ilustres mensageiros de uma música sem tempo’.

Com apenas um número e uma letra definia-se um som. 4 AD... A uma primeira leitura poderíamos pensar que se trataria do ano 4 da era cristã (4, anno domini, o ano em que Augusto designou o enteado Tibério como seu sucessor)... Mas na verdade era apenas um conjunto tipográfico de um projeto para um panfleto de lançamento de uma nova editora que, nascendo em 1980, procurava sugerir uma noção de futuro... E assim surgia a 4 AD Records, editora ligada ao grupo Beggars Banquet que, na alvorada dos anos 80, se propunha a descobrir novos talentos. Começaram por editar discos dos Bauhaus, Modern English, Birthday Party, Cocteau Twins... Com uma identidade gráfica que foi graduamente ganhando visibilidade através do trabalho de Vaughan Oliver, a 4 AD atingia em meados dos oitentas um estatuto de culto. E apesar de trabalhar em várias frentes de intervenção estética, encontrou uma primeira expressão de um “som” através dos discos dos nomes que maior visibilidade começavam a conquistar. Eram eles os Cocteau Twins, os This Mortal Coil (na verdade um projeto do patrão da editora reunindo alguns dos seus músicos) e aqueles que em breve seriam um dos nomes mais aclamados do catálogo: os Dead Can Dance. Passaram mais de 30 anos. O grupo já se separou e voltou a reunir. A sua ligação à 4 AD terminou em 1996. A sua identidade trancendeu o berço e ganhou alma própria.

Formados em Melburne (Austrália) em 1981, os Dead Can Dance chegaram dois anos depois a Londres como um quarteto juntando Lisa Gerrard, Brendan Perry, Paul Erikson e Peter Ulrich. Em 1984 esteiam-se com um álbum homónimo na 4 AD. É contudo com Spleen and Ideal, editado no ano seguinte, que definem mais claramente um caminho que, ao longo dos anos seguintes, os levará a cruzar referências invulgares em terreno pop/rock alternativo, aproximando-os antes das heranças que vão escutando entre a música medieval e renascentista e ecos de outras latitudes, sobretudo escutando sons do Mediterrâneo (sem contudo seguir caminhos semelhantes aos da chamada world music que emergeria como força de mercado mais perto do final da década). Tudo isto sob moldura plácida e elegante.

Depois de alcançarem a expressão clara de uma linguagem muito pessoal (que reflete também os grandes contrastes vocais entre Lisa e Brendan) em álbuns como The Serpent’s Egg (1988) e Aion (1990), as suas obras-primas, é por alturas do lançamento de Into The Labirynth (1993) que se afirmam como um dos nomes mais bem sucedidos do catálogo da editora. Afastam-se contudo depois de Spirit Chaser, cada qual entregando-se então a projetos a solo.

Em 2005 uma primeira reunião devolveu-os aos palcos, agora reduzidos ao duo fundador constituído por Lisa Gerrard e Brendan Perry (em tempos um casal, mas separados desde meados dos oitentas). Em 2011 tornaram púbica a vontade de gravar um novo disco, que chegaria em 2012 com o título Anastasis, recuperando linguagens na linha do que tinham gravado nos anos 90 (num disco focado num interesse pela cultura grega).

Juntos, Lisa e Brendan estabeleceram, como Dead Can Dance, uma frente que optava por uma noção de elegância em detrimento do sentido de urgência e angulosidade rock’n’roll ou do melodismo mais imediato da música pop. São por isso mensageiros de uma música sem tempo.