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quarta-feira, abril 03, 2013

Para que serve ser “bom aluno”?

A troika já montou a tenda em Chipre. O acordo contempla um prazo de amortização de 22 anos para os 10 mil milhões de euros do resgate, a uma taxa de juro de 2,5%. Ou seja, Portugal continua a ser o Estado com piores condições dos países intervencionados (incluindo a Espanha). Para que serve estar no quadro de honra?

segunda-feira, fevereiro 25, 2013

O êxito do regresso aos mercados (2)

A entrevista de Gareth Isaac, da gestora de activos Schroders, ao Público é, de facto, elucidativa do enorme êxito do regresso aos mercados. Mais uma passagem da entrevista (a que se fez alusão aqui):
    Em relação à emissão portuguesa, verificou-se uma mudança do tipo de investidores que participaram. Antes eram maioritariamente bancos e agora são hedge funds e gestores de activos. Porquê?
    O primeiro factor é que o rating português está actualmente com o estatuto de "lixo". E isso é um problema porque os investidores institucionais estabelecem por vezes limites mínimos e tiveram de vender esses títulos e agora ainda não os podem comprar. Mas, com o programa de compra de obrigações do BCE, os gestores de activos vêem agora as obrigações portuguesas como um bom investimento, tendo em conta o que são as suas taxas de juro. Embora no passado recente fossem vistas como um activo muito arriscado, agora parecem muito menos arriscados. E a verdade é que continuam a render quase 6% numa emissão a cinco anos. E se se acreditar que o BCE vai sempre apoiar o Estado português - e que o Governo vai fazer sempre aquilo que o BCE pede -, então este é um muito bom investimento. Principalmente, quando as taxas de juro na zona euro estão a 0,75%.

    Portanto, para si, como investidor, o que o atrai em Portugal é um risco relativa-mente baixo, com uma taxa de juro relativamente alta...
    Actualmente, para investidores como eu, as obrigações de empresas estão com taxas de juro baixas e as obrigações de Estados como a Alemanha, o Reino Unido ou os Estados Unidos estão com taxas de juro abaixo de 2% nas emissões a 10 anos. E, por isso, se se consegue encontrar um investimento em que se é adequadamente compensado pelo risco - e é o que eu acho que acontece no caso de Portugal, com taxas acima de 5,5% -, ficamos perante uma boa oportunidade.

    Também está a comprar dívida italiana e espanhola?
    Não, de momento. Prefiro a dívida portuguesa, porque oferece taxas de juro mais altas. Acho que as taxas de juro até estão altas de mais. Deviam estar ao nível das irlandesas, e eu penso que vão ficar quando conseguir o acesso total ao mercado e solicitar ao BCE a aplicação do programa de obrigações. Não acho que o BCE vá chegar a comprar qualquer obrigação, mas o simples facto de esse programa ser activado vai fazer baixar as taxas de juro.

domingo, fevereiro 24, 2013

O êxito do regresso aos mercados

A gestora de activos Schroders tem sido um dos investidores que, nos últimos tempos, tem comprado dívida portuguesa. O Governo diz que isso se deve ao facto de o país ser “um bom aluno” (embora o falhanço de todas as previsões o desminta). Gareth Isaac, responsável na Schroders pela estratégia no âmbito das obrigações no mercado do euro, explica que estas compras de dívida portuguesa se devem única e exclusivamente à circunstância de o Banco Central Europeu ter assumido o papel de fiador do Estado português. Em meia dúzia de linhas numa entrevista a inserir na edição de amanhã do Público, Gareth Isaac explica a aposta na dívida portuguesa:
    “O grande motivo é que o Banco Central Europeu, primeiro com a linha de crédito a três anos para os bancos e, depois, com o novo programa de compra de obrigações do tesouro, mostrou um grande compromisso em manter a integridade da zona euro. O que o BCE disse foi que era, efectivamente, o credor de último recurso. E isso deu aos investidores internacionais uma grande confiança”.

segunda-feira, fevereiro 18, 2013

‘Os “panhonhas” estão a destruir um país que estava a conseguir atingir níveis de civilização inimagináveis em 1974’

• Ana Sá Lopes, Os panhonhas e Cia. irresponsável:
    ‘António Correia de Campos, ex-ministro da Saúde de Sócrates, definiu prodigiosamente, na edição de sábado do i, a atitude do governo português perante a troika. Em entrevista à jornalista Rita Tavares, Correia de Campos admite que “a troika precisa de nós”, mas “tem pela frente uns panhonhas que são os nossos actuais governantes, que não são capazes de bater o pé”. É impossível contestar o argumento de que o governo português tem gerido a sua relação com a Europa utilizando – ainda por cima como estratégia mais ou menos publicamente assumida – o método “panhonhas”. (…)

    Os “panhonhas” estão a destruir um país que estava a conseguir atingir níveis de civilização inimagináveis em 1974. (…)’

terça-feira, dezembro 04, 2012

Gaspar a querer passar atestado de estupidez aos portugueses

— Ó menino, vais continuar a ser um bom aluno, ouviste bem?

Vítor Gaspar diz que foi mal "interpretado" em relação ao que disse no debate final do Orçamento de Estado, na passada terça-feira, como assinalámos aqui.

Vamos recordar o que Gaspar escreveu e leu: “Portugal e a Irlanda – países de programa – serão – de acordo com o princípio de igualdade de tratamento adoptado na cimeira da área do euro em julho de 2011 – beneficiados pelas condições abertas no quadro do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira”. (se preferir em registo vídeo, encontra esta passagem aqui)

Estamos perante um homem que prefere chamar "idiotas" a todos os portugueses - não há volta a dar: quem interpreta de forma incorrecta uma frase tão simples e cristalina tem de ser um "idiota" - do que admitir que se precipitou, que se enganou, ou que foi enganado. Ou tudo junto ao mesmo tempo. É óbvio que havia de chegar o dia em que quem está habituado a se agachar aos pés dos poderosos acaba por levar um pontapé.
    Pedro T.

Ainda que mal pergunte... [123]


Afinal onde está e para que serve a credibilidade internacional de Vítor Gaspar? Para levar raspanetes dos mandarins do Ecofin?

sábado, dezembro 01, 2012

"No fim de tudo isto, Portugal terá uma economia feita em cacos e o mesmo problema orçamental para resolver"

• Miguel Sousa Tavares, O BECO [hoje no Expresso]:
    ‘O grande erro (se assim podemos benevolamente chamar-lhe) do primeiro-ministro Vítor Gaspar é aquilo que Paul de Grauwe classifica apropriadamente como a vontade de ser o melhor aluno da turma, o mais austero da sua escola, sujeitando-se a acordar tarde de mais para o óbvio: "que, no fim de tudo isto, Portugal terá uma economia feita em cacos e o mesmo problema orçamental para resolver". E o erro do adjunto do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, é a tentação de preencher a sua ignorância em matéria económica e a sua impreparação em matéria política encostando-se à muleta que Gaspar lhe estende, convencido de que assim hão-de conseguir atravessar para a outra margem. Eu estou convencido do contrário: que ele irá ao fundo e nós com ele, pois está escrito nos livros que não se pode salvar as finanças públicas de um país matando a sua economia. Já Vítor Gaspar, terá, provavelmente, um futuro garantido até à eternidade nalgum gabinete de estudos internacional ou como palestrante em universidades, para dar conferências com o tema 'Eu estava lá: como conduzi até ao fim o processo de ajustamento da economia portuguesa'.’

quinta-feira, novembro 29, 2012

Paul de Grauwe

Paul de Grauwe dá duas entrevistas importantes: ao Dinheiro Vivo, que pode ser lida aqui, e ao Jornal de Negócios (JdeN), da qual há uma breve alusão aqui. Como se diz na introdução à entrevista do JdeN, sintetizando as palavras de Paul de Grauwe, “a Europa está a pedir ao Sul que faça a quase totalidade do ajustamento. É o resultado de um mau diagnóstico das causas da crise e do moralismo do Norte.”

Eis uma passagem da entrevista ao JdeN:
    - Muitas reformas feitas ao abrigo do programa da troika estão a ser vistas como ideológicas. É assim?

    - Há o que chamam de agenda ideológica que pode ser apenas um modelo económico particular que estas pessoas têm na cabeça Mas há também um mau diagnóstico: o de achar que o problema está essencialmente do lado da oferta na economia Mas isso não teve nada a ver com a crise. O problema hoje não é do lado da oferta. Hoje há um colapso da procura agregada devido à austeridade e falta de confiança.

segunda-feira, novembro 26, 2012

Perder salários em 12 suaves prestações

Pedro Santos Guerreiro, Perder salários em 12 suaves prestações:
    'A "desvalorização interna" segue o seu caminho inexorável. Chamam-lhe nomes, dão-lhe outros nomes, mas ano após ano a economia perde empregados e os empregados perdem salários. A impossibilidade gregoriana de haver 14 meses num ano cristaliza-se nos recibos de vencimento.

    (...)

    O Governo encontrou a ilusão que perdera, por não dispor de moeda própria nem haver inflação alta. Esta ilusão não travará a recessão, o aumento da malparado, o desemprego, a pobreza. Essa ilusão é um efeito nominal que leva ao empobrecimento real. Os economistas chamam-lhe "desvalorização interna". E é um meio, não um fim, para tornar a economia mais equilibrada e competitiva. Os tolos, como lhes chama o primeiro-ministro, ainda não viram grande coisa disso. Mas pronto, esses são tolos.'

sexta-feira, novembro 23, 2012

Uma repartição contabilística da troika

• Carlos Zorrinho, Temos Governo?:
    'Em Portugal esta discussão foi abafada pelo discurso e pela prática de empobrecimento estrutural do País. O Governo pediu que não se realizasse o plenário legalmente previsto e não fora a exigência do PS, o Parlamento teria dispensado o debate prévio. Só o Partido Socialista agendou nos prazos legais uma resolução para balizar a posição do Governo. A maioria acordou tarde e estremunhada para o tema. PCP e BE nem isso.

    Com esta atitude, estando em jogo o financiamento europeu para Portugal entre 2014 – 2020, ainda temos Governo? Ou temos uma repartição contabilística da Troika?'

segunda-feira, novembro 19, 2012

O queixinhas

António Correia de Campos, Para que serviu a visita? [hoje no Público]:
    ‘O caso mais grave de impreparação centra-se no primeiro-ministro. Quem não o conhecia impressionou-se inicialmente com a colocação de voz e a pose respeitável. Era certamente uma pessoa de bem e parecia-o. A forma como decorreu a visita de Angela Merkel deitou por terra o optimismo inicial. Terá a ilustre visitante sido devidamente informada dos estragos que a obstinação está a causar? Será que alguém teve a bondade de lhe transmitir as reservas do nosso Presidente e de cada vez mais políticos da direita sobre a sanha sangradora sem anestesia nem transfusão? Será aceitável que um primeiro-ministro se queixe a um chefe de governo que o visita, da comunicação social do seu país? Já tínhamos o pretenso bom aluno, teremos agora um queixinhas?

    Para que serviu, afinal, a visita? Para mostrar a barra do Tejo? Para lembrar os gloriosos feitos de quinhentos? Ou apenas para jurar fidelidade eterna à chanceler e ao seu ministro de Finanças?’

sábado, novembro 17, 2012

“O que está errado não é a estratégia falhada, é ter de reconhecer o falhanço”

• Miguel Sousa Tavares, O DESÂNIMO [hoje no Expresso]:
    ‘(…) [Merkel] manteve-se gélida, como o céu de Berlim em Novembro, escutando o que manifestamente lhe parecia inteiramente devido — os votos de obediência, vassalagem e agradecimento do primeiro-ministro de Portugal. Entre todas coisas essenciais que deixou por dizer, Passos Coelho disse, porém, uma que explica tudo: nem ele - nem a chanceler querem mudar de estratégia porque isso seria reconhecer que esta falhou. Ou seja: o que está errado não é a estratégia falhada, é ter de reconhecer o falhanço. E se os últimos dados mostram que o nosso desemprego juvenil está a chegar aos 40%, se a recessão vai ser bem maior do que eles dizem em 2013, se não há hipótese alguma de cumprir o OE agora em discussão (o que já se tornou uma banalidade), para tudo isso a sr.ª Merkel trazia uma palavra de esperança: "tenham paciência!". Faz-me lembrar um pobre diabo que explicava que, se bem que se tivesse provado que não havia armas de destruição maciça no Iraque de Saddam Hussein, isso só se podia ter descoberto invadindo o país. Vamos pois até ao fim do calvário, só porque a senhora quer e o bom aluno obedece.’

domingo, outubro 28, 2012

Calma, professor

Começa a ser hilariante observar os minutos finais das homilias do Prof. Marcelo, quando ele parece imitar os seus alunos a tentarem acabar o exame depois do toque para a recolha das provas. Hoje, até Judite de Sousa teve pena do professor, ao vê-lo a tropeçar nas palavras: “Pode ser um bocado mais pausado…

Quando Portas saltou do bote de Gaspar

• Teresa de Sousa, Lagarde contra Merkel [hoje no Público]:
    ‘Ao elogiar Christine Lagarde - e só ela -, o ministro [Paulo Portas] pura e simplesmente disse que não à política de total subordinação a Berlim que tem sido a do Governo português. Levantou dúvidas sobre a lógica que enforma os programas de ajustamento, incluindo o nosso. Desafiou o Governo e o Partido Socialista a uma nova atitude na negociação da sexta avaliação da troika. Chamou-lhe pró-activa, o que quer dizer uma verdadeira negociação. As palavras que usou para definir o cerne do debate que se trava hoje na Europa em torno da reforma política e institucional da União Económica e Monetária poderiam ser as de François Hollande ou de Mario Monti, mas não as de Angela Merkel. Responsabilidade e solidariedade, como as duas faces da mesma moeda. Por outras palavras: a partilha de responsabilidade tem de ser acompanhada pela partilha do risco. Por outras palavras, ainda: união orçamental sim, mas eurobonds também. Mesmo que de forma subtil, foram estas questões que deixou à consideração dos deputados. Como outras duas, habitualmente ausentes da retórica europeia deste Governo, na sua obsessão de não descolar de Berlim. Os riscos políticos da divisão norte-sul, assente em preconceitos culturais perigosos. Os riscos geopolíticos da divisão entre os países do euro e os que não são, nem querem ser do euro. Leia-se Reino Unido. São questões de médio prazo fundamentais para um país como o nosso, que não dispensam um debate, nem uma tomada de posição.

    3. O balde de água fria chegou depois do jantar, com Vítor Gaspar. Esse sim, o verdadeiro ministro para os Assuntos Europeus. Não que o que nos disse tivesse constituído qualquer surpresa. Mas pela forma como o disse. Primeiro, explicou como tudo está a correr bem - da balança comercial quase equilibrada à parte da consolidação orçamental que já foi conseguida, passando pela descida do custo do financiamento nos mercados. Em suma, disse Gaspar, já fizemos dois terços do caminho. Para acrescentar de imediato que ainda falta a parte mais difícil. A comparação com a maratona pode ser feliz para alguém que veja a nossa situação pela mera lógica dos grandes agregados macroeconómicos. Para alguém que a mede pelos sacríficios que faz e que vai continuar a fazer, é pura e simplesmente incompreensível. Sobretudo porque ninguém consegue ver a meta, nem sequer vislumbrar qualquer equipa de apoio a fornecer água pelo caminho.

    Curiosamente, aquilo que faltou ao ministro que verdadeiramente decide a política europeia foi falar da Europa. Os quilómetros finais da maratona só serão suportáveis, se alguma coisa mudar, e depressa, a nível europeu e se Portugal estiver disposto a lutar por isso. O problema é que, para Gaspar, a meta tem a forma de Angela Merkel acenando uma longínqua cenoura para os "bem-comportados". É uma escolha. O problema é que a realidade está a mostrar todos os dias que pode redundar num desastre. Gaspar não disse uma palavra sobre as previsões de contracção da economia. Provavelmente, continua a creditar que, da destruição de alguns sectores pouco competitivos, nascerá uma nova plataforma para o crescimento. É uma teoria. Mas é uma teoria enormemente arriscada e, de alguma forma, profundamente contraditória com a ideia de que a única forma rápida de ganhar competitividade é através da desvalorização salarial. Resta acrescentar que o seu estilo já deu os seus frutos. Hoje, arrisca-se a provocar uma enorme rejeição.

    Falta ouvir o primeiro-ministro para saber se há, de facto, um pensamento que conduza o país, na Europa, para um porto de chegada.’

sábado, outubro 27, 2012

Mas que benefício recolhemos até agora da postura de menoridade e abdicação da soberania do atual Governo?

• Nuno Peres Monteiro (professor na Universidade de Yale) e Eduardo Teixeira de Sousa (quadro bancário em Portugal), Portugal e o default ano e meio depois do resgate [hoje no Expresso-Economia]:
    ‘Alguns continuam a argumentar que a renegociação da dívida eliminaria o principal incentivo que temos hoje para fazer mudanças estruturais. Mas, ano e meio passado desde que tomou posse, o Governo mais empenhado em fazer o país “mudar de vida” de que há memória, a vida dos portugueses mudou apenas pelo empobrecimento. Não há registo de reformas estruturais terem sido conseguidas ou até iniciadas.

    Outros argumentam que a renegociação da dívida destruiria a única conquista política do atual Governo: uma imagem de bom aluno na UE, supostamente apreciada pelos nossos parceiros europeus e que, dizem-nos, trará grandes benefícios numa altura de aperto. Mas que benefício recolhemos até agora da postura de menoridade e abdicação da soberania do atual Governo? Pelo contrário, apesar de o Fundo Monetário Internacional se mostrar cético em relação ao rumo preconizado pela troika, a UE não se dispôs a fazer concessões ao “bom aluno” português. Aliás, só esperaria que o fizesse quem tem uma visão ingénua da economia política internacional.

    Portugal tem hoje dois caminhos possíveis. Podemos continuar a destruir o país numa voragem de austeridade, ou podemos renegociar a dívida pública. É este o principal dilema que o país enfrenta. Seria bom que tivéssemos um debate público consequente sobre as duas opções em vez de continuarmos a fingir que a segunda não existe.’

O que tem vindo a matar o Governo não são as exigências da troika: são os excessos e abusos cometidos em seu nome que, em certos casos, assumem foros de indignidade

Fernando Madrinha, A CULPA NÃO É DA TROIKA [hoje no Expresso]:
    ‘O célebre aviso de que “há limites para os sacrifícios que se podem exigir aos cidadãos”, lançado por Cavaco Silva no tempo em que ainda se dava pela sua presença na vida pública e quando era outro o Governo, caiu em saco roto. Agora a conversa é esta: “estamos no limite da tolerância da troika”. Só que os cortes nas prestações mínimas não foram impostos nem propostos pela troika. Tal como muitas outras decisões absurdas e reveladoras, ora de incompetência, ora de prepotência, ora de falta de tato, foram uma opção do ministro da Solidariedade com a qual nem sequer o seu colega das Finanças quis comprometer-se quando interrogado sobre ela.

    O que tem vindo a matar o Governo, a comprometer o consenso político e a paz social não são as exigências da troika: são os excessos e abusos cometidos em seu nome que, em certos casos, assumem foros de indignidade. A obediência cega do bom aluno é, aliás, uma contradição nos termos, porque o verdadeiro bom aluno nunca sofre de obediência cega. Perigosa, sim, é a atitude do marrão pouco dotado, mas convencido e carreirista que só pensa em agradar ao professor. É essa atitude, seguida com gosto por algumas figuras no poder, que está a retirar à governação em Portugal qualquer sopro de humanidade.’

quinta-feira, outubro 25, 2012

Conselheira da Comissão Europeia adverte o Governo português

Considerando que:
    • As elites europeias (e a opinião pública em geral) desconhecem que o programa de “ir além da troika” está já a atingir a capacidade de sobrevivência normal de uma parte da população portuguesa e está a destruir o tecido económico;
    • A estratégia do “bom aluno” leva o país a espatifar-se contra o muro de Berlim;
    • Christine Lagarde, ao reconhecer os erros grosseiros dos programas de “ajustamento” levados a cabo pelo FMI, abriu uma porta que deve ser explorada;

O Governo português deve:
    • Ter uma posição própria e mais combativa para aliviar o programa de ajustamento;
    • Pressionar o Banco Central europeu para reduzir as taxas de juro;
    • Abandonar a posição subalterna e submissa em relação a Angela Merkel, juntando-se ao grupo de pressão constituído pela França, a Espanha, a Itália e a Irlanda.

As palavras da Conselheira da Comissão Europeia podem (e devem) ser ouvidas aqui.

sexta-feira, outubro 19, 2012

O bom aluno em exibição no estrangeiro


1. Passos Coelho deslocou-se a Bucareste para o Congresso do Partido Popular (a direita europeia). É-lhe dada a oportunidade de fazer uma breve intervenção, na qual afirma: “Se olharem para o caso português, verão claramente que estamos a lidar com os actuais problemas, mas também a definir o enquadramento correcto para evitarmos problemas similares no futuro. Nunca mais voltaremos a estar nesta posição. É isso que quero sublinhar.” No período de perguntas e respostas que se seguiu à sua intervenção, Passos Coelho desdisse de imediato o que tinha acabado de ler: “Somos todos políticos e sabemos que não há ninguém que possa prometer que nunca cometerá um erro no futuro.”

Passos Coelho leva a sua indigência ao ponto de nem sequer saber o que está escrito nos discursos que lê? António Pires de Lima, presidente do Conselho nacional do CDS, sustenta que estamos em presença de um caso de “impreparação”.

2. Desmontado o circo em Bucareste, Passos Coelho voa para Bruxelas. Dever-se-á imputar à lendária impreparação de Passos Coelho o que se passou no Conselho Europeu?

Ora os países do Sul fustigados pela crise, com o apoio de Hollande, alertaram os parceiros da União Europeia para o impacto social da crise económica nos respectivos países, reclamando, por um lado, o alívio das medidas de austeridade e, por outro, a necessidade premente de adopção de estímulos ao crescimento e ao emprego.

Um a um, todos os dirigentes europeus foram defendendo os interesses dos seus países até que chegou a vez de Passos Coelho se pronunciar. Perante o espanto geral, o alegado primeiro-ministro disse não ter nada para dizer.

Poderemos, neste caso, encolher os ombros e voltar a desculpabilizar Passos Coelho em resultado da sua “impreparação”? Ou a posição assumida em Bruxelas, que trai os interesses do país e dos portugueses, podem e devem ser catalogados já numa categoria distinta?

A verdade é que a “impreparação” de Passos Coelho tem custos elevados para o país: desde logo, porque Portugal fica isolado, agarrado às saias da Sr.ª Merkel, enquanto a Espanha, a Itália, a Grécia, a Irlanda e a França já agendaram, entretanto, encontros para tomarem medidas conjuntas.

É assim que o governo fomenta a credibilidade externa do país?

Ainda que mal pergunte… [118]

Passos não falou de Portugal na Europa

«O programa português não esteve em discussão no Conselho Europeu», notou. Durante a cimeira em Bruxelas, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, e o primeiro-ministro grego, Antonis Samaras, optaram por alertar para os efeitos da austeridade nos seus países.

Já Passos Coelho optou pela habitual estratégia do bom aluno.

Este sujeito é mesmo estúpido, é irremediavelmente impreparado ou é apenas um perigoso irresponsável?

quinta-feira, outubro 04, 2012

Ai Roma “não é a vossa praia”? Então, Malta também não será…

Roma “não é a nossa praia”, disse um dos estarolas do gabinete do primeiro-ministro, quando questionado por que Passos Coelho recusara o convite de Monti para se reunir com outros chefes de Governo de direita, designadamente os que estão sob “assistência” na zona euro. Agora, Passos Coelho desloca-se a Malta. Lá estarão também Monti, Rajoy e Hollande, que terão um encontro a sós, para o qual Passos Coelho não foi convidado. Portugal auto-excluiu-se de procurar soluções para a crise na zona euro — e, para saber a opinião de Merkel, mais vale perguntar-lhe directamente do que através do bom aluno.