Naquele seu jeito único, Passos Coelho disse um dia que estava concluído um dos objectivos do actual governo: «
Esta selecção natural das empresas que podem melhor sobreviver está feita».
Mas para que a concentração da riqueza numa minoria se consumasse, era preciso tomar outras medidas. Uma delas é colocar um garrote em torno dos portugueses que haviam sido impelidos a adquirir habitação própria.
Para o efeito, o Governo prepara-se para accionar a bomba ao retardador criada com a reformulação da contribuição autárquica, tarefa de que foi incumbida Manuela Ferreira Leite, então ministra das Finanças do Governo de Barroso & Portas. A tributação dos proprietários de imóveis prevista no Código do IMI é tão violenta que foi necessário criar, ano após ano, travões para impedir aumentos brutais do imposto a pagar.
A maioria de direita chumbou uma proposta do PS a integrar no Orçamento do Estado para evitar mais esta subida brusca em 2015: a chamada cláusula de salvaguarda, que limitava a 75 euros o aumento anual do imposto. Haverá naturalmente milhares e milhares de contribuintes que não terão condições para suportar o aumento do IMI. Será a estocada final no
partido do contribuinte, que, além do mais, ficou com a Secretaria dos Assuntos Fiscais na repartição do bolo governamental.
O PS, que viu recentemente rejeitada pela direita a sua proposta de suspensão de penhoras da habitação própria por dívidas ao fisco e à segurança social, exige agora a reposição da cláusula de salvaguarda, comprometendo-se a incluí-la no Orçamento do Estado para 2016. É um passo importante para que a corda dos supliciados não continue a ser apertada. Mas é imprescindível rever as taxas do IMI, sob pena de apenas se adiar o estrangulamento.