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sábado, dezembro 05, 2015

Passismo de esquerda


    «Ver Pedro Passos Coelho sentar-se no hemiciclo de São Bento e assumir o seu mandato de deputado eleito e o seu lugar de líder do principal partido da oposição é algo que revela a sua qualidade política, mas que demonstra igualmente como pode e deve ser vivida saudavelmente a democracia. Desde Mário Soares que nenhum líder partidário voltava a sentar-se no Parlamento depois de ter sido primeiro-ministro. E a disponibilidade e o à-vontade com que Passos o fez é meritório de elogio, pois mostra o carácter democrático da sua personalidade.»

segunda-feira, novembro 30, 2015

A estrela cadente que Ricardo Costa avistou


Ricardo Costa procurava, na edição de sábado do Expresso, mostrar que todos nós deveremos estar muito agradecidos ao defunto governo pelo que fez pelo país. Para isso, enalteceu a «saída limpa», esquecendo o que foi escondido debaixo do tapete (v.g., o BES) ou os trabalhos forçados para cerzir as metas do memorando, rasgadas pela realidade. Mas antes de falar de raspão de «várias medidas decisivas do BCE», o director do Expresso fez a seguinte enigmática alusão a mais um feito do defunto governo: «uma trajectória continuada de descida».

Alguém sabe a que Ricardo Costa se estaria a referir?

Umas linhas abaixo, dá a entender, ao referir-se ao Novo Banco, que estaria a pensar na dívida pública. Mas a que título alguém pode atrever-se a ver na dívida pública «uma trajectória continuada de descida»?

A verdade é que o panegírico esbarrou contra a dura realidade: apesar de a imensa vontade de avistar «uma trajectória continuada de descida», Ricardo Costa não encontrou o objecto dessa «trajectória». Por isso, o omitiu. Talvez tivesse sido uma estrela cadente.

sexta-feira, novembro 27, 2015

Gente que fez cálculos
que batiam certo com a propaganda do Governo


Paulo Núncio, o ajudante do CDS-PP para os Assuntos Fiscais, disse que houve da parte dos contribuintes uma «percepção errada» do que o Governo dizia em relação à sobretaxa. É mentira, como todos sabemos agora. Qual terá sido a parte que os contribuintes não perceberam quando Passos Coelho afirmou, a uma semana das eleições, que «sabemos hoje que estamos em condições em 2016 de cumprir essa norma do Orçamento e que eles irão receber uma parte importante dessa sobretaxa»?

Mas o que é realmente interessante observar é que este embuste contou com o apoio activo da comunicação social e do próprio presidente da República.

Exactamente no dia em que Passos Coelho assegurou que haveria devolução de «uma parte importante dessa sobretaxa» — o Governo falava então de uma devolução de 35% —, o Expresso anunciava ter feito uns cálculos, os quais apontavam «para uma percentagem superior [de devolução da sobretaxa] que pode variar entre 60% e a devolução integral.» Estávamos a uma semana das eleições.

Com um papel destacado no aparelho de propaganda do defunto governo, Cavaco Silva também não se dispensou de dar um ar da sua graça, não se tendo limitado, em finais de Julho, a papaguear as profecias do Governo. Fez questão de sublinhar que pôs o seu gabinete a fazer contas, estando por isso em condições de confirmar a propaganda governamental: «Está de acordo com a estimativa que o meu gabinete tinha feito, que ao fim do segundo trimestre deste ano a evolução das finanças públicas apontava para o cumprimento dos objectivos do défice de 3% e que a evolução das receitas fiscais e do IRS iria permitir alguma redução da sobretaxa que os portugueses iriam pagar. É uma boa notícia, mas temos de esperar até ao fim do ano».

Seria interessante que alguém pedisse a Sua Excelência o Presidente da República os cálculos que a sua esquálida Casa Civil fez para chegar à estimativa que ele andou a propagandear.

sexta-feira, novembro 13, 2015

Portas e porta-vozes

Clique na imagem para a ampliar

Pedro Sales publicou no Facebook uma notícia do Expresso a recordar o que António Costa tinha dito antes das eleições. O Expresso dava então conta de que o secretário-geral do PS não apenas «chumba governo de direita minoritário» como, no caso de não conseguir a maioria, «confia na maioria de esquerda e na capacidade para fazer acordos».

A reprodução da primeira página do Expresso fez saltar Filipe Santos Costa, que, precisamente neste semanário, costuma fazer a cobertura das actividades do CDS-PP. Na ânsia de defender as posições da coligação de direita, o jornalista até se dá ao luxo de pôr em causa, embora de uma forma habilidosa, o próprio jornal em que trabalha. Paulo Portas tem porta-vozes onde menos se espera — e alguns levam a missão a peito.

domingo, outubro 25, 2015

A palavra aos leitores — Acerca do pluralismo na televisão


Texto do leitor G. Meirelles na caixa de comentários deste post:

    «É um facto que se têm verificado grandes momentos de comédia televisiva.

    O meu combate favorito até agora data de há dois ou três dias. Não me recordo, infelizmente, do canal nem da hora deste match de extrema violência, porque tenho procurado vê-los todos, e não estou em condições de reproduzir o diálogo com fidelidade absoluta, mas posso garantir que foi muito próximo do que se segue.

    Protagonistas do match: o árbitro, um dos âncoras do canal (de que não conheço o nome, mas que me pareceu um pouco acabrunhado), e... no canto direito (lado esquerdo da teletela) Maria João Avillez, no canto direito (lado direito da teletela) Joaquim Aguiar.

    Às tantas, depois de uma longa intervenção do Aguiar, pontuada por longos suspiros e exclamações de apoio admirativo da Avillez, intervenção do âncora, dirigindo-se à mesma: «não quer contradizer?». E a Avillez, surpreendida: «não, não...».

    Impagável.
    »

«Um episódio inédito dos "Monty Python"»

Apanhei a meio a situação a que faço alusão aqui. Vele a pena ler o que Vasco Pimentel escreve, porque a razão do «debate» em causa é uma entrevista de Judite de Sousa a Jerónimo de Sousa. Eis o post de Vasco Pimentel:


    «A TVI24 acaba de transmitir um episódio inédito dos "Monty Python": entrevistado pela Judite de Sousa, o Jerónimo recorda que as suas afirmações públicas são sistematicamente analisadas, nas televisões, por painéis "em que um diz mata e o outro diz esfola". A Judite, muito ofendida, rebate a acusação. A entrevista termina daí a minutos. Composição do painel reunido pela Judite de Sousa para ajuizar da pertinência das afirmações do Jerónimo: o "Mata", o "Esfola" e a "Arranca-lhe as Unhas Uma a Uma com uma Pinça Enferrujada".»

sábado, outubro 24, 2015

Mais plural não há


Se o leitor acabou de ler o post anterior, não vale a pena mudar de canal — pelo menos para a TVI 24. É que aqui estão a exibir-se neste momento Sofia Vala Rocha (aquela moça do PSD na Barca do Inferno), João Miguel Tavares e David Dinis. A pluralidade em todo o seu esplendor.

Isenção, isenção, isenção


Estamos a assistir a uma OPA da direita radical sobre a RTP3. Ontem, por exemplo, tivemos direito a uma conversa afável sobre a situação política entre José Manuel Fernandes e Miguel Pinheiro, o ex-director da Sábado que o trabalho mais à esquerda que redigiu foi uma biografia de Sá Carneiro. Para hoje está anunciada a presença de Helena Matos e de um tal Viriato, muito requisitado desde que vem defendendo que Passos & Portas devem continuar a lambuzar-se no pote. Tem sido quase todos os dias assim. E quando aparece, certamente por equívoco, uma voz desafinada, lá está Rodrigues dos Santos a repor a ordem.

terça-feira, outubro 20, 2015

Como se inculca a TINA¹


Na romaria em defesa da TINA, coube ontem a vez de Freitas do Amaral. Na RTP3, o professor jubilado procurou transmitir a ideia de que seria uma espécie de porta-voz do sentimento do país (e, no íntimo, não dele próprio, que poderia ter uma posição distinta, não fosse a habituação de 40 anos do bom povo português): «A opinião pública não está preparada para isso. Durante 40 anos, habituou-se, bem ou mal, a que haveria ali um muro invisível, que não tem chave, que não quer acordos com aqueles partidos. Eu acho que, neste momento, seria uma má solução, sobretudo se for uma coligação formal. Se for um governo minoritário do PS, que o PC e o Bloco não inviabilizavam, já houve outros.» Nada de novo nas palavras de Freitas do Amaral. É que, em relação a outros 40 e tal anos, o professor só descobriu que a «opinião pública» estava preparada para a democracia no dia 25 de Abril.

PS — No mesmo programa da RTP3, foram convocados Helena Matos, Manuel Carvalho e João Marcelino para a análise política destes conturbados dias. Tendo os três comentadores a mesma posição, não bastava ter em estúdio apenas um deles, evitando o desagradável efeito do eco?

__________
¹ «There is no alternative».

quinta-feira, setembro 17, 2015

Aviso ao marqueteiro: calma, meu...

• Ferreira Fernandes, Aviso ao marqueteiro: calma, meu...:
    «(…) E, por cá, há lançadores de lama? Haverá, mas isto é um país de pegadores de cernelha. Assim, temos a especialidade de brandos costumes onde a lama se atira de ricochete. Há um fantasma, que não serve para ser atacado, mas para fazer de lama. Então, há que expô-lo, gritá-lo, levar-lhe pizas a casa. O mais recente episódio (e não será o último) foi inventar o fantasma num anúncio duma universidade brasileira. Qualquer marqueteiro saberia fazer o truque e com quem. Mas já roça o insulto pensar que aquilo, e agora, convence muitos portugueses.»

segunda-feira, setembro 14, 2015

Prós e Contras


    «Sobre o tema e o título do Prós e Contras de logo:
      1. Começo por nem sequer perceber porque é que o programa se mantém, ou, mantendo-se, aborda temas políticos, neste mês de setembro. Não estamos em campanha eleitoral?

      2. Depois, não sei qual é o objetivo do programa. Mas não tenho dúvidas sobre o efeito: ecoar ilegítima e desproporcionadamente um ponto do ataque da direita ao Partido Socialista.

      3. Interrogo-me sobre se não haverá, nos responsáveis da RTP pela organização e o conteúdo do Prós e Contras, um mínimo de sensatez.

      4. Ou se o desespero é assim tanto que já vale usar todas as armas, mesmo as mais velhacas, para tentar influenciar o sentido da campanha.

      5. E, finalmente, para evitar a repetição do meu 'caso' com a TVI: não renuncio nem renunciarei ao direito de criticar publicamente os órgãos de comunicação social com que aceito colaborar.»

sexta-feira, setembro 11, 2015

«Deixa-me cá estar calado, que ele ainda fala da inventona de Belém»

A preparar-se para a travessia do deserto

Para o debate que se seguiu ao confronto entre António Costa e Passos Coelho, a RTP convidou Augusto Santos Silva, Nuno Morais Sarmento, André Macedo e José Manuel Fernandes. A páginas tantas, Augusto Santos Silva fez questão de dizer que não era isento nem imparcial na apreciação que fazia e que entendia, aliás, que nenhum dos presentes o era. De imediato, André Macedo, director do DN, fez questão de afirmar que ele era. José Manuel Fernandes, chairman do blogue Observador, manteve-se em silêncio. Num silêncio esclarecedor.

sábado, setembro 05, 2015

Comentador em trabalho de campo


    «Não posso comentar o PCP sem ver a Festa do 'Avante!'. Só vendo se pode perceber a realidade, única na Europa, de um partido que mobiliza jovens, com este papel de militantismo e de mobilização constante, que não perde eleitorado, aguenta... a dúvida é até onde vai subir. Não tem comparação nem com Podemos, nem com Syriza, nem nenhuma outra força política europeia».

segunda-feira, agosto 31, 2015

«"Passos recusa debate sem Portas"
- isto é tão Big Brother, "se a Andrea sair eu saio!"»


• João Quadros, Abater os debates:
    «(…) O CDS do vice-PM deixou de ter identidade, o que - em termos psiquiátricos - era expectável depois de Portas ter sido do partido da lavoura, do mar, dos reformados, da troika, dos desempregados, dos patrões, dos etc. Ninguém aguenta sem um esgotamento, e o PP de Portas acabou por ter uma crise de personalidade e, agora, pensa que é do PSD. Nunca se viu um CDS tão fundido no PSD mas, chegados ao tema debates, querem ser duas cabeças. Mas a verdade é que a insistência é mais de Passos do que de Portas. Esperto.

    Esta semana, a grande notícia era: "Passos recusa debate sem Portas" - isto é tão Big Brother, "se a Andrea sair eu saio!". Nesta situação, quem é que passa por cavalheiro? A Andrea ou o Passos? Na realidade, Passos balda-se ao duelo para defender a honra da dama, é todo um novo conceito de romantismo. Esperava-se que Passos fosse lá e valesse por dois, enquanto Portas esperava junto à lareira no convento. Dir-se-ia, pelo que se lê nos jornais, que é esse o seu estilo, mas não. Na verdade, onde se nota uma das característica de Passos é no facto de também não ter conseguido abrir a porta dos debates ao Portas. Já na Tecnoforma acabou por ser assim. (…)»

segunda-feira, agosto 24, 2015

PSD/CDS: «esperar que os "likes" e os "shares" façam o seu caminho»

Entrevista de Fernando Moreira de Sá à Visão, em 2013


• José Mendes, A hora dos jornalistas:
    «(…) Neste novo mundo, que de resto já se anunciava há bons anos, os partidos da coligação PSD/CDS assumiram a liderança. Dominam, como nenhuma outra força política em Portugal, as redes sociais, que frequentemente convertem em plataformas de anticampanha, as tais que visam destruir a campanha, tal como nos sugere a física. O perdedor maior é o Partido Socialista, que, a cada tentativa para agendar o debate político que interessa aos portugueses, é de imediato manietado pela ativação da máquina dos partidos do Governo, que logo dispara os seus tweets, posts, SMS, MMS e outras munições no sentido de neutralizar o conteúdo e fazer derivar o foco para o acessório, o pitoresco, o polémico, enfim, o "fait-divers". Depois é dar um empurrãozinho e esperar que os "likes" e os "shares" façam o seu caminho. Lá pelas 20 horas de cada dia, os telejornais darão credibilidade à história. É certo que os próprios socialistas pouco têm ajudado o seu líder, numa espécie de ajuste de contas que, juízos de valor à parte, se joga no momento e no tempo errados. E assim vemos, por exemplo, que a cara que aparece nos cartazes se antecipa no alinhamento noticioso às propostas, às políticas e aos números do desemprego. (…)»

domingo, agosto 23, 2015

Uma campanha tóxica


Manuel Carvalho escreve hoje um artigo no Público, no qual procura mostrar como Passos Coelho, desde que o terrível Ângelo o lançou para estas altas cavalarias, recorreu sempre a campanhas de contra-informação para desgastar os seus adversários (internos e externos). Trata-se de um depoimento relevante, tanto mais que Manuel Carvalho — tendo feito parte, sob o inesquecível comando de José Manuel Fernandes, da direcção do Público que se prestou a assumir a autoria material da abjecta inventona de Belém — terá conhecimento (por dentro) de como estas coisas se fazem.

Recomenda-se a leitura do artigo a todos aqueles que têm uma visão idílica do funcionamento da democracia e se abespinham quando a crispação ocupa o espaço reservado ao debate de boas maneiras. Se se sentem incomodados quando, perante a profunda degradação das condições de vida da maioria da população, se exerce o direito à indignação, ao menos saibam estar à altura de dar resposta a estas manobras subterrâneas palidamente descritas por Manuel Carvalho. Eis o artigo na íntegra, intitulado Uma campanha tóxica:
    «Estamos a um mês e meio das eleições legislativas e António Costa e o PS continuam a lutar em vão para sair do buraco defensivo onde a imparável máquina de comunicação e de contra comunicação do PSD e do CDS os confinou. Os socialistas e o seu líder não perceberam ainda que os seus adversários políticos estão há anos a aprender a usar as redes sociais para armadilhar as campanhas e desta vez estão a conseguir resultados demolidores. Nos casos dos cartazes ou na história dos empregos que serão criados por um eventual governo do PS, bastou o lançamento de rápidas medidas de contra-resposta baseadas em mensagens básicas e potencialmente polémicas para alastrarem pelo Facebook ou pelo Twitter para que os socialistas acabassem acossados por pedidos de desculpas ou em explicações destinadas a conter os danos.

    No final do dia, já ninguém se lembrava das mensagens originais – o que sobrava era a espuma da sua demolição. Há mais de um mês que o PSD e o CDS estão a conseguir abater todas as iniciativas de campanha do PS ainda antes de levantarem voo.

    Bem se sabe que muita da responsabilidade por este estado atarantado e reactivo dos socialistas se deve a um interminável rol de culpas próprias — o caso dos cartazes do desemprego é mais do que “aselhice”, é pura e simples incompetência que, essa sim, merece censura e valoração política. Mas há no geral a ideia de que o PS está a ser arrasado por uma campanha tóxica que dissolve todas as acções de campanha num eficaz batido com os temperos da demagogia, do primarismo argumentativo e da manipulação. O admirável mundo novo de comunicação que começou a ser ensaiado nas primárias do PSD em 2009 e que se qualificou em 2011 chega a estas eleições num formidável grau de aprimoramento.

    Os “marqueteiros” brasileiros, que à custa de cortinas de fumo foram capazes de eleger uma presidente, Dilma Rousseff, sem que ela sequer se tivesse dado ao trabalho de apresentar um programa de governo andam por aí. Depois, na rectaguarda, nos gabinetes dos ministros, concentra-se uma tropa de reserva jovem, frenética, imersa dos pés à cabeça no mundo da net e imbuída de um messianismo que não olha a meios para erigir um país novo. Contra este saber, competência e mobilização, Edson Ataíde parece um aprendiz da idade da pedra e Vieira da Silva ou Ferro Rodrigues locomotivas do tempo do vapor. De pouco adianta fazer contas, gizar programas ou estudar propostas. Eles lá estão para as embrulhar numa fórmula devastadora que as reduzirá a uma anedota, mesmo que para lá chegar seja necessário mentir. Pela primeira vez, estas eleições arriscam-se a ser dominadas pelo império das redes sociais e só o PS e o seu líder (que só há semanas abriu uma conta no Twitter) parecem não ter percebido os impactes deste pouco admirável mundo novo.

    Vejam-se os casos dos cartazes, em especial o que ostentava uma infeliz imagem entre o zen e o profético. A facilidade com que esse cartaz foi ridicularizado pode ser justificada pela sua lamentável falta de gosto, mas para que essa consciência se tivesse generalizado ao ponto de o PS se sentir na obrigação de o retirar foi essencial a colocação nas redes sociais de uma bateria de posts que, pelo seu teor, quase forçavam os utentes do Facebook a gozá-los, a ridicularizá-los e a partilhá-los. Veja-se ainda como o caso das simulações de Mário Centeno sobre os 207 mil empregos foram transformados numa promessa de Costa através da colagem a uma declaração na qual José Sócrates aparecia a prometer 150 mil empregos. Saber o que em rigor foi dito não passou de um vago detalhe da comunicação. À noite, as televisões deliciavam-se a comparar Costa a Sócrates.

    Não precisamos de puxar muito pela cabeça para perceber que esta estratégia baseada no ardil tem tradições e experiência. Vale a pena recordar a reveladora entrevista de Fernando Moreira de Sá a Miguel Carvalho, da Visão, em 2013, no qual este especialista em comunicação explicava como um grupo de bloguers arrolado por Miguel Relvas se entreteve a “derreter” Manuela Ferreira quando foi líder do PSD, como as suas campanhas negras derrotaram Paulo Rangel nas eleições internas que se seguiram ou como trabalharam nos bastidores para levar Passos Coelho ao poder. A sua receita era bem simples e é impossível não a pressentir nestas semanas de arranque das legislativas. “Se deixarmos uma informação sobre o caso Freeport num perfil falso e se ele for sendo partilhado, daqui a pouco já estão pessoas reais a fazer daquilo uma coisa do outro mundo”, notava Fernando Moreira de Sá.

    Antes do debate entre Passos e Paulo Rangel, dizia Sá, “já tínhamos tweets preparados para complicar a vida do Rangel. Nos primeiros minutos começámos a tuitar como se não houvesse amanhã. Ao fim de cinco minutos riamos até às lágrimas! Até opinion makers repetiam o que nós dizíamos”. Convém notar que pelo menos 11 destes operacionais, entre eles o ex-ministro Álvaro Santos Pereira ou o influente deputado Carlos Abreu Amorim, acabaram por ver a sua acção premiada com belos cargos no Governo ou na Assembleia.

    Muitos dirão que aquilo que está a acontecer é uma decorrência lógica do avanço tecnológico e no modo como os cidadãos o ajustam ao seu quotidiano. É também pertinente verificar que, se o PSD e o CDS são muito mais competentes a adaptar-se a este novo mundo e a jogá-lo em favor dos seus interesses, isso só diz bem da sua competência. É verdade, mas apenas e se encararmos as eleições legislativas como um braço de ferro entre inimigos figadais, uma espécie de luta mortal onde só não vale arrancar olhos. O que está em causa, porém, é muito mais do que isso.

    Neste clima propenso ao truque e à redução da política ao grau zero da substância, o PS e António Costa não são as únicas entidades desarmadas pela surpresa e eficácia das realidades artificiais na campanha. Também o jornalismo tem pela frente um árduo desafio neste tempo em que, como muito bem escreveu Paulo Ferreira, no Observador, “os alinhamentos e a edição são, cada vez mais, feitos fora das redacções, em milhões de computadores ligados em rede e têm o ‘like’ como unidade de medida”. A reflexão sobre a pertinência, o interesse público ou a verosimilhança de determinadas informações está a perder-se na maré de posts sobre epifenómenos que são giros e suscitam reacções larvares de recusa e desdém no Facebook. David Pontes deixou no JN o registo dessa dificuldade: “As redacções dos jornais, diariamente bombardeadas por tretas”, vão ter de lidar com um “combate desigual contra um sistema montado para comunicar tretas”. A primeira forma de o travar é encarando-o de frente. Deixar que a campanha soçobre às receitas dos “marqueteiros” e dos seus homens de mão nas redes sociais é péssimo. Vai ser um combate feio, mas não se pode recusá-lo.»

segunda-feira, julho 20, 2015

E Maçães não ter telefonado à Sarah Palin foi uma sorte

Interrompo as férias (e aproveito para escrever um pouco mais) para destacar um feito inédito na arena internacional. João Galamba relata-o:

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    «Depois de Negócios, Observador e Expresso não terem confirmado a propaganda de Passos Coelho sobre os números do emprego e do desemprego, eis que vemos Bruno Maçães, responsável governativo pela propaganda internacional, a repreender publicamente o mais do que insuspeito Wall Street Journal por este não publicar os números inventados pelo governo.»

sexta-feira, julho 10, 2015

Quando se cruza com as pessoas na rua,
Martim Silva não cora de vergonha?

No Twitter

Já não se trata apenas de aviar recados. A forma como Martim Silva acaba é oposta ao título inicial. O editor de política do Expresso a levar uma lição de primeiro ano do curso de jornalismo dá que pensar.

«Gosto de tempos de antena,
mesmo se são sempre ao serviço dos mesmos»

    «Não me interessando especialmente saber que em Celorico nasceu um porco com cinco patas, ou coisa do género, há muito tinha desertado do jornal da noite da RTP1. Agora estou de volta porque gosto de tempos de antena, mesmo se são sempre ao serviço dos mesmos. Hoje, por exemplo, fiquei regalado. O pivot decidiu que esta noite é que ia arrasar a Grécia de uma vez por todas, não fossem os gregos convencer-se que podiam fazer aos credores o que fizeram aos Persas em Maratona, com as suas falanges de evasores fiscais e pensionistas nababos. Incapaz de estabelecer em bases sólidas que a Grécia não tem um orçamento equilibrado desde o segundo governo Solon (550 a.c.), enveredou o Pivot por enviar a Atenas uma senhora loura, com a missão de inventariar as razões pelas quais o ajustamento grego falhou (ao contrário do nosso, entenda-se). A senhora esclareceu o assunto socorrendo-se dos relatórios do FMI (outra ideia do pivot). Semelhante empreitada dispensava a maçada da deslocação ao berço da democracia e da fraude orçamental. Podia perfeitamente ter lido os papéis confortavelmente sentada no grémio literário, na Lúcia Piloto, ou onde lhe apetecesse. Seja como for, lá explicou o que considerou ter compreendido, embora numa linguagem apropriada para menores de sete anos, categoria social que, como toda a gente sabe, não pode votar. O que não explicou, para nenhum grupo etário, é que o governo grego não podia avançar com as reformas sobre as quais havia acordo enquanto não cedessem na questão da dívida e do superavit primário. E que se o fizesse, tais reformas seriam declaradas "medidas unilaterais". Mas se calhar isto também não vinha nos relatórios do FMI. Não sei. É perguntar ao pivot, que ia tomando conhecimento do rosário de prevaricações com trejeitos de horror, qual Dario a escutar o relato das Termópilas. Enfim, a coisa lá acabou, de forma pouco digna para os tele-helenistas, e passou-se ao futebol, como de costume. Única certeza: amanhã há mais.»