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sábado, julho 18, 2015
O princípio do fim da Europa
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quinta-feira, julho 09, 2015
«A construção europeia é já kafkiana»
| Schäuble para Varoufakis no Eurogrupo: «Quanto dinheiro quer para sair do euro?» |
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sábado, julho 04, 2015
19-1≠18
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sexta-feira, julho 03, 2015
«A "linha dura" fez tudo o que estava ao seu alcance
para impedir um acordo que pudesse legitimar a afirmação
de uma alternativa ao pensamento dominante»
para impedir um acordo que pudesse legitimar a afirmação
de uma alternativa ao pensamento dominante»
• Pedro Silva Pereira, A culpa:
- «Confirmado o referendo em Atenas e suspensas as negociações em Bruxelas, nunca esteve tão eminente o pior dos cenários para o povo grego é para a zona euro: a saída desordenada da Grécia. Na lógica simplista da política prevalecente nas modernas sociedades mediáticas, um desastre de tamanhas proporções precisa, obviamente, de um culpado, alguém a quem possam ser imputadas responsabilidades pelas consequências da ruptura a que se chegou. Ao que parece, o candidato natural é Alex Tsipras. Mas nem sempre o que parece é.
Sem dúvida, Tsipras fez mais do que o suficiente para partilhar pesadas responsabilidades. Oriundo de uma formação política radical, o jovem primeiro-ministro grego subiu na vida política vendendo ilusões e prometendo o que não podia cumprir. Apostou tudo numa atitude negocial de confrontação - e falhou. O seu falhanço, como se vislumbra já, não é coisa pouca: implica o caos no sistema financeiro e no funcionamento da economia e do Estado. Ao longo de meia dúzia de meses, Tsipras tardou em apresentar propostas convincentes e acabou, no final, por ser forçado a consentir em quase tudo o que antes dizia rejeitar: primeiro, o agravamento da austeridade (via enorme aumento de impostos) e, depois, o pedido de um terceiro resgate. Como se não bastasse, foi dele a iniciativa de abandonar unilateralmente as negociações (que depois, desesperadamente, tentou retomar) e foi dele a ideia de convocar este bizarro referendo (enquanto ainda mantinha uma intensa troca de cartas com propostas negociais). Entretanto, o seu ministro das Finanças, Varoufakis, acenava aos eleitores com a derradeira ilusão, anunciando o propósito de regressar na segunda-feira à mesa das negociações como se nada fosse, mas em posição reforçada por um "grande não", para fechar "rapidamente" (!) um acordo imaginário, sabe-se lá com quem. Embora convocado em nome da democracia, este apressado referendo decorre sob pressupostos de tal modo falsos e em condições de tamanha anormalidade que só pode constituir um monumental equívoco democrático.
Dito isto, que é tudo verdade, é preciso dizer também que seria um gravíssimo erro esconder as responsabilidades maiores dos credores por trás das responsabilidades do Syriza e da sua liderança. Desde logo, convém recordar que as "instituições" são responsáveis por terem imposto à Grécia e aos seus sucessivos governos uma política de austeridade errada e absolutamente devastadora, que agravou em muito o problema da dívida pública ao mesmo tempo que retirava à economia a capacidade para gerar a riqueza necessária para que essa dívida pudesse ser paga. Nesse ponto - que é o ponto essencial e que deveria inspirar não apenas um acordo mas um acordo diferente - era Tsipras que tinha razão. Sucede que as "instituições" se recusaram sempre a reconhecer o fracasso da política de austeridade e a necessidade de construir uma solução para a dívida pública grega. Pelo contrário, preferiram teimar na fracassada receita austeritária, sempre fiéis à inspiração alemã e correspondendo às inqualificáveis exigências de governos como os de Portugal e de Espanha.
Em bom rigor, porém, também não foi a insistência na austeridade que impediu a conclusão deste acordo. De facto, não pode contar-se a história destas tumultuosas negociações ignorando um facto essencial: no início da semana passada, o Governo grego apresentou uma proposta que foi efusivamente saudada pelos parceiros europeus como "credível" e em que Tsipras cedia praticamente em toda a linha (a ponto de deixar em risco a sua própria sobrevivência política). Como aqui escrevi há oito dias, quando ainda subsistia a esperança num acordo, "depois de todas as cedências feitas pelo Governo grego, já não será possível responsabilizar o Syriza pelo falhanço das negociações". Foi o que escrevi e mantenho. Está por explicar a razão pela qual essa proposta, dita "credível", não chegou, aos olhos do FMI e das "instituições", para servir de base a um acordo que poupasse a Grécia e a zona euro ao cenário de catástrofe que agora se anuncia.
A verdade é que, do princípio ao fim, a "linha dura" fez tudo o que estava ao seu alcance para impedir um acordo que pudesse legitimar a afirmação de uma alternativa ao pensamento dominante. Conseguiu. Aliás, conseguiria sempre. Porque sempre teve a faca e o queijo na mão.»
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Nove mitos sobre a crise grega
| James K. Galbraith: 9 myths about the Greek crisis |
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«O nosso Mr. Chance»
- «(…) Se ao menos Cavaco Silva estivesse pura e simplesmente a fazer uma conta de diminuir quando disse: “Espero que a Grécia não saia, mas se sair ficam 18 países”, o nosso Mr. Chance teria a possibilidade de ser interpretado como a voz mais sábia e esotérica do coro. (…) Enquanto toda a atenção estava concentrada nas cimeiras europeias, Obama fazia um discurso em louvor do reverendo Pinckney, uma das nove pessoas atingidas mortalmente pelo jovem racista que entrou numa igreja metodista em Charleston. É um discurso notável, improvisado ao longo de mais de trinta minutos, em que o Presidente dos Estados Unidos acaba por cantar, inesperadamente, o Amazing Grace. Se um só dirigente europeu fosse capaz de recitar, numa cimeira, a “Ode à Alegria”, Schiller erguia-se do túmulo e toda a Europa, de Weimar para leste e para Oeste, retomava a sua “tarefa infinita”.»
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quarta-feira, julho 01, 2015
«Talvez me saísse melhor se arriscasse a parede»
Martin Wolf escreve um artigo sobre a situação grega no Financial Times, reproduzido no Diário de Notícias. Eis uma passagem:
- «(…) A extensão do resgate não ofereceu uma saída plausível para a recuperação: ele deixou um excesso de dívida demasiado grande e, mais importante ainda, exigiu demasiada austeridade a curto prazo. Dado o retrocesso recente, parece exigir uma mudança de um saldo orçamental primário (antes dos juros) de perto de zero neste ano, para um superavit de 3,5% do produto interno bruto em 2018. Alcançar este resultado poderá exigir medidas orçamentais que atingiriam o equivalente a 7% do PIB e contrairiam a economia em 10%. (…)»
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terça-feira, janeiro 20, 2015
Depreciação do euro demorou, mas é muito bem-vinda
• Manuel Caldeira Cabral, Depreciação do euro demorou, mas é muito bem-vinda:
- «(…) Considerando todos estes efeitos, podemos dizer que se a depreciação do euro não é a cura ou a solução de todos os nossos problemas, tem potencial para dar um contributo positivo muito relevante. Podemos também perguntar porque é que esta depreciação não veio mais cedo, questionando porque é que se permitiu que durante uma década se assistisse a uma tão forte apreciação do euro, que passou de mínimos próximos dos 0,8 dólares, entre 2000 e 2002, para valores máximos próximos dos 1,6, em 2008, situando-se entre os 1,3 e os 1,5 dólares na maioria do período entre 2007 e 2014 - ver gráfico. (…)»
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terça-feira, setembro 30, 2014
Liderança tricéfala
As questões «fracturantes» foram o tónico para comover as classes médias das Avenidas Novas. Mas a crise do euro e a posição do BE face ao PEC IV revelaram que se aproximava o fim de um ciclo. Francisco Louçã antecipou o esgotamento e procurou resguardar-se através da liderança bicéfala.
Entretanto, outros o perceberam: a Ruptura/FER foi à sua vida recauchutada sob a designação de Movimento Alternativa Socialista e os dissidentes do PCP reanimaram o Fórum Manifesto. O último acto da desagregação do BE traduz-se na candidatura de Pedro Filipe Soares à liderança do BE, que transforma as fracturas internas em fracturas expostas.
Neste momento, parece claro que, de um lado, estarão os que entendem ser possível modificar, em conjunto com outros países da periferia, a arquitectura disfuncional do euro; do outro, estarão os que defendem a saída do euro. Se Francisco Louçã balança entre estas duas posições, Luís Fazenda poderá vir a sentar-se no futuro ao lado de Heloísa Apolónia.
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quarta-feira, setembro 03, 2014
A arquitectura do euro em questão
• Marco Capitão Ferreira, Acabar o euro:
- «Mark Blyth, no seu recentíssimo "Print Less but Transfer More - Why Central Banks Should Give Money Directly to the People" (com Eric Lonergan) trouxe para a discussão pública uma questão que tem sido remetida ao obscurantismo pela força dominante do pensamento alemão sobre o papel que um Banco Central pode e deve ter quando confrontado com uma crise económica. (…)»
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sexta-feira, julho 04, 2014
De costas voltadas
- «(…) A resposta de que a Europa precisa deve desenvolver-se em três planos distintos, todos igualmente decisivos. O primeiro, é o terreno de convergência natural entre as diferentes forças políticas europeístas (como se viu, largamente maioritárias) e respeita à pedagogia dos ideais, dos valores e das conquistas do projecto europeu. Não é uma questão menor: não podemos permitir que os adversários da construção europeia fiquem sozinhos em campo e triunfem com a sua narrativa panfletária e sombria. O segundo, é o domínio da governação política e democrática da Europa e da União Económica e Monetária, que remete para a necessidade de um entendimento alargado quanto a uma reforma das instituições, dos processos de decisão e dos mecanismos de controlo democrático pelos cidadãos de modo a responder à crise de legitimidade que se revelou o terreno favorável para fazer florescer o eurocepticismo. O terceiro plano é o das políticas propriamente ditas, em particular as políticas orçamentais, económicas e sociais - sem dúvida, mais difícil de consensualizar porque esse é o espaço natural da divergência, das alternativas e da escolha política democrática. Mas que não haja ilusões: é aí que tudo se joga. Nenhuma pedagogia europeísta terá sentido e nenhuma reconciliação com os cidadãos será viável enquanto a página da austeridade não for virada e enquanto as políticas europeias permanecerem ostensivamente de costas voltadas para a vida dos europeus.»
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segunda-feira, junho 30, 2014
Recusar a culpa
| Curvar-se perante o |
• João Galamba, Recusar a culpa:
- «O acto de contrição de Cavaco perante o seu homólogo alemão, Joachim Gauck, mostra, mais uma vez, como o debate em torna da natureza da crise que vivemos não é sobre o passado. É sobre o futuro. Para Cavaco, para Passos, para Portas, e para os nossos credores, Portugal tem a crise que tem por culpa própria. A expiação é, portanto, um dever nacional.
Seja porque não soube adaptar-se às exigências da moeda única, seja porque viveu acima das suas possibilidades, seja porque não fez as reformas que devia, seja porque foi despesista e não se preocupou com a sustentabilidade do Estado Social, seja porque não travou as PPPs - seja qual for a versão escolhida desta história, todas pressupõem que a nossa crise é, na sua origem, uma crise de finanças públicas, causada por uma certa forma de despesismo.
Quem pensa assim nunca conseguirá verdadeiramente criticar e opor-se às políticas deste governo. Pode dizer que foram excessivas, pode dizer que foram injustas, pode lamentar os seus resultados, mas não pode dizer que são erradas. Se o problema é o despesismo, então a austeridade - em maior ou menor grau - é necessariamente a solução.
A rejeição das políticas deste governo requer uma alternativa à narrativa que as sustenta. Sem essa alternativa, estamos condenados a jogar no terreno do adversário. E a perder.
Desde meados dos anos 90 que Portugal tem acumulado dívida externa, sobretudo privada. Com a crise financeira internacional de 2008, o mecanismo através do qual essa dívida era financiada implodiu. Quando o Estado interveio, o que era uma crise de balança de pagamentos, transformou-se numa crise de finanças públicas. A crise de finanças públicas não é uma causa, mas sim uma consequência da crise.
É simplista e redutor interpretar os nossos desequilíbrios externos como sendo causados por despesismo. Se olharmos para a primeira década do século como o culminar desse alegado excesso, incorremos mesmo num erro factual: entre 2002 e o início da crise, Portugal foi, juntamente com a Alemanha, o país da zona euro onde a procura interna menos cresceu. A ter havido um período despesista, ele ocorreu entre 1997 e 2001, período em a procura interna cresceu quase o dobro da média da zona euro. Depois disso, e até ao início da crise, não houve qualquer tipo de "festa".
O que caracteriza a chamada década perdida não é o despesismo, mas sim uma fortíssima desaceleração do crescimento económico. E é sobretudo a estagnação económica que explica o aumento do peso do endividamento na economia, não o contrário.
A estagnação económica deve-se a vários choques, todos eles negativos.
Depois um curto mas forte crescimento na procura interna, que a adesão ao euro e a queda das taxas de juro havia tornado possível, acabou a "festa". O investimento em construção, por exemplo, está em queda desde 2002. Ao mesmo tempo, o país assistiu a uma significativa alteração das suas condições de competitividade. O alargamento a leste agravou a condição periférica do país, na medida em que desviou fluxos de investimento privados, que não foram compensados por um reforço dos fundos europeus. A entrada da China no comércio internacional, teve efeitos assimétricos nos diferentes estados-membros. A estrutura e especialização produtiva Portuguesa foram fortemente afectadas. E a apreciação do euro só agravou a situação.
Quando a crise chegou, Portugal estava a responder a estes choques e a investir no combate aos défices estruturais da economia portuguesa, procurando requalificá-la. A chamada década perdida é, na verdade, uma década de profunda transformação estrutural. É uma década de resposta a sucessivos choques, não é uma década de despesismo e desvario. Os números, pelo menos, não o mostram.
A crise financeira de 2008 não veio expor os pecados do país e os seus alegados excessos, mas sim as suas fragilidades e as contradições de uma união monetária incompleta e disfuncional. Para quem não se conforma com a culpa, para quem não aceita a narrativa que divide a zona euro entre países virtuosos e pecadores, esta é a primeira lição a aprender.»
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sexta-feira, junho 13, 2014
«O que foi apenas alcançado em 2% dos casos num ano
é o que temos de fazer durante décadas»
é o que temos de fazer durante décadas»
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quarta-feira, junho 11, 2014
«Uma bola de neve com uma bomba-relógio acoplada»
- «(…) Para Portugal e para as periferias europeias, a moeda única significou uma escolha entre estagnação e endividamento. Neste momento, já nem sequer há escolha: significa estas duas coisas ao mesmo tempo.
E agora? Agora temos nas mãos o Euro, a dívida externa (só no primeiro trimestre de 2014, a PII aumentou de -196 mil milhões de Euros para -205 mil milhões) e a dívida pública (reflexo secundário do problema principal, e que anda pelos 130% do PIB). O emprego e o investimento estão no estado que se conhece. E poucos são os que reconhecem a dimensão ou a verdadeira natureza do problema: a maior parte dos políticos, economistas e comentadores preferem contar-nos histórias de encantar, politicamente convenientes, sobre o que se passou para trás e o que se vai passar para a frente. (…)»
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quinta-feira, maio 22, 2014
sexta-feira, abril 11, 2014
A narrativa comunista
- «O radicalismo ideológico do PCP vai passando entre os pingos da chuva e continua a beneficiar de uma estranha complacência. Mas é preciso denunciar a falsidade da narrativa comunista antes que ela se torne perigosa por parecer o que não é.
Para compreender o PCP não basta ouvir os seus discursos de protesto ou ler os clássicos do marxismo-leninismo: é preciso conhecer as análises e a linguagem ortodoxa das longas "teses" aprovadas nos sucessivos Congressos do Partido Comunista. Embora o "partido com paredes de vidro" saiba que nem tudo pode ser dito, e muito menos escrito (como sucede, por exemplo, com a ditadura do proletariado), as conclusões dos Congressos do PCP dizem o suficiente para revelar o teor essencial do seu programa revolucionário e o horizonte de longo prazo em que o PCP situa a sua luta, no plano nacional e no plano internacionalista.
Muitos comportamentos do PCP, que parecem estranhos a partir de qualquer ponto de vista de esquerda, só podem ser entendidos à luz da chave de leitura conferida pela visão que o PCP tem da sua missão histórica na condução da luta de classes e na criação de condições favoráveis ao triunfo do seu projecto de superação do sistema capitalista. Não perceber isto é alimentar uma tremenda ilusão sobre a verdadeira natureza do PCP.
Não é de esperar, naturalmente, que o Partido Comunista assuma a sua preferência por uma política de terra queimada. O que apresenta são sucessivas justificações para boicotar sistematicamente a unidade da esquerda, atacar prioritariamente o Partido Socialista e fazer, sempre que julga útil, alianças objectivas com a direita, no plano autárquico e nacional. Foi o que aconteceu agora, mais uma vez.
Não podendo disfarçar o embaraço por ter votado ao lado da direita para derrubar um Governo socialista, abrindo as portas ao FMI e a esta violenta política de agressão contra os trabalhadores e o Estado Social, o PCP resolveu apresentar a sua própria narrativa. A tese consiste nisto: apesar da reacção negativa dos mercados à rejeição do PEC IV, o pedido de ajuda externa podia ter sido evitado se tivesse sido seguida a alternativa que o PCP propôs de renegociação da dívida pública. Acontece que esta narrativa não tem pés nem cabeça.
É verdade que Jerónimo de Sousa apresentou uma proposta de renegociação da dívida pública, em conferência de imprensa, no dia 5 de Abril de 2011. Mas a verdade toda é que essa proposta só foi apresentada na véspera (!) daquele que viria a ser o dia do pedido de ajuda externa (6 de Abril), quando o PCP finalmente percebeu que a descida dos "ratings" e o estrangulamento financeiro decorrentes do chumbo do PEC IV tinham irremediavelmente escancarado as portas à "ingerência" do FMI, então já iminente. E é preciso acrescentar o óbvio: essa proposta desesperada, que aliás implicava a renegociação "imediata" (sic) do próprio montante da dívida pública (e não apenas dos seus prazos e juros), era, como o PCP bem sabe, absolutamente inviável no contexto europeu da época, em pleno auge da crise das dívidas soberanas, quando era imperioso para Portugal continuar a assegurar o financiamento da economia e do Estado num ambiente de enormes pressões especulativas e de autêntico pânico nos mercados financeiros.
As propostas políticas que o PCP hoje apresenta não são mais realistas e enfermam do mesmo radicalismo ideológico que explica o seu crescente isolamento. Basta ler a resolução que o PCP apresentou na Assembleia da República sobre a renegociação da dívida pública, consultar a sua Declaração Programática para as eleições europeias ou estar atento às intervenções do seu cabeça de lista.
O PCP classifica a União Europeia como um projecto imperialista "irreformável"; preconiza, de forma aventureira, a dissolução da União Económica e Monetária e a saída de Portugal do Euro (embora "conduzida por um governo patriótico e de esquerda"); pretende, de uma assentada, a reversão do Tratado de Lisboa, do Tratado Orçamental, do Mecanismo Europeu de Estabilidade, do Pacto de Estabilidade e Crescimento, da Estratégia 2020, do Acordo de Parceria 2014-2020 e de todos os demais instrumentos europeus de governação económica; exige não apenas a renegociação da dívida pública mas também a redução dos seus montantes e a "anulação" da sua componente "ilegítima e especulativa", para além da conversão (absolutamente explosiva!) da dívida pública e privada à nova moeda que decorreria da saída do Euro; e, como se não bastasse, insiste ainda na nacionalização do sistema financeiro e dos sectores estratégicos da economia, na fixação administrativa dos preços e na reposição do controlo das fronteiras para o regresso ao proteccionismo e ao controlo da importação de mercadorias.
Eis apenas alguns exemplos da agenda - essa sim, teimosamente irreformável - que o PCP tem ainda hoje para oferecer ao País. Convém conhecê-la para que ninguém vá ao engano.»
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quinta-feira, abril 03, 2014
A causa das cousas: quantitative easing
Os juros da dívida portuguesa a cinco e a dez anos desceram para mínimos de 2009. Caro leitor, se pensa que é devido à austeridade, está enganado. Perante o «longo período de inflação baixa» que varre a zona euro, o BCE anunciou que, não tendo muita margem para descer mais a taxa de juro de referência, está disposto a recorrer a «todos os instrumentos dentro do mandato, incluindo o quantitative easing» (compra de dívida pública e privada). Mario Draghi explica aqui o que está em causa.
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«Et François Hollande espère peut-être faire renaître l’espoir
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terça-feira, abril 01, 2014
É mais fácil enganar as pessoas
do que convencê-las de que foram enganadas
do que convencê-las de que foram enganadas
• Manuel Pinho, O maior inimigo da verdade:
- «(…) No que respeita à economia, todos sabemos que o maior inimigo da verdade não é a mentira, são os mitos com base nos quais se cria um diagnóstico errado da situação, o que naturalmente conduz a um tratamento errado. Todos conhecemos o discurso de que a zona euro serve da mesma forma os interesses de todos os participantes e estava a funcionar muito bem até à crise provocada pela Grécia, que a recessão é o melhor remédio para baixar a dívida pública nos países atingidos pela crise, que em Portugal se trabalha pouco e o Estado gasta muito e que a solução consiste em cortar as despesas sociais "insustentáveis" e fazer reformas estruturais.
1- O euro serve da mesma forma todos os países que a ele aderiram. Não, da mesma forma que no passado o padrão dólar deu um privilégio exorbitante aos Estados Unidos, o euro serve, acima de tudo, os interesses da Alemanha porque lhe assegura uma taxa de câmbio hiperdesvalorizada, cujo resultado é um excedente da balança de pagamentos superior ao da China.
2 - A recessão é o melhor remédio para baixar a dívida pública. Não, a figura mostra que a dívida pública aumentou em 26 p.p. na zona euro e 33 p.p. nos Estados Unidos. Nos países do euro em crise, o aumento foi superior: 79 p.p. na Irlanda, 63 na Grécia, 54 em Espanha e 56 p.p. em Portugal.
3 - Trabalha-se menos nos países do sul da Europa. Não, os trabalhadores portugueses não são preguiçosos uma vez que trabalham, em média, 20% mais horas/ano do que os alemães, os holandeses e os franceses.
4 - A raiz dos problemas é o peso excessivo da despesa pública. Não é, nem foi.
Primeiro, se olharmos para os valores dos últimos 60 anos verifica-se que a despesa pública foi, de uma forma geral, menor do que na Alemanha, na França e na Suécia, por exemplo. Segundo, os valores de 2013 mostram que em Portugal o peso da despesa pública está na média da UE e da zona euro, sendo semelhante à da Holanda e da Áustria, mas muito inferior à da Bélgica, Finlândia e França.
5 - Vivemos num país onde existem poucas desigualdades, o que justifica plenamente o ataque cerrado ao Estado social. Não, Portugal é um país relativamente pobre e com uma enorme desigualdade na distribuição de rendimentos, tal como medida pelo coeficiente de Gini, por exemplo. Em 2005-2010, os indicadores de desigualdade estavam a evoluir no bom sentido, porém, estão a piorar desde então. É preciso muita imaginação para atribuir as culpas da crise aos benefícios sociais das viúvas, pensionistas e polícias e aos salários excessivos pagos aos funcionários públicos e militares.
6 - A solução mágica passa por reformas estruturais. Só faltava mesmo a OCDE vir agora dizer no seu Relatório sobre Reformas Económicas, 2014 que de acordo com o indicador PRM (product market regulation) Portugal está no top 10 mundial dos países em que há menos barreiras à concorrência, estando mais bem colocado do que, por exemplo, o Canadá, o Luxemburgo, a Espanha, a França e a Suécia). Em termos de barreiras ao empreendedorismo, está em 7.º lugar, à frente da Alemanha e do Reino Unido e tem o 4.º mercado da energia menos regulamentado na OCDE, sendo apenas ultrapassado pelo Reino Unido, pela Espanha e pela Alemanha!
O PIB em 2013 está ao mesmo nível do de 2001. Por definição, o crescimento do PIB é igual à soma do crescimento da produtividade (produto por trabalhador) e do crescimento do número de trabalhadores. O nível de vida em Portugal é baixo porque, como mostra a figura abaixo, a produtividade do trabalho é perto de metade do registado na Holanda, Alemanha, Bélgica e França e o crescimento da economia é baixo porque a produtividade tem crescido muito aquém do necessário. É uma questão de aritmética, não é de teoria económica.
Porque é que a produtividade é tão baixa? Também sobre a produtividade há muitas opiniões com base em mitos. Como disse Mark Twain, é mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que foram enganadas. Enterremos os mitos, melhorar a produtividade tem de ser o tema central de qualquer discussão séria sobre a economia.»
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